I - Herdeira da Noite: Êxodo escrita por Elizabeth Charpentier


Capítulo 8
Capítulo Sete




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Sioux Falls, julho de 1991

Os gritos agonizantes ecoavam por toda a casa e para além dela. A garota segurava os lençóis com toda a força que conseguia, tentando em vão canalizar sua dor para outro lugar. Parecia que sua barriga estava sendo arranhada e mordida de dentro para fora enquanto seus ossos se dilatavam, preparando-se para o que viria.

Sentiu uma mão afagando seu ombro e olhou para seu lado, encarando os olhos castanhos que transpassavam confiança e calma para ela. Sentiu mais uma fisgada e gritou de dor, empurrando com ainda mais força o corpo que queria sair dela. Sentiu uma dor como nunca, rasgando de dentro para fora enquanto o pequeno bebê saía de seu ventre.

Caiu de costas na cama, respirando fundo e se sentindo aliviada por finalmente ser a única em seu próprio corpo. Ouviu o pequeno choro da criança e obrigou-se a se sentar, vendo que o pequeno embrulho já estava nas mãos de sua amiga.

— É uma menina. — sussurrou, andando em direção a cama e se sentando ao lado de Rose. — Tem os raros olhos verdes. — disse sorrindo, entregando o pequeno embrulho para ela.

Quando Rose a segurou, o pequeno bebê parou de se mexer, olhando atentamente ao rosto de sua mãe. Sentiu uma lágrima escorrer pela sua bochecha e sorriu, recebendo um pequenino sorriso de volta, fazendo com que Rose sorrisse ainda mais.

— Qual será o nome dela? — perguntou, impulsionando seu corpo mais para frente para poder ver o rosto dessa nova vida.

— Nyssa. Seu nome será Nyssa. — anunciou enquanto acariciava a pequena cabeça do bebê.

(...)

Nyssa se sentou na cadeira à sua frente e esperou Rosemary começar a falar. Ela colocou o porta retrato em cima da mesa e suspirou.

— Quando eu tinha vinte e um anos, eu conheci um homem que havia recém chegado à cidade. Ele começou a frequentar minha igreja e começamos a conversar. Era gentil, doce e cavalheiro. Apesar de ele ser um pouco reservado, não demoramos para acabar nos envolvendo um pouco mais. — murmurou enquanto olhava para a foto. — Namoramos durante alguns meses, não me recordo muito bem o tempo exato, e nesse meio tempo nos envolvemos cada vez mais. Porém, em uma semana ele foi chamado para algo importante um pouco longe daqui. Ele nunca me disse o que exatamente era. Pode parecer clichê, acho que com toda certeza é. — seus lábios se levantaram em um tímido sorriso enquanto falava. — Uma noite antes da viagem, eu me entreguei a ele. Acho que foi uma das melhores noites que já tive. — disse sonhadora, mas logo fez uma carranca quando Dean deu uma risada baixa. — Bom... Depois de algumas semanas em que ele foi embora, comecei a me sentir estranha, passando mal diversas vezes por dia, até que eu decidi ir ao médico e descobri que estava grávida.

"Uma amiga me ajudou em toda a minha gravidez, me apoiou até o fim. Então, eu tive você, a minha pequena Nyssa. Quando eu tive você em meus braços pela primeira vez era como se toda a minha vida tivesse se iluminado e tivesse tido um propósito. Te criei até seus doze anos. Mas, por favor, entenda. Eu tinha uma família extremamente conservadora e quando descobriram que eu havia engravidado sem antes de casar e, pior ainda, que o pai havia ido embora, eles me deserdaram. Eu consegui nos manter por alguns anos, mas eu sabia que aquilo não seria o suficiente para você, para você se tornar alguém. Então eu fiz a mais difícil escolha da minha vida, que foi te deixar no orfanato."

"Eu conhecia as Irmãs e sabia que elas cuidariam bem de você, então te deixei na estrada por onde a Irmã Sophie passava todos os dias. Garanti de todas as maneiras que você fosse encaminhada para as Irmãs e então decidi sair totalmente de sua vida, voltando para casa e tentando ao máximo..."

— Por que eu não me lembro de nada da minha infância? — perguntou, a interrompendo. — A primeira lembrança da minha vida que eu tenho é quando a Irmã Sophie me encontrou, mas nada além disso.

— Eu realmente não sei. — balançou a cabeça, secando seus olhos. — A última vez que eu vi você, você estava bem. Eu garanti de todas as formas que você ficasse bem a partir dali.

Respirou fundo, controlando suas lágrimas. Aquilo era informação demais, sentimentos demais. Apesar de no fundo querer se levantar e abraçá-la, ainda estava ressentida com tudo aquilo. Por que ela nunca a havia procurado? Principalmente depois de completar os dezoito anos. Mas havia outra coisa ali que não fazia sentido.

— Por que você não disse o nome dele nenhuma vez?

— Ele pediu para que eu nunca falasse o nome dele para alguém. — deu de ombros. — Nunca entendi o porquê disso, tanto como boa parte de sua vida, mas decidi fazer o que ele pedia. Ele falava isso de uma maneira como se eu contasse algo ruim pudesse acontecer, então eu decidi realmente não contar.

— Nunca mais o encontrou?

Ela negou, olhando para algo abaixo de si.

— Esse caso está sendo mais estranho do que imaginei. — comentou Dean, levando um tapa na nuca de Sam em seguida.

— Cala a boca! — ralhou Sam.

— Acho que tudo foi resolvido, não?

Nyssa gritou de susto quando Castiel apareceu de repente atrás de si. Olhou para trás enquanto ainda se recuperava de susto.

— Por quê você sempre faz isso?

— Desculpe, não era minha intenção assustar você. Rosemary, você está livre, os demônios se foram.

— Conseguiu resolver o problema? — perguntou olhando para Castiel esperançosa.

— Sim. — disse simplesmente.

Nyssa os olhou confusa enquanto os dois trocavam olhares cúmplices. Apesar da longa história de Rosemary sobre sua vida, sabia que haviam diversas brechas e coisas que ela não havia contato naquele momento. Segurou sua língua e sua curiosidade pela incontável vez nas últimas 24 horas, teria que esperar um outro momento para continuar a conversa.

Após terminarem de arrumar todas as coisas do almoço, Rosemary a puxou para a sala de estar, deixando os garotos sozinhos na cozinha.

— Eu preciso que você entenda que eu nunca quis realmente deixar você. — disse quando se sentaram nas poltronas da sala. — Meu desejo era que de você fosse adotada por uma boa família com condições suficientes para te dar uma boa vida, e não que você acabasse caçando monstros pelo mundo. — suspirou. — Naquela época, precisei tomar muita coragem para tomar a decisão.

— Por que você nunca me procurou, tentou saber como eu estava? Eu me perguntei a minha vida inteira o porquê eu não tinha nenhuma memória da minha infância e porque haviam me abandonado como se fosse nada.

— Existem tantas coisas neste mundo que você e eu não entenderíamos. Eu acredito que, por mais que todas as coisas tenham acontecido desde que deixei você, o destino fez com que nos encontrássemos novamente, aqui.

Franziu o cenho, não entendo o que Rosemary estava querendo dizer.

— Se você quiser, podemos manter contato, nos vermos quando você não estiver caçando. Sioux não é muito longe daqui.

— Eu não sei. — falou enquanto balançava a cabeça, sem saber o que dizer. — Você precisa entender que toda esta situação me pegou de surpresa. Nunca imaginaria que em alguma caçada eu pudesse encontrar minha mãe biológica e que tudo isto iria acontecer.

— Claro, claro, eu entendo perfeitamente. Vamos no seu tempo, sem pressa. Eu estarei sempre aqui para quando você decidir.

Antes de sair da casa, Nyssa prometeu a Rosemary que passaria por ali dali algumas semanas para conversarem, o que a deixou extremamente feliz. Quando entraram no carro e foram em direção a estrada, passou todo o caminho olhando para a janela. Muita coisa martelava em sua cabeça, bagunçando-a ainda mais. Apesar das poucas informações, tinha certeza que havia mais coisas além do que ela havia contado, coisas que se relacionavam a ela. Mas o que mais a intrigava era Castiel conhecer tão bem Rosemary, como se conhecessem há muito tempo.

— Como você está? — Sam perguntou depois de um tempo na estrada.

— Confusa... Ainda não sei o que pensar sobre tudo isso, em toda essa história que Rosemary contou, não sei.

— É estranho ela ter colocado você justamente no quarto em que aquele porta retrato estava... Onde ficamos não havia nada e nem no resto da casa. Coincidência demais. — Dean comentou.

— Ou talvez ela tivesse feito isso de propósito para que visse. — Sam retrucou.

— Tudo é possível. — Nyssa sussurrou.

— Mas por experiência própria, nunca se deve confiar de cara em qualquer pessoa que apareça de repente em sua vida. Nunca se sabe o que ela pode querer, mesmo sendo apenas humana. — Dean encarou a ruiva pelo retrovisor. — Mesmo quem tem a melhor das intenções pode fazer mal.

— Rosemary não me pareceu alguém que pudesse fazer mal a alguém, principalmente à Nyssa.

— Não sei, são coincidências demais... Vocês duas foram sequestradas por aquele demônio...

— E Rosemary a conhecia. — Nyssa disse pela primeira vez.

— Como assim? — Sam perguntou, virando-se para ela.

— O demônio que nos sequestrou sabia quem era ela, mas Rosemary não a conhecia, pelo menos eu acho. Mas a segunda que chegou, uma tal de Banshee, a conhecia, sabia quem ela era e sabia quem eu era também. Banshee queria algo dela.

— Isso está ficando cada vez mais estranho...

— E ainda tem isso de Castiel e ela se conhecerem. Ele já comentou alguma coisa sobre Rosemary antes?

— Nada além de algo relacionado ao caso. — respondeu Dean.

— Eles tinham uma intimidade, parecia que se conheciam fazia algum tempo, mais tempo do que o caso. — resmungou. — Acho que Castiel sabe mais sobre a minha vida do que eu mesma. — bufou.

— Acredite, isso é totalmente possível. Essa é uma das coisas que odeio nele. — resmungou Dean. — Se depender dele, ele apenas irá falar se achar necessário ou se for no tempo certo. Já tentamos arrancar as coisas dele, mas ele apenas dizia quando alguém estava prestes a morrer ou quando ele queria. Se tentar forçar, ele apenas dirá que não possui autorização para falar sobre.

— Autorização de quem? Deus?

— Não sabemos. Castiel comenta sobre participar de uma guerra, ser um guerreiro de Deus, e que sempre está seguindo ordens para tudo aquilo que faz, que cada passo está sendo vigiado. — Sam se virou para frente. — Essa servidão que os anjos tem com o que quer que comande eles chega a parecer doentio.

— Mas Deus não deu o livre arbítrio para todos?

— Aparentemente não para os anjos, mas até onde sabemos, Castiel não se importa muito com isso.

— Talvez porque seja a única coisa que ele conheça. Isso é errado, não sei.

Sam apenas deu de ombros, voltando o olhar para a estrada. Nyssa permaneceu no banco de trás, pensando sobre tudo aquilo. Conhecia extremamente pouco de Castiel, por mais que ele tenha aparecido diversas vezes por conta desse caso e ela já estivesse há meses com os Winchesters. Ele sempre pareceu uma incógnita para ela, aparecendo por breves momentos.

Chegaram em uma encruzilhada um pouco antes da rodovia, Dean parando na placa de pare e olhando para os lados. Nyssa viu algumas luzes brilharem forte pelo retrovisor, iluminando todo o carro, e, antes que pudesse falar se virar para ver o que era, algo bateu na traseira do carro, impulsionando-a para frente e a fazendo bater a cabeça. 

 


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