Soulmate escrita por violet hood


Capítulo 1
I can’t see me loving nobody but you for all my life


Notas iniciais do capítulo

Olá! Chegou a minha última participação no Pride 2021! Ainda tenho que finalizar Color Rush, mas isso deve acontecer no começo de setembro, então vou deixar meus agradecimentos aqui

OBRIGADA TRICE POR BETAR ISSO, entreguei essa fanfic hoje 4:30, escrevi sete mil palavras em menos de 24 horas. Ainda estou impressionada que você conseguiu betar tudo hoje ♥ Muito obrigada mesmo! Obrigada Foster por me emprestar o Rigel Thomas-Finnigan nessa fanfic (leiam The Answer Is In The Stars e Against the odds). E por fim, obrigada red hood, prongs e noora, mais um ano que amei ser adm desse projeto ao lado de vocês

Essa fanfic começou com uma ideia que me agradava muito, que era ter algo de errado com a marca de alma gêmea do Scorpius, escrevi 200 palavras e planejei para ser uma comédia romântica com um Scorpius bem confuso com seus sentimentos. E então eu li um livro chamado The Memory Police que não tem nada a ver com essa fanfic, mas ele me deixou reflexivah. E eu pensei que precisava mudar algo nessa fanfic, mesmo sem saber muito o que. Soulmate não era algo que eu estava louca para escrever, só algo que eu tinha inscrito para o Pride e precisava terminar. Então, recentemente, vi pela primeiras vez três filmes do Wong Kar-Wai (todos eles foram citados nessa fic), e fiquei ainda mais reflexiva kkkkk Os filmes dele me fizeram refletir principalmente sobre o amor e sobre a solidão. Tenho quase 23 anos e nunca me apaixonei, mas passei minha vida toda lendo e escrevendo histórias de amor, então acho que idealizo muito isso, ou mesmo tempo que acho que nunca vou amar ninguém. Quis fazer esse Scorpius buscando desesperadamente um amor que ele tinha idealizado e tendo dificuldades para se apaixonar. Isso ainda é uma romcom Violet Hood, mas com um pouco a mais! E para falar a verdade, não lembro a última vez que me diverti tanto escrevendo.
Então, essa fanfic vai principalmente para as pessoas de que nunca se apaixonaram ♥
Espero que gostem!

Título do capítulo vem da música Happy Together, e essa é a playlist que me acompanhou ontem e nessa madrugada enquanto escrevia: https://open.spotify.com/playlist/0m0j7l7TLtMwVePzk92wdV?si=c79f601632924818



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Scorpius Malfoy não gostava de muitas coisas. Não gostava da maior parte dos legumes, detestava comida picante, odiava sentir calor, mas também não gostava de muito frio. Entretanto, dentre todas essas coisas, tinha algo que Scorpius Malfoy realmente não gostava, ou melhor, odiava com todas as suas forças, que era a cicatriz no seu braço.

Foi o resultado de um acidente bobo com um ferro de passar roupa quando era criança. O que o fazia odiar a cicatriz não era nem a aparência dela, e sim, a história por trás. Toda vez que o perguntavam sobre a cicatriz, Scorpius sentia que as pessoas estavam preparadas para ouvir alguma história interessante e, no fim, davam risada quando descobriam a verdade. Até mesmo os seus pais, que na época ficaram desesperados, achavam graça hoje em dia.

E claro que seria do lado daquela cicatriz que a sua marca de alma gêmea apareceu em seu aniversário de dezoito anos.

Apesar de não gostar de muitas coisas, Scorpius Malfoy sempre gostou da ideia de ter uma alma gêmea. Era uma marca permanente em seu corpo que sempre imaginou que olharia com orgulho.

Algumas pessoas tinham medo da marca de alma gêmea. Ele entendia que poderia ser assustador ter o nome de alguém marcado no corpo pelo resto da vida e, nem sempre, almas gêmeas resultavam em lindas histórias de amor. Porém, Scorpius era um pouco positivo e, talvez, esperançoso demais.

Os seus pais eram almas gêmeas, nunca viu um casal tão apaixonado, mesmo que tão diferentes. Draco Malfoy era um advogado sério, que parecia só sorrir quando estava na presença do filho ou da esposa. Enquanto Astoria Malfoy era uma artista alegre até demais. Os avós paternos de Scorpius tinham sido contra o casamento, os Malfoy não acreditavam em almas gêmeas e preferiam se casar por conveniência. Mas, no fim, ninguém conseguiu impedir que eles se casassem. E o único filho do casal tinha crescido com o melhor exemplo de almas gêmeas possível.

Ele sabia que nem sempre dava certo — a sua tia Daphne tinha tido uma filha com a alma gêmea, contudo o homem a trocou por outra e nunca quis saber da filha —, o que não o impedia de sonhar. Scorpius queria amar a sua alma gêmea intensamente, assim como os seus pais se amavam.

E, quando leu o nome Ros em seu braço, esperou sentir algo, sentir o seu coração bater mais rápido ou um frio na barriga. Mas a única coisa que pensou foi “Não deveria ser Ross?”

Imaginou que talvez quando conhecesse a sua alma gêmea pessoalmente, Scorpius sentiria algo. Era provável que só o nome não fosse capaz de despertar sentimentos nele, no entanto, assim que visse o rosto da sua alma gêmea, ele iria se apaixonar. Ele tinha que se apaixonar.

Entender que a chance do nome em seu braço pertencer a um homem era grande, não assustou Scorpius. Ele nunca tinha beijado um homem antes, na verdade, só havia beijado garotas, por pressão de seus amigos. Muitos deles riam dizendo que Scorpius parecia um crente se guardando para a sua alma gêmea. Porém, Scorpius não tinha culpa em ser romântico demais. Sim, ele só amaria uma pessoa em sua vida, tinha certeza disso.

Os seus pais não ficaram muito chocados pela marca no braço dele. Também questionaram o nome estranho, contudo, não ligavam se ele pertencesse a um homem. Astoria era bissexual e já tinha tido namoradas antes de conhecer Draco, Scorpius não entendia como ela conseguira namorar alguém tendo o nome de outra pessoa escrita no corpo. Sentia que aquilo era uma traição, Scorpius não queria fazer aquilo com Ros, mesmo sem saber nada sobre ele.

Antes de partir para faculdade, Astoria o chamou para conversar.

— Nunca pensei que fosse precisar falar isso para o meu filho — começou. — Mas você precisa aproveitar a sua vida antes de conhecer a sua alma gêmea. Ros talvez não seja a pessoa que você espera. Não bote tanta expectativa em alguém que você ainda não conhece.

Já era um pouco tarde demais para aquilo, pensou Scorpius. Contudo, preferiu não argumentar com a mãe e deixou que ela falasse tudo o que queria falar.

— Muitas pessoas não encontram a sua alma gêmea, ou passam quase a vida toda sem se conhecer. Aproveite a faculdade, conheça pessoas novas, namore alguém — Scorpius fez uma careta com o último comentário, fazendo com que Astoria soltasse um suspiro cansado. — Estou falando sério, Scorpius, você não pode deixar que a ideia de alguém afete toda a sua vida. O amor aparece quando menos esperamos e, nem sempre, ele é a nossa alma gêmea.

Era fácil para a mãe falar, ela tinha encontrado a alma gêmea e tudo tinha dado certo no final.

Apesar de não ter levado muito a sério as palavras dela naquele momento, elas continuaram na sua cabeça depois. Scorpius pensou se a sua alma gêmea estava namorando agora, se ele — talvez não fosse um ele, Scorpius não sabia — dizia que amava alguém mesmo com o nome de outra pessoa gravado no corpo.

Aquele pensamento o fazia se sentir traído e um pouco bobo por estar se limitando a só se apaixonar pela sua alma gêmea. Talvez Scorpius precisasse seguir o conselho da mãe. Porém, Ros também poderia ser como ele, alguém que nunca achou que fosse capaz se apaixonar por outro. Talvez Ros também esperasse por ele.

Scorpius não tinha como saber até o dia em que se conhecessem. Por isso, viu-se ainda mais desesperado, procurando por um Ros em todo o lugar que via. No seu curso de Engenharia em Hogwarts, tinham dois Ross, com dois S ao invés de um, os dois tinham outros nomes em lugares visíveis do corpo. Às vezes, Scorpius se perguntava se a biologia tinha falhado com ele e escrito o nome de sua alma gêmea errado, entretanto, aquilo nunca havia acontecido antes. Quem sabe ele fosse o primeiro. Scorpius não sabia. Ele não sabia de muitas coisas, não sabia nada sobre o dono do nome em seu braço e, muitas vezes, sentia que não sabia nada sobre si mesmo.

Naqueles momentos, o conselho de sua mãe rodeava os seus pensamentos. Scorpius queria desesperadamente saber o que era se apaixonar, sentia que todo mundo que conhecia já havia se apaixonado. Sempre fantasiou que aquele momento aconteceria assim que fizesse dezoito anos, mas agora ele tinha dezenove, estava no segundo semestre da faculdade e nunca havia se apaixonado.

Scorpius estava cansado por esperar por aquela única pessoa que iria fazer o seu coração bater mais rápido e o faria esquecer todas as palavras.

Por isso, decidiu finalmente seguir o conselho da sua mãe e tentar se envolver com outras pessoas.

O primeiro homem que beijou não se chamava Ros, ou Ross, ele tinha um nome muito mais peculiar.

Albus Severus Potter não foi o seu primeiro amor.

Eles se beijaram mais algumas vezes, até fizeram mais do que só beijar. Porém, nada acontecia. Não importava quantas vezes Scorpius o observasse dormir nas noites que passavam na mesma cama, ou risse das piadas bobas dele, o seu coração não batia mais rápido. No fim, Scorpius desistiu de se apaixonar por Albus.

Felizmente, Albus sentia o mesmo, eles decidiram manter a relação de amigos. Scorpius não tinha um amigo próximo em Hogwarts e rapidamente Albus virou o seu melhor amigo. Os dois faziam o mesmo curso, apesar de nunca terem conversado no primeiro semestre, eles também gostavam de jogar os mesmos videogames e os dois tinham nomes peculiares no corpo.

A alma gêmea de Albus se chamava Rigel, era um nome diferente e Scorpius tinha certeza de que seria mais fácil de encontrar nas redes sociais que Ros — sim, ele tinha tentado —, mas Albus tinha uma visão diferente da dele, não queria procurar por sua alma gêmea, esperaria o momento certo para conhecer Rigel. Albus também já se tinha apaixonado por um garoto no ensino médio. Ele sabia o que era se apaixonar e o que era ter o coração partido, talvez fosse por isso que Albus não sentisse a necessidade que Scorpius possuía de procurar o amor verdadeiro.

Tentou se apaixonar mais algumas vezes, contudo todas as suas tentativas foram em vão. Chegou até a se perguntar se era possível gostar de alguém, temia que nem mesmo Ros pudesse despertar aqueles sentimentos nele.

Scorpius passou a vida toda esperando por sua alma gêmea, nunca pensou que pudesse se apaixonar por outra pessoa. Porém, o seu primeiro amor não era a mesma pessoa do nome escrito em seu braço.

E, com vintes anos, Scorpius só notou que estava apaixonado por Rose Weasley quando já era tarde demais.

A primeira vez que ele soube da existência de Rose foi antes de encontrá-la pessoalmente. Tinha acabado de voltar para o dormitório, depois de estudar a tarde toda na biblioteca, quando Albus o chamou para jogarem videogame, Scorpius aceitou na hora, precisava relaxar.

Entrou no quarto do amigo e logo sentiu um cheiro diferente. Era o cheiro de um perfume mais doce, que Scorpius nunca tinha sentido nas diversas vezes que esteve ali.

— Tinha alguém aqui? — perguntou, enquanto jogava a mochila na cama.

— Minha prima acabou de sair — explicou Albus, distraído enquanto iniciava o jogo.

Uma coisa que Scorpius aprendeu era que o melhor amigo tinha uma família gigante, parecia que tinha um primo de Albus em todos os cursos de Hogwarts. Entretanto, embora fossem próximos, Scorpius só conhecia o irmão mais velho dele, James, e um primo, Fred. Albus também parecia ter preguiça de apresentar a família toda para o amigo e não era como se Scorpius fizesse questão de conhecer todo mundo.

— Isso explica o cheiro bom no quarto — comentou, sentando-se do lado do amigo na beirada da cama. Os quartos naquele prédio eram individuais e pequenos. Scorpius não sabia como Albus tinha conseguido montar o seu computador gamer ali, e nem como conseguia estudar sem nenhum espaço sobrando na escrivaninha.

O comentário de Scorpius fez com que Albus o encarasse pela primeira vez desde que entrara no quarto.

— Está insinuando que normalmente o meu quarto fede? — perguntou ofendido.

Scorpius segurou uma risada.

— Não disse isso — protestou. — Só não cheira tão bem quanto agora. Talvez você devesse comprar o perfume da sua prima para borrifar de vez em quando.

Albus xingou Scorpius, mas já estava muito focado no jogo para discutir.

 

***

 

A primeira vez que Scorpius viu Rose foi na biblioteca. Ele passava muito tempo lá, achava difícil se concentrar quando estava no dormitório, era barulhento demais e sempre corria o risco de ter Albus invadindo o seu quarto para sugerir que jogassem algo.

Scorpius queria poder dizer que conhecia a biblioteca de Hogwarts como a palma de sua mão, porque vivia mais nela do que em seu dormitório desde a primeira semana de aula, porém, o local era imenso, um prédio sem fim. E, em quase dois anos como frequentador da biblioteca, Scorpius nunca havia visto Rose Weasley. Até aquele dia.

A primeira coisa que notou foi o cheiro. Era um perfume doce e familiar, já haviam se passado alguns meses desde que o sentira no quarto do Albus, por isso, não conseguiu recordar onde o havia sentido antes. Contudo, tinha um aroma agradável e fez com que ele levantasse o olhar dos livros de Engenharia para descobrir de quem era aquele perfume.

Havia uma garota ruiva procurando por um livro perto de onde ele estava sentado. Ela era relativamente alta, usava uma saia e um suéter azul, o cabelo dela era ondulado e longo. Mesmo sem mal conseguir ver o rosto, Scorpius sabia que ela era linda.

Não notou que estava distraído encarando-a, até que a garota achou o livro que procurava, ela se virou provavelmente para procurar um lugar para se sentar e Scorpius desviou com rapidez o olhar para o seu livro.

Sentiu o seu coração acelerar por quase ter sido pego, ele não queria que ela se assustasse ao vê-lo a encarando, nem ao mesmo sabia o motivo de ter olhado por tanto tempo.

Tentou focar no livro, mas os números não faziam mais sentido para ele. Escutou passos se aproximando e levantou o olhar o bastante para ver as pernas da garota passando na sua frente.

Aquela área da biblioteca não estava muito vazia naquele dia, Scorpius não via nenhuma mesa completamente desocupada e ele estava sozinho naquela mesa. Levantou um pouco mais o olhar a fim de ver a garota se sentando com algumas cadeiras de distância da dele.

Ela o notou dessa vez e mostrou um sorriso fraco, como se pedisse permissão para se sentar. Scorpius sentiu-se prender a respiração, surpreso. O rosto dela era realmente lindo, cada detalhe nele e Scorpius se viu perdido nos olhos azuis escuros da garota, nunca havia visto olhos tão lindos.

Fez o melhor para recuperar a compostura, não sabia por quanto tempo ela o olharia, esperando por uma resposta. Acenou com a cabeça rapidamente e, no segundo seguinte, ela já estava focada no livro.

Scorpius tentou fazer o mesmo. Tentou muito. Ele sempre foi um aluno bem concentrado, que conseguia passar a aula inteira fazendo anotações e depois estudar por horas na biblioteca. Entretanto, tinha algo naquela garota que havia roubado completamente a sua concentração.

Não conseguia entender, Scorpius já tinha conhecido muitas pessoas bonitas antes, mas nunca tinha se sentido assim. Era como se tivesse algo o atraindo cada vez mais para a garota sentada perto dele.

Uma vez o outra se surpreendia olhando para ela, rápido o bastante para que ela não notasse. Tentou ver qual era o livro que a garota lia e fazia anotações em um caderno, por algum motivo queria saber mais sobre ela. Mesmo sabendo que provavelmente não a veria de novo.

Conseguiu ler “Story” na capa, porém, não conseguia enxergar o nome do autor. Será que ela era aluna de Literatura?

— Eu posso ver você me encarando — disse a garota. Foi a primeira coisa que ela disse para ele. Scorpius não estava surpreso que a voz dela também fosse linda e, mesmo sendo pego no flagra, ele ainda queria ouvi-la falar mais.

Sabia que precisava responder. Provavelmente as suas bochechas estavam vermelhas. E ela ainda o encarava, mas não parecia brava, aparentava mais estar se controlando para não rir da situação. Scorpius tinha certeza de que estava patético, encarando-a assustado e sem saber o que dizer.

Rapidamente olhou para o livro, inventando uma desculpa.

— E-eu fiquei curioso para saber qual é o livro — disse e torceu para que a gaguejada no começo da frase não tirasse a credibilidade dele.

A garota sorriu, de um jeito que mostrava que ela não havia levado a desculpa a sério. Todavia, mesmo assim, levantou o livro para que ele visse a capa. O nome do autor era Robert McKee, e tinha um subtítulo: “Substância, estrutura, estilo e os princípios de escrita de roteiro”.

— Você estuda Cinema — concluiu Scorpius, mais para si mesmo do que para ela.

Entretanto, a garota ouviu. Ela riu baixo e concordou.

— Sim, e você estuda algo com muitos números.

— Engenharia — respondeu. Queria continuar o assunto, queria poder ouvi-la falar por mais tempo.

— Nojento — comentou fazendo uma careta. Scorpius soltou uma risada com a expressão dela, contudo, logo lembrou que estavam na biblioteca e não queria ser expulso.

Queria perguntar o nome dela, precisava saber. Porém, quando notou, ela já estava concentrada no livro de novo, encerrando o assunto.

Scorpius tinha entendido que ela não queria falar mais, então obedeceu a vontade dela, voltando a sua atenção para o seu livro.

Claro que ele não conseguiu se concentrar, mas também não queria ser pego a observando de novo. No fim, ficou encarando o livro de cálculo até ouvir a garota se levantando.

Assim que ela saiu, Scorpius sentiu que podia respirar normalmente de novo e notou o quão rápido o seu coração estava batendo.

Dois dias depois e Scorpius ainda pensava na garota da biblioteca. Ele decidiu que precisava saber mais sobre ela, no entanto, não era como se conhecesse algum aluno de Cinema, nem ao menos sabia em que prédio estudavam.

Felizmente, Scorpius conhecia alguém que conhecia bastante gente de Hogwarts, ou melhor, era parente de muitos alunos.

Depois de uma partida de videogame com Albus, Scorpius comentou que conheceu uma menina na biblioteca, que estudava Cinema. Mas não sabia o nome dela.

— Tenho uma prima que estuda Cinema! — exclamou Albus na mesma hora. — Posso perguntar para ela. Como era essa menina da biblioteca?

Scorpius pensou bem, lembrou de todos os detalhes dela: o cabelo ruivo, os olhos azuis, os lábios rosados.

— A menina mais linda que eu já vi — concluiu, por fim.

Albus o emburrou com força, fazendo com que Scorpius quase caísse da cama.

— Você é um caso perdido — murmurou. — Vamos jogar outra partida.

Scorpius soube na hora que não receberia nenhuma ajuda de Albus.

Uma semana depois, ele deu a sorte de a encontrar na biblioteca de novo. A garota se sentou na mesma mesa que ele, com certeza o reconheceu. Entretanto, ela não iniciou nenhum assunto, e Scorpius não tinha coragem de dizer nada, ainda mais quando ela parecia realmente estar estudando.

Aquilo continuou por algumas semanas, eles se encontravam na biblioteca, sentavam-se na mesma mesa com algumas cadeiras de distância e trocavam alguns olhares. Porém, nunca conversavam.

Scorpius estava prestes a enlouquecer, ele não entendia qual era a daquela garota. Se ela não tivesse nenhum interesse nele, não iria se sentar perto dele toda vez que estava na biblioteca. Então, Scorpius resolveu tomar coragem. E, assim que ela se levantou para ir embora, ele foi atrás.

Alcançou a garota na saída. Ela logo notou a presença dele, mas não disse nada.

— Oi — disse Scorpius caminhando do lado dela. Não sabia muito bem como iniciar a conversa e um “oi” parecia sempre seguro.

Ela o encarou, contudo não parou de caminhar. Scorpius não tinha ideia de para onde ela estava indo.

— Oi.

Foi bom escutar alguma palavra saindo da boca dela de novo, ele havia sentido falta do som da voz da garota.

— Eu me chamo Scorpius — apresentou-se sem querer perder a oportunidade de descobrir o nome dela. — E você?

Ela parou de andar na mesma hora em que ouviu o nome dele.

— Sério? — perguntou, Scorpius a encarou sem entender. Ela estava perguntando se era sério que ele queria saber o nome dela? A garota notou a confusão no rosto dele e acrescentou: — Seu nome é mesmo Scorpius?

Sabia que ele não tinha um nome muito comum, mas nunca viu alguém duvidar que ele estivesse mentindo o seu nome.

— Sim...

A garota mordeu os lábios e encarou o chão. Ela sempre parecia confiante na biblioteca, desde a primeira vez que conversaram até quando só trocavam olhares. Contudo, ela estava visivelmente nervosa, o que apenas deixou Scorpius mais confuso.

Quando ela o encarou de novo estava um pouco mais determinada.

— Meu nome é Rose — disse e esperou para ver a reação.

Rose.

Era um nome bonito, tão bonito quanto ela. Scorpius estava feliz em finalmente poder saber o nome dela.

Ele sorriu para ela.

— É um prazer te conhecer, oficialmente, Rose.

Agora era Rose quem estava confusa, Scorpius sentia que ela esperava alguma reação diferente dele. Entretanto, não sabia de que outro jeito deveria reagir.

— Sim, o meu nome é Rose — repetiu ela.

Scorpius riu, por estar confuso com o que ela queria dizer.

— Tudo bem, Rose, eu acredito.

Rose franziu o cenho e ele escutou quando ela murmurou em voz baixa:

— Isso é tão estranho.

— O que... — começou a perguntar, mas ela o interrompeu.

— Tenho que ir, Scorpius — disse se afastando dele, sem parar para olhar para trás.

Scorpius não entendia o que havia acabado de acontecer, no entanto, não podia deixar de se sentir mais intrigado por Rose.

Ela continuou aparecendo na biblioteca e continuou sem falar com ele. Dessa vez nem ao menos o encarava, apesar de se sentarem na mesma mesa.

Scorpius desistiu de tentar esperar por alguma palavra dela. Ele trocou de cadeira, sentando-se bem na frente dela. Se Rose notou, ela não disse nada, continuou lendo o seu livro que era outro sobre Cinema.

— Rose — chamou em um sussurro. Ela não o encarou, mas parou de escrever no caderno, o que já era sinal de que ela estava prestando atenção. Scorpius não sabia muito bem o que queria dizer, tinha tanta coisa que queria saber sobre ela, que queria entender. Porém, aprendera o quanto era difícil manter a atenção da garota, então tentou perguntar sobre algo que imaginou que ela tivesse muito assunto para falar. — Qual é o seu filme favorito?

Rose segurou uma risada, mas Scorpius viu os lábios dela se curvarem em um sorriso. Sentiu orgulho de si mesmo por fazê-la sorrir.

Quando ela o encarou, Scorpius notou que tinha sentido falta de olhar nos olhos da garota.

— Você não pode perguntar para uma estudante de Cinema qual o filme favorito dela — disse em voz baixa. — É como perguntar para um estudante de Engenharia qual o número favorito dele.

— Oito — respondeu Scorpius sem pensar duas vezes, a verdade era que o primeiro dia em que ele viu Rose na biblioteca era o dia oito de agosto, contudo não diria aquela parte em voz alta.

Rose precisou colocar a mão na boca para abafar a risada. Ela não estava preparada para uma resposta tão confiante.

— Se você não tem um filme favorito — começou Scorpius retornando o assunto. — Deve ter algum diretor favorito? Ou talvez ator?

Ela não precisou de muito tempo para pensar:

— Meu diretor favorito é Wong Kar-Wai.

Scorpius não tinha ideia de quem era aquele homem. Mas não queria decepcionar Rose, então, apenas concordou.

— Você não conhece — concluiu Rose. Ela ainda sorria para ele, o que era bom.

— Desculpa — disse Scorpius, envergonhado.

— Não tem problema, sério — assegurou Rose. — Você tem algum diretor favorito?

Scorpius pensou bem. Ele não sabia o nome de quase nenhum diretor de cabeça, e os que sabia nunca tinha visto nenhum filme, só conhecia os nomes pela fama. Não queria tentar mentir para Rose somente para impressioná-la, então foi sincero:

— O cara que dirigiu Toy Story?

Rose sorriu ainda mais.

— Uma boa escolha — comentou. — Mas não sei o nome dele.

Scorpius fingiu estar ofendido.

— Como pode estudar Cinema e não saber o nome do cara que dirigiu Toy Story?

— Desculpa — disse Rose fingindo estar séria. — Prometo descobrir e te contar.

Scorpius sorriu contente com a resposta dela.

— Sobre o seu diretor favorito — começou. — Me recomende um filme dele, vou falar o que achei da próxima vez que a gente se encontrar. E você me conta mais sobre o diretor de Toy Story.

— Você não precisa ver um filme do Wong Kar-Wai só porque eu gosto dele.

— Mas eu quero — insistiu Scorpius. Ele queria saber mais sobre Rose, queria entender por que ela gostava das coisas que ela gostava e saber se ele também gostaria delas.

Rose ponderou por um tempo.

— Que tal Chungking Express? — sugeriu. — Se você gostar pode ver Fallen Angels depois.

 

***

 

Scorpius entendeu o porquê do diretor favorito de Rose ser Wong Kar-Wai. Ele sentia certo conforto nas histórias de Chungking Express e na maneira que o amor era retratado nelas. Scorpius sempre teve uma visão muito bonita do amor, mas, quanto mais os anos se passavam e ele não encontrava Ros e nem conseguia se apaixonar por outra pessoa, Scorpius começara a ver o amor de outro jeito. Apaixonar-se nem sempre era bonito. Às vezes era triste e solitário.

E, quando ele terminou Fallen Angels, sentindo uma dor inexplicável no peito, Scorpius notou que estava apaixonado por Rose. O seu primeiro amor.

Albus invadiu o seu quarto enquanto os créditos finais passavam e Only You do The Flying Pickets tocava.

— O que você está vendo? — perguntou alheio ao estado de choque que o amigo se encontrava. Albus se aproximou da cama para espiar o notebook dele. — Scorpius?

Fallen Angels — respondeu, mas não estava prestando muita atenção em Albus.

— Aquele filme chinês?

Isso chamou atenção de Scorpius. Não esperava que Albus fosse conhecer, sabia que o amigo só assistia filmes de super-herói, ou filmes inspirados em jogos.

— Sim — disse. — A garota da biblioteca me recomendou. Ela gosta muito desse diretor.

— Minha prima que estuda Cinema também ama esse diretor — comentou Albus. — Deve ser coisa de estudante de Cinema.

Scorpius concordou. Pensar em Rose o deixava confuso, eles mal haviam conversado, mas aqueles filmes tinham feito com que ele percebesse que, por mais que Rose não fosse sua alma gêmea, ela era o seu primeiro amor.

— Albus — chamou. — Estou apaixonado.

— Pela minha prima? — perguntou confuso.

Scorpius o encarou como se ele fosse burro.

— Não. Pela garota de biblioteca.

— Faz sentido — falou. — E o Ros?

Albus sabia mais do que ninguém como Scorpius idealizava a sua alma gêmea, como nunca conseguiu amá-lo por sentir que só poderia amar uma pessoa.

— Eu não sei — respondeu sincero.

O amigo suspirou e colocou a mão no ombro de Scorpius, para reconfortá-lo.

— Está tudo bem — disse. — Não tenha medo de se apaixonar por outras pessoas.

Ainda assim, Scorpius estava apavorado. Vendo que ele não iria dizer nada, Albus continuou:

— Por que não saímos um pouco para pegar um ar? Acabou de abrir um Starbucks perto do dormitório da Grifinória, é um pouco longe, mas uma caminhada vai te fazer bem — sugeriu. — Acho que ‘tá bom de filmes cultos por hoje.

Só então Scorpius notou que Only You já havia parado de tocar e tudo que restava de Fallen Angels era uma tela preta.

Albus estava certo, uma caminhada o faria bem.

O prédio da Grifinória ficava do outro lado do campus e a cafeteria estava bem cheia.

— Vou pagar o seu café hoje — anunciou Albus, enquanto eles entravam na fila.

— Como você está generoso hoje — comentou Scorpius conseguindo sorrir pela primeira vez naquele dia. — Talvez eu devesse me apaixonar mais vezes.

Albus revirou os olhos, porém feliz em ver o amigo sorrindo.

— Isso nunca mais vai acontecer — assegurou. — E é melhor você não ver mais filmes desse diretor, tenho medo do que pode acontecer da próxima vez.

Scorpius fez um bico. Ele ainda tinha muitos filmes do Wong Kar-Wai para ver.

— Mas tem um que eu quero ver com você — comentou e, antes que Albus pudesse protestar, disse: — Se chama Happy Together e é gay.

— E você está me dizendo para ver por que eu sou gay?

— Sim — respondeu como se fosse óbvio.

Albus riu.

— Você é ridículo, Scorpius. E escolhe logo o seu café, nossa vez está chegando.

Scorpius encarou o cardápio gigante na parede. A verdade era que nunca tinha ido a um Starbucks e não tinha ideia do que metade daquelas bebidas eram.

— Eu quero... — pensou bem. — A bebida mais cara que eles tiverem.

Albus suspirou cansado. Mas, antes que pudesse dizer algo, a vez deles já tinha chegado.

— Vou querer dois cappuccinos grandes, por favor.

Scorpius fez uma careta sabendo que aquela não era a bebida mais cara. O atendente disse o preço e Albus pagou.

— Seu nome? — perguntou enquanto Albus colocava a senha do cartão na máquina.

— Albus. Pode colocar o mesmo nome nos dois.

Scorpius notou que o homem não estava escrevendo o nome nos copos. A caneta estava parada, pronta para escrever, contudo o atendente encarava Albus sem se mexer.

Depois de digitar a senha, Albus também notou isso.

— É do mesmo jeito que fala — explicou, já acostumado com as pessoas confusas com o nome dele. — A L B U S.

— Eu sei — respondeu o homem ainda parado.

Tanto Albus quanto Scorpius estavam confusos com a situação. Foi só então que pararam para analisar aquele atendente. Ele era jovem, provavelmente um estudante, muitos trabalhavam no campus. Ele tinha um crachá com o nome no peito.

Rigel.

Naquele momento tudo fez sentido. Era ele a alma gêmea de Albus. Ao olhar para o amigo, Scorpius deduziu pela expressão no rosto dele, que Albus também tinha lido o nome no crachá.

Ninguém sabia o que fazer. Até que um colega de trabalho de Rigel chamou a atenção dele, a fila só estava crescendo. A alma gêmea de Albus fez a única coisa que poderia fazer naquele momento, escreveu o nome nos copos e chamou o próximo cliente.

Albus não disse nada enquanto esperavam pelo pedido, e continuou calado quando outro funcionário o chamou para pegar os cafés. Eles poderiam ficar lá até que Rigel terminasse o expediente, entretanto Albus não parecia querer isso. Scorpius o acompanhou até a saída e de volta para o dormitório, tinha certeza de ter visto Rigel encarando a alma gêmea ir embora.

Eles terminaram o dia assistindo Happy Together. E Scorpius fingiu não notar quando Albus começou a chorar do seu lado.

No fim, os dois concluíram que o amor era algo assustador.

 

***

 

Rose fazia com que o amor parecesse mais simples do que realmente era. Por mais conflituoso que Scorpius se sentisse, ele esquecia de tudo quando ela se sentava na sua frente na biblioteca e sussurrava coisas perto demais do seu rosto.

Eles conversavam sobre quase tudo: filmes, faculdade, comidas favoritas, lugares que queriam visitar. Scorpius descobriu que Rose fez um semestre de Jornalismo, mas depois de ter pegado uma aula extra de Cinema e ter acompanhado a filmagem de um curta universitário, ela largou Jornalismo na mesma hora e soube que tinha nascido para fazer Cinema.

Scorpius se sentia um cara bem simples ao lado de Rose, ele tinha escolhido Engenharia porque era bom com números. Não se arrependia do seu curso, porém não tinha a mesma paixão nos olhos que Rose possuía ao falar de Cinema.

Ele descobriu que amava ver ela falando sobre o que gostava. Após contar que havia gostado dos filmes do Wong Kar-Wai — escondendo a parte que eles o tinham feito ter uma crise existencial e descobrir que estava apaixonado por ela —, Rose começou a falar sem parar dos filmes. Scorpius gostava ainda mais dela quando ela falava sem parar, mesmo depois de meses, ele ainda sentia a sua respiração fraquejar ao ouvir o som da voz dela.

Scorpius nunca contou que a amava, e amava mais a cada dia que se passava, aquele sentimento sempre crescendo dentro dele. Tinha medo de perdê-la, ela não era a sua alma gêmea e deveria ter o nome de outra pessoa no corpo. Quem sabe até estivesse namorando, os dois nunca se viam fora das paredes da biblioteca e não conversavam sobre a vida pessoal. Scorpius nem ao menos sabia o sobrenome dela.

O feriado de fim do ano chegou e, enquanto estava em casa, Scorpius sentiu falta de Rose. Não falou sobre ela com a mãe, era estranho falar dela com alguém, havia contado para Albus em um momento de desespero. Falar sobre Rose fazia com que ele se sentisse exposto demais, nunca havia sentido algo assim por alguém antes.

Quando o ano letivo voltou, Scorpius se viu indo mais vezes na biblioteca e Rose sempre estava lá.

Enquanto isso, Albus finalmente anunciou que iria conversar com Rigel. A verdade era que ele ainda estava assustado, por mais que dissesse que estaria pronto quando a alma gêmea aparecesse, ele não estava.

Rigel podia não saber nada de Albus além do seu rosto, mas a família toda de Albus sabia o nome da alma gêmea dele, e metade dela morava no dormitório da Grifinória, ou seja, do lado do Starbucks.

— Às vezes eu queria ser igual a minha prima — comentou enquanto se jogava na cama de Scorpius. — A que estuda Cinema — acrescentou para que o amigo entendesse de quem ele estava falando. Scorpius concordou mesmo não sabendo quase nada sobre essa prima de Albus. — Ela diz que alma gêmea é algo pessoal, nunca mostrou a marca para ninguém. É na parte superior da coxa, então, quando vamos na praia ou na piscina, ela usa shorts de nadar só para ninguém ver.

Scorpius nunca tinha pensado nisso, ele não saía anunciando para o mundo quem a sua alma gêmea era, o nome no seu braço também não estava em um ângulo fácil de ler e era bem pequeno, não sabia quantas pessoas já haviam notado. Perguntou-se se Rose já tinha visto e percebeu que ele não queria que ela visse.

Contudo, o caso de Albus era diferente. O nome de Rigel estava na sua costela, até poderia ter escondido mais se quisesse, mas havia deixado todos os seus primos, irmãos, tios verem. E, antes do feriado começar, James tinha anunciado no grupo da família que tinha um Rigel em Hogwarts. Scorpius conseguia imaginar que Albus teve um Natal mais agitado que o normal.

Pelo menos, graças à família fofoqueira, ele teria que enfrentar os medos. No fim, Albus descobriria que Rigel não era tão intimidador quanto parecia e que ele estava tão assustado quanto Albus.

Três meses depois, eles já estavam namorando. E Scorpius conheceu a sua alma gêmea.

Ele estava na secretária preenchendo um papel para pegar uma aula extra que precisava fazer, quando notou que outro garoto se apoiou na bancada do seu lado. Por coincidência, Scorpius olhou bem na hora que ele preenchia o nome.

Ros Hwang.

Aquele era o momento que ele tinha esperado a sua vida toda, o dia em que conheceria a sua alma gêmea. E a primeira coisa que Scorpius pensou era que se depois daquele dia ele ainda seria capaz de amar Rose.

Sabia que não podia deixar Ros ir embora, não podia pensar em Rose em um momento como aquele. Por isso, quando Ros saiu da secretária, Scorpius foi atrás. Ele se apresentou e pediu pelo número do garoto.

Entretanto, Ros não disse nada ao ouvir o nome de Scorpius, ele não parecia chocado, nem ao menos parecia reconhecer o nome. Aquilo era estranho, mas imaginou que a sua alma gêmea poderia ter um jeito diferente de processar as coisas.

Contou para os pais sobre Ros, também contou para Albus e para Rigel. Porém, não conseguia se ver contando para Rose, por mais que ela não soubesse dos seus sentimentos por ela, era como se algo entre eles fosse se quebrar caso Rose soubesse.

Scorpius começou a sair com Ros, ele era legal e bonito, entretanto nunca comentava nada sobre serem almas gêmeas e Scorpius tinha um pouco de medo de trazer aquele assunto à tona. Ros contou no primeiro encontro que era para o nome dele ser Ross, mas a mãe dele queria ser “diferente” e no último minuto resolveu tirar um “s”. Ele odiava o nome, porque todo mundo sempre escrevia com dois “s” ou perguntava se ele tinha escrito o próprio nome errado. Scorpius também contou sobre a longa lista de parentes com nome de constelações, que ele também odiava.

Gostava da companhia da sua alma gêmea. Porém, tinha algo faltando. Scorpius não o amava.

Às vezes ele queria segurar a respiração quando estava com Ros, como o seu corpo fazia automaticamente quando ele estava com Rose. Quem sabe se repetisse aquelas sensações, Scorpius poderia ser capaz de amar Ros.

Talvez não fosse possível para ele amar duas pessoas ao mesmo tempo. Ele precisava parar de amar Rose.

Por isso, foi deixando de ir à biblioteca e fazendo com que o assunto entre eles ficasse cada vez mais curtos. Sentia falta de Rose, era doloroso não a ver quase todos os dias, ainda assim, sonhava com ela quase todas as noites.

Era injusto com a sua alma gêmea que ele tivesse aqueles sentimentos por outra pessoa. Tentou focar a sua atenção em Ros, mas, mesmo quando eles se beijavam, Scorpius pensou como seria beijar Rose. E, quando eles começaram a namorar, Scorpius se perguntou que tipo de pessoa Rose gostaria de namorar.

Sempre que estava com Ros, Scorpius sentia um vazio dentro dele. Não entendia, ele precisava amar Ros. Eram almas gêmeas, Scorpius não poderia amar uma pessoa mais do que amaria ele.

Mas era tão difícil, e o pior era que eles nunca conversavam sobre serem almas gêmeas. Scorpius não sabia se Ros já tinha reparado no nome no braço dele. Se sim, ele nunca disse nada. E toda vez que transavam, Scorpius buscava o seu nome no corpo do namorado, porém, nunca achava.

— Talvez ele não seja a sua alma gêmea — comentou Albus, enquanto eles faziam um trabalho no quarto de Scorpius.

— Não existe outro Ros — disse. — E eu gosto dele.

Albus não acreditou.

— Mas você o ama?

Os dois sabiam a resposta para aquela pergunta, todavia, Scorpius não estava pronto para desistir.

— Eu vou amar.

— Scorpius, não é assim que funciona — insistiu Albus, preocupado com o amigo. — Eu estava apaixonado por Rigel antes da gente namorar, você está namorado um cara por dois meses e nem consegue dizer o que sente por ele.

— Mas ele é a minha alma gêmea — Scorpius não sentia muita segurança em sua voz ao dizer aquilo, e ele odiava isso.

— Talvez ele não seja — lembrou Albus. — E, mesmo se for, só porque ele é a sua alma gêmea, não quer dizer que seja o amor da sua vida. Nem sempre almas gêmeas ficam juntas. Você se apaixonou pela garota da biblioteca muito rápido, não deveria tentar fingir que ela não existe.

Scorpius fechou os olhos. Pensar em Rose doía, o amor que ele sentia por ela também doía. Fazia tanto tempo que eles não se viam, mas ela ainda tinha o seu coração e, quanto mais tempo ficava longe dela, mais dor ele sentia.

Sabia que precisava conversar com Ros, descobrir se eles eram mesmo almas gêmeas.

Eles estavam no quarto de Ros, no dormitório de Lufa-Lufa, normalmente eles ficavam no quarto de Scorpius, já que ele tinha um quarto individual. Entretanto, naquela noite, o colega de quarto de Ros dormiria fora, então o namorado o chamou para dormir com ele. Os dois aproveitaram o tempo para estudar um pouco, Scorpius não ia mais na biblioteca, assim teve que se acostumar com os barulhos do dormitório na hora de estudar.

Contudo, naquela noite, ele não conseguia focar. Nem mesmo quando Ros resolveu que estava na hora de parar os estudos e os dois começaram a se beijar.

Scorpius tomou coragem para interromper tudo e finalmente perguntar para Ros sobre a marca dele.

Descobriu que o seu namorado não tinha uma marca, era algo raro, mas não impossível.

Ros Hwang não era a alma gêmea de Scorpius.

E, ao saber daquilo, ele se sentiu aliviado.

Claro que o relacionamento não foi para frente depois daquela noite. Scorpius imaginava que a maioria das pessoas fossem ficar tristes com um término, porém, ele nunca se sentiu tão bem.

Pelo menos até cair a ficha que ele não via Rose há mais de dois meses e não sabia se ela ainda iria querer vê-lo.

— Sinto falta da Rose — suspirou Scorpius, deitado na cama de Albus, enquanto o outro jogava videogame. Era sexta-feira à noite e, normalmente, Albus passava as sextas-feiras à noite com Rigel, mas o namorado do amigo precisou cobrir o turno de um funcionário doente.

— Rose? — perguntou, distraído com o jogo.

— A garota da biblioteca — explicou encarando o teto.

— Que coincidência — comentou Albus. — Tenho uma prima chamada Rose.

Scorpius virou-se para Albus.

— Sua prima que estuda Cinema?

— Aham.

— Que o diretor favorito é Wong Kar-Wai?

— Sim, ela mes... — Albus parou de responder na mesma hora e pausou o jogo. Ele encarou Scorpius com os olhos arregalados. — Espera!

— Albus, eu estou apaixonado pela sua prima — concluiu, chocado com a nova descoberta.

— Você é o desgraçado que quebrou o coração da Rose!

Scorpius se sentou na mesma hora.

— O quê?

— Cara, eu não acredito nisso — disse. — Toda a minha família que estuda aqui está louca para descobrir quem é você para poder te matar. Lentamente.

Scorpius ainda estava raciocinando tudo que estava acontecendo. Por que ele tinha quebrado o coração de Rose? Isso queria dizer que ela também o amava? Se aquilo era verdade, então Scorpius era a pior pessoa do mundo.

— Preciso encontrar Rose.

— São 18:30 de uma sexta-feira, ela deve estar no dormitório chorando, ou ter saído com as amigas para distrair o seu próprio coração quebrado por Scorpius Malfoy.

Ignorou os comentários do amigo, saindo o mais rápido possível do dormitório. Ele precisava pelo menos tentar procurar Rose em algum lugar, antes de ter que implorar Albus pelo número dela.

Parte dele queria encontrá-la na biblioteca, os dois já tinham passado as suas sextas-feiras à noite conversando, enquanto fingiam estudar. Ele tinha esperança de que, se ela estivesse pensando nele, poderia estar lá.

Rose estava sentada no mesmo lugar de sempre, na mesa deles. E ela era a única ali, com os olhos fixados em um livro.

Scorpius se sentou na frente dela.

— Rose.

Ela o encarou como se tivesse acabado de ver um fantasma. Scorpius sentiu a dor no peito ao ver o olhar triste no rosto dela. Ele estava acostumado a fazê-la rir, nunca imaginou que fosse capaz fazê-la chorar também.

Scorpius queria ouvir a voz dela, ele ansiava por isso, quanto mais tempo ficava longe de Rose, mais ele temia esquecer o som que o agradava tanto.

Entretanto, Rose não disse nada. Ela juntou os livros e saiu.

Scorpius foi atrás dela na mesma hora.

— Rose! — chamou o nome dela no campus vazio, esperando que ela fosse parar de andar para escutá-lo. — Eu só quero me desculpar.

Aquilo fez com que ela parasse de andar. E, quando Rose finalmente o encarou, os seus olhos estavam cheios de lágrimas.

— Se desculpar por quê? — perguntou irritada. — Você não é obrigado a me amar só porque eu sou a sua alma gêmea. Mas, também, não tem o direito de sair da minha vida de um dia para o outro, para voltar depois como se nada tivesse acontecido!

Scorpius não estava preparado para escutar aquilo.

— O que disse? — indagou confuso, esquecendo tudo que tinha pensado em dizer para Rose no caminho até a biblioteca. — Sua alma gêmea?

Rose parecia ainda mais irritada.

— Não finja que não sabe, Scorpius. Você tem agido como se não soubesse tem meses — disse. — E eu estou cansada disso.

— Não pode ser... — comentou mais para si.

— O que você quer que eu faça?! — gritou, já não conseguindo mais segurar as lágrimas. — Quer que eu abaixe minhas calças para você ver a porra da marca?

Scorpius encarou o próprio braço no local da sua marca. O Ros estava ali bem do lado da cicatriz, lembrou de ter aprendido na escola que a marca de alma gêmea começava a se formar no corpo desde cedo, mas só ficava visível depois do aniversário de dezoito anos.

O nome dela sempre esteve lá. E Scorpius tinha queimado parte dele.

Ele voltou a encarar Rose, a sua alma gêmea. Talvez ele soubesse desde o primeiro dia, quando não conseguiu tirar os seus olhos dela, quando o seu coração bateu um pouco mais rápido que o normal, quando ela o deixou sem palavras.

Rose ser a sua alma gêmea era como um sonho virando realidade, mas agora Scorpius estava a um passo de perdê-la.

Ele se aproximou dela.

— Rose, eu não sabia — disse esticando o braço para que ela pudesse ver a marca. — Eu me apaixonei por você e achei que fosse machucar outra pessoa por te amar. Mas, no fim, eu só machuquei nos dois. E eu devo ser o cara mais idiota do mundo.

— Você é — concordou Rose, porém, ela não gritava mais e chorava menos.

— Desculpa te machucar, sei que sou a pior alma gêmea do mundo — começou. — Mas é você quem eu amo, eu desejei que você fosse a minha alma gêmea, mesmo quando achei que nunca poderia ser.

Rose não disse nada, Scorpius sentia que ela não sabia o que dizer. Não sabia se deveria ir embora ou se deveria perdoá-lo.

— Rose, eu vim aqui dizer que te amo mesmo antes de saber que você é a minha alma gêmea. Todo esse tempo que passei longe de você, não consegui te esquecer e não quero viver nem mais um dia sem estar ao seu lado.

Rose passou a mão no rosto, secando as lágrimas, e Scorpius queria fazer isso por ela, mas não queria tocá-la sem que ela tivesse o perdoado.

Sentiu que longos minutos se passaram até que ela finalmente dissesse algo.

— Eu vou te perdoar — disse, por fim. — Mas saiba que eu tenho uma família muito grande e se você fizer algo assim de novo eles vão te...

Scorpius não esperou nem um minuto para puxar Rose para um abraço. Era a primeira vez que eles se tocavam, mas a sensação de abraçar Rose não era como se eles estivessem fazendo aquilo pela primeira vez e, sim, que haviam passado muitos anos sem se abraçar. Scorpius entendeu que era assim que almas gêmeas se sentiam, todas as suas primeiras vezes eram como reencontros.

Assim que se separaram, Scorpius assegurou:

— Vou ser a melhor alma gêmea que poderia ter.

Rose revirou os olhos, porém, um sorriso tímido tinha aparecido em seu rosto.

— Você é a única alma gêmea que eu posso ter.

Quando Scorpius a beijou, ele finalmente sentiu que aquele vazio dentro dele havia sumido.

E, se almas gêmeas ficavam juntas para sempre, Scorpius não sabia. Mas esperava que Rose fosse ficar em sua vida por muito tempo.

 

“When I looked at her, I suddenly felt like I was a store. And she was me. Without any warning, she suddenly enters the store. I don't know how long she'll stay. The longer the better, of course.”

Fallen Angels (1995)


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Notas finais do capítulo

WONG KAR-WAI OBRIGADA POR TUDO, UM BEIJO PARA O VELHO!!!!

Me contem o que acharam nos comentários. Obrigada a todo mundo que acompanhou minhas fanfic no Pride 2021, voltarei com outros surtos no Pride 2022
Beijos, Violet



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