Os Retalhadores de Taurus escrita por Haru


Capítulo 4
— A Resistência contra-ataca




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— A Resistência contra-ataca

Em sua super velocidade, Mitsu investia contra os soldados inimigos e os derrubava sem que eles sequer o vissem. Aname vinha logo após ele. Com seus lasers rubros e teleguiados, ela atacava a distância. Ninguém naquela grande floresta tinha a menor chance contra os dois, a terra ficara repleta de guerreiros caídos. Precisavam admitir: até que aquilo estava sendo divertido. Mas não perdiam o foco. Precisavam invadir a prisão onde puseram Shiino e os outros antes da noite chegar. Temiam já ser tarde demais.

Os ventos agitavam as folhas nas árvores, as corujas chirriavam. Não fossem os adversários de Mitsu e Aname gritando ordens uns para os outros, tudo estaria acontecendo ao som da natureza. Graças aos rigorosos treinamentos de Hirihito aprenderam a ser ágeis e silenciosos como conseguiam ser até o presente. Depois do que ouviu dele naquela manhã, Mitsu não agradeceria tão cedo. Afastou esses pensamentos da cabeça. Não era hora de pensar nisso. Qualquer distração poderia atrasá-los.

Mitsu amplificou a própria velocidade, correu até o retalhador à direita deles na floresta e o nocauteou com um cruzado de direita no rosto. Depois, foi para cima do que estava a esquerda, desmaiando-o rapidamente também. Ao atacar o que estava mais a frente, no centro, surpreendeu-se: ele se esquivou de seu golpe e contra-atacou com um gancho. Mitsu se protegeu usando as mãos e recuou com um salto para perto de Aname. Os dois olhavam tensos o enigmático guerreiro mascarado.

Vestido todo de verde escuro, com as roupas de quem quer se camuflar na mata, o retalhador olhava-os sem pronunciar uma palavra. Apesar de novos, sabiam identificar um guerreiro desafiador só pela postura dele. Homem, alto, fisicamente forte, sisudo, tudo indicava que vencê-lo iria demandar muito mais esforço e tempo do que os demais exigiram. Tempo era tudo o que Mitsu e Aname não podiam perder. O desespero aumentou quando mais dois homens se juntaram ao primeiro.

Aname armou a guarda e deslocou a perna canhota para a esquerda. Suas mãos sumiram numa fluorescente chama vermelha clara.

— Continue! — Sugeriu, preparada para o que desse ou viesse. — Tem que continuar... salve Shiino e os nossos companheiros!

— Não posso te abandonar! — Mesmo admirado pela bravura dela, se recusou a ir. Estavam juntos naquela. Além disso, ela só foi ali porque a chamou, o que quer que lhe acontecesse seria culpa dele. — Deixar você aqui não seria diferente de desistir dos que estão lá em baixo, eu não conseguiria nem lutar se fizesse isso!

Alguém aterrissou, primeiro, ao lado de Mitsu. Depois surgiu alguém próximo de Aname. Daichi e Lila, respectivamente. Ambos vestidos como os membros da Resistência.

— Vai, Romeu... — Mandou Daichi. Ao longo de um forte bocejo, continuou: — Só não demora, já tô ficando com sono!

— Ela não lutará sozinha, Mitsu! — Exclamou Lila. — Vai lá!

Muito receoso, afinal haviam três retalhadores e um deles deteve um soco seu, Mitsu se foi. Não tinha um relógio ali, entretanto, a queda crescente da temperatura e a visibilidade cada vez maior da lua o fizeram perceber que muito em breve anoiteceria. E não era uma boa ideia ficar por ali até depois do dia virar noite. Correndo o mais celeremente que podia, pondo para dormir quem entrava em seu caminho, desviando das árvores, não tardou a atingir seu ansiado destino.

A maioria dos retalhadores da Resistência feitos prisioneiros reclamava entre si de sua condição, murmurava achando que haviam sido abandonados pela ordem em prol da qual puseram em risco suas vidas e lançavam maldições contra Hirihito. Só um deles se mantinha quieto e calmo atrás das grades da solitária e fria cela em que o trancaram. Shiino. Para não ouvir as besteiras que falavam seus colegas, ele abaixou a cabeça e elevou os pensamentos para outras situações.

Sua serenidade não vinha da confiança de que alguém apareceria e os resgataria. Não. Derivava de sua completa indiferença à morte e ao que quer que fizessem com ele. Ao contrário de seus companheiros de prisão, dava total apoio à decisão da Resistência de deixá-los ali. Mandar guerreiros para resgatá-los, pensava ele, seria apenas dispêndio de tempo e provavelmente sacrifício inútil de soldados. Deviam concentrar seus esforços em desmantelar aquele maldito regime tirânico.

Aos doze anos de idade, assistiu o assassinato de toda a sua família. Foi o único poupado por aquele governo — não por piedade, no entanto. Eles o recrutaram e forçaram-no a trabalhar, a sair em missões. Nos primeiros dias, com o objetivo de ganhar a confiança deles, ajudou-os, mas fugiu assim que teve a chance. Odiava-os de todo o coração por terem matado as pessoas que ele amava e, não obstante isso, forçado ele a cooperar. Dedicou todo o seu ser a exterminar todos eles. Não deixaria um só vivo.

Olhou ao redor com um meio sorriso no rosto. Festejava secretamente ninguém ter vindo por eles. Se tivesse que sofrer ou que morrer para a Resistência dar um passo a mais na direção do sucesso, que fosse. Suportaria qualquer coisa. As reclamações de seus colegas, todavia, começavam a irritá-lo. Não pensou que estava entre covardes e chorões quando saiu entre eles naquela manhã. Se soubesse que existia gente assim na Resistência, seria mais criterioso quanto às pessoas com as quais aceitava sair em operações.

— E então?! — A voz da carcereira soou pelo corredor. Houve silêncio. — Essa é a poderosa Resistência? Aquela que vai dar fim à nossa tirania? Que piada! — Discursava, passeando lentamente e olhando dentro das celas. Ninguém respondia nada, todos se amedrontaram. — Quem vai morrer primeiro? Será que é você? — Avistou as grades atrás das quais puseram Shiino e, impressionada com a calma dele, sugeriu: — Que tal você?

Ao ouvir aquilo, Shiino sorriu, ergueu o rosto, olhou no verde claro dos olhos dela e respondeu:

— Por mim, tudo bem. Me mostrem o que podem fazer, desgraçados.

A mulher aplaudiu. O medo que viu na feição dos das outras celas e as discussões a fizeram pensar que não veria alguém assim ali, porém, já que um se voluntariou, começariam por ele.

— É muito nobre! Realmente admirável... — Falava, em retribuição. Agachou-se, segurou as grades e prosseguiu: — Mas sua morte será lenta e extremamente dolorosa. Será que você consegue manter esse sorrisinho enquanto desfruta dela?

Sem esboçar um traço de medo ou insegurança, Shiino insolentemente retrucou:

— Será?

A mulher se reergueu e tomou um par de chaves do bolso de trás da calça. Ia abrir a ala dele para levá-lo e executá-lo do modo que prometeu, contudo, um punho a acertou e atirou no chão. Mitsu. Todo mundo vibrou de emoção quando o reconheceu, só reação de Shiino não foi a que ele esperava. Os dois reviraram os olhos. É um idiota, simultaneamente pensaram um do outro. A carcereira se pôs de pé correndo e atacou Mitsu. Tinha que acabar com ele o mais rápido possível, seus colegas não podiam vê-lo e pensá-la como a incompetente que perdeu para uma tropa de retalhadores fisicamente esgotados.

Investiu sobre o herói com uma chuva de socos. Cruzados de direita, de esquerda, ganchos, no rosto nas costelas, nos quadris. Não acertou nenhum, porém também não foi atingida pelo contra-ataque rival. Mitsu errou um direto de esquerda, um de direita, mirou um chute na cabeça dela e a atingiu nos braços porque ela os usou para bloqueá-lo. Desviou com a mão um cruzado de esquerda dela, abaixou e escapou de uma cotovelada, encheu as mãos de energia elétrica e contra-atacou. O problema foi que a loira atacou com energia na mesma hora: uma grande explosão aconteceu. Cada um saiu voando para um lado e os espectadores ficaram cegos por causa da luz proveniente.

Mitsu se recompôs rápido mas, por azar, sua adversária recompôs-se antes, ela lhe deu um pisão tão forte no peito que o fez rolar dezenas de vezes para trás até colidir com a parede no fundo. Tendo-o encurralado, a retalhadora arremessou uma faca de energia avermelhada contra ele, Mitsu, contudo, retirou o rosto da frente. Só ganhou um corte superficial na bochecha esquerda. Levantou ágil, esquivou de um jab, de um direto, de um gancho e golpeou a oponente com um forte soco na costela direita. Ela recuou cinco apreensivos passos. Desferiu uma mãozada contra Mitsu, ele se escudou pondo um braço na frente e tentou socá-la na cara. A mulher esquivou e retrocedeu até o meio do corredor. 

Ao som da torcida do guerreiro da Resistência, atacou-o com um chute. Ele saiu da frente e manteve os olhos nela. Uma imprevisível troca de golpes diversos começa entre os dois e se encerra com um esmurrando a cara do outro. Notando que o mero combate corpo a corpo não os levaria a algo mais que um empate, a moça decide elevar a luta a um novo nível. Encheu os braços de espinhos energizados e foi para cima de Mitsu. Ele, em resposta, criou uma armadura de eletricidade em torno do corpo. A mulher foi eletrocutada. Isso, entretanto, não a derrotou, mas de sua cela Shiino a envolveu com correntes e imobilizou-a para Mitsu lançá-la para cima com um gancho e vê-la desabar nocauteada. 

A corrente elétrica que veio de Mitsu devolveu a força de Shiino. Ele mesmo abriu a prisão na qual o trancafiaram e foi até Mitsu, que aguardava um "obrigado".

— Me diz que você veio sozinho. — Rezava Shiino. Quanto menos soldados em risco, melhor. 

— Não, a Lila, a Aname e o Daichi estão lá em cima. — Disse, ingênuo sobre o modo dele de ler a situação. Ficou confuso quando o viu passar por ele meneando com a cabeça. — O que é?

— Vamos libertar os outros prisioneiros logo, os filhos da mãe do governo com certeza estão vindo aí. — Retrucou. 

As suspeitas de Shiino não tardaram a se provar fundamentadas. Ele soltava os prisioneiros, Mitsu os reabastecia e, juntos, todos derrotavam os agentes que desciam para detê-los. Nenhuma quantidade podia contra a Resistência de Sirius, menos ainda contra a dupla que derrotou a carcereira. O trabalho em equipe dos dois e sua sintonia os faziam imbatíveis. Um cobria a retaguarda do outro, ninguém os tocava. 

— Dá pra me dizer porque é que você está irritado? — Mitsu derrubou um dos agentes com um pisão e o questionou. — Eu salvei seu traseiro!

— Pôs sua vida em risco, não devia ter vindo pra cá! E ainda trouxe gente com você, trouxe sua própria irmã! — Shiino replicou, depois mandou um dos oponentes pra lona com um soco. — Vocês deviam se concentrar em acabar com esse regime tirânico, se morrerem aqui serão um grande desfalque pra Resistência!

Após derrotarem o último guarda do governo, os dois correram para a escadaria que levava até a saída. 

— Não se parece com o Hirihito, não se veste como o Hirihito mas fala como o Hirihito! Tem certeza que você não é ele?! — Redarguiu Mitsu, aborrecido com o que escutou. — Em primeiro lugar, eu não chamei Aname, Lila e Daichi pra virem comigo, eles vieram porque quiseram, porque viram que era o certo a se fazer! Nós estamos nessa porque não desistimos dos nossos! Não somos ferramentas que são abandonadas quando perdem o uso, somos homens!

Talvez nunca admitisse em voz alta, mas acabou de ter uma epifania. Mitsu tinha toda a razão. Foi essa mentalidade que instrumentaliza os homens que transformou os assassinos de seus pais em governantes de sua pátria. Como não viu isso antes? Como pôde ter sido tão cego? Sua visão de mundo, seus valores, sua personalidade — tudo isso estava em período de transição. Encarou Mitsu enquanto corriam para a saída. Sempre se julgou tão inteligente, tão certo sobre tudo. Achava que sua mente estava feita. Nunca imaginou que um bobalhão como ele lhe ensinaria uma lição tão preciosa e o faria repensar toda a sua vida tão profundamente. 

Há um tempo vinha se preparando porque acreditava que assim que a Resistência ganhasse notoriedade pelo mundo se tornaria o símbolo dela. Pensava que daria esperança às pessoas, que seria um líder. Acabava de ver que estava errado. O verdadeiro líder estava ali a seu lado. 


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