As coisas saíram do controle subitamente.

Interrompi o beijo bruscamente, me afastando. Levei uma mão ao rosto, sentindo a culpa instantânea.

— Você viu o professor Uzumaki? – Ouvi ao longe.

— Eu estou procurando por ele também – Agora ouvi a voz do Sasuke. Eles deviam estar na entrada da biblioteca.

Quando eu olhei para Hinata, ela escondia o rosto nas duas mãos, envergonhada, pois suas orelhas estavam muito vermelhas.

— Eu preciso entregar uma tarefa pra ele. Ele disse que estaria na sala dos professores.

— Pode deixar comigo, eu entrego.

— Valeu professor! Até amanhã.

Eu respirei fundo, tentando me controlar.

— Não saia daqui – Sussurrei, tentando normalizar a respiração – E vá a enfermaria, está bem? – Ela levantou o rosto, mas ainda sem me olhar, concordou e se virou constrangida.

Eu sai do corredor de livros bem a tempo de ver o Sasuke entrando na sala.

— Oi Sasuke... Eu ouvi meu nome – Tentei ser o mais natural possível, embora eu estivesse com todos os nervos em alerta, e com a mente ainda bagunçada pelo beijo.

Sasuke me olhou frio e não me surpreenderia saber que ele leu através de mim.

— Um aluno trouxe um trabalho pra te dar, ele não estava te encontrando – Falou estendendo a folha para mim – Você não ia pra casa?

Limpei a garganta, tentando não transparecer nervosismo, enquanto me aproximava.

— É... Que eu resolvi pegar um livro... – Estiquei a mão e peguei a folha, mas Sasuke apertou os dedos, não me deixando tirá-la de suas mãos. Levantei meus olhos para tentar entender o que ele estava fazendo e seu olhar me fuzilou. Ele pronunciou baixo:

— E onde está o livro?

— Ah... Bem, eu não... Decidi – Desconversei.

— E aquela mochila na mesa? Alguém esqueceu?

Droga... Não tinha como escapar.

— Não... Na verdade... É da Hyuuga... Ela está na enfermaria, porque um livro caiu no rosto dela...

Não ia adiantar mentir para ele, mas ele não precisava saber toda a verdade agora.  Sasuke me fitou por alguns segundos até finalmente soltar a folha e se virar.

— Vem comigo – Pelo tom de voz que usou, não era um pedido.

Eu não ousei discutir, apenas o segui, saindo da sala.

Sasuke andava rápido e fomos direto para a sala dos professores. Eu o vi ir até o armário pegar alguma coisa. Aproveitei para ir à minha mesa guardar a folha que recebi. Estava pegando minha bolsa quando ele me impediu.

— Deixa ai – Ele caminhou para fora da sala e eu o segui.

Estávamos indo para o telhado. Eu provavelmente ia levar uma dura por ter me encontrado com a Hinata. E, bem, nesse caso eu bem que merecia, então minha ideia era o deixar falar e, talvez, contar sobre o beijo. Ainda não tinha decidido se era uma boa ideia.

Quando chegamos ao telhado, eu suspirei e me preparei para o que viria, contudo a primeira coisa que eu vi, depois de Sasuke nos trancar, foi um punho fechado vindo em direção ao meu rosto, tarde demais para desviar. 

A ardência do choque arrancou lagrimas dos meus olhos e dei dois ou três passos para trás, levando minhas mãos ao rosto.

— Que inferno, Sasuke! O que está fazendo? – Esbravejei de dor.

— Eu que te pergunto – O ouvi dizer com o maxilar quase trincado. Ele estava furioso – Que inferno VOCÊ está fazendo?!

— Não é o que você está pensando – Falei irritado, tentando avaliar o estrago em meu rosto. Felizmente não estava sangrando, mas ainda doía demais. Confuso, apenas percebi que ele estava com as mãos presas na minha camisa, quando me choquei contra a parede.

— Não é o que estou pensando, Naruto, é o que eu vi – Disse mais alterado – Eu vi vocês se pegando na biblioteca!

O fitei quase em choque.

— Sasuke, a gente não estava “se pegando”... – Tentei me justificar, mas ele não deixou.

— Para de mentir pra mim, porque eu ainda quero te socar! – Vociferou irritado, como eu nunca tinha visto antes – Eu estou dizendo que eu vi! Eu parei no meio da porra daquela sala e vi vocês! Nenhum dos dois... NENHUM. DOS. DOIS. Me notou ali...

Eu não soube o que dizer. Meus batimentos estavam alterados, assim como minha respiração. Ainda sentia dor no rosto pelo soco e estava abalado pela sequencia de acontecimentos. Meus sentimentos estavam uma bagunça, tanto pelo beijo quanto por Sasuke ter visto.

— O que você ia fazer se fosse aquele aluno que apareceu, hein? Me fala! – Ele finalmente me soltou – Se fosse outro professor? O diretor?

— Sasuke... – Tentei falar, mas ele me cortou.

— Não, Naruto, ela é só uma criança. Eu disse pra você se afastar dela e vocês estão namorando escondido! Você me prometeu!

— Sasuke, só...

— Só nada! Você enlouqueceu?

— Sim! Sim, eu enlouqueci! – Gritei, tentando fazer ele me ouvir e deixando todos os meus sentimentos saírem, de uma vez – A Hinata me tira a sanidade e ela nem está tentando, cara! Eu me afastei, sim! Não estamos namorando, nem nada perto disso. Eu só a encontrei lá por acaso e, se quer saber, só de estar perto dela, eu me desmonto. Foi um lapso de um segundo Sasuke, um segundo e, sem perceber, eu já tinha feito! E se eu não tivesse sido interrompido eu teria continuado. E sabe como eu sei? Porque eu ainda quero beijar aquela menina desesperadamente!

Sasuke ficou completamente atônito e bufou, se afastando.  Ficou de costas para mim, em silencio, com as mãos na cintura.

Senti meus olhos arderem. Eu estava com raiva, confuso... E mais ciente do que nunca do que eu sentia por ela.

— Sasuke...

— Vocês não estão juntos?

— Claro que não! – Falei alto – Foi só agora, só essa vez...

Ele se virou e me olhou longamente, ainda parecia na duvida. Então finalmente se aproximou e sentou ao meu lado, apoiando uma mão na cabeça. Eu me abaixei e me sentei.

— Como aconteceu?

Respirei fundo, tentando me acalmar também.

— Não era pra ela estar lá, eu olhei a escala. Eu sempre tento não ficar sozinho com ela, Sasuke. Só que ela estava lá... E eu a surpreendi, então um livro caiu mesmo no rosto dela... Deixou uma marca – Suspirei longamente – Me aproximei pra ver e... Perdi o controle. Só aconteceu... Não planejei nada disso...

— Não existe isso de “só aconteceu” Naruto!

— Sasuke, estou te dizendo que foi assim. Quando eu vejo a Hinata, minha pressão, minha pulsação e minha temperatura sobem e eu nem sei mais dizer o que está acontecendo.

— Como você pode estar tão fascinado? Você não podia ter deixado isso acontecer!

— Acha que eu não sei disso? – Esbravejei – Eu tenho evitado me encontrar com ela, a não ser nas aulas. Eu tenho tentando não pensar nela... Mas, não dá. Não consigo... – Me voltei para ele, o olhando seriamente – Sasuke, eu sinto que estou ap...

— Não! – Ele me cortou – Nem pense em continuar, eu já te disse. Você já deixou ir longe demais e você sabe! – Ele respirou fundo – Eu não entendo, não entendo mesmo. Vocês não se conhecem há tanto tempo assim, você está me contando tudo?

— Estou! Sasuke, não aconteceu mais nada. Eu também não consigo explicar. Mas... Ela mexe demais comigo... O que eu faço? – Estava quase desesperado.

Meu amigo me fitou descontente, antes de finalmente dizer:

— Você vai falar com ela, uma ultima vez e em um lugar seguro, pra pedir desculpas. Dizer que foi um grande erro, que você estava fora de si, inventa o que quiser, mas tem que deixar claro que foi errado e não vai se repetir. E nem pense em ir naquela biblioteca de novo, Naruto. Ou a qualquer outro lugar que vocês acabem sozinhos. Seu único contato com ela tem que ser em sala de aula, você me entendeu?

— Sim... – Pronunciei baixo.

— Ela vai se formar esse ano, você só precisa aguentar até lá, e as coisas vão voltar ao normal. Você vai fazer isso?

Eu concordei com a cabeça, sentindo o peito doer. Mas, ele estava certo. Isso tinha que acabar...

Naquele momento, não tinha como eu prever que, na verdade, isso estava bem longe do fim.