The Fault in Albus's Stars escrita por Fanfictioner


Capítulo 5
Como o UNIVERSO me odeia




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Como o UNIVERSO me odeia (ou, eu deveria estudar poções)

Não foi surpresa para mim que, passada a raiva da discussão com Scorpius, eu ficasse bastante triste e desanimado. De verdade, eu não queria ser piegas, ou deixar meus planetas piscianos me regerem, mas só conseguia pensar em como as coisas não seriam mais as mesmas com Scorpius.

Nos dois primeiros dias em casa, chorei alguns litros, pensando naquele meu interesse idiota, de anos, no meu melhor amigo, que não tinha ido para lugar algum que não o completo fiasco. Estava me sentindo patético e não estava nada disposto a me desculpar, porque sabia que estava certo, porém tinha expectativas de que Scorpius fosse se dar conta de como fora babaca comigo e viria se retratar.

Mas isso definitivamente não aconteceu.

Fora isso, eu estava fazendo o possível para não demonstrar muito que estava chateado ou mal com alguma coisa, porque mamãe sempre ficava muito feliz de que estivéssemos todos em casa e eu não queria estragar o clima natalino que toda minha família construía desde o começo do mês.

Meu pai arrumou dias livres para ficar exclusivamente com cada um de nós, fazendo alguma programação divertida, já que a semana entre o Natal e o Ano Novo todos nós, os netos, ficávamos na Toca, por tradição.

Lily Luna, ele levou ao teatro em Londres, James Sirius foi assistir ao jogo dos Tutshill Tornados com o papai na semana seguinte a que chegamos e a mim ele levou para um acampamento no final de semana que antecedeu o Natal, para observar as estrelas, porque eram as últimas noites antes da Lua Nova. Estava um frio de gelar os ossos, mas eu gostava desse tempo sozinho com ele.

— Acha que vamos conseguir observar o céu hoje de novo? - ele perguntou na nossa segunda noite, enquanto esquentava um chá depois do jantar.

— Parece nublado demais… eu não arriscaria. E a previsão é de que vai nevar, melhor a gente ficar por aqui, mesmo.

Meu pai concordou e sentamos juntos no sofá velho da barraca de lona que ele e mamãe tinham comprado anos atrás. Eu tinha memórias legais de férias em família acampando em lugares bem diferentes e só o cheiro do fogareiro magicamente aceso já trazia uma nostalgia gostosa. Conversamos um pouco sobre aleatoriedades e meu pai contou algumas peripécias que Padfoot, nosso cachorro de estimação, tinha aprontado quando estávamos em Hogwarts.

— Então, Al… - ele começou depois de uma pausa em que tínhamos ficado rindo juntos. - Eu… eu não sei se tenho muito… uhm, tato. Sua mãe talvez fosse melhor para essa conversa com você, eu acho…

Ele não ia falar sobre preservativos e sexo, ia?

— Não esquenta, pai. Eu gosto de conversar com você. - confessei, tentando amenizar o clima e adiantar o assunto e ele sorriu calmo, bebendo o chá fumegante.

— Que bom. - ele pareceu hesitar. - É que… quero estar mais próximo de você, Albus. Você é sempre tão na sua e depois do que aconteceu com a Dominique, eu fiqu-

— O que aconteceu com a Domi? - interrompi para perguntar, confuso. Meu pai respirou fundo e eu percebi que era sério. - Pai, o que tem a Domi?

Meu pai não costumava hesitar antes de falar. Não era estúpido, nem nada, só ia direto ao assunto, sem muitos rodeios. Rodeios eram com a tia Mione, que era sempre cheia de ponderações e explicações. Papai era conciso, e eu estava ficando meio tenso com aquela hesitação toda.

— Você ia saber, de qualquer forma… - ele passou a mão no rosto, nervoso. - mas não faça alarde! Não toque no assunto e, principalmente, não fale sobre isso com Louis! - advertiu, deixando-me realmente preocupado. - Dominique está doente, Al. Ela teve uma… uhm… uma tentativa.

— Uma… tentativa? - eu não estava entendendo.

— Isso, uma tentativa. Agora está tudo bem, claro. Ela está em tratamento e sendo medicada, mas foi assustador e muito triste. Achamos que íamos perdê-la. 

E então eu entendi. Dominique tinha tentado… Deus, eu nem queria pensar naquela possibilidade! O rosto dela me veio logo à mente, minha prima linda e engraçada. Ácida e com a língua afiada, que gostava de conversar e era a única menina da família que queria entrar para o esquadrão de aurores, como o tio Bill. Meus olhos arderam.

— Por que vocês não disseram nada? Como foi? O que aconteceu? - eu não percebi que estava tão fragilizado, até que senti água escorrendo pelas bochechas. - Como ela está?

Papai me puxou para um abraço e ficamos em silêncio por um tempo.

— Tá tudo bem agora, Al. Não precisa se preocupar… mas o que aconteceu com ela, me acendeu uma lâmpada… ela tinha escrito umas coisas, sobre os sentimentos dela e seus tios nem tinham ideia que aquilo passava na cabeça dela. James é tagarela e Lily gosta de atenção tanto quanto ele… mas você… - ele deu um risinho. - Você é mais parecido comigo do que eu gostaria, Al, e eu não quero ter o susto que Bill e Fleur tiveram. Não quero acordar um dia sem um de vocês e sentir que passei horas demais treinando aurores e horas de menos sendo um bom pai.

Tinha um nó na minha garganta, e eu nem sabia explicar direito o porquê. Deixei meu pai falar, porque eu também queria ouvir que ele se preocupava comigo, que se importava. Ele não era ausente e eu achava que era justamente por saber o que era crescer sozinho, mas não significava que não trabalhasse muito. Havia semanas em que eu não o via, quando ele viajava em missões, e era difícil ser exatamente próximo de alguém que eu não via muito.

Contudo, ele se esforçava tremendamente, acertando quase sempre, e eu seria eternamente grato por isso. Eu queria chorar pelo tanto que o amava, então só o abracei mais forte, como se isso pudesse dar a ele a tranquilidade de que eu não pretendia fazer nada de ruim contra minha vida.

— Não quero que se sinta sozinho, Albus. Nem menos amado, ou menos querido que os seus irmãos. A psicóloga da Dominique falou sobre um “complexo de filho do meio”... não quero que você se sinta assim, nem pressionado, ou… sei lá. - ele ajustou os óculos, meio sem jeito. - E espero que saiba que pode conversar comigo, a qualquer hora, sobre qualquer coisa.

— Eu sei. - respondi, minha voz baixinha pela overdose de sentimentos.

— Sei que tem alguma coisa incomodando você… - eu olhei meio surpreso para o papai. Como ele sabia? - Albus, você não é exatamente bom em fingir quando não está feliz.

O jeito com que ele me olhou, com um sorriso meio maroto, me deu vontade de rir, e senti meu rosto esquentar à medida que eu corava de vergonha.

— É, talvez tenha…

— Talvez você queira conversar sobre? - ele ofereceu, como uma sugestão desinteressada. - É só uma ideia… não precisa se sentir forçado, nem… só saiba que eu estou por aqui. Que me importo e quero ouvir, aconselhar, se você quiser.

Aquilo aqueceu meu peito. Não era como se eu sofresse de complexo de filho do meio, mas às vezes era fácil me sentir inútil por comparação. Lily tinha talento natural para transfiguração e era o tesouro dos meus pais; James era O jogador de quadribol, a fusão perfeita do talento da melhor artilheira que o Harpies tivera, com o do mais jovem apanhador do século. 

Eu era só… eu. O único da família com interesse em adivinhação, que gostava de constelações e bizarrices. Era fácil me sentir meio deslocado. Por isso aquele momento era tão importante, com meu pai se mostrando acessível e interessado nos meus gostos… preocupado com minha vida.

— Você já… não sei, sentiu muito ciúmes de alguém? - perguntei um tempo depois, encarando a chama que meu pai tinha conjurado em um pote para esquentar a gente.

Ele caiu na risada, bebendo chá.

— Bastante. - ele continuou rindo de si mesmo. - Eu tinha um talento para me interessar por pessoas que estavam comprometidas. No caso, só perceber que estava afim delas quando estavam comprometidas.

Era engraçado imaginar meu pai um adolescente normal, com crises de ciúmes e gostando de gente que não estava disponível. Imaginava ele mais… comum? Menos celebridade e mais “o meu pai”, gente como eu.

— Herdei esse talento. - papai riu de mim.

— O que aconteceu?

— Eu gosto desse garoto… gostar é fraco até, eu acho. - comecei, omitindo o nome de Scorpius por alguma razão que eu não sabia explicar nem para mim. - Mas era uma coisa meio platônica, sabe? E eu achava que podia dar certo… mas aí ele apareceu namorando com uma amiga minh-

— Amiga? Ele não é gay também?

— Não, não. E eu não queria sentir ciúmes, mas é… inevitável, sabe? Eu vejo os dois juntos e… argh! - fiz um gesto indicando como minhas entranhas se retorciam.

— Sei como é. Parece um monstrinho dentro de você. - meu pai riu. - E ele sabe que você gosta dele?

— Não! Não, definitivamente não! - respondi, meio exasperado. - A gente brigou. Bem feio até, antes do recesso.

— Tem cara de que vão fazer as pazes?

Eu fiz uma careta de incerteza que fez meu pai rir, então ele passou o braço por trás de mim no sofá e deixou a mão no meu ombro. Era gostoso estarmos só nós dois ali e era melhor ainda poder falar daquela confusão dentro de mim com alguém.

— James acha que eu devia, - gesticulei. - sabe, andar a fila. Não quero perder a amizade dele, mas fico tão irritado de estar perto depois que ele começou a namorar… 

— Eu concordo. Com o James. Você não vai ser ruim por se afastar de algo que deixa você chateado, Al… vá tomar cerveja amanteigada em Hogsmeade com seus amigos, arranjar um garoto legal para você beijar de vez em quand-

— Pai! - levantei, corado e achando graça. - Esquece, acabou o assunto!

Ele deu uma gargalhada, daquelas de fechar os olhos para rir, e fez um feitiço para as nossas canecas serem lavadas.

— Só estou dizendo! - levantou as mãos em rendição. - Anda, pega seu casaco, vamos ver se você acha a estrela Sirius hoje. - quando saímos da barraca em direção ao vento congelante de fora para ver o céu, papai falou baixinho perto de mim. - Depois eu vou querer saber quem Scorpius está namorando, viu?

Meu cabelo ficou em pé. Como era? Meu pai sabia que meu interesse era Scorp?

— Como voc-

— Eu não sabia. - me interrompeu. - Joguei verde e você caiu. - ele deu uma piscadinha, rindo. - Olha lá, aquilo é uma estrela, não é? Não, espera… acho que é só um farol.

Harry Potter era o melhor pai do mundo em disparada!

***

O almoço de Natal da Toca era um evento. Primeiro porque vovó Molly se recusava a deixar qualquer outra casa sediar o almoço. Depois, havia a questão das restrições alimentares de algumas pessoas da família, o que nos obrigava a ter umas 20 comidas diferentes.

Teddy e tio Bill comiam carne quase crua. Roxanne era ovolactovegetariana (levou anos para eu aprender o nome!) e Molly era vegana. Havia Louis, que era alérgico a frutas cítricas e intolerante a lactose, e o restante de nós comia de tudo. Uma saga alimentícia.

Por fim, havia o hábito de todo mundo levar seus companheiros para o almoço, então nunca éramos só nós, a família, que por si só já era um exército. Sempre havia os agregados. Esse ano havia a namorada de Molly e a de Dominique, além da família Longbottom - por algum motivo que eu não sabia. Quarenta pessoas fácil!

Dominique parecia bem e eu me esforcei para não ficar olhando-a demais, ou agindo estranho com ela, mas claro que tinha na cabeça o que meu pai me contara. Quando tive oportunidade, dei um abraço nela e disse que sentira saudades. Não era mentira, porém eu sentira ainda mais saudades quando soube que poderia não a ter visto neste natal outra vez. Nós conversamos um pouco, mas não éramos exatamente muito próximos então eu fui atrás dos outros.

— Ué, sozinha? - perguntei assim que vi Rose, desacompanhada de Scorp, conversando com James e Alice na entrada da cozinha.

— Oi? - ela me olhou, confusa.

— Scorpius. Ele não vem?

— Ah! Não, não… ele ia ver os avós. -  eu concordei e nós mudamos de assunto, porque a última coisa sobre a qual eu queria falar era Scorpius.

O almoço foi a gritaria tradicional de sempre, com conversas ao longo da mesa toda, vovó Molly fazendo uma oração demorada e as piadinhas de tio Ron que nos faziam expelir refrigerante pelo nariz. Os adultos se reuniam na sala e nós costumávamos ficar na cozinha, ou nos espalharmos pelos quartos, para esperar a comida assentar na barriga antes da hora de ir abrir os presentes (suéteres Weasley ainda eram uma tradição).

— Eu trouxe jogo de tabuleiro, quem topa? - convidou Teddy, que brincava de trançar preguiçosamente o cabelo de Toire.

— Eu animo. - Roxy comentou, servindo outro pedaço de torta. 

Acabamos juntando um grupo de oito pessoas interessadas em jogar e resolvemos nos esparramar no tapete da segunda sala que a vovó tinha feito do antigo quarto do tio Percy, no primeiro andar.

— Vão começando, eu tenho que ver um negócio com o papai. - dissera James enquanto subíamos as escadas. - Eu quero o pino branco, se tiver.

— Se tiver, faço questão de pegar primeiro! - impliquei.

— E eu faço questão de pendurar você pelo calcanhar sobre o pinheiro, para ser a nova decoração. - devolveu, jogando o cachecol dele para mim e então gritando. - Ô pai! 

Teddy e Roxanne arrumavam as peças para jogarmos enquanto a maioria de nós conversava coisas aleatórias. E foi nesse momento que Rose tentou servir de pacificadora e criar o caminho que daria a ela o Nobel da Paz, falhando miseravelmente.

— Scorp mandou um feliz natal para você.

— Legal, valeu. - devolvi, sem vontade de falar nele.

— Você não vai escrever para ele? Ou ligar?

— Não. Eu deveria?

— Albus! Ele é o seu melhor amigo!

— Nós estamos brigados, Rose, e eu tenho minhas dúvidas sobre eu ser o melhor amigo dele, então... 

— Você está sendo tão infantil, sabia? - ela insistiu, olhando-me de um jeito repreensor.

— Você acha que ele estava certo?

— Não vou tomar o lado de nenhum de vocês, Al… - Rose respondeu de maneira diplomática e eu revirei os olhos.

— Você acha que ele estava certo.

— Eu não disse isso! Eu acho que vocês dois estavam errados e foram dois imbecis, isso sim. Você o acusou injustamente e ele foi insensível e hipócrita… mas vocês são amigos, Albus… já não se falam há semanas!

— E enquanto ele não vier me pedir desculpas, eu vou continuar não falando! - retruquei, chateado. - A gente pode não falar disso? Eu não quero ofender o seu namorado.

Rose mordiscou a boca, o tipo de coisa que ela fazia quando estava ansiosa ou hesitando, mas, apesar de ter feito que ia dizer algo, acabou não falando mais coisa alguma. Pouco depois James voltou e começamos a jogar.

Pelo resto da semana, até o ano novo, nós não tocamos no nome de Scorpius mais do que o necessário, já que ninguém dos adultos da família sabia do relacionamento de Rose e ela não parecia fazer questão de contar.  No entanto, depois do Natal ela tinha aparecido com um anel novo no dedo (daquele tipo de anel de compromisso) e apenas dissera que tinha sido “um presente de natal”.

Eu achava que estava começando a superar aquele climão e as mágoas pelo fato de ela namorar Scorpius, porque passamos dias ótimos juntos, rindo e nos divertindo muito, do jeito de sempre, e na maioria das vezes eu não tinha qualquer chateação com Rose. A verdade era que eu estava cansado de fingir que não me incomodava que eles estivessem juntos, mas desde a conversa com meu pai eu percebera que estava mais cansado ainda de não viver minha vida esperando ser correspondido.

Cansado de não ser o mesmo com Rose, cansado de me importar com algo que não devia ser da minha conta.

Por isso, na virada do ano, quando havia toda uma convecção energética favorável a recomeços, com o primeiro decanato da regência de Capricórnio em seu pico, decidi que iria superar Scorpius de vez. Eu iria fazer tudo que pudesse e ia ser feliz de verdade.

Iria sair e beijar quem quisesse, independente da cena que ele pudesse fazer, e não iria mais discutir meus sentimentos sobre ele com ninguém, porque, quanto mais eu o fazia, menos seguia em frente. E a quem perguntasse qualquer coisa, poderia dizer que tinha sido eu quem encerrara aquele ciclo.

Eu queria acreditar naquilo.

***

Em dezoito de janeiro fez seis semanas que eu não falava com Scorpius e aquilo era um recorde tão absurdo que as pessoas estavam comentando e especulando sobre o que acontecera.

Hector me contou que havia até mesmo uma aposta valendo dinheiro e o chute mais votado era o de que Scorpius tinha me roubado (por conta da discussão na sala comunal), seguido da aposta de que eu estava apaixonado por Scorpius e tinha ciúmes dele com Rose, mas o bolão seguia aberto.

Que saudável é o ambiente escolar em Hogwarts, não é?

Acabou sendo natural nosso grupinho se dividir. Shafiq virou o novo melhor amigo de Scorpius e eu fiquei mais próximo de Henry. Rose ficava em cima do muro, dividindo-se entre nós dois em momentos diferentes, e Evangeline agia normalmente como se nada estivesse acontecendo. Isso era bom, porque continuávamos a estudar Poções em um enorme grupo na sala comunal e, até então, era isso que estava me impedindo de reprovar.

Minha nota saíra de Trasgo para Deplorável, mas ainda não era algo do que se orgulhar e considerando que eu não aumentara além de Aceitável em Herbologia, precisaria tirar lágrimas de fênix de um basilisco para conseguir passar nos exames e ir para o sétimo ano com todos os NIEMs necessários para entrar para o Departamento de Mistérios.

Como eu disse meses atrás, os astros me odeiam. 

A vida pessoal, pelo menos, evoluíra alguma coisa depois das férias. Eu estava construindo uma relação mais próxima com papai e nós nos falávamos duas vezes por semana agora, e eu definitivamente estava colocando em prática a meta de superar Scorpius. Estava me divertindo mais, passando tempo com os meus amigos de outras casas e, ao menos uma vez por semana, Hector e eu arranjávamos um tempo para ficarmos.

Ele era excelente, inteligente e divertido, e às vezes ficávamos só conversando e bebendo vodca búlgara (o que prova que, passada a ressaca, ninguém cumpre suas promessas de não beber mais). Eu gostava de sua companhia, de como funcionávamos como amigos e da sensação de beijar sua boca também. Não era difícil e nem precisava ser. Eu não queria namorar Hector, nem ele a mim, mas quem sabia o que podia acontecer?

Não estava disposto a negar nada, mas não seria babaca de me envolver com alguém ainda pensando em Scorpius.

Porque sim, Malfoy era um parasita enfiado no fundo do meu cérebro e, por mais que eu estivesse bem sem ele, sentia que ainda gostava dele. Ainda o amava e me sentia idiota por isso. Minha lua e vênus em peixes estragavam completamente a pessoa desimpedida e cheia de contatinhos que eu devia ser, como bom libriano.

Claramente eu era um erro do alinhamento cósmico.

Mas todos os possíveis inconvenientes ficaram suspensos até a última semana de janeiro, quando o sol entrou no signo de aquário e resolveu brincar de virar as coisas de ponta-cabeça. Começou logo na terça-feira, quando uma das minhas vestes do uniforme prendeu em um gancho nas estufas de herbologia e rasgou. Então, na ronda de quarta-feira, umas bombas de bosta explodiram em mim e eu precisei dar detenção a dois alunos do terceiro ano da Grifinória.

E, na sexta-feira, no final da aula de Poções, minha sentença de morte foi marcada para dali a sete dias.

— Antes de guardarem suas coisas. - o professor fez um floreio de varinha e o quadro começou a escrever. - Quinze centímetros de pergaminho sobre as aplicações da Pedra da Lua, para segunda-feira. - várias pessoas fizeram muxoxos de reclamação, mas eu nem me dei ao trabalho. - Sim, senhores… sem reclamações. E eu recomendo que estudem…

Senhor,  sinceramente, eu tenho estudado tanto que nem imagina. Para eu estudar mais, só se tivesse o vira tempo da tia Mione para estar estudando em dois lugares ao mesmo tempo. E olha só o fiasco de nota.

—... porque teremos um teste na próxima sexta.

Vou repetir, para ficar claro: os. astros. me. odeiam.

A turma inteira reclamou e eu me juntei aos protestos, contudo o Professor Eaton só ria. Então ele pediu silêncio e se explicou.

— Eu sei que Poções no nível em que estamos é bastante complexo e muitos de vocês estão com problemas nas notas… então vou dar aos senhores essa oportunidade. - ele continuou explicando enquanto juntava as suas coisas. - Eu vou sorteá-los em duplas e aqueles que estiverem com notas abaixo de Aceitável poderão subi-las até dois níveis de uma vez, se executarem bem a poção que eu vou deixar escrita no quadro.

Uma poção certa. Uma só poção certa e eu sairia de Deplorável para Excede Expectativas.

— Claro, ninguém pode prever um sorteio, então… estudem! Seu parceiro pode ser o melhor estudante da turma. Como também pode ser alguém com nota Trasgo. - o tom psicopatinha de quem sabe que vai fazer os alunos estudarem loucamente. - Bom final de semana, meus caros! Nos vemos segunda, não esqueçam do pergaminho!

Eu me senti envergonhado. Seria por completo carregado por uma dupla boa, ou totalmente arrasado se tivesse um parceiro pior que eu. A roleta-russa da minha nota estava começando.

Estudei como um condenado a semana inteira, passando horas na biblioteca e na quinta feira eu fui à Torre de Astronomia depois do jantar, para estudar o céu e tentar fazer uma mínima previsão que me desse intuições sobre a prova do dia seguinte. Hector me acompanhou, mas ficou fazendo sua pesquisa de Trato de Criaturas Mágicas em silêncio enquanto eu trabalhava. Aquário não era um signo muito espiritualizado, então as práticas de adivinhação não fluiam bem quando o Sol estava nele, contudo eu me esforcei.

E depois preferi que não tivesse.

— Ah, que bacana! - comentei, rindo de nervoso quando terminei três tipos diferentes de estudos de adivinhação. 

— O que deu? - ele se aproximou para ler. - Uh! Aritmancia, Cartomancia e… 

— Astromancia. - respondi, achando graça de como o universo todo conspirava para me dizer uma mesma coisa: eu estaria muito encrencado no dia seguinte.

Pelos astros, o dia seguinte estava ligado à imprevisibilidade e transformação e mercúrio estava retrógrado em capricórnio, falando sobre paciência e disciplina - duas coisas que não eram o meu forte. Justamente onde? Na décima casa, sobre carreira, ambição e vocação. Os números não estavam ao meu favor também e eu me arrependi de ter ido mexer com a adivinhação e trazer para o meu consciente toda a iminente desgraça. 

— É… as cartas não foram muito promissoras. - Hector pontuou. - O Louco, a Morte, Estrela, o Julgamento e a Roda da Fortuna. - ele torceu a cara.

— Eu sei bem o que essa Roda da Fortuna representa. O universo me dizendo que não tenho chance e a roleta-russa desse sorteio de duplas vai ser um fiasco! 

— Não seja tão negativo, Al… olha A Estrela aqui! Esperança, ajuda inesperada… isso é bem promissor.

— Ao lado da carta da Morte e da do Julgamento. - corrigi, deitando minha cabeça sobre os livros de cartomancia que eu pegara para me ajudar a analisar o estudo daquela noite. - Chega! Eu vou para a sala comunal dormir e aguardar o fim amanhã.

— Nem um pouco dramático demais, claro! - brincou, ajudando-me a guardar as coisas e dando um empurrãozinho no meu ombro. - Vai dar tudo certo. Foque menos na adivinhação e mais nas suas capacidades!

Mas eu não relaxei muito e acabei tendo um sono agitado. Meu estômago estava embrulhado no café e Rose ficou insistindo para que eu comesse algo, embora um bolo azedo subisse na garganta toda vez que tentava engolir alguma coisa. A aula de Feitiços foi inútil, já que eu estava com a cabeça na lua, relendo minhas anotações desesperadas sobre o preparo de um zilhão de oções diferentes.

E, quando descemos para as masmorras, eu achei que fosse vomitar de nervosismo.

— Relaxa! Você branco como papel! - murmurou Rose, apertando minha mão que parecia morta de tão gelada.

Estava muito frio e saía vapor da minha boca. Professor Eaton estava num humor ótimo e fez piadinhas para nos acalmar. Explicou mais uma vez sobre o sorteio das duplas e o acréscimo das notas. No quadro estava a receita da poção do morto-vivo, sobre a qual tínhamos feito trabalho no meio de outubro. Eu não sabia se ficava aliviado ou desesperado.

— Na primeira dupla temos Evangeline Ascot e… - ele fez uma pausinha dramática por puro humor. - Arthur Galahad.

Line e um garoto louro da Grifinória se juntaram em uma mesa, que logo dividiram com uma dupla Grifinória/Lufa-Lufa. Rose, para o meu azar, ficou com Will Macmillan, e a minha dupla foi decidida logo em seguida.

— Albus Potter e…

Por Deus, alguém bom! Por Merlin, alguém que não tenha uma nota pior que a minha ou vai ser o meu fim!

— … Scorpius Malfoy. 

Eu devia tatuar na testa “os astros me odeiam”, logo abaixo de “eu amo Scorpius Malfoy e tenho ciúmes dele”. Seria um excelente cartão de visitas! 

Ou eu podia só ter um acesso e cair duro aqui. Igualmente eficaz.


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