PARADOXO - Seson 3 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 30
Capítulo 27 - Tenebrosa Simetria


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!
Espero que gostem do capítulo de hoje...



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DAMIAN

—Vão logo, parece que não vou sair daqui tão cedo, de qualquer forma – Grayson reclama, nos encarando.

Ele me via andando de um lado a outro dentro do “laboratório” criado pela casa. Onde Lunna estava produzindo as lentes adaptadas. Mas sem o cérebro do grupo e o engenheiro responsável, Dick e eu basicamente olhávamos para o projeto, sem muito o que pudéssemos fazer para acrescentar. Foi quando a voz de Isis saiu do meu colar, estava tão focado em fazer nada que não me dei conta de que ela e Connor não estavam na casa.

Sara segurava Nina em seus braços, com o rosto pálido. Meus sobrinhos estavam quietos ao lado dela, parecendo ter medo de fazer qualquer movimento brusco e a assustar. No instante em que escuta a declaração de Grayson, Sara caminha em sua direção e deixa Nina em seu colo, me agarrando pelo braço no processo e antes que me desse conta já estávamos vestindo nossos casacos fora da casa, em Central City.

—Tempo bizarro – Diggle sussurra olhando o céu cinza a nossa volta.

Damos o nome de Sandra na recepção do hospital e a funcionária um tanto depressiva, nos indica o andar da psiquiatria. Ao sair do elevador, preciso procurar por uma placa e verificar se estávamos mesmo no andar correto. Aquilo parecia concentração do Lola Paluza, a multidão apavorada murmurando palavras de conforto uns aos outros me causa calafrios.

—Olha ali a pequena Queen! – aponta Sara para um lado mais isolado no fim do andar.

Isis estava sentada em um banco ao lado do pai, enquanto Felicity e Connor estavam em pé de frente a uma porta. Bom, Connor estava plantado, Felicity parecia apenas incapaz de deixar o filho naquele instante. Oliver é o primeiro a nos ver, ele cutuca a filha e aponta em nossa direção, depois se levanta, Sara vai direto para seus braços. Isis abre um sorriso fraco, os olhos e a ponta do nariz vermelhos, ela dá um passo em minha direção e me abraça apertado.

—Oi vampiro! – sussurra Isis em meu ouvido, me fazendo a encarar sem saber como reagir quando nos afastamos. - Não? – estuda meu rosto, - É, não tinha mesmo esperanças de colar.

—O que está fazendo? – sussurro de volta.

—Testando apelidos carinhosos – dá de ombros. Nunca vou entender, a garota está em farrapos.

—Um dia, quero muito escanear sua cabeça, só para ver como as coisas funcionam aí dentro – toco de leve em sua testa, depois me esquivo em direção ao resto de sua família.

—Bom te ver inteiro, Damian – Oliver aperta minha mão e Felicity já abraçava Sara, sem soltar a mão de Connor. – Soube da missão que você e Connor fizeram, acho que te devo desculpas por nossas versões serem tão estranhas.

—A Arlequina era mais sensata – faço careta e ele esboça um pequeno sorriso. – Como ele está? – aceno com a cabeça em direção ao Hawke.

—Nada bem – suspira. – Tiraram o sedativo por um momento e ela já tentou se matar outra vez. A colocaram em coma induzido agora.

—Ela e todas essas pessoas – escuto Connor dizer, com os olhos fixos na porta. – Não acho que médicos normais possam descobrir como reverter isso.

—Parece uma compulsão – Felicity completa estendendo a mão em minha direção.

A seguro e antes que possa entender ela já estava me abraçando, de sua forma carinhosa e estranha. Toca meu rosto por um instante, me olhando com um sorriso bondoso. Posso ver Isis em cada uma de suas expressões, o que é estranho e familiar ao mesmo tempo. Agora arqueiros me abraçam, se eu mesmo me visse a alguns anos antes, teria debochado desse fato.

—Que bom que está bem, sinto muito por precisar fazer o que fez em sua missão – seu tom de voz é cheio de empatia, não sei se está falando da minha versão trevosa ou de violar meu próprio cadáver, mas dou a ela um sorriso de lado como resposta.

—Estou bem, de verdade – garanto, desconfortável com toda aquela atenção ao meu estado emocional. – Falou com Lunna? – me volto para Connor, e pela primeira vez desde que cheguei ele tira os olhos da porta fechada.

—Não, e se ela falar com vocês, não contem o que está acontecendo – diz com a voz grave e baixa, como se sua garganta estivesse ferida. – É a primeira missão dela oficial, bom, a primeira que não posso ficar de olho. Não quero que se preocupe a ponto de ficar distraída.

—Isso faz sentido, querer Lunna focada – Sara começa. – Mas ela não vai gostar – o eufemismo do século.

—Por favor, Sara – ele a olha nos olhos, parecem conversar por telepatia, o olhar deles é tão intenso que todos nós passamos a olhar em outra direção.

—Tudo bem – escuto Diggle murmurar após um longo suspiro. Passa a olhar na mesma direção que o parceiro, e vejo seu rosto se acender. – Podem levar Sandra a Torre – solta fazendo todos nós a encararmos. – Os médicos não podem a ajudar, e tem todas essas pessoas que precisam da mesma ajuda. Na torre Caitlin e Zatanna podem tentar entender o que está acontecendo juntas, tanto pelo lado médico quanto místico. Se conseguirem alguma cura, podemos ajudar todos os outros no mesmo estado.

—O que acha, Connor? – Felicity se vira para o filho, seu rosto estava tão fechado que é como estar mais uma vez com a versão estranha do Oliver da terra que visitamos.

—É uma solução – pondera, passando a mão livre nos cabelos. – Outra é caçar e parar quem fez isso.

—Que é o que todo seu time está fazendo – Oliver se pronuncia. – Nós estamos lidando com as consequências, até que vocês terminem a missão – Hawke não parece estar escutando o discurso do pai. – Connor!

Os dois se encaram. Connor estava claramente em conflito, suas emoções devem estar loucas apesar do controle externo. Oliver mantém o olhar até o outro assentir, baixando a cabeça em seguida. Sei o que isso significa, passo pela mesma coisa com o Batman. Aquele era um comando de líder, não de um pai. O Arqueiro Verde não tem autorização para caçar Fausto, se não pelos meios que já estamos fazendo. Uma droga, para quem tem todos os motivos a essa altura para querer a cabeça do mago em uma bandeja. Primeiro a esposa, então Fausto cuidou para que manipulassem sua irmã e agora uma de suas mães tenta tirar a própria vida. O lance de direcionar raiva que ele vem me ensinando, deve estar na potência máxima em seu caso.

—A levar para a torre pode ser útil – declaro, em partes para quebrar o peso autoritário que havia ficado no ar. – Zatanna pode arrumar um meio de a acordar e conter a compulsão o suficiente para entender como a Sra. Hawke foi infectada. Não acho que esse hospital possa comportar mais pacientes na área psiquiátrica, em algum momento vão começar a rejeitar casos e isso pode ser fatal.

—É o que estava querendo dizer – Sara reclama. – Mas confesso que explicou melhor – acrescenta a contra gosto.

—Pode forjar alguma história que possibilite isso, mãe?

—Claro, meu amor – Felicity acaricia o braço de Connor e se afasta em seguida. Oliver olha para a filha, depois me olha, então segue a esposa.

Isis imediatamente toma o lugar em que Felicity estava ao lado do irmão. Connor passa seu braço pelos ombros dela, mas os olhos continuam na porta. Finalmente olho na mesma direção que ele. Posso ver Sandra através da abertura de vidro no centro da porta de madeira branca. Sedada, ligada a aparelhos que monitoravam seus sinais vitais e um tubo na garganta.

—Por que ela está entubada? – questiono confuso.

—Três pacientes já morreram, mesmo sedados – Isis diz em voz baixa.

—Prenderam a respiração até a morte – Connor completa me causando calafrios. – Parece que Ivy Town e Metrópoles entraram em quarentena. Seja o que for, está se espalhando rápido demais.

—Ainda bem que temos dois velocistas em campo – Sara comenta em tom tranquilizador, se colocando do outro lado de Connor que abre um mínimo sorriso em agradecimento por seu esforço.

WALLY

Starling City, 2014

A casa dos mistérios nos deixa em uma estrada movimentada, o céu completamente fechado e uma clara tempestade iminente. Não preciso olhar em volta para saber onde estava, ou melhor, quando estava. Puxo Lunna comigo para as sombras de um beco, enquanto observamos a Speed Force se romper e uma versão magrela e cumprida minha saltar de dentro dela, usando o antigo uniforme do meu tio Barry. Aquele Wally cai inerte por alguns segundos, então bate nos ouvidos como se estivesse retirando água de dentro deles, e volta a correr.

—Olha, é o Oliver – a voz de Lunna ganha minha atenção e vejo meu padrinho ao lado de Roy sobre um prédio a nossa frente. – Não nos viram – se surpreende, posso ver sua testa franzir.

—Não estão nem prestando atenção – completo engolindo em seco. – Mas é melhor não abusar da nossa sorte. Ollie tem coisas demais na cabeça agora, assim como nós dois.

—Que tipo de ligação vamos encontrar aqui para pagar esse tal preço, Wally?

—Isso foi parte do que me moldou – murmuro olhando quando meus mentores se afastam, provavelmente prontos para voltar ao bunker. – Foi quando meus padrinhos e meus tios me conheceram.

—Conhecer um filho, ou alguém que eles amem como um de seus filhos pode ser algo poderoso o bastante para energizar essa coisa – ergue o pulso, onde a marca sutil em um azul metálico que a moeda deixou em nossos corpos, lembrava uma tatuagem desbotada. – Mas a vida de Iris era o que você queria salvar, todos te ajudaram a fazer isso. Acha que é o sacrifício?

—Não parece certo – começo andando no meio das pessoas da cidade com ela ao meu lado.

Lunna tinha seus cabelos presos em um rabo de cavalo alto, usava uma calça jeans escura de cintura alta, com uma blusa vinho colada ao corpo e botas de cano curto, por baixo de um sobretudo marrom. Meus jeans, camisa de manga longa vermelha e o casaco preto por cima não nos fazia destacar das outras pessoas, roupas neutras em qualquer época que poderíamos visitar. O que nos permitia estar no meio de todos sem chamar atenção como viajantes do tempo.

—Bom, Constantine nos deu exemplos do que energizariam as moedas – ela dá de ombros, observando fascinada as ruas conhecidas, mas estranhas aos nossos olhos. – Nossas piores lembranças.

—Ele também falou de pequenos gestos – a lembro.

—Pequeno o bastante para parecer sutil, mas grande o suficiente para salvar uma vida – argumenta. – Tem alguma ideia do que possa ser?

—Eu era muito dramático quando vim, mas nada nesse dia em especifico me traumatizou – faço careta sem me permitir voltar para as memorias desse tempo.

—Wally? – chama baixinho. – Foi por não ter uma dessas coisas, que acabou se perdendo na Força da Velocidade? – Lunna parece conter as próprias emoções o que não é muito a praia dela, a não ser quando tenta não se envolver em algo que em sua mente não lhe diz respeito. Ou por que ainda se culpa por meu desaparecimento.

—Me perdi por uma série de fatores – dou de ombros, já estava na hora de contar ao menos um pouco, ainda mais agora que ela vai ir para aquele futuro em breve. – Eu me separei da Speed Force, precisava para me salvar.

—Mas sempre diz que sua variável é mais perigosa do que a matriz do Barry – posso ver a preocupação em seu rosto.

—Me prenderam com imãs de polaridades invertidas, não tive escolha – tento minimizar a situação, mas Lunna é inteligente e pela dor que passa por seus olhos ela sabe bem o que isso me faria sentir. – Então me mantive só com a minha variável, mas sabe como ela é tentadora e não tinha uma âncora – comprimo meus lábios e escuto um leve arfar vindo dela, dou alguns segundos para que processe a ideia de Sara não existindo antes de continuar. – Quando voltei não foi por que quis, Nina me lançou dentro da força da velocidade para salvar minha vida.

—Deus – sussurra se escorando na parede, ao lado de uma boutique de roupas. – Então você acelerou sem nenhuma trava de segurança – conclui e confirmo com um manear de cabeça. – Mas ainda assim precisaria de algo com uma carga de energia comparada ao que a explosão de uma bomba atômica seria capaz de causar para te desestabilizar a ponto de mesmo o reencontro com sua âncora, não o parar.

—Às vezes me esqueço que você estudou tudo ao meu respeito enquanto tentava me salvar – isso quase me faz sorrir, mas Lunna parece imersa na própria dor no momento, posso entender, também não fiquei radiante quando Damian me contou sobre a morte de todos eles. – Tive um pico de energia e consegui deslocar um raio que destruiu um dos três demônios que possuía super velocidade, ele se desintegrou bem diante dos meus olhos – estremeço com a lembrança, sentindo seu olhar sobre meu rosto.

—Isso foi o que te desestabilizou – conclui. – Todo o resto contribuiu, é claro, mas foi esse fato que te fez desaparecer, é muito poder, muita energia para permanecer estável depois de liberar algo assim.

—Então agora isso deve me proteger – dou de ombros levantando meu pulso para ela que faz careta.

—Se certifique de ter Sara por perto, caso esteja pensando em fazer novamente a mesma coisa – acrescenta voltando a caminhar. – Eu te amo, mas não te quero nunca mais dentro da minha cabeça.

A sua expressão de desespero me faz soltar uma risada divertida. A algum tempo não julgaria nunca que um dia estaria rindo disso. Mas aqui estávamos nós, até Lu parecia ter um leve sorriso nos lábios, mesmo com os olhos completamente escuros e o olhar devastado pelas novas informações que recebeu.

Por que a casa me mandaria para essa data especifica? O mais marcante desse dia foi conhecer a versão mais jovem da Felicity e reencontrar meu Tio Barry pela primeira vez desde que ele havia desaparecido. Isso foi marcante, mas não é como se aparecer na frente desse Barry vá fazer com que ele desperte o sentimento paterno que energizaria essa coisa, eu nem mesmo confessei que ele era meu pai no início.

 Bom, mas tem uma versão dele aqui que não precisaria desse tempo. Então percebo que existe uma coisa que nunca foi explicada, alguém que sobreviveu mesmo não fazendo sentido nenhum, uma vida que contrariou todos os planos do Dr. Wells. O sacrifício só pode ser isso.

—Lu, acho que encontrei uma resposta – comento pegando sua mão e nos guiando para um beco deserto onde pudéssemos nos trocar. – Só para avisar, é um tanto arriscado e igualmente insano.

—Nada do que temos feito ultimamente me parece menos arriscado ou insano, West – bom, ela está certa.

Paramos no beco e aperto meu anel liberando meu uniforme. Encaro Lunna de forma significativa e ela bufa antes de apertar seu próprio anel e a vejo dentro de um uniforme preto parecido com o meu, mas as linhas eram prateadas e onde possuo o emblema de um raio no peito, o dela é a ponta de uma flecha, as botas eram mais altas, fazendo uma espécie de relevo sobre o mesmo tom do uniforme e acabavam abaixo do joelho, e nas costas o suporte onde totó estava presa.

—Cisco arrasou – comento começando a correr do seu lado, mas posso ver seus olhos revirando.

Mantenho minha velocidade em um limite que ela conseguiria acompanhar facilmente, mesmo sentindo o impulso natural de não pensar enquanto corria e me permitir ser guiado por meu poder. Cinco minutos é o tempo que levo para chegar na Star Labs com ela, o que faria em cinco segundos, isso se estivesse distraído. Lunna não questiona quando me esgueiro de Cisco e Caitlin que trabalhavam juntos em um laboratório e vou diretamente para o Covex, onde vemos um cara em uma cadeira de rodas estudando alguns dados em um computador.

—Pai? – chamo sem tentar me esconder e posso ver o brilho de um raio amarelo passar por seus olhos ao se virar em minha direção. – Preciso da ajuda do senhor.

SARA

Nunca gostei de hospitais, nem mesmo da ala hospitalar, cresci vendo meu pai e meu tio indo e voltado, subindo e descendo daquelas macas, e depois com o tempo eu mesma passei mais tempo em uma do que sou capaz de enumerar. Isso deveria pelo menos me blindar do odor insuportável que todo hospital tem. É o que sempre me incomodou, não os micróbios, ou sangue, muito menos os ossos quebrados e nem mesmo a morte em si. Hospitais cheiram a desesperança, sei que não passa de água sanitária e desinfetante hospitalar, mas ao pisar nesse chão branco, esses produtos se transformam em algo que me atinge no meio do estomago, como se a cada vez que inalasse o oxigênio meu estomago afundasse um pouco mais. Uma sensação maravilhosa.

—Vocês querem um café? – fazia cerca de vinte minutos que meus padrinhos haviam saído para fazer coisas que só tia Fel consegue fazer, bom, ela e Lunna, mas Lu é parte clonada da minha tia, então era meio obvio isso. Dam estava sentado na cadeira com a cabeça baixa e as pernas estendidas. Con olhava para a porta desde antes de chegarmos aqui, e Isis continua ao seu lado sem nem mudar o peso do corpo para outra perna. -Vou buscar um café – não aguentava mais ficar parada sem poder fazer nada, era desalentador.

Andando pelo hospital era como estar em uma zona de guerra, havia macas pelos corredores, pessoas chorando, e médicos focados, mas ao mesmo tempo perdidos. Um grito de pavor me chama atenção, me fazendo voltar todo meu corpo em sua direção por puro instinto. A equipe médica tentava conter um senhor de idade, que não deveria ter toa aquela força, se esforçavam para manter seu corpo imobilizado sobre a maca.

—Não vejo nada assim desde a peste de 2020 – uma enfermeira aparentando seus sessenta anos fala sozinha ao passa por mim carregado duas bolsas de sangue, mas depois de dois passos para e se vira em minha direção, foi estranho, mas ela parecia muito decidida. –Você!

—Eu?

—Usa drogas, está gravida, tomou algum remédio especifico, fez tatuagem, piercing ou alguma cirurgia no último ano? – aí meu poderoso Grande D, uma enfermeira louca, não sei lidar com isso.

 Olhei para ela sem saber o que responder, seu crachá a identificava como enfermeira chefe Lucia Santiago, parecia cansada, seus cabelos um dia pretos estavam saindo da touca de proteção meio desgrenhados, e ela me encarava ainda esperando uma resposta, então me concentrei na ordem das perguntas.

—Não – definitivamente nunca havia usado drogas, bebida só socialmente. –Não – definitivamente não estava grávida. –O que você quer dizer por remédios específicos?

—Os que possam ser identificados – responde perdendo o resto de paciência.

—Não – Caitlin era bem criteriosa, vinte e quatro horas e o soro de cura acelerado não permanecia no nosso sistema. E a última pergunta. – Também não – repondo temerosa.

—Ótimo! – a senhora me puxa de volta por onde havia vindo passando por uma sala vazia. –Marcos – chama e um jovem surge de trás de uma outra porta ao fundo, parecendo tão exausto quanto ela. O jovem era da idade de Isis, traços asiáticos, mas foi tudo que pude perceber antes da enfermeira Santiago chamar minha atenção de novo. – Seu tipo sanguíneo.

—O +.

—Perfeito – aponta para a cadeira a minha frente. –Senta aí e ajuda a salvar uma vida. Você vai doar sangue – e sai determinada.

—Você não precisa ficar se não quiser. – Marcos sorri timidamente. - Os últimos três fugiram. Ela não é sempre assim, normalmente é a melhor enfermeira que temos, na verdade ainda é.

—Tudo bem – me sento na poltrona enorme com apoio para os pés. – Faça o seu pior- estico meu braço para o rapaz que sorri aliviado.

—Vou fazer alguns testes antes, vou ligar a TV e vai passar rápido. - Marcos liga o aparelho da parede a minha frente, indo direto para um tele jornal. Um senhor obeso aparentando seus sessenta anos aponta gráficos aos berros.

“As autoridades não vão fazer nada? As pessoas estão morrendo. Morrendo! O mínimo que esperamos é um pronunciamento do ministro da saúde não é mesmo? Mas não! Ele não foi capaz de lidar com o surto e tirou a própria vida. Covarde!” A imagem muda, não é mais o apresentador, apenas a sua voz ao fundo, cenas de cemitérios lotados, covas coletivas, pessoas chorando. Pontes com corpos desfocados, para evitar chocar os telespectadores, balançavam pendurados. “Os trens foram impedidos de circular desde a meia noite passada por que treze pessoas se jogaram na frente das maquinas só na última semana.”

—Desculpa, esse ainda é o menos pior dos jornais. – Marcos desliga a TV quando o apresentador começa a falar do congestionamento de corpos no rio Gang.

—Não sabia que estava tão ruim – não consigo me segurar.

—Está pior, as autoridades estão escondendo os dados reais. Não sou religioso, nem nada disso, mas me pergunto se esse não seria o fim de verdade.

Depois disso fiquei em silencio, não sabia o que responder para o enfermeiro, o que falaria? Que cabia a mim e a minha família impedir o armagedon? Acho que não chegaria a me internar, a ala psiquiátrica já estava cheia o suficiente, mas decidi por não tentar a sorte. Então fiquei em silencio, apenas vendo ele fazer o seu serviço, que foi extremamente rápido. Dez minutos e já estava na cafeteria pegando cinco cafés puros e um chá verde. Antes de chegar ao corredor me levava ao quarto de Sandra, Dam aparece. Seu rosto angustiado se ameniza quase instantaneamente ao me ver.

—Onde você estava?

—O que aconteceu? – começo a apressar meus passos, voltando por onde ele veio. – Sandra?

—Não –Dam interrompe meu pensamento antes que ele vá muito além. – Você ficou muito tempo afastada, e não deu noticia – suas bochechas estavam um pouco coradas, preocupação. Consigo entender, aqui não era como um hospital deveria ser, estava mais como uma missão, era perigoso se afastar sem cobertura.

—Desculpe – caminhamos mais devagar. –Fui fazer meu dever cívico – dou de ombro e ele me olha sem entender, então conto sobre a enfermeira e a doação de sangue enquanto passo o seu café. Agora estávamos a uma porta do local onde Con e Isis estavam, seguro Dam pelo braço, impedindo que ele continue. –Dam, enquanto estava sentada vi um pouco da loucura que está aqui fora. Não sei como vamos fazer isso, mas temos que fazer rápido, não temos mais tempo - ele apenas assente levemente com a cabeça.

—Odeio hospitais – franze o nariz olhando tudo em volta. – Cheira a – para procurando as palavras quando uma sirene soa do quarto ao lado do de Sandra, e vemos a maca ser retirada, com um lençol cobrindo o corpo.

—Desesperança – sai muito fraco dos meus lábios.

—Sim.

LUNNA

Vertigem. Isso é tudo que sinto quando um homem em uma cadeira de rodas nos guia para uma sala oculta no meio de um dos corredores da Star Labs, o mesmo local onde me arrumei para meu casamento. Dr. Wells toca em um ponto imperceptível na parede e uma porta se abre de forma que me lembro do Beco Diagonal.  Entramos em silencio, não era grande o espaço, mas havia uma espécie de pedestal no centro e algo parecido com as celas temporárias que os Flashs possuem na Star Labs. Era onde outro homem estava preso atrás de um domo de vidro, seus cabelos eram escuros em um corte militar parecido com o que Connor e Oliver usam, suas roupas largas demais em seu corpo esquelético, pendiam sujas e meio chamuscadas. Os olhos estavam fechados e fundos demais, as maçãs do rosto assustadoramente altas. Paraliso o encarando a espera de qualquer sinal de que ainda estivesse vivo, três segundos depois vejo seu peito se levantar de forma sutil, ainda respirava.

Mas antes que possa dizer qualquer coisa, ou até mesmo exigir que o libertasse, o cara na cadeira se levanta, mostrando que isso não acontece apenas em cultos religiosos, caminha até uma parede e aperta um botão que apaga, literalmente falando, a cela do cara esquelético, agora só restava a parede clara idêntica ao restante da sala. Engulo em seco, sentindo o gosto ácido em minha boca, mas Wally segura meu braço e quando o olho o vejo negar com um aceno discreto, me soltando assim que o cara do milagre volta a nos encarar. 

—Wally? – soa hesitante, o que contrasta e muito com toda a vibe de super vilão que ele exalava até o momento.

—Oi, tio Barry – meu amigo abaixa a máscara e vejo o rosto tenso enquanto encara o Barry, as peças começando a se encaixar em minha mente, mas isso não diminui em nada a sensação estranha na boca do meu estomago, como se algo dentro de mim não quisesse estar perto daquela versão do Allen.

Todos conhecem a história sobre como Wally viajou no tempo ainda um adolescente. Cada um dos nossos mentores se foca em um ponto. Oliver adora usar isso para nos dizer como ele e Felicity se tornaram um casal, mesmo a história tento mudado tanto que a essa altura o único fato real pareça ser os nomes dos meus sogros e do Wally. Felicity a usa para se gabar de seus feitos, descobertas como o início do algoritmo que nos levaria a conseguir filmar em Mc2 no nosso tempo, as celas ante velocidade, assim como o rastreamento da Speed Force. Mas John Diggle sempre foi o mais objetivo dos três, ele me contou que Barry enlouqueceu ao perder Iris e voltou no tempo para tentar evitar a morte dela, ao mesmo tempo que tentava salvar Caitlin de se tornar uma vampira congelada que assassinava qualquer um no qual tocasse, escolhendo todos os meios errados se disfarçou como Harrisson Wells, o homem que está a minha frente nesse instante.

—Não é o adolescente que deixei no futuro, você é um homem feito – o outro velocista não esconde a admiração em sua face nada parecida a do Barry que estou acostumada, mas a reverencia ao filho é idêntica.

—Está certo – confirma com a simulação do menor sorriso possível em seu rosto. – Sou do futuro, bom, do futuro considerando seu tempo real.

—Isso é fascinante, e agora usa meu manto – sorri com os olhos brilhando de emoção. – Posso te reconhecer em qualquer lugar, kid – caminha em direção ao West e apoia as mãos em seus ombros, posso perceber a força que Wally faz para se manter impassível ao toque e o quanto parecia não o desejar. – Me diz, o que precisa?

—Só que atenda um pedido – Wally afasta as luvas de seu uniforme e lhe mostra o pulso, o rosto desse Barry do mal se fecha cheio de preocupação, mas ele assente mesmo assim. – Ronnie – aponta para onde a cela havia desaparecido. – O mantenha vivo, e o máximo de conforto que puder lhe proporcionar vai fazer muita diferença.

—Isso é arriscado – Barry começa a dizer, mas Wally ergue a sobrancelha.

—Não seria um sacrifício se não fosse, pai— destaca seu título como se quisesse lembrar o que estava em jogo.

—Tem minha palavra.

Barry/Wells assente, mesmo contrariado parecia entender o significado da marca no corpo do filho e como qualquer pai que se preze, não está disposto a arriscar a vida do Wally. Nesse momento uma luz esverdeada toma todo o corpo do Wells e se desprende dele, como se estivesse sendo tragada pelo pulso do Wally, onde uma tatuagem no formato da moeda antiga que nos foi dada se forma em um tom amarronzado. O primeiro estava feito, faltam dois.

DAMIAN

Não sabemos como essa maldição, praga, vírus, não sei mais como nomear essa merda, mas a questão é que não vai parar, por que não sabemos a causa. Inferno. Nesse curto espaço de tempo que estou aqui, já morreram cinco pacientes só nos nossos arredores. Posso ter tido uma pequena crise de pânico com o sumiço de Diggle, coisa que os irmãos Queens também teriam, se estivessem nesse plano.

Connor tinha os olhos fixos na porta a sua frente, já o restante de nós estávamos entre a porta da frente e a das laterais, na esperança de que Felicity voltasse. Sei que parecia uma eternidade, mas não tinha passado nem uma hora inteira quando três mulheres apareceram ladeadas por Oliver e John.

Caitlin parecia ter envelhecido alguns anos desde que a tinha visto pela última vez. Não consigo imaginar o time de Oliver e Flash vivendo sem a doutora Snow, ela vivia basicamente para criar maneiras de fazer nós, pessoas humanas, em sua maioria, sobreviver aos nossos estilos de vida excêntricos, logo quando o coração dela sucumbir ao excesso de estresses, todos nós a seguiremos. Caitlin trazia consigo uma pasta refrigerada.

Não sabia o que seria aquilo, mas por um momento desviei minha atenção para a terceira componente, fazia cerca de três dias que havia visto Zatanna pela última vez, mas a maga tinha machas rochas ao redor dos olhos, os sucos das bochechas estavam mais vincados, e o queixo mais pontiagudo, parecia que a qualquer momento ela desmaiaria a nossa frente. John passou por mim, colocando sua mão em meu ombro em um cumprimento, indo até a filha que o abraça, dando lugar para ele sentar ao lado do sobrinho. Felicity toma o lugar da Isis que abraça de lado o pai.

—Vocês têm um plano? – pela primeira vez, depois de tanto tempo Connor fala alguma coisa, sua voz estava mais rouca pela falta de uso, mas ele não parece se importar de verdade.

—Algo assim – Felicity acaricia o rosto do filho. – Primeiro vamos levar Sandra para a torre, não sabemos se é seguro tentar a acordar novamente.

—Seis horas – Connor murmura, fazendo todos olharem para os lados. – Conferi a entrada dos pacientes mais próximos, esse é o tempo que levou para declararem o óbito deles. Seis horas desde suas admissões. Sandra está aqui a quatro.

Então ele não está tão aéreo assim. Preciso em algum momento, aprender a não o subestimar. A equipe médica se aproxima e eles começam a preparar a Sra. Hawke para o transporte. Observo tudo, nessas horas me lembro de uma antiga conversa que tive com a Delphine no Bunker, quando Isis estava passando por uma possessão. Nós somos forasteiros, não importa a profundidade do relacionamento, os Queens possuem uma espécie de bolha familiar, na qual se fecham quando qualquer tragédia acontece. Admirável, e um grande pé no saco de quem precisa conviver com eles. Estava preste a ter uma overdose de frustração, quando a equipe médica sai com a maca de Sandra.

—Connor, estamos prontos – Felicity anuncia. Ela abraça Sara e depois repete o gesto comigo. – Se cuidem, isso é perigoso demais.

—Vamos ficar bem – Diggle e eu respondemos ao mesmo tempo, o que faz a Sra. Queen sorri, a diversão brilhando mesmo em seus olhos tristes.

—Não vamos demorar – Connor promete, o rosto cheio de culpa, o que não faz sentido.

—Não somos bebês abandonados em um carro – Sara revira os olhos e beija o rosto dos primos. – Levem o tempo necessário, seguramos as pontas até vocês voltarem.

—Vou ficar de olho nele – Isis diz a ela de forma tranquilizadora.

Beijo a Queen antes de seguirmos por caminhos diferentes. Ao voltar para a casa dos mistérios, a primeira coisa que percebo é como a atmosfera parece pesar menos dez quilos. Seja o que for que estivesse acontecendo no mundo real, aqui estamos definitivamente fora de alcance. Sara parece sentir o mesmo, até sua postura parece mais firme ao andar apressada em direção ao laboratório onde deixamos as crianças com Grayson. Imagina nossa surpresa ao chegar lá e ver Nina pairando no ar, envolta a uma luz laranja. Com os Grayson a encarando boquiabertos.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de me contar o que acharam!
Bjnhos



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