Ladrões e Piratas escrita por Sirena


Capítulo 23
Capítulo 23




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— Eu disse que você deveria parar de vê-lo. – Harry murmurou, contra os lábios de Jay, as mãos correndo pelas costas nuas do namorado, a respiração pesada.

Uma semana desde o dia da família e embora Jay tenha conversado bastante com ele e Gil por mensagem, só quando foi encontrá-los no colégio que contou sobre o pai.

— É, você disse. – Jay murmurou, descendo os beijos avidamente para o pescoço de Harry, as mãos agarrando o quadril do mais alto. — Eu sei.

— Você tem que dizer que eu estava certo. – Harry murmurou. — Diga.

— Não vou dizer isso. – riu baixinho, começando a tirar os cintos que Harry usava. — Por que você usa tantos cintos? Que inferno!

— Vamos, Jay... Você tem que fa... – Harry se interrompeu, as mãos de Jay em seu cabelo.

Jay se deleitava com quão fácil era desfazer Harry de sua pose de mandão, comandante ou o que quer que fosse. Sempre bastava fechar as mãos nas mechas escuras de seu cabelo que o pirata imediatamente se via suspirando, ansioso por ordens e pela chance de agradar. Jay imaginava que foi isso que Uma devia ter feito para convencê-lo a aceitar a posição de imediato quando se juntou a tripulação. Duvidava que Harry simplesmente teria aceitado qualquer coisa abaixo de capitão.

Por vezes ficava tentado a questionar o namorado se teria sido mesmo isso. Mas, como nunca havia entendido bem como era a relação de Harry e Uma, preferia manter a dúvida para si e apenas aproveitar-se do fato de que podia simplesmente tocar os cabelos de Harry e assim o silenciaria por completo.

— O que você estava dizendo, Gancho?

— Nada. – murmurou com a voz trêmula e os olhos ansiosos.

Jay deu um meio sorriso, indo sentar na ponta da cama. — Vem cá.

Harry sorriu se ajoelhando entre as pernas do namorado, começando a desabotoar as calças que Jay usava.

Os dois pularam pra longe um do outro quando a porta se abriu, mas respiraram aliviados ao ver que era apenas Gil entrando no quarto.

— Por um instante eu pensei que fosse a Fada Madrinha. – Jay murmurou, pálido enquanto o loiro vinha se deitar.

— Quer se juntar a nós, Gil? – Harry riu, alheio ao olhar perdido do loiro. — Estávamos começando a diversão.

Jay por outro lado, percebeu a tensão. — O que foi, amor?

— Meu pai tava acordado hoje.

— Isso é bom não é? – Harry arqueou a sobrancelha, passando as mãos pelas coxas de Jay, tentando não parecer ansioso para voltarem ao que estavam fazendo.

— Eu acho... Não, não foi. – Gil franziu os lábios e bufou em seguida. — Ele ficou triste por Gaston e Gaston estarem no Reformatório. E eu contei sobre a viagem e ele... Disse que estava orgulhoso.

— E por que isso não é bom? – Jay franziu a testa, falando num tom um tanto mais ácido do que desejava.

Harry beliscou sua coxa, lançando um olhar irritado. Entendia que Jay estava meio mal depois da última vez que viu o pai, mas, isso não era motivo para mudar o tom com Gil.

— Porque ele acha que eu estou indo viajar pra virar um grande caçador igual ele era... E eu não consegui falar a verdade. – Gil abaixou o rosto, corado. — Ele nunca ficou feliz comigo. E aí ele estava feliz, mas por uma mentira e eu não falei a verdade.

— Mas, você não mentiu. Você não disse que viajaria para isso.

— Mas, não falar a verdade e deixar ele acreditar no que não é verdade, não é meio mentir? – Gil mordeu a parte interna da bochecha. — Ele sempre soube que eu não sou como o Júnior ou o Terceiro e sempre me odiou por isso, e por mais que eu quisesse que ele se orgulhasse de mim, eu nunca quis que ele achasse que eu sou como os gêmeos. Mas... Mas, ele achou agora e eu não corrigi e... Não me sinto bem com isso.

Jay suspirou, entendendo.

— Certo. Mentira por omissão, entendi.

— Eu devia ter corrigido... Mas ele nunca disse isso antes!

Harry concordou se sentando ao lado de Gil na cama.

— E aqui, eu digo... Você tem que parar de ver ele.

— Sua solução pra tudo é pararmos de ver nossos pais? – Jay franziu a testa.

— Basicamente.

— Por que você não para de ver o seu então?

— Porque meu pai não é um bêbado como Gaston e também não é um cara que me vê como um meio para um fim igual o Jafar. Ele é só maluco por causa do tempo na Terra do Nunca e eu não sei se vocês repararam... Mas, eu não fico indo ver ele. Eu sei que ele é maluco, que ele não me ama tanto quanto ama minhas irmãs e sei que ficar perto dele não me fará tão bem na maior parte do tempo então, eu só... – deu de ombros. — Me preocupo com ele, mas até as fadas curandeiras conseguirem deixá-lo estável o bastante para que eu não me machuque perto dele, eu fico longe.

Jay e Gil ficaram em silêncio, nenhum dos dois querendo admitir que Harry estava certo porque ambos sabiam o quanto aquele pirata poderia ficar irritantemente exibido quando lhe davam a razão.

— Eu fui covarde. – Gil fez careta. — Devia ter dito... Queria esquecer disso.

— Bom... – Harry sorriu, mexendo nos cabelos do loiro com carinho. — Jay está estressado com o pai dele e você está estressado com o seu, então... Eu acho que se me esforçar bastante, consigo fazer vocês dois esquecerem essa merda. Vai exigir um pouco de mim, mas eu tô bem disposto hoje... Então...

Jay riu baixo, revirando os olhos.

— Consegue como? – Gil uniu as sobrancelhas, parecendo não entender a insinuação.

Harry deu um sorriso sacana subindo em seu colo, deixando os dedos passearem levemente pelo maxilar forte.

— Adivinha.

Antes que Gil pudesse tentar adivinhar, Harry o beijou, mordendo seus lábios, desejo e carinho se misturando. As mãos de Gil em seu quadril, que entendeu finalmente a insinuação, as mãos de Jay em seu cabelo. Os lábios de Gil contra os seus, os de Jay em seu pescoço. O calor da pele deles, o calor de sua própria pele, o calor do quarto... De repente era tudo tão quente que poderia derreter. E derreteria alegremente e com prazer.

— E o negócio de amarrar o Jay? – Gil murmurou quando Harry deixou de beijá-lo.

— Tudo bem pra você, querido? – Harry questionou, se levantando da cama, olhando carinhoso para Jay.

— Ah... Eu acho que sim.

Harry e Gil se entreolharam seriamente.

— Nos diga se quiser parar, ok? – Gil sorriu, colocando a mão sobre a de Jay enquanto Harry suspirava indo pegar a corda.

— Sim, uma palavra segura, tipo... – ele mordeu os lábios, remexendo em seu baú do tesouro enquanto pensava.

— Tic-Tac? – Gil sugeriu.

— Pode ser. – concordou.

— Vocês têm cordas aqui? – Jay arqueou a sobrancelha vendo Harry usar o gancho para cortar parte da corda que tinha.

— Somos piratas, temos cordas em toda parte. – Gil bufou. — Guardamos uns dez metros em cada canto.

— Nunca se sabe quando vai precisar. – Harry concordou voltando para a cama, sorrindo de lado e amarrando as mãos de Jay rapidamente. — Tá machucando?

— Não.

— Bom. – sorriu antes de tornar a beijá-lo, segurando suas mãos pressas e mordendo seus lábios.

Suspirou sentindo Gil deixar beijos em seu ombro, se encostou mais contra o loiro enquanto passava as pernas em volta da cintura de Jay.

Sim, pensou, poderia derreter no calor de ambos.

***

Harry fez careta tateando a cama sem abrir os olhos. Vazio. Uniu as sobrancelhas, confuso. A cama estava vazia, mas ainda havia vozes no quarto. Manteve os olhos fechados e a atenção desperta.

— Só estou pensando... Vamos estar fora de área pra celular ou wi-fi, provavelmente algum tempo vamos passar sem tantos suprimentos e longe de qualquer cidade. Provavelmente brigaríamos muito. – ouviu Jay dizer.

— Eu posso separar a briga. – a voz de Gil era sorridente.

— Você passaria um ano impedindo Harry e eu de terminarmos ou nos matarmos em alto-mar? Que fofo! – Jay riu enquanto falava, mas sua preocupação parecia sincera o bastante para fazer Harry se sentir mal.

— Você realmente imagina isso acontecendo?

Silêncio.

Harry apertou um pouco o travesseiro e apurou o ouvido.

O som da máquina de costura veio de repente, indicando que Gil estava trabalhando enquanto conversavam.

— Não. – conseguia imaginar bem o meio sorriso de Jay mesmo sem olhar. — É engraçado, né? Na primeira vez que você e eu conversamos sobre isso... Sobre gostarmos de Harry e sobre o pedirmos em namoro, eu disse que tudo bem se ele não aceitasse porque tudo estaria bem desde que ainda tivesse você...

— Eu lembro.

— Mas, agora eu não consigo nem imaginar um bom futuro sem um de vocês dois. Talvez até consiga, mas realmente não quero.

Harry sorriu de lado com o que ouvia.

— Só fico com medo de essa viagem estragar tudo. Eu quero ir, mas... Ânimos ficam alterados quando passamos muito tempo em alto-mar, não é? E, você sabe... Harry e eu estamos bem, mas às vezes tenho medo de foder tudo, tipo... Ao mesmo tempo em que eu não acho que isso aconteceria, também não quero arriscar.

— Ânimos ficam ainda mais alterados quando passamos uma década e meia trancados numa Ilha sem internet ou magia. Podemos lidar com estresse da navegação, não vai ser pior do que nada que enfrentamos antes.

— Deve estar certo.

— Às vezes eu estou. – Gil riu, o som da máquina parando.

— Muitas vezes.

— Hum...

— Muitas vezes sim. – Jay repetiu. — Você sempre sabe tudo de mim... Eu não conseguiria fingir nada perto de você nem se quisesse.

— Eu acho que conseguiria.

— De jeito nenhum! É bom ter você por perto, tipo, é como tá em casa... Uma segura e aconchegante, não uma casa da Ilha.

Gil riu. — E Harry?

— Nah, nada parecido com uma casa.

Harry fez careta.

— Como então?

— Oceano, tipo... Um lugar desconhecido que pode ser agradável ou perigoso, charmoso ou enlouquecedor. E você nunca sabe como vai ser e mesmo assim é só totalmente encantador e apaixonante e atraente. Você é uma casa e Harry é um mar.

Harry comprimiu os lábios para conter uma risada, sentindo o rosto ficar quente com a definição.

— Não sei... Eu acho vocês dois uma casa segura, só que você é uma casa nova e Harry uma casa velha.

— Faz sentido você sentir dessa forma, eu acho. – Jay concordou. — Vocês se conhecem tem muito tempo.

— Sim, você me mostra as coisas novas de Auradon e todas as novidades daqui e me faz sentir bem. E o Harry é todo o resto que eu já conheço, mas ainda é bom.

— Sim.

Harry sorriu de lado e absorveu o silêncio dos dois por um momento.

Decidiu se levantar.

— Eu sabia que ele tava acordado! – Gil deu risada. — Ele nunca se mexe se está dormindo. Às vezes quando eu acordo tenho que ver se está respirando porque fico preocupado.

— Você é um fofo. – Harry murmurou, esfregando os olhos, os dedos ficando sujos de maquiagem devido ao lápis de olho que não havia tirado antes de dormir. — Acho que Auradon está me transformando num molenga, normalmente eu reparo quando vocês saem da cama enquanto durmo.

— Acontece com todos eventualmente. – Jay riu, indo se deitar com o pirata. — Dormiu bem? Tá quase na hora do jantar.

— Aham. Há quanto tempo cês tão de pé?

— Gil acordou primeiro. Ele tinha umas entregas pra terminar. Acordei tem tipo uns quinze minutos.

— Tô terminando. Olha que bonito! É pra Jordan! – ele exibiu um vestido brilhante, laranja de detalhes rosa, com pedrarias azuis no busto e nos ombros e pingentes dourados na forma de lâmpadas mágicas.

— Ela vai adorar. – Jay sorriu. — Mas, Evie não tinha dito pra você usar as pedrinhas de ouro rosa?

O sorriso de Gil diminuiu. — Sim, mas eu pensei que o azul ia ter mais contraste. Rosa e laranja não combinam muito bem... Laranja combina mais com amarelo e azul, mas como a Evie tinha dito pra usar rosa eu achei que uns detalhes pequenos no tecido ficavam melhores. Acha que Evie vai reclamar? Eu pensei em usar o ouro rosa no vestido da Audrey pra não desperdiçar.

— Tenho certeza que Evie não vai reclamar. – Harry revirou os olhos. — E se ela reclamar, eu posso usar meu gancho nela e...

— Harry... – Jay chamou a atenção dele antes de se voltar pro Gil. — O ouro rosa era porque a lâmpada da Jordan é feito dessa pedra. Ela queria referenciar isso.

— Ah... Eu não sabia.

— Tudo bem. O vestido está lindo, nível Evie's Four Hearts de perfeição. Evie vai gostar. Ela só vai estranhar um pouco a falta das pedras escolhidas, mas está lindo e a Jordan vai amar, é isso que importa.

— Não quero a Evie brava comigo!

— Ela não vai ficar. – Jay garantiu. — Só explica pra ela porque você achou melhor fazer diferente e vai ficar tudo bem.

— Tá bom... Eu tenho que acabar a barra ainda. – murmurou, ainda parecendo preocupado com a reação de Evie enquanto voltava a se sentar diante a máquina de costura.

Harry sempre acharia interessante observar Gil costurar ou bordar. Secretamente achava impressionante como aquele garoto atrapalhado, bruto e de mãos grandes conseguia fazer roupas cheias de detalhes delicados, tendo todo o esmero com os menores pontos da tarefa. Chegava a ser meio hipnotizante.

Apoiou o rosto na mão, observando com mais atenção. Realmente muito delicado. Quanto mais tempo passavam em Auradon mais percebia como Gil se ajustava perfeitamente àquele mundo.

Não um príncipe encantado, mas ainda assim, encantador.

— Ei. – Harry segurou a mão de Jay enquanto falava.

— Que foi?

— Eu... Não te faria andar na prancha nem te jogaria do navio. Você sabe disso, né?

Jay sorriu, culpado. — Eu sei. Não achei que estivesse ouvindo.

— Eu estava. – mordeu os lábios. — Não quero que pense isso. Eu não faria isso com você nem quando éramos inimigos.

— Tudo bem, desculpe. – apertou os dedos de Harry enquanto falava. — Eu só... Quero muito que continuemos bem, você e eu.

— Eu também quero isso. E vamos continuar. – Harry garantiu, deixando um beijo sobre os lábios de Jay em seguida. — Te amo.

— Também te amo.

— E eu amo vocês dois! – Gil gritou acima do som da máquina de costura, sem tirar os olhos do vestido que fazia.

Jay riu baixinho.

— Amamos você também, Gil. – Harry falou alto, sorrindo enquanto se encostava em Jay.

Definitivamente eram todo o encanto que precisava.


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