lastop escrita por Gab Murphy


Capítulo 6
Open up your mind and see like me


Notas iniciais do capítulo

2/3 de três nesse penúltimo dia de Pride, ai ai, tá chegado ao fim, hein. E sim, é mais um capítulo pesadinho (e que chorei escrevendo), mas é necessário para entender nossos bebês.

Espero que gostem, boa leitura!! ♥

(TW: Indícios de ataque de ansiedade).



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30 de agosto de 2021, 21:06.

Reid parou de chorar aos poucos e logo a cabine ficou preenchida apenas pelo silêncio dos dois que, como os outros, não era desconfortável. Remus tinha tido sorte, entre tantas possibilidades, havia ficado com a madrinha que sempre o amou e o apoiou, independente de sexualidade ou qualquer outra coisa, mas ainda assim entendia a dor de Reid e queria, ele mesmo, bater naqueles idiotas.

Mas não podia (e nem iria, apesar de ser alto, não sabia bater nem numa porta, quem dirá numa pessoa), então se concentrou em tentar acalmar o homem e quando ele já respirava normalmente, atendeu ao pedido de deixá-lo sozinho. Algumas pessoas gostavam de ficar sozinhas para se entender e Lupin sabia muito bem disso, já que também era assim.

Pegou suas coisas e saiu avisando que iria tomar um banho e enquanto esperava na fila, tomava banho e se arrumava, pensou na sua própria vida. Tinha falado para Reid como aquela viagem tinha mudado seu jeito de ver o mundo e como pensava, mas ocultou seus medos e, enquanto fechava a porta do banheiro atrás e caminhava de volta, decidiu que talvez falar dele com o homem pudesse ajudar. Falar com um pseudo desconhecido que nunca mais se lembraria daquele momento.

O encontrou ainda sentado na própria cama, mas agora mexendo no celular, e parou na sua frente depois de jogar a mochila de qualquer jeito no bagageiro. Esperou que seus olhares se encontrassem e que Reid guardasse o celular antes de falar:

— To com medo de não dar certo.

Sabia que não tinha sido claro e teve certeza quando o homem franziu a testa, claramente confuso.

— Eu comecei a viagem para me encontrar e agora to com medo de não gostar de quem encontrei. To com medo de ser uma pessoa horrível e não saber.

— Eu não… Calma - Reid sentou direito e bateu a mão no colchão fino, pedindo para Lupin sentar. - Você vai ter que me explicar direito.

— Quando terminei o colégio nada na faculdade me chamava a atenção, conversei com a minha madrinha várias vezes e então a gente chegou na viagem, ela que me deu a ideia, porque já tinha feito isso, eu falei que sim, porque sempre quis fazer e era um bom jeito de pensar, testar coisas novas. E eu testei, de verdade, muitas coisas mesmo, acho que sei o que quero fazer na faculdade e etc.

— Desculpa, mas eu ainda não entendi o problema.

— E se… - Remus respirou fundo e o olhou nos olhos. - E se eu voltar pra casa e perceber que nada do que achei que fosse, for verdade? E se eu to vivendo uma mentira? E se esse ano foi uma farsa e eu só to mentindo pra mim mesmo? - ele respirou fundo de novo. - Eu sinto que a qualquer momento alguém vai me parar e falar o quanto o fiz sofrer, o quanto eu sou uma pessoa horrível que não merece viver no mundo.

— Cara…

— Eu sei - Remus riu, negando com a cabeça, e então começou a falar sem parar para pensar ou respirar. - Todo mundo machuca todo mundo, mesmo que sem querer. Sei todo o lance racional, mas não consigo parar de pensar que posso tá tão preocupado em não ser alguém mal que não vejo que realmente sou. Acho que é síndrome do impostor, mas toda vez que penso num futuro não consigo não pensar que sou uma fraude. Uma mentira. Que nada do que gosto, eu realmente gosto, talvez eu só seja vegetariano porque agora é moda ser ou eu só leio livros para parecer inteligente ou eu não goste de Beatles de verdade, vai ver eu só digo e acho que gosto porque as pessoas dizem que gostar é legal. Vai ver que eu só estou tentando agradar todo mundo porque eu  sei que se mostrar quem eu sou de verdade todo mundo vai sair correndo, com medo. Talvez eu seja como meu pai.

— Ok, espera, calma - Reid se virou completamente de frente para ele, alarmado. - Você precisa respirar, assim...

Reid começou a fazer gestos com as mãos enquanto inspirava pelo nariz e expirava pela boca e Remus o acompanhou, percebendo pela primeira vez que tinha voltado a chorar. Aos poucos foi se acalmando, apesar de ainda chorar.

— Você não é uma má pessoa.

— Como pode ter certeza? Nós nem nos conhecemos.

— E mesmo assim você me ouviu, me acolheu e me acalmou quando não tinha nenhuma obrigação de fazer isso - Reid falou o olhando nos olhos, segurando suas mãos e Remus se agarrou a cada palavra como se sua vida dependesse disso.

— Como você sabe que não está enganado? Que não odiei cada segundo que te ouvi e te consolei só porque achei que tinha que fazer? 

— Nós nunca mais vamos nos ver depois dessa viagem, não sou importante para você, e mesmo assim você me deixou confortável para falar coisas que nunca falei para as pessoas que mais amo. Você, sem dizer uma palavra, me ajudou a tirar um peso das costas. Não tem como uma pessoa ruim fazer isso.

— Eu ainda não…

— Só uma pessoa boa tem medo de ser ruim. Você é uma pessoa incrível e sei disso porque todo dia você acorda querendo ser incrível.

Remus ficou em silêncio, encarando os olhos de Reid em busca de qualquer vestígio de mentira, de que o homem só estivesse falando aquelas coisas por pena.

— Está enganado - ele suspirou - depois dessas viagem, você está marcado para sempre na lista de pessoas importantes para mim.

— Nós nem sabemos o nome um do outro.

— E mesmo assim não vou esquecer uma vírgula do que disse.

Os dois sorriram juntos, compartilhando aquele momento, saboreando cada segundo do que quer que estivessem vivendo. Eles sabiam que aquela viagem estava marcando o resto da vida deles e aproveitariam cada instante que tivessem.

— Você não é horrível e tá tudo bem gostar de coisas que tá na moda ou para parecer inteligente - Reid falou primeiro, era sempre ele que quebrava os silêncios e Remus gostava disso. - E tá tudo bem se parar de gostar também, você ainda vai ser incrível.

Remus concordou com a cabeça e se inclinou mais na direção dele, como quando ia dividir um segredo com Marlene.

Eles não podem mais te atingir, você tem pessoas que não vão deixar mais isso acontecer e, principalmente, você tem o poder de não deixar isso acontecer - Lupin se afastou e sorriu. - Sua vida não depende mais deles em nenhum sentido.

— Caralho, a gente precisa muito de terapia.

Remus não conseguiu segurar a risada enquanto concordava com a cabeça e logo os dois não estavam mais chorando ou com medo. Eles só queriam um pouco mais daquilo que tinham.


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Notas finais do capítulo

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