Sins of Hope escrita por DGX


Capítulo 16
Memórias




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"Torna-te quem tu és"

 

 

 

—Friedrich Nietzsche

Opening

Nier acorda em uma sala totalmente escura, com um chão coberto por um imenso tapete vermelho. Ele consegue ver paredes de pedra, também escuras, e ao longe uma luz multicolorida. Ele começa a andar receosamente em sua direção, mas com uma certa pressa, já que algo dizia que deveria ir para lá. Quanto mais perto ele chega, mais sua cabeça dói, e de uma coisa ele tinha certeza: se sua cabeça doía, seu passado esquecido estava por vir à tona.

Por mais que andasse, a luz não se aproximava, e sempre se mantinha distante, e às vezes parecia ainda mais longe. Ele chegou a pensar se estava delirando, mas a luz, por menor que fosse, ainda era forte.

Após um passo, dentre os vários que deu, ele chega na fonte de toda essa luz. Seus olhos demoram a se acostumar com a luz forte e cegante do lugar. Quando ele finalmente consegue ver após seus olhos se acostumarem, ele enxerga uma gigante sala, com paredes repletas de ornamentos dourados e estátuas brancas, um chão azul brilhante como se fosse uma enorme jóia talhada e polida, que refletia levemente um teto com um enorme afresco com centenas de anjos, demônios, humanos, fadas e gigantes. Um lugar completamente diferente da enorme sala escura onde estava antes, e era completamente belo.

Observando mais atentamente o lugar, Nier nota uma cortina vermelha com detalhes dourados no fundo da sala, e começa a andar até ela. Quando ele a puxa para ver o que tem do outro lado, ele fica de cara com uma sala completamente branca, desde o chão tão liso quanto ou até mais liso do que a sala anterior e o seu tapete que possuía detalhes em seu relevo, suas paredes sem nenhum tipo de decoração e pilares com diversos adornos que possuíam todas as raças esculpidas combinando com o afresco da sala anterior, até seu teto com um candelabro níveo com chamas igualmente descoradas. Uma única coisa destoava dessa paisagem alva e estranha: um piano negro no meio, de frente para uma das paredes. Isso lhe lembrou que deveria juntar dinheiro para comprar um piano, já que fazia tempo que não podia tocar um.

Ele entra na sala e vai em direção ao piano, e vê que há uma partitura em cima dele. Ele se senta no banco em frente ao piano e começa a olhar e ler a partitura, a entendendo perfeitamente, e como se fosse a milésima vez que a executava, começa a tocar a música com extrema maestria.

Então, enquanto começa a tocar, a sala inteira escurece, e a parede à  frente do piano começa a passar algo que se parece com lembranças de alguém, projetadas. Já havia visto algo parecido com isso antes, com o mago da Saligia o fazendo. Nelas, havia uma grande guerra. Anjos, demônios, fadas, gigantes e humanos lutando. Sangue, morte, caos e destruição.

Mas o que é isso... — Pensa Nier com sua cabeça doendo. – Seria essa a tão famosa Guerra Santa de três mil anos atrás?

Quanto mais tocava, mais Nier se perdia em meio a tamanha violência e tristeza. Com o avançar da música, o garoto viu a sombra de dez anjos indo a guerra, com presenças intimidadoras e que emitiam uma pressão esmagadora mesmo dentro de uma memória, porém com uma extremamente gentil, calorosa e até mesmo nostálgica. Entretanto, um dos outros anjos lhe prendeu a atenção. Essa presença possuía um cabelo mediano com um olhar de que buscava eternamente um objetivo inalcançável. Sua aura era tão pesada e escura que custava acreditar que ele realmente era um anjo, até que começou a desvanecer juntamente com as outras presenças.

Quem será que era aquele? Sua presença era anormal, como se fosse um monstro entre monstros...

Quanto mais avançava, mais via, inclusive outros anjos tão poderosos ou até mais do que aqueles que viu, e alguns demônios que se igualavam com esses outros anjos. Até que ele sentiu algo que lhe chamou a atenção no meio de tanta confusão. Quatro cavaleiros com presenças ainda mais sufocantes do que a daquele anjo musculoso. Dessa vez eram demônios, ridiculamente poderosos, como se o próprio ar rachasse perante suas presenças, e quase fazendo Nier ficar sem ar. E quem estava na frente deles o fez arregalar os olhos, suar frio e engolir em seco. Seus lábios ressecaram e seu rosto ardeu ao ver a cena dele à frente dos outros três cavaleiros, com chamas roxas demoníacas. 

E-Esse...sou eu? Não pode ser...

Nier se via lá. Mas algo estava diferente, além de suas chamas arroxeadas. Algo em sua presença, ela estava... diferente do que ele era. Não diria que era má aquela presença, mas sim melancólica e triste. Mesmo com isso, sentia que devia continuar tocando, até descobrir o que tudo aquilo significava. Ele viu um dos quatro demônios e os dez anjos de antes ficarem cara a cara e partirem para cima uns dos outros para um combate. Quando eles iam se colidir, a imagem sumiu e ele viu apenas uma palavra nesse momento.

Traidor.

E após essa palavra, as imagens da lembrança retornam. Agora, ele estava sozinho, chorando e abraçando uma mulher que não conseguia identificar. Mas conseguia sentir sua presença. Era quente e aconchegante como aquela que havia sentido nos anjos anteriormente, e mesmo sendo apenas uma projeção, conseguia o confortar, porém cada vez mais e mais fraca, ao ponto de desvanecer com passar dos segundos e das notas. Quando a presença finalmente sumiu, o foco da lembrança começou a se abrir. Via centenas, não, milhares de cadáveres ao redor dele, corpos de todas as raças. E então, a lembrança some, mesmo com a música continuando.

Até que subitamente ela aparece novamente, mas dessa vez ao invés de ser na parede como uma projeção, estava nos seus olhos, revelando que tais lembranças eram suas. Ao olhar para baixo ele vê o rosto da mulher, morta em seus braços. Seus olhos não conseguiam parar de escorrer lágrimas que caiam no rosto já frio e pálido dela. Sua garganta estava seca de tanto chorar. Seus dedos cansados do repetitivo e pesado movimento de tocar uma música claramente mágica. Suava como se estivesse atravessando um deserto em pleno verão com as vestes mais grossas para o mais rigoroso dos invernos. Sua cabeça doía excruciantemente, com o que parecia a sensação de ser martelada com a força de mil gigantes. Mas não podia parar, não agora que havia chegado tão longe. 

Quando finalmente toca a última nota, um enorme turbilhão de memórias preenche sua mente, com a dor que sentia dobrando e multiplicando exponencialmente a cada segundo que passava, até que cai no chão, completamente cansado e esgotado, física e mentalmente. Então, finalmente compreende tudo sobre aquela sequência de memórias que acabara de ver. Ele é um demônio, e havia traído sua espécie e companheiros três mil anos atrás. Ele desejava colocar um fim na Guerra Santa, e os anjos haviam traído sua confiança, assim como ele a deles. Uma lacuna da memória de Nier havia sido preenchida, com uma história de ódio, traição e amor.


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