Já faziam algumas semanas que os especialistas haviam decidido tirar algumas “férias” em Gardênia, em parte por que precisavam realmente descansar e em parte por que queriam passar um tempo de qualidade com as Winx.

Em meio a tantos combates, vilões, bruxos, feiticeiros, monstros e tudo mais que puder imaginar que gostaria de dominar ou destruir a dimensão mágica, não sobrava muito tempo para relacionamentos ou para si mesmos. E agora que finalmente tinham conquistado seu merecido tempo de descanso, Timmy não conseguia parar de desejar que algo acontecesse para que voltassem a ação logo.

Claro, ele estava amando o tempo para descansar a mente e construir as coisas que queria ou fazer experimentos que sempre ficava adiando devido aos treinamentos sem fim de Fonte Rubra, entretanto, esse tempo livre estava deixando evidente algo que fazia o especialista ter pesadelos e calafrios.

Estava deixando evidente a sua falta de habilidade social com sua própria namorada!

Entenda, Timmy e Tecna — Também conhecida como a garota dos seus sonhos — Sempre tiveram uma boa relação, virtual é claro, eles sempre foram pessoas muito parecidas com relação a sua paixão pela tecnologia e conseguiam expressar todo o amor e carinho que sentiam um pelo outro através de mensagens, e ele amava isso, até o dia que decidiram ir para a terra.

Quando eles foram para Gardênia para auxiliar as Winx em sua missão, Timmy sempre soube que o seu acesso ao mundo virtual seria restringido pela tecnologia ainda arcaica daquele planeta, o que acabou lhe forçando a ter mais contato pessoal, e mesmo Tecna sendo a fada da própria tecnologia, ela também mudou a forma como se relacionava com as outras pessoas. Mas ainda assim havia uma diferença, mesmo antes de irem para a terra, Tecna já lidava melhor com as pessoas do que ele, e aquela experiência em conjunto, na verdade só serviu para evidenciar como Timmy estava anos luz atrás dela quanto a isso.

E isso o inquietava.

Ele tinha medo de não conseguir ser o suficiente para ela. Tecna era a garota mais incrível e perfeita do mundo aos olhos de Timmy, ela era linda, inteligente, forte, simpática e o fazia sentir como ninguém nunca antes o fez. Sempre que ela estava perto, seu coração acelerava, ele não conseguia parar de sorrir e se tivesse circuitos, muito provavelmente eles estariam sempre em curto quando a fada sorria para ele.

Timmy suspirou.

O cheiro da maresia do mar a sua frente o ajudava a se acalmar, o vento morno que soprava e acariciava seu corpo torneado e magro — antes escondido por um suéter — fazia seus músculos relaxarem e seus pensamentos ficarem em ordem, mas não necessariamente em paz.

Mas foi então que ele escutou. Passos apressados soavam atrás dele, e antes que se virasse para saber quem era, ouviu a voz inconfundível dela.

— Timmy!

Tecna gritou, e Timmy se virou desajeitado, apenas a tempo de abrir os braços bem no momento que ela se deixou cair em cima do ruivo.

— Tecna — Saudou-a feliz, já sentindo o curto-circuito dentro de si começar.

— Onde você estava? Já acabamos o ensaio a algum tempo, estava procurando por você — Ela falava animada.

— Ah, bem, eu estava dando uma caminhada pela praia — Riu envergonhado — Como foi o ensaio?

Tecna aumentou o sorriso, se aconchegou melhor ao lado do namorado e começou a narrar entusiasmada o dia. Timmy não entendia tão bem de música ou ao menos escutava com alguma frequência, mas amava escutar Tecna e as Winx tocarem, amava vê-la tocar, amava a felicidade que aquilo causava a garota.

Tecna não parava de sorrir por todo o tempo que falava, e Timmy não conseguia parar de admirá-la.

Mas a mesma pessoa que o colocou em uma viagem de pensamento, foi ao mesmo ao tirar, quando sentiu ela lhe dar um pequeno empurrão.

— Timmy? — Tecna riu — Você escutou algo do que eu disse?

Ele pareceu acordar de seu torpor de supetão, ajustando os óculos no rosto e sorrindo envergonhado.

— Desculpe, mas eu escutei sim, só estou um pouco distraído.

Tecna tocou carinhosamente em seu braço, abraçando-o de lado agora.

— Aconteceu algo?

Ele suspirou. Hélia o havia dito para sempre ser sincero com Tecna, diálogo era sempre a melhor solução. Mas como dizer para sua namorada que você é um robô?

— É que... — Se deteve.

Tecna acariciou o braço do garoto, descansando a cabeça em seu ombro, o encorajando. Timmy respirou fundo.

— Eu tenho andado um pouco...Preocupado — Começou — Eu sempre fui o tipo de pessoa que se relaciona melhor com a tecnologia do que com pessoas, e desde que vinhemos pra cá, me vi obrigado a ter contato com outros que não sejam os meninos ou você e as Winx, e bem, eu percebi que — Ele riu — Que eu sou péssimo nisso.

Tecna não conseguiu evitar rir com o comentário, mas deixou que ele continuasse.

— Eu estou um pouco preocupado — Nesse momento Timmy se virou para a garota, desfazendo o abraço, mas a trazendo para mais perto pela cintura, ficando de frente e a olhando em seus olhos — Tecna, você é a garota mais espetacular que eu conheci em toda a minha vida, a primeira que conseguiu entender minha maneira peculiar de demonstrar carinho por emojis— Eles riram juntos, enquanto a fada segurava a mão do especialista — Eu nunca pensei que me sentiria dessa forma por alguém, sempre que eu estou perto de você meu coração acelera, esqueço por alguns segundos como se respira — Timmy encaixou seus dedos com os de Tecna, respirando fundo — Ás vezes me pego olhando e admirando você, o jeito como constantemente tenta prender sua franja rebelde atrás da orelha, como sorri ao tocar teclado, como sempre mexe no seu telefone quando está muito ansiosa, como morde seu lábio antes de todo show ou luta, como seu sorriso é largo e lindo quando ri, como você se tornou alguém mais aberta e feliz — Timmy acariciou o rosto da garota, que segurou a mão grande e calejada dele, ainda sorrindo com cada palavra — Eu não sou bom com palavras, e você me faz sentir de formas que eu nem consigo descrever, e por isso, pela minha falta de habilidades sociais, que eu não sei se sou o sufic...

E então Tecna finalmente o interrompeu.

Ela agarrou o rosto do garoto e cravou em seus lábios um beijo. Timmy não evitou a surpresa, mas correspondeu. O beijo era apaixonado, intenso, mas ainda assim controlado, Tecna agarrava o pescoço do garoto, enquanto ele o trazia mais para perto a puxando pela cintura de forma respeitosa, mas ainda assim com necessidade.

Esse não era um beijo habitual para eles, eles eram tímidos e reservados, mas naquele momento jogaram o hábito para longe. Se beijaram por mais algum tempo, até que o ar lhes faltou e se separaram ofegante, mas sorridentes.

Timmy foi o primeiro a se pronunciar.

— Mas oq...

— Você é o suficiente Timmy, você sempre foi — Tecna disse com decisão na voz e entusiasmo — Tudo o que você disse só prova isso, Timmy eu não te amo por suas habilidades sociais — Ela riu — Eu estou com você, eu te amo — Ela enfatizou — Pois você é você, a forma como você me ama é o suficiente.

Timmy não sabia o que dizer, ele apenas sorria e sentia tudo o que Tecna lhe causava interiormente, o coração fora de ordem, a mente embaralhada, o corpo ligeiramente trêmulo. Toda a incerteza que Timmy havia construído em toda a sua vida, toda a insegurança...

...Havia se esvaído com apenas um beijo.

E ele conseguiu apenas formular uma frase antes de trazer a garota dos seus sonhos para mais um abraço apertado e um beijo apaixonado.

— Eu te amo Tecna.

Timmy sentia-se finalmente bem consigo, pois ele sabia que era o suficiente, que era o suficiente para ela.