30 dias para se apaixonar escrita por Bruna Ermida


Capítulo 3
Capítulo 2 – Início de uma nova rotina


Notas iniciais do capítulo

Música: Twenty one pilots – Stressed out



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—Mãe, cheguei! —Gritei anunciando a minha chegada e subindo direto para o meu quarto, onde joguei minha bolsa em cima da cadeira preta de computador que ficava ao lado da porta, e me sentei na cama.

Precisava, urgentemente, retirar meus sapatos.

—Como foi? —Estela, minha mãe, pergunta entrando no quarto de porta branca e paredes revestidas com um papel de parede florido em cores pastéis, com fotos de momentos e pessoas especiais e quadros divertidos pendurados, e uma bandeira da minha banda favorita amarrada ao lado da cama.

            Minha mãe era uma mulher de meia idade que não aparentava ser de meia idade. Seus cabelos pretos, longos e sedosos, contrastavam perfeitamente com sua pele parda e lisinha, sem sequer uma manchinha de espinha ou qualquer outro problema dermatológico. Sua aparência jovial muitas vezes me fazia ganhar uma irmã pelas ruas, já que as pessoas nunca cogitavam que ela poderia ser mãe de uma mulher da minha idade. Dessa forma, seu ego era sempre super, hiper, mega massageado.

—Bem, só preciso descansar. Estou morrendo de dor nas costas, dormi de mal jeito essa noite —Explico, levando minha mão a nuca, único lugar onde alcançava, que esfregando aliviava a tensão distribuída por toda as costas.

—E os gêmeos? —Ela pergunta vindo até mim e me ajuda a retirar o tênis.

            Era engraçado, mas todos sempre me perguntavam sobre os gêmeos. Acho que andei exagerando um pouquinho ao contar as travessuras que eles aprontavam, todos agiam como se a qualquer momento eu fosse voltar traumatizada do trabalho. Estava a pouco de desistir de ter filhos? Sim, mas não acho que já havia instaurado algum tipo de trauma. Faltava pouco para isso? Faltava, mas não precisavam se preocupar. Pelo menos acho que não.

—Estão ótimos, porém espero muito que o tempo passe bem devagar —Respondo estendendo o ‘’e’’ da palavra bem. —Não quero que quarta-feira chegue nem tão cedo.

Mamãe ri e me ajuda com a coberta, assim como fazia na minha infância. Eu amava quando ela entrava no meu quarto, sentava ao meu lado segurando um livro de história qualquer e passava um bom tempo ali, lendo até que eu adormecesse.

Pouco tempo depois, após conseguir controlar um pouco o sono, levanto para tomar um banho quente. Precisava daquilo para relaxar e dormir sossegada, mas antes de entrar no banheiro, o tema de um dos melhores filmes de animação da Disney, mais conhecido como Aladdin, começa a soar pelo cômodo. Com um suspiro de pesar, volto até a cama, onde o aparelho que emitia o som, vibra mostrando um ”Kat” na tela.

Automaticamente me lembro dos gêmeos e atendo, temendo ter acontecido algo com os dois.

—Kat? Aconteceu alguma coisa com as crianças? —Atendo sem cordialidades.

—May? Oi. Não, não aconteceu nada com eles. Não se preocupe —Katlyn responde me causando alívio.

            Mas se não havia acontecido algo com eles, o que poderia ser? Não esqueci nada por lá, não há nenhum feriado previsto ou folga para eu tirar. Não tinha motivos. Pelo menos não que eu soubesse. Começo a sentir receio naquele mesmo instante e só consigo me perguntar uma única coisa: —Por que diabos eu atendi essa porcaria de telefone?

—Então... por que está me ligando a essa hora? —Questiono tirando o aparelho do ouvido e verificando a hora, já passava das 22h da noite.

—Bom... É que... Olha, eu preciso muito que você venha aqui

—Agora? —Pergunto assustada e ao mesmo tempo exausta. Eu havia acabado de chegar, estava morrendo de vontade de me jogar na cama e dormir como se não houvesse amanhã. Custava tanto ter esse momento de paz?

—Sim, é urgente

—Kat, eu estou muito cansada. Já estava pronta para dormir —Tento argumentar, mas sou interrompida por uma Kat irredutível. Sabia que se eu não concordasse naquele instante, ela permaneceria insistindo durante toda a noite.

—Por favor, May. Prometo lhe recompensar no final do mês

Respirando fundo, concordo com minha amiga, que no momento está no papel de patroa, porque se fosse minha amiga não me tirava esse pequeno prazer chamado dormir. Troco de roupa rapidamente, coloco uma muda na bolsa para caso precise dormir por lá e choramingando, calço novamente o tênis branco que desejara tanto me livrar há minutos atrás.

—Mãe, estou indo —Grito da sala. Sabia que assim dona Estela apareceria logo.

—Indo? Aonde?—Ela entra no cômodo carregando uma bandeja cheia de cookies de chocolate. Eu não estava acreditando naquilo. Uma noite de sono e uma bandeja de cookies perdidas no mesmo dia. Era o fim do mundo.

—A Katlyn ligou, pediu que eu voltasse lá

—Mas você acabou de chegar, filha. Está cansada

—Eu sei mãe, mas preciso ir. Você sabe como ela é, se não for é capaz de aparecer por aqui e me levar arrastada —Rio sem humor.

—Tudo bem, mas leve pelo menos esses biscoitos. Você não comeu nada desde quando chegou

Concordo pegando alguns cookies da bandeja. Um de chocolate branco e o outro chocolate preto. Eu amava os cookies que dona Estela fazia. Era uma tradição da família, cresci comendo os mesmos biscoitinhos todo final de semana ou em ocasiões tipo a de agora, puro paparico. Quem sabe comê-los me ajudaria a receber a bombar que provavelmente eu receberia daqui a alguns minutos.

            Havia dois carros parados em frente à casa. Aquilo me fazia concluir duas coisas.

1º - Os Folks estavam em casa.

2º – Havia uma terceira pessoa e eu não fazia ideia de quem era. Pelo menos não pelo veículo.

            Agora, por que precisavam de mim e mais outra pessoa, às 22h da noite? E o mais curioso, as pressas.

            Já estava ficando um tanto assustada, perguntando para mim mesma se havia feito algo errado e não percebera. Será que seria presa? Será que o outro carro pertencia a um investigador que eles contrataram para me seguir? Mas eu não lembrava de ter feito nada absurdo durante toda a minha vida. Já colei em algumas provas na universidade, já comi umas frutinhas sem pagar no supermercado, carreguei uns sabonetes de alguns hotéis, mas nada que pudesse me levar para a prisão.  Pelo menos não que eu soubesse.

            Pedindo aos deuses proteção e jurando ficar alguns meses sem chocolate se ele me livrasse de alguma roubada, subo a escada que levava até a porta de entrada que já estava aberta e me assusto.

            Opa, tem uma mala aqui.

            E outra ali...

            E o... Alex?

            Ah... Não...

            Já imaginando o que poderia ser, tento dar meia volta, mas sou parada pela amiga da onça que num único e rápido movimento, segura meu braço e me puxa para dentro da casa.

—Maya, querida. Como estão as coisas? —Kat solta meu braço e passa seus dedos levemente sobre as alcinhas da minha camiseta. Eu não estava gostando daquele tom de voz.

—Quer um chocolate? —Paul pergunta colocando Luz e Pietro no chão e pegando uma embalagem de chocolate que estava sobre a mesa de centro.

            Esperto, havia colocado em jogo o que eu mais amava na vida. Chocolate.

            Assim como Alex, o garoto de cabelos castanhos e olhos cor de mel, eu permaneci em silêncio, completamente sem reação. Estava óbvio o que aconteceria ali e claramente estávamos tentando nos convencer que não era aquilo. Em silêncio, mas estávamos.

—O que vocês estão planejando com isso aqui? —Crio coragem e pergunto, rodopiando o dedo demonstrando que estava me referindo a pequena e improvisada reunião que estava acontecendo ali.

—Então... —Kat começa após Paul encará-la fazendo sinal para que ela iniciasse a conversa. —Vocês dois são nossos amigos já fazem o que? Uns três anos? —Olha para mim. —Alex... uns quatro? —Encara o garoto que desvia o olhar e se senta no sofá de couro marrom. —Então sabem que temos vários sonhos, não sabem? E um deles, infelizmente, é quase impossível para nós.

—Caribe? —Alex pergunta e os dois concordam.

—Sonhamos com esse lugar desde a nossa lua de mel, mas é uma viagem muito cara, seria impossível pagarmos neste momento.

—E? —Incentivo a prosseguirem. Já estava me irritando toda aquela enrolação.

—E que há uns meses atrás, enquanto íamos para o trabalho, ligamos o rádio do carro num programa qualquer aqui das redondezas.

—E o radialista disse que iriam sortear uma viagem para um lugar dos sonhos —Paul completa interrompendo a esposa e colocando as crianças no cercadinho deles que havia montado na sala. Não acreditávamos muito nisso, mas como não custava nada, resolvemos participar.

 —Nós ganhamos —Kat finaliza batendo palmas e dando um sorriso que só havia visto igual no dia em que minha mãe comprara a casa aqui no bairro.

Eu estava feliz por eles, juro que estava. Seria complicado ficar com as crianças, mas a viagem duraria o que? Uns quatro dias? Não seria tão difícil assim. Dois dias comigo, dois dias com Alex. Logo tudo voltaria ao normal.

—E vocês estão planejando deixá-los com a gente, certo? —Alex pergunta e a ruiva concorda balançando a cabeça.

—São apenas 30 dias, passará rápido —Paul comenta fazendo Alex pular do sofá.

—O que? Vocês não podem fazer isso. —Sibilei após ouvir a proposta mais louca da minha vida.

—Maya, você sabe que é o meu sonho. — Kat chantageou fazendo sua famosa carinha de piedade. Pilantra!

—Eu sei, mas…

—Sei que podemos contar com vocês. —Paul me interrompe enquanto pega uma de suas malas sobre o sofá e caminha rapidamente em direção à saída. Katlyn, na mesma hora faz o mesmo, passando em disparada por Alex e eu, sem nos dar oportunidade de pará-los.

—Vocês estão malucos, só pode. Eu não vou cuidar sozinho de duas crianças. —Alex resmunga indo atrás do casal que estava a poucos minutos de cometer uma loucura.

—Ei! Eu estou aqui. —Retruquei sendo ignorada pelo garoto magricela ao meu lado.

—Deixamos tudo que vão precisar anotado num bloquinho ao lado do telefone—Kat gritou entrando no carro. —Divirtam-se, garotos!

—Voltamos em um mês — Paul completa acelerando o veículo que logo sumira na rua deserta.

Naquele momento me vi completamente perdida. Estava ao lado de um vizinho que nunca  havia trocado mais que duas palavras, com duas crianças de três anos que mais pareciam demônios da tasmânia e um cachorro que parecia querer arrancar uma parte do meu desmilinguido corpinho a qualquer momento.

Será que ainda daria tempo de correr?!


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Notas finais do capítulo

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