PARADOXO - Seson 3 escrita por Thaís Romes, Sweet rose


Capítulo 24
Capitulo 21 - O Rei das Sombras


Notas iniciais do capítulo

Oie!!!!
Sei que costumo postar na segunda e tudo mais, no entanto é mais tranquilo fazer isso no fim de semana.
Espero que gostem do capítulo novo!



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SARA

Mal tenho minha filha de volta e já preciso deixa-la. A pior parte é ver como ela estava satisfeita com os padrinhos, mesmo depois de eu bancar o Wally cheia de drama em nossa separação. Connor disse para ela “Dá tchau para a mamãe, princesa!” e a menina me deu um tchauzinho mal olhando em minha direção, enquanto Lunna penteava seus cabelos. A gente tem uma criança... tudo bem que não a carreguei nove meses em meu ventre, mas isso faz alguma diferença? Ainda sou a mãe dela, a pessoa que ela deveria no mínimo olhar nos olhos quando se despede!

—Desencana, Sara – Isis diz com uma risadinha, cutucando a covinha da minha bochecha enquanto mantenho a carranca causada pela rejeição materna.

—Ela deveria ao menos me olhar, não acha?

—E eu adoraria ser “tia Isis”, mas acho que nenhuma de nós vai ter o que deseja da Nina, bem vinda ao clube bebê – aquilo está divertindo a pirralha Queen.

Fico feliz por isso. Um dia, quando ela e o Damian derem cria, vou estar na primeira fileira para assistir de camarote a simbiose de toda a petulância dela com a marra e arrogância do Wayne. Vamos ver quem é que vai se divertir no final!

 Agora, o motivo de estar usando um vestido de lantejoulas dourado que quase pode revelar meu útero quando estamos em uma missão contra o tempo é um mistério. Isis está em um tubinho verde que não deixa nem sombra de sua inocência, é uma mulher completamente madura vestida dessa forma. A parte divertida da despedida foi ver o olhar cheio das decimas intensões do Damian para ela, e o esforço para o conter estando diante do irmão e o primo da garota. Preciso voltar urgentemente para a terra, o romance adolescente deles acabou se tornando o melhor entretenimento que tenho disponível naquela maldita brecha temporal. Meu interesse pela vida dos dois está começando a me preocupar.

Constantine também abandonou o habitual sobretudo e está parecendo um cara a caminho de uma noitada. Muito estranho o ver em jeans e camisa social, mais estranho ainda é ele ficar bonito dessa forma. Demoro alguns minutos para me situar de onde estávamos, a noite estrelada de Los Angeles me surpreende, estava pronta para uma Star City decadente ou até mesmo Central ou Keystone, mas não a Cidade dos Anjos.

—Então é assim que se parece um lugar que não foi completamente tomado pela poluição? – Isis olha em volta.

—A cidade do Diabo – ele comenta com uma animação que não combina com o que acabou de afirmar. – Vamos, a Lux nos espera.

Lux, descobri minutos depois que se tratava de uma super boate no ponto mais badalado da cidade. Constantine estava estranhamente relaxado, quase parecendo ansiar pelo que iriamos fazer, e seria ótimo se tivesse se dado ao trabalho de nos contar o que estávamos fazendo de fato. Meus questionamentos são completamente nublados ao entrar no lugar mais legal que já coloquei meus pés.

A boate era linda, com andares diferentes que nos permitia ver a pista de dança, sofás espalhados e uma vibe de diversão que me fazia querer jogar tudo para o alto e me acabar de dançar. Isis não estava diferente, seus olhos azuis cuidadosamente maquiados estavam transbordando deslumbramento.

—Essa é a Lux – o homem em nosso meio gesticula para o ambiente, como se apresentasse a própria namorada. – Fiquem por perto, e ignorem a vontade de ir para a pista de dança.

—Normalmente minha atitude seria prensá-lo contra uma parede e tirar as respostas na marra, mas estou relaxada demais para isso – murmuro para Isis, enquanto o seguíamos em direção ao bar.

—Sei o que quer dizer – ela faz uma careta encarando as costas do ocultista.

Atrás do balcão estava uma mulher de pele morena que só pode ser descrita como gostosa pra caralho. Ela ergue a sobrancelha ao perceber o Constantine, depois o puxa pela gola da camisa, nos chocando com um beijo proibido para menores de dezoito anos.

—Babaca – cumprimenta quando acabam de se engalfinhar feito coelhos no cio.

—Maze, meu amor – devolve sorrindo cheio de malicia para ela.

—Está melhorando de companhia, John – ela nos olha como se nos visse nuas, Isis chega a tapar os seios como se estivessem realmente expostos. – Nossa!

—Essas são Isis Queen e Sara Diggle – nos apresenta, gesticulando para nos aproximarmos. – Meninas, essa é Mazikeen – sorrimos e ela nos olha como se fossemos o jantar. Então se abaixa atrás do balcão, coloca dois copos a nossa frente e derrama um líquido âmbar dentro deles.

—Por conta da casa – pisca para mim ao deslizar um dos copos em minha direção e sorrio agradecida antes de virar tudo de uma só vez. – Vou fazer o que está enrolando para me pedir, só por que gostei muito da vista – passa a língua sobre os lábios e eu já estava começando a achar divertido a esse ponto, Isis não partilhava do mesmo sentimento, ela segurou seu copo um tanto indecisa, antes de virar tudo como eu tinha feito antes.

—Quero falar com seu chefe.

—Então terá que ir ao inferno, Amenadiel é quem está no controle da Lux – gesticula em direção a um homem negro que me fez pedir perdão ao Grande D, pelos pensamentos que tive sendo uma mulher casada.

—Inferno, é sério? – perdemos a piada, mas os dois parecem achar graça naquilo. – Bom, talvez o irmão mais velho dele esteja de bom humor e nós ganhamos uma carona.

—Pode sempre usar um portal – ela o encara surpresa.

—Estamos com problemas em estabilizar magia no momento, talvez o bonitão nos ajude. Alguma ideia? – Constantine a pergunta e ela se vira novamente para nos estudar.

—Alguma de vocês por um acaso acredita em Deus? – fico sem reação, não esperava por isso, mas Isis como uma boa pestinha aponta em minha direção respondendo à pergunta por mim. – Use a amazona gostosa – aponta em minha direção, antes de se voltar para um cliente.

Deixo meu copo sobre o balcão encarando a pequena Queen no processo. Ela se encolhe e olha em volta, se esforçando muito para não me deixar perceber seu desconforto. Não posso manter a carranca por muito tempo, essa pirralha é realmente fofa.

—Vou tentar explicar em síntese – Constantine começa a dizer parando em nossa frente, sem vestígios da animação anterior. – Aquele ali é o que você pode chamar de guerreiro mais honrado de Deus, o anjo mais amado, bom, sua escolha. Amenadiel é nossa passagem para o inferno, só precisa convencê-lo a nos levar, o que não vai ser fácil, humanos não lidam bem com a danação eterna, mas acredito em você!  – dizendo isso me empurra na direção do homem mais lindo que já coloquei meus olhos em toda a minha vida. Bom trabalho, Grande D!

Tudo bem, acho que talvez a história de elogiarem pessoas bonitas dizendo que elas se parecem com “anjos”, tenha começado a fazer sentido. Me aproximo experimentando de uma timidez que nunca possui antes, A cada passo meu coração se infla de uma certeza de um amor incondicional e verdadeiro que não era necessariamente direcionado a ele, mas a proximidade certamente o intensificava. Pisco algumas vezes encarando o homem, ou anjo negro de olhos gentis e um corpo que mais parecia uma obra de arte. Por algum motivo ele se volta em minha direção, como se reconhecesse minha presença e abro a boca sem conseguir encontrar minha própria voz.

—Nos conhecemos? – questiona e sua voz é ainda melhor do que eu imaginei, balanço a cabeça feito uma idiota e ele sorri com bondade. – Fique tranquila, e me conte o que precisa.

Sim, eu queria contar tudo para ele, dos meus anos na Ilha a primeira vez que encontrei minha filha. Queria contar como orei ao Grande D quando pensei que Lunna poderia morrer por tentar me salvar, contar sobre meus pais, Wally e meus padrinhos. Enquanto lutava mentalmente para descobrir qual assunto merecia abrir minha torneirinha de confissões, o rosto de Nina ganhou primeiro plano, e consegui me lembrar do que precisava fazer naquele momento.

—Preciso de ajuda, estou aqui com amigos e parece que o antigo dono desse lugar não está mais disponível...

—Desculpe, não realizo desejos – franze o rosto. -Meu irmão é quem faz esse tipo de coisa.

—Entendo – suspiro completamente encantada. – Precisamos falar com ele, com o seu irmão. Soube que você pode nos levar onde ele está – seu rosto se torna sério e ele me estuda em silencio por mais tempo do que seria confortável, fazendo meu estômago revirar de um jeito bom.

—Você não é daqui – conclui por fim. – Sabe quem é meu irmão e onde ele está – afirma outra vez e concordo com um aceno. – Por que uma garota cheia da presença do meu Pai, poderia querer ir ao inferno?

Bom, eu não estava pensando que seria o inferno, inferno mesmo, no máximo um bairro ruim ou a sede de algum mafioso. Mas o que posso fazer?

—Minha filha e todos os nossos universos estão em risco. Não sei direito o que estamos prestes a fazer, tenho que confessar e talvez ache isso de anjo um tanto novo, mas julgando que estamos nos preparando para enfrentar demônios, então o inferno parece uma parada apropriada.

—Demônios? – semicerra seus olhos maravilhosos, uau! Balanço a cabeça confirmando. – Quem a trouxe?

Faço careta quando preciso desviar minha atenção dele para apontar Constantine e Isis, nos observando a alguma distância. Amane-alguma-coisa solta um suspiro cansado e gesticula para que os dois se aproximem de onde estávamos.

—Constantine, por que ainda me surpreendo?

—Quanto tempo, Amenadiel! – o ocultista força um sorriso.

—Para você cogitar me pedir ajuda, devo julgar que estamos à beira de um colapso fatal? – ele é ainda mais lindo quando sério daquele jeito!

—Precisamos do seu irmão, não tenho outra alternativa – Constantine sério, isso quase me faz parar de encarar o bonitão.

—Luci não está de férias, sabe que mesmo se levar vocês até lá, não posso garantir que ele vai ajuda-los com tanta boa vontade quanto eu.

—Luci, você quer dizer inferno... Lúcifer? Esse Lúcifer? – Isis arregala os olhos e demora alguns segundos para conseguir voltar a controlar a expressão.

—O próprio, mas tem muita lenda no meio da coisa toda – Constantine murmura fazendo pouco caso. – Então, vai nos levar? – o bonitão suspira e olha cada um de nós, estudando com cuidado nossas reações.

—São humanas, não é muito inteligente as carregar para o inferno – sua voz é baixa, tranquila, mas algo nela me faz gelar por um momento.

—Olha direito – Constantine gesticula em nossa direção, Amenadiel obedece e Grande D. não sei o que raios está acontecendo mais comigo, quando meu coração parece acelerar. – Não tão comuns, não é?

—Que seja, mas não descuide delas! – ameaça e acho que meu crush por ele acabou de aumentar.

ISIS

A expressão “Calor dos infernos” não é um eufemismo. Esse lugar é quente de uma forma que não consigo se quer começar a descrever, e olha que esse vestido que estou usando é do tipo resfriado garantido, mas até ele parece ser roupa demais agora. Sara pareceu parar de babar pelo anjo quando chegamos aqui, não sei bem o que estava acontecendo com ela, mas agora tenho certeza de que não era natural.

Estamos o mais longe do amor de Deus que se pode estar, e agora ele não o reflete mais para ela. O encanto foi quebrado. Katoptris diz em minha mente, naquele misto estranho de nossas vozes duplicadas. Mas Sara tímida e toda atrapalhada foi o mais divertido que presenciei nesses últimos dias.

Tento não rir do fato de minha adaga estar soando depressiva. Estamos no inferno, literalmente, e ela está reclamando como quem tem que acordar cedo na segunda de manhã. Constantine nos fez beber uma poção com gosto de chulé e Amenadiel nos cobriu com uma luzinha meio dourada, disse que era para não torrarmos vivas ou nos perdermos em um loop de culpa eterna, achei a cor fofa, ao menos me distraiu do horror e o cheiro sufocante de enxofre.

—Imaginei a coisa toda de lago de fogo e pessoas gritando. Mas isso parece uma caverna fedorenta – Sara comenta olhando em volta.

Estávamos em uma espécie de corredor cumprido esculpido em pedras, cheio de portas com letras que não consigo reconhecer, formando palavras entalhadas em pedra, todas elas estavam entre abertas, mas o anjo nos avisou que não deveríamos espiar, não se quiséssemos manter nossa sanidade mental. Já Constantine parecia outra pessoa, o rosto focado e os olhos checando cada cantinho do lugar.

—O inferno é diferente para cada um – Amenadiel começa a explicar, nos guiando pelo corredor. – É uma prisão sem trancas, onde cada alma se pune.

—Espera, como assim sem trancas? – me interesso, dando alguns passos apressados para seguir ao seu lado. – Se eu, por um acaso viesse parar aqui, Deus me livre disso, mas é só uma suposição – ele sorri me olhando de lado, me sinto uma criança por um momento. – Bom, se eu vier parar aqui, posso simplesmente abrir a porta e sair?

—Claro, o Pai te deu o livre arbítrio por um motivo. O julgamento divino está mais para auto julgamento – dá de ombros. – Uma alma quando chega aqui, vai se punir por cada pecado que cometeu em vida, mesmo a porta estando aberta e ninguém as mantendo presas, elas nunca enxergam a saída.

—Isso é bizarro – Diggle comenta.

—Talvez – ele para se virando para nós, e posso ver a preocupação clara em seu rosto. – Estão preparados? Ele pode ser um tanto temperamental.

Percebo que havíamos chegado ao fim do corredor e uma porta dourada e pomposa destoava de todo o ambiente. Acenamos sem muita convicção, afinal estávamos prestes a conhecer o diabo, e não sei o que esperar desse tipo de coisa. Só consigo imaginar qual seria a reação de Phillippe e Lunna em uma situação dessas, será que dariam uma de loucos religiosos? Pouco provável, nunca os vi se quer franzindo o nariz para qualquer coisa, mas conhecer o próprio Satã, isso é algo que gostaria de ver os Delphine fazerem.

Todo o calor sufocante acaba. Aquilo parecia o hall de um hotel luxuoso, com homens e mulheres em terninhos caminhando de um lado a outro, com pastas em mãos. Bem no final do salão havia um trono dourado, com um cara super gato sentado. Ele era mais alto que meu irmão, com certeza, posso perceber isso sem ele precisar se quer ficar sobre seus pés. Cabelos escuros e uma barba bem feita, Phill estaria em pé de igualdade ao lado dele, o homem era a definição de beleza encarnado.

—Irmão – Amenadiel se anuncia, ganhando a atenção de todos. As pessoas de terno parecem tentar conseguir o máximo possível de distância dele, enquanto caminhávamos sobre um tapete vermelho macio em direção ao trono.

—O que faz aqui, irmão? – questiona se levantando e caminhando a passos largos na direção do nosso guia. – Algo com a Chloe ou seu filhote? – o sotaque britânico dele me causa arrepios, adoraria ver Mia procurar defeitos nisso.

—Meu filho, filhote é um termo para animais – suspira, depois parece julgar melhor não dar corda. – Os dois estão bem, eu trouxe visitas para você – aponta em nossa direção.

Nós fomos secados pelo diabo, sem nenhum tipo de pudor. Ele não deu tanta atenção para Constantine e eu, mas seus olhos se demoraram em Sara, a esquadrinhando da cabeça aos pés. Minha amiga nem pareceu se abalar, o que é impressionante julgando como o olhar dele revirava meu estômago e outras partes não tão nobres do meu corpo. Aliás, ele não pareceu gostar muito da presença de Constantine, quase o ignorando como se não existisse. Até isso nele era sexy.

Outro espelho, Queen. Sossega! Katoptris me repreende, e preciso me conter para não revirar os olhos e gritar “me deixa”.

—Ora, ora – ele para de secar a Diggle e se vira em minha direção. – A séculos não vejo uma escolhida da Katoptris em pessoa – sorri e pareço começar a interessa-lo. – Qual o seu nome, querida?

—Não sei se quero contar meu nome ao diabo – solto sem pensar, sentindo meu rosto queimando no mesmo instante e ele solta uma sonora gargalhada. – Me desculpe, não queria ser grosseira.

—Adorável – diz como se eu fosse um seriado divertido em sua tarde tediosa. – Posso ver o que a atraiu em você – outro sorriso de tirar o fôlego. – Essas garotas não pertencem a esse lugar, Constantine – o nome soa como um xingamento em seus lábios. – Por que as arrastou para as profundezas do inferno?

—Felix Fausto está soltando três dos seus garotos – Constantine começa a dizer, mas Lucífer volta a olhar para Sara, seus olhos brilhando como se ela fosse algo extremamente fascinante.

—Felix, é? – seus lábios se curvam em desgosto. – Bom, torça para que ele morra no processo e garanto puni-lo como se deve quando chegar aqui.

—Vou cruzar os dedos – Constantine murmura com sarcasmo. – Precisamos que nos diga quem é o agente de Rath em nossa terra.

Ótimo, os olhos do diabo ficam completamente vermelhos e ele para de encarar Sara se voltando para o ocultista que engole em seco. Constantine dá um passo para trás, quando Lucífer dá um em sua direção.

—Rath, Abnegazar e Gast? – questiona muito sério, Amenadiel também se vira como se tivesse escutado algo terrível. – Quantos selos, já tiveram as ondas de suicídio? – Constantine assente e Lucífer passa a mão nos cabelos. – Voluntárias ou compulsórias?

—Ainda estamos nas voluntárias, mas não acho que vá demorar muito até pessoas tirarem a própria vida como quem pega uma gripe – o ocultista solta um suspiro cheio de pesar.

—Filho da puta! – exclama Lucífer.

—Estamos juntando as armas, mas não sabemos quem é o agente de Rath para conseguir a confissão – a voz tremula de Constantine deve significar algo muito, muito ruim.

—Rá, parece que o diabo vai salvar o dia mais uma vez, não é mesmo? – murmura entre dentes, mas sua expressão se ameniza ao se voltar para Sara que só observava tudo com um distanciamento invejável. – Você cheira a divindade, querida – sorri para ela, parando bem a sua frente. – Me diz, o que realmente deseja? – algo estranho acontece, Sara se inclina completamente na direção do diabo, os olhos se tornam vazios por um curto período, antes que as palavras saiam de sua boca como uma enxurrada.

—Salvar minha filha, mantê-la a salvo e se possível não perder nenhum dos meus amigos no processo, mas Nina é definitivamente minha prioridade. Arriscaria tudo por ela – solta sem pestanejar e Lucífer estreita os olhos.

—A luz divina de uma mãe? – parece confuso. – Não, não é apenas isso, você tem toda uma aura de proteção divina que não é a que meu irmão aqui colocou em vocês.

—Ela tem a benção de Tupã – Constantine responde, depois de perceber que aquilo não chegaria a lugar algum caso a curiosidade do diabo não fosse saciada.

—Tupã, uma das versões menos irritantes do meu Pai – dá de ombros. – Ela certamente não teve contato com o agente de Rath, algum de vocês vivenciou algo realmente sombrio nas últimas semanas?

—Bom, eu meio que fui possuída por uma arca, onde havia prendido minha adaga, isso conta? – questiono levantando uma mão, como se pedisse permissão a um professor em meio a aula.

—Que coisinha mais interessante você é! – seu tom de aprovação chega a me chocar. – Prendeu a Katoptris, humanos, tão divertidos!

—Hum, todos disseram que isso era ruim – Sara murmura. – Mas sendo o diabo, posso entender a atitude – ele sorri para ela, como se acabasse de ganhar o melhor dos elogios.

—Então querida, me dê sua adaga – me estende a mão e toco a Katoptris antes, ela não demonstra nenhum protesto então a entrego a ele que fica por um tempo absurdamente longo de olhos fechados, com minha adaga brilhando em sua mão. – O agente foi quem contou a ela sobre a arca, mas colocou um bloqueio para que mesmo a reconhecendo, não pudesse fazer a ligação.

—Então, pode nos dizer quem é? – questiono confusa.

—Não querida – sorri simpático.  – Mas posso retirar o bloqueio, volte para casa e tenha uma boa-noite de sono, então tudo vai se tornar claro.

DAMIAN

Ver Connor e Wally treinando não era nada divertido quando minha cabeça estava as voltas pensando em uma certa pessoa que tinha saído com um vestido completamente indiscreto, junto com Sara e um cara que não confio muito, não que Constantine não seja apto ou que uma das duas precise de qualquer tipo de proteção, mas, não tem outras palavras, queria estar grudado no pescoço de Isis, fuzilando todo mundo com olhar.

E ficar perto do Connor não estava ajudando agora. Os dois são parecidos de uma forma bem irritante, principalmente ao treinar. Hawke é um lutador melhor, talvez pelo mosteiro e essa disciplina anormal que possui, mas os irmãos compartilham de gatilhos bem semelhantes durante a luta, a forma que aceleram e são cuidadosos ao finalizar qualquer golpe é praticamente a mesma. Mesmo em campo, Isis parece reproduzir algumas das técnicas do irmão, ao tentar ser “gentil” com algum criminoso e tentar pará-los danificando o mínimo possível seus corpos. Esse é o tipo de cortesia que não vai ser encontrada nas mãos de nenhum morcego.

Não dá. Me levanto e posso ver o sorrisinho vitorioso no rosto do Wally, enquanto estende a mão para Connor que revira os olhos pegando algo em seu bolso e o entrega. John, Barry e ele precisam urgentemente parar com esse vicio em apostar cada mínimo detalhe da vida alheia. Saio da sala de treinamento bufando, ando pelo corredor em silencio, até uma voz doce e calma chamar minha atenção.

—Olha, a carranca do Wayne está de volta – Lunna estava sentada em uma poltrona na biblioteca da Casa de mistérios, tinha Nina que cochilava em seus braços enquanto lia um livro para a criança que dormia confortavelmente.

—Princesas? – perguntei apontando para o livro.

—A mística feminina – levanta o livro de Betty Friedman, o que de fato não me surpreende.

—Estava pensando manter Al e Chloe aqui por um tempo, seria o local mais seguro para eles, e fariam companhia para a Nina. Escutei alguns comentários do Constantine sobre alguma coisa compulsória.

—Ouvi também – ela maneia a cabeça.

—Os deixar a salvo de o que for isso, me faria dormir melhor a noite – confesso, é sempre fácil não erguer nenhum muro com ela.

—Isso seria legal – Lunna levanta da poltrona e passa Nina para os meus braços. – Mas não explica a sua cara de quem comeu e não gostou.

—Próximo tópico – ela ri abertamente da minha cara que se fechou um pouco mais. Nina ressonava com uma tranquilidade invejável, era agradável a ouvir, era pacifica dormindo como quem sabe que estava sendo amparada e cuidada – Tranquilizador, não?

— Muito – confirmo me sentando em um sofá de frente para Lunna. – Deve ser um dom – dou risada me sentindo muito mais tranquilo que antes.

—Você não é o único que está irritado de deixar Sara e Isis enfrentando seja lá o que for lá fora, você sabe, não é mesmo? – dá de ombros. – Wally está no modo cômico ativado, quase um sistema de auto defesa, Connor está em constante meditação, e eu estava segurando Nina quase com uma boia salva-vidas – dá risada mexendo em uma mecha aleatória do próprio cabelo. – É difícil nos separamos depois de tudo que passamos. Quando vocês dois estiveram lá embaixo não foi muito melhor.

—Estranho esse vínculo, você não acha? – levanto meu olhar em direção a amiga mais improvável que fiz nesses últimos meses.

Lunna ganhou meu respeito, admiração e deixando de lado minha marra, ela tem muito do meu afeto. Não posso negar que encontrei nessa mulher de olhos multicoloridos e sorriso tímido, alguém em que confiaria minha vida. Ela suspira se ajeitando na poltrona e me lança um olhar carinhoso antes de começar a falar com sua voz naturalmente baixa.

—Nunca fui boa com pessoas Dam – ri quando a olho descordando de cada sentença daquela frase. – Gosto de vocês, então não parece que meu estômago está em chamas só por ficarem dentro do meu espaço pessoal – prendo o riso para não desdenhar de seus problemas emocionais, mas ela mesma parece achar graça e solta uma risadinha musical que faz o bebê em meus braços sorrir, mesmo dormindo.

—Eu meio que entendo agora por que o Connor vive dizendo que você não se enxerga com clareza – desabafo a observando.

—Me apegar a alguém é sempre estranho, e bem, confesso que nunca pensei que estaria onde estou hoje, rodeada por pessoas pelas quais eu seria capaz de dar minha própria vida – meu coração se aperta no mesmo instante, o mesmo incomodo que venho ignorando sempre que vejo como Wally a olha enche meu peito, empurro o sentimento para o mais fundo possível e volto a prestar atenção no que ela falava. - Qualquer tipo de afeição que me permitia ter, era direcionado ao meu irmão. Já aqueles quatro sempre estiveram juntos, quase uma unidade. Assim como você sempre teve os seus irmãos, e eu, bem fiquei muito tempo sozinha, você sabe de toda a história –balança a mão aleatoriamente.

—Odeio o desgraçado que fez tudo aquilo com você – solto em um impulso que não pude refrear a tempo. – Desculpa, não deveria ter dito isso – murmuro quando a vejo se encolher, como se as lembranças viessem com tudo em sua mente.

—Tudo bem, entendo esse sentimento – suspira cravando seus olhos em Nina, que dormia tranquilamente, alheia a tudo que nos atormentava. – Não sou a maior fã da Thália também – faz careta e não posso deixar de acompanhar. – Não con... consigo entender como... – a voz falha e vejo seus olhos perderem o foco por um momento. – Você era só uma criança, não me parece certo.

—Acho que nunca fui criança, Lunna – confesso.

Por algum motivo eu sempre fico ridiculamente emocional quando temos esses tipos de conversa. Seu rosto se enche de tristeza e tenho certeza que é por mim, não por todos os horrores que passou em sua adolescência. Delphine é estranha, muito estranha, mas de alguma forma ainda mais estranha ela parece unir todos nós. Por que se alguém passou por tanta merda e ainda consegue ter toda essa força e caráter, então tudo parece possível.

—Eu aprendi algumas coisas depois que comecei a fazer terapia – diz estudando as próprias unhas. – As feridas que já tivemos ainda podem doer, mas não se repetem. Borgo me destruiu de muitas formas e eu provavelmente nunca mais serei a garota que era antes dos abusos dele – travo o maxilar por reflexo, enquanto minha mente produz de forma involuntária as imagens de uma Lunna completamente machucada e assustada, sem ninguém que a protegesse. – Mas ele não vai mais me ferir, Damian. Do mesmo jeito que ninguém vai abrir mão de você – a olho assustado e a vejo esboçar um mínimo sorriso. – Por culpa da pessoa que mais deveria te amar e proteger no mundo, você perdeu a vida, ter medo de ser deixado para traz é natural nesse tipo de caso.

—Como você... – começo confuso e a vejo dando de ombros.

—Percebi no dia em que descobriu como Isis conseguiu a arca – responde com simplicidade. – Poderia falar pelos outros, mas não gosto muito disso.

Lunna se levanta e caminha até a poltrona que estou sentado com Nina no colo. A garota se agacha na minha frente e toca de leve meu ante braço, me fazendo ver seus olhos agora verdes com manchinhas castanhas, me encarando de forma serena e protetora. Isso quase me faz sorrir.

—Não vou te deixar – declara com uma certeza que até hoje só tinha reconhecido no Grayson. – Somos família, Wayne, e um Delphine nunca abandona a família.

Engulo em seco, sem saber o que responder quando ela se levanta sorrindo de forma serena, como se o que acabou de fazer não fosse importante. Ela volta a se sentar e abre o livro que estava lendo antes. Permanecemos em um silencio confortável até que um raio vermelho e amarelo passa pela porta, então Lunna tinha um bebê tamanho gigante em seu colo. Wally segurava o livro que ela lia de cabeça para baixo, encarando as palavras como se fossem códigos indecifráveis.

—Você é pesado! – Delphine reclama fazendo careta e Connor passa pela porta com suas roupas de treino e uma toalha em volta do pescoço.

—Pontos de pressão. É eficiente em um combate e não importa o tamanho do oponente ou a força que possui, qualquer um é vulnerável a eles – West dispara a falar, olhando de Lunna para mim, parecendo estar com mais energia do que sou capaz de lidar no momento. – Você pode ensinar isso para ela, não é um lance que vocês da Batfamília dominam?

—Pode ser feito – dou de ombros, e mais uma vez preciso ignorar a esperança estranha que brilha nos olhos do Wally.

—Ótimo, vamos começar amanhã mesmo! – sorri animado demais. – Vou pegar meu bebê agora e...

Antes que ele termine de falar um raio prateado para na minha frente, ganhando a forma de Lunna. Que tem as mãos na cintura encarando o outro velocista que parecia confuso pela forma em que ela se libertou dele e agora estava claramente se colocando em seu caminho.

—Não vai não! – protesta. – Você está suado Wally, e eu acabei de dar banho na sua filha, e fazer ela dormir! – bufa indignada e prendo o riso ao ver sua revolta. – Vocês dois podem fazer o que quiserem depois de um banho – aponta para o marido que a olha confuso por ser alvo de seus quase berros, por que para Lunna, aquilo era o equivalente a se esgoelar. – Não ouviram o que acabei de dizer? Andem logo!

Para garantir pega Nina dos meus braços. Connor sorri abobado como sempre fica ao ver a esposa, antes de sacudir a cabeça e sair, provavelmente para fazer o que ela mandou, mas West não é assim tão esperto e parece pronto para comprar uma briga com a Delphine.

Com a deixa resolvo que era hora de me retirar também, talvez ler algum livro, esperando alguma notícia das garotas. Deixo Lunna e Wally em uma disputa de quem pisca ou desvia o olhar mortal antes, se tivesse que colocar meu dinheiro em um lado apostaria na minha amiga. Paro no corredor onde os quartos estavam dispostos, e magicamente a minha porta não estava mais lá, o meu quarto havia desaparecido. Maldita casa dos mistérios!

—Inferno! – tento apertar a parede onde antes era a minha porta na esperança que ela retorne, mas nada. Tinha duas opções, voltar para onde estava e fingir que nada havia acontecido, e esperar Isis voltar para me dar abrigo, ou tentar a sorte em seu quarto. Voltar e encarar um Wally descontrolado nas gracinhas não pareceu uma boa ideia, mas será que como para Isis que abriu o meu quarto, conseguiria abrir o dela? Só havia uma maneira de descobrir.

Fui até sua porta, coloquei a mão na maçaneta e pronto, o quarto se abriu, mas não era o quarto da Isis, ou o antigo quarto do Connor, era um quarto novo. Estava maior agora, uma cama de casal simples, com duas mesas de cabeceira uma em cada lado, na da direita um porta retrato com uma foto minha e de Isis em nosso primeiro encontro, na esquerda uma foto que não lembro de ter tirado, o que é estranho, já que estava olhando para a câmera, tinha Isis em meus braços e dois sorrisos idiotas nos lábios. Ainda não havíamos tirado aquela foto.

Na parede oposta a cama havia uma porta, um closet, nossas roupas dispostas organizadas a perfeição, uma penteadeira bem iluminada e um banheiro enorme. Reconheço o local, apesar de nunca mais ter posto meus pés ali, e saber que não cheguei a ter a oportunidade de levar Isis até lá antes da Arca resolver me dar um pé na bunda, mas sei que aquilo foi decorado por ela. Cada canto do lugar tinha o toque minimalista e delicado da minha namorada.

Tomo um banho rápido, pego uma calça de moletom sem me preocupar muito, apesar da minha irracionalidade de mais cedo seria muito esperar que Sara e Isis voltassem tão rápido da missão, então me jogo na cama, e verifico a gaveta da mesa de cabeceira ao meu lado, já sabendo que iria encontrar o livro que estava em minha cabeceira na mansão, folheio até achar a página onde havia parado e tento prestar atenção nas palavras.

—O conde de monte cristo? – a voz de Isis me pega de surpresa quando já fazia algum tempo que me concentrava das ações de vingança de Dantes. –Interessante, nunca li o livro, mas o filme é fofo.

—Foram rápidas. Sara está bem? – algo estava estranho.

—Estamos bem, só me ajuda a tirar esse vestido, preciso de um banho com urgência, não aguento mais o cheiro de enxofre –então fica quieta olhando para mim, perdendo um bom tempo olhando cada pedaço de pele exposta, acho que ela estava salivando, não posso evitar de dar risada. – Isso nem devia ser certo, acabei de voltar do inferno e agora você assim, aqui – então seus olhos conseguem deixar meu corpo e caminham pelo o quarto. – Onde exatamente é aqui? – dou de ombros.

—Meu quarto desapareceu e só me sobrou o seu, e bem esse apareceu no lugar – conto meias verdades, nós acabamos de voltar, cada coisa em seu tempo. Isis morde o lábio inferior reparando na foto ao lado da cama.

—Só me ajuda a tirar esse vestido, penso no resto depois – me levanto, meus dedos passeiam em seu pescoço até achar o zíper invisível do vestido, arrastando vagarosamente. – Você está sentindo o cheiro de enxofre?

—O que? – que absurdo era aquilo?

—Enxofre? Estou sentido nos meus cabelos - puxa uma mecha que caia em seu ombro e inspira, fazendo careta. Mas não conseguia sentir nada.

—Você está cheirando a, - encosto o meu nariz no alto da sua cabeça, absorvendo seu aroma sutil e adocicado, me lembra uma tarde em frente a lareira da mansão, tem cheiro de lar. –Isis.

— Impossível. – diz indo em direção a porta, tirando a alça do vestido no caminho, não me atrevo as segui-la antes de ouvir o barulho do chuveiro, paro na parte de fora da porta encostando o meu corpo na parede, apenas ouvindo o barulho da água.

—Quer conversar? – pergunto dois minutos depois. Ela estava inquieta de mais, até mesmo para os seus padrões.

—Eu fui para o inferno! Não o metafórico, o inferno mesmo, com pessoas sendo torturadas, calor nível vulcão, conheci o Lúcifer, sabe o diabo mor? Ai meu Deus! Eu conheci o capeta, e ele era legal e lindo do jeito mais bonito possível, e conheci o irmão dele que era um anjo do tipo bom e era imponente, e bonito. Conheci uma demônia também, já conheceu alguém que te fizesse sentir quase sujo apenas com um olhar? -não me dá tempo para responder.  – Mas acho que de alguma forma ela era “gente boa”. Falei que fui em uma boate me Los Angeles?

—Que?

—Constantine conhece Lúcifer, e agora eu também, e Sara. Lúcifer a adorou. De qualquer jeito, –Isis aparece de roupão e uma toalha presa nos cabelos molhados. Passa por mim, pega uma calça de moletom rosa bebê e uma camiseta da mesma cor, e volta para o banheiro. – Fomos até uma boate em Los Angeles, não em nosso mundo, mas em algum dos 52 universos, lá conhecemos uma demônia e um anjo, mas quem nos levou para o inferno foi o anjo, a demônia só nos ofereceu umas bebidas, ela parece ser gente boa, apesar dos olhares que ela nos dava, sem falar no beijo desentupidor de pia que deu no Constantine – ela volta a aparecer, agora vestida, só com a tolha ainda nos cabelos.

—Isis – coloco minhas mãos em seus ombros a sacudindo de leve.

—Constantine pensou que Lúcifer poderia dos dizer quem está ajudando os demônios em nosso plano. Parte da minha missão é conseguir uma confissão desse tal ajudante, é como um selo para blindar a arma que vamos buscar depois – ela respira fundo. – Lucífer falou que eu já sabia quem é esse agente, mas que minha mente foi alterada. Ele tirou o feitiço, mas preciso dormir primeiro para que o encanto seja desfeito.

Estendo uma mão e passo delicadamente a ponta de meus dedos pela extensão de sua face. Isis fecha seus olhos e a respiração se acalma sob meu toque. Sorrio como idiota, só por ver que tenho o mesmo efeito que ela me causa. Amenizo meu tom de voz e volto a segurar em seus ombros, sentindo seus músculos tensos.

—Então é por isso que parece que tomou cafeína potencializada? – dou um sorriso sem jeito a puxando de volta para o quarto, a sento na cama e começo e secar seu cabelo com a toalha.

—Litros e litros de café – seu ombro cai em derrota. – Estou mais acesa do que a Menorah em noite de Hanuka.

—O que achou do quarto? – tento a distrair sem nenhuma sutileza.

—Aquela foto nossa – aponta para a foto do nosso primeiro encontro.  –Está em uma caixa de coisas importantes dentro do meu armário no meu apartamento, junto com a rolha do vinho que bebemos aquela noite – dou risada gostando da imagem. – Mas aquela ainda não tiramos, não é mesmo?

—Não que me lembre, e não costumo esquecer nada que te envolva – me concentro nas pontas de seus cabelos castanhos, várias mechas completamente louras se mesclando aos fios poucos tons acima.

—E esse quarto, já havia imaginado algo assim.

— O que acha que é? – pego a tolha e a levo para o banheiro. Volto, deito na cama e puxo Isis para que se deite no meu peito.

— Você deveria colocar uma camisa se espere que eu durma essa noite – reclama, mas a essa frase se resume todo o protesto, pois deita de boa vontade sem apresentar resistência, se prendendo a mim como se nada a pudesse a tirar dali.

—Calor humano, e o barulho dos batimentos cardíacos ajudam a acalmar – beijo o alto da sua cabeça.

—Isso é para fetos prematuros. Vou deixar passar Wayne, gosto de dormir no seu tanquinho – murmura fechando os olhos, o que me faz prender o riso.

 - Você não me respondeu o que acha que esse quarto é?

— O que vai ser de nós dois se conseguirmos fazer isso dar certo.

— Me parece algo que podemos lutar para ter – dou uma risada tranquila.

—Me conta alguma coisa?

—Que coisa?

—Qualquer coisa.

—Vejamos – não tem muitas novidades desde que ela saiu em missão. – Vou pedir para Dick deixar Al e Chloe aqui por um tempo, para fazer companhia a Nina, e por que aqui é o lugar mais seguro para eles.

—Verdade, eles vão realmente estar mais seguros. Hoje o Lúcifer perguntou ao Constantine sobre uma “onda compulsória de suicídios”, algo como se matar como quem pega uma gripe – estremece em meus braços e acho que faço o mesmo. – Não os quero lá fora quando isso acontecer.

—Exato – concordo dando um beijo no alto de sua cabeça.

—Isso é um baita gigantesco e fedorento pesadelo – xinga, escondendo o rosto em meu peito. – Odeio não saber, mas tenho muito medo de ver o que aconteceu com Wally.

—Eu também – confesso e ficamos em silencio por um tempo. -Dormiu?

—Hah! – petulante como sempre.

—O que te acalmaria? – Isis levanta sua cabeça me encarando com aqueles enormes olhos azuis.

—Exercício físico – tento não dar risada do caminho que sua mente trilhava para dizer o obvio.

—Acho que a sala de treinamento está vazia – provoco a fazendo revirar os olhos e tombar no travesseiro ao meu lado, parecendo derrotada. Preciso parar de provoca-la só por diversão, mas é mais forte do que eu.

—Você é absur...

A descubro lentamente, vendo Isis engolir o que estava prestes a dizer e me encarar com os olhos travados em meu rosto. Afasto o cabelo de sua face com tanto cuidado que o gesto nem mesmo parece ser meu. Desliso a mão por seu braço a pousando em sua barriga e brinco com a base de sua blusa, vendo um sorriso esperançoso aparecer em seus lábios, o que me faz toma-los como se eles fossem algo que saciasse minha sede. A beijo com vontade, sentindo suas mãos começarem a passear por meus braços, pescoço, até encontrarem meu abdômen e se demorarem por lá. A esse ponto já estava apenas me controlando para não arrancar suas roupas e ser bem menos carinhoso do que deveria. Mas minha mente me trai, me levando para a noite da festa na mansão dos Queens, Isis fugindo durante nossa dança e os sons de seu choro quando a encontrei no colo dos pais. Então congelo.

—Já faz um tempo – suspiro me afastando e estudo seu rosto corado e cheio de desejo. – Planejava ir devagar depois de tudo o que passou – me sento na cama e ela faz o mesmo de forma automática.

—Está com medo de me machucar – não era uma pergunta, ela me analisava, estudando toda a minha postura com seus olhos espertos. – E se controlando para não cruzar nenhuma linha imaginária que criou em sua cabecinha linda – continua me fazendo sorrir. – Se as pessoas soubessem, Wayne, isso destruiria sua reputação! – implica estendendo a mão para meu rosto, a seguro, dando um beijo em sua palma.

—Você já cuidou disso a uns bons anos, Queen – devolvo a alfinetada, por hábito e o som de seu riso faz meu peito inflar.

—Não tem que me proteger assim – suspira afastando sua mão do meu rosto e retira a camiseta que usava, sem mais nada por baixo. Engulo em seco, seu corpo de proporções perfeitas exposto ao alcance das minhas mãos, e eu tentando muito ser um “bom moço”. –Pode me olhar – diz com a voz lenta, cheia de persuasão, se ajoelhando na cama a minha frente. – Me tocar – pega minha mão e a coloca em sua cintura, se aproximando, até estar sentada no meu colo.

—Isis... – sussurro seu nome, meu auto controle sendo lançado por terra.

—Com você, nunca vai parecer errado Wayne – diz quando nossos olhos se encontram. – Você sempre foi minha escolha.

Sorrio sentindo todas as minhas travas caírem. A aperto nos meus braços enquanto beijava sua boca, deslisando minhas mãos por sua pele quente e macia. E depois de todo o pesadelo que nossa separação me causou, me sinto novamente inteiro e em casa.

SARA

—Boa noite! – falo quando vejo Wally sentado na cadeira de frente para a nossa cama assistindo nossa filha dormir.

 Meu marido segue a direção da minha voz e abre um sorriso maravilhoso ao me ver. Posso sentir as cordas que nos unem se estreitando, apreciando nossa proximidade. Suspiro aliviada ao perceber que toda a sua estrutura grande e esguia, cabelos ruivos sempre bagunçados e os olhos tão verdes quanto se é possível, ainda faz com que meus pensamentos embaralhem, sem ele precisar se quer mover um de seus músculos grandes e firmes. Não tive outros namorados, não que queira ter, mas aquilo que senti ao conhecer o anjo foi completamente sem sentido e irracional. A culpa faz com que as próximas palavras escapem por meus lábios.

—Você quase virou um homem divorciado – me aproximo dele sentando em seu colo. Wally me olha de baixo para cima, prestando atenção em cada pedaço exposto, e coberto também, já que aquele vestido não escondia muito. Seguro a risada quando ele olha com cara de bobão para mim, sem ter escutado nenhuma palavra da minha confissão sofrida. – Wally?

— O que? – acho que ele estava com dificuldade cognitivas.

—Divorcio, você quase virou um homem divorciado – dou risada da cara de nojo que fez para imagem de um dia nós por livre e espontânea vontade nos separarmos. – Conheci um Anjo, com A maiúsculo.

Ele pisca algumas vezes, então com uma de suas mãos afasta as mechas de meus cabelos que estavam ao lado do meu rosto, as colocando de forma que pendesse em minhas costas, expondo meu ombro esquerdo onde ele distribui beijos que fazem minha pele se arrepiar. É minha vez de mal me lembrar do que estávamos discutindo segundos atrás.

—Você está me dizendo que encontrou um homem com asas e por isso pensou em se separar de mim? – franze o nariz, confuso, entre os beijos que distribuía, agora passando para meu rosto, depois acaricia minha face e me observa como se tentasse entender meu dilema.

—Não um homem com asas, um Anjo do Grande D. – aponto para cima. –Um anjo negro de quase dois metros, com uma voz... – me reprimo, mesmo Wally não demonstrando nenhum desconforto. O mesmo olhar de certeza e devoção de sempre estampavam seu rosto.

—Você conhece... – balança a cabeça em negação. – Eu só vou esperar você me contar tudo, vai ser mais fácil – tenho que segurar minha boca para a gargalhada não acordar a nossa filha.

—Inferno e céu, sei que ele existe. Não acredito, sei. Eu vi! Na verdade, só o inferno, mas se ele existe logo o contra ponto também, não é mesmo? – Wally pisca duas vezes para mim, sem parecer ter forças para me deter, seu braço direito acaricia a minhas costas enquanto o esquerdo repousava sobre minhas pernas. – É estranho, mas Lúcifer não é nem um pouco como imaginava. Não é vermelho nem tem chifres. É um cara inglês com mania de encarar – não consigo encontrar uma forma de descrever o diabo. – Egocêntrico com certeza, mas não tem toda aquela maldade sem propósito, ao menos não para quem ele diz ser inocente, o que para minha sorte e de Isis, era o nosso caso. Sinceramente, ele só me pareceu entediado.

—Você se apaixonou pelo próprio sete peles? – arregala os olhos, e sorrio, já estava sentindo falta desse drama gratuito.

—Não! – me apresso a dizer, quase ofendida. – Na verdade foi o irmão dele – murmuro baixinho, desviando meus olhos do Wally, mas uma risadinha entre os dentes me faz o encarar sem entender todo o seu novo desprendimento. – Nada de ciúmes? – ergo uma sobrancelha e isso só aumenta a diversão em seu rosto.

—Sou pai de sua filha, Diggle – Wally sussurra beijando a parte de trás da minha orelha, enterrando seus dedos em meus cachos, o que me faz arfar. – O pai de todos os filhos que vierem do seu coração ou ventre. Estou tão entrelaçado em você, linda, que posso jurar que tem uma marca minha em seu corpo – todo meu corpo se acende como mágica ao som de sua voz grave.

Enquanto me encolho em seus braços, tento parar e imaginar o que Amenadiel me fez sentir, tirando a atração física óbvia. Eu me peguei imersa a uma bolha de amor tão grande e incondicional que me fazia o querer ter mais perto o possível, de forma que pudesse me agarrar ao sentimento de aceitação e pertencimento que me causava. Desabafaria todos os meus medos, contaria todos os meus sonhos sem pestanejar. Somente meu instinto materno pode me impedir de fazer tais coisas. Mas assim que pusemos os pés no submundo não era tão forte quanto antes. Ainda era um cara absurdamente quente, o homem mais lindo que já vi de pertinho, e isso por que sou casada com um cara como o West, convivo com pessoas como Connor, Grayson e até extremos que beiram o sobrenatural no quesito beleza, como é o caso do Phill, bom, os Delphine em si. Lunna é tão bonita que faz as pessoas questionarem a própria sexualidade as vezes.

Mas agora nos braços do Wally, aquilo se torna insignificante. Enquanto ele me aperta, beija e acaricia, o anjo passa a ser uma lembrança tão distante que se torna disforme. Só os braços onde estou me importam.

 -Acho que seres divinos devem exercer alguma coisa em mim – penso entre seus lábios, o que o faz parar e me observar com atenção.

—Eu deveria estar entendendo?

—Rudá, Nina, um anjo – explico passando a ponta dos dedos por sua sobrancelha cumprida. – Agora isso sobre ter a benção de Tupã. É como se eu atraísse um panteão de deuses para nosso quintal, sem nem perceber – estremeço ao me lembrar todo o desejo e desafio que queimavam nos olhos de Lucífer ao me observar.

—Amor, você precisa descansar – Wally beija meus lábios com delicadeza e concordo assentindo. –Completaram a missão?

—Vamos saber pela manhã – explico rapidamente o que tinha acontecido e sobre o encanto.

—Um bom banho e descaço – conclui quando termino, me dando um beijo no alto da minha cabeça. Um raio com suas cores características, passa rapidamente por seu olhar, mas ele me abre um de seus sorrisos herança do Allen e me derreto imediatamente.

—Acho meio difícil descansar depois de tudo que vi hoje – protesto como nossa filha faria, só percebendo depois que pronunciei as palavras, esfregando meu nariz em seu pescoço e pela extensão de seu maxilar.

—Presta atenção nela então – Wally aponta para a nossa menina, a observo e sinto pouco a pouco a tensão deixar meu corpo. – Lunna tem uma teoria sobre a Nina ter poderes tranquilizantes.

—Bebê Diazepam, é parece algo que nós dois faríamos juntos – brinco, sentindo seu riso em minha nuca. Então estava me erguendo em seus braços e em instantes estou dentro do banheiro com Wally arrancando minhas roupas sem muita cerimonia.

ISIS

—Oi querida! – me assusto com o sotaque britânico.

Lúcifer estava escorado em uma porta de vidro, olhando para algo sobre meus ombros. O mesmo homem absurdamente lindo, de cabelos escuros e barba perfeita. Me viro na direção de seus olhos e percebo que estávamos na porta de um restaurante do tipo cinco estrelas, ele ao menos estava a caráter, com seu terno preto de grife. Isso enquanto eu usava pijamas rosa bebê. Ai, ai isso é pior do que a versão de pesadelo onde estou na padaria de toalha.

—Não é um sonho – diz como se estivesse lendo minha mente. – A primeira de suas lembranças que foram alteradas, acho que não seria bom estar nela sozinha.

—Você é gentil demais para o Diabo – murmuro sem conseguir conter minha confusão.

—Gentileza – repete como se testasse a palavra. – Está vendo o que deseja, querida – fala naturalmente. – Sou perverso, implacável e extremamente egoísta. Minha natureza é punir os merecedores de castigo, se me chamasse de gentil diante de um deles, duvidariam de sua sanidade.

—Está sendo gentil comigo, e quero que saiba que sou grata por isso – me olha de lado, o desconforto claro em seu corpo subitamente tenso.

—Bom, tenho pessoas que não quero ter que assistir suas mortes agonizantes. Então, digamos que isso é um encontro de interesses – ainda me parece gentileza, mas resolvo deixar passar. – Você acabou de chegar – aponta na direção de outra porta.

Uma versão minha muito mais brilhante entra com os braços entrelaçados aos de Damian. Eu o adorava com aquele terno, imagino como deve ficar nele agora que parece ter tido um surto de crescimento, bom, não deve nem mais servir. Nem fazia tanta questão assim mesmo do terno.

Eu usava um vestido ombro a ombro verde musgo. Havia comprado com Mia alguns dias antes, é uma boa memória. Nos sentamos e o garçom aparece para nos servir. É estranho pensar que Damian aceitou o término tranquilamente, olha como eu o encaro? Meus olhos estão prestes a saltar das orbitas, sem falar no sorriso idiota ou a cor que minhas bochechas ganham quando ele me pega o encarando.

—Amor jovem – Lúcifer suspira, esse diabo está me confundindo muito. – Grande dia para vocês, não? – o olho sem entender, mas antes que pudesse perguntar Dam tira o celular do bolso e faz uma careta, me olhando como se não quisesse dizer o que viria a seguir.

Ele se levanta com um suspiro e se inclina para beijar o alto da minha cabeça. Sorrio com delicadeza para o confortar e o vejo dar dois passos em direção a saída, antes de se virar novamente em minha direção e me beijar de uma forma que tento esconder meu rosto de Lucífer envergonhada.

—Acho que vamos descobrir agora quem é o nosso ratinho – murmura se esgueirando pela porta, em direção à onde fiquei sozinha.

Bom, o agora dele só veio cerca de cinco minutos depois. Uma garota estava sozinha na mesa ao lado, ela solta um suspiro audível conseguindo minha atenção. Garota essa que já havia achado familiar antes.

—Também levou um bolo? – murmura com a voz agradável, e me vejo sorrindo em resposta.

—Não, meu namorado precisou ir – então penso melhor. – Bom, pode chamar isso de bolo também – ela sorri e pareço gostar daquilo. – Quer se sentar aqui?

—Tem certeza?

—Querida, você está pálida – a voz magnética de Lucífer desprende meu olhar da cena. – Reconheceu a garota?

—Infelizmente – murmuro em um sussurro derrotado. – Ela é a ex do meu namorado – ele não deveria abrir aquele sorriso tão radiante, não enquanto estou com essa bomba em mãos!


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Notas finais do capítulo

Para a alegria geral uma overdose de Damisis para vocês, espero que tenham gostado, não deixem de me contar o que acharam gentes!
Bjnhos!



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