Quando era pequena, não queria ter pressa para crescer. Eram dias muito bons em que desfrutava de total liberdade para -- mais do que tramar traquinagens -- criar enredos, dar asas à fantasia, imaginar aventuras.

O avô, no trabalho; a avó, às voltas com a lida doméstica; a mãe, dando aulas na escola; o pai, navegando lonjuras marítimas. Eu, solta, desimpedida, livre para reinações no meu pequeno quintal.

Depois que cresci, não tive qualquer pressa para me tornar uma mocinha, conforme as expectativas familiares e sociais. Amanhava curiosidades que, então, os livros me fizeram o favor de, revelando algumas respostas, lançarem-me adiante, remetendo-me à cata de novos conhecimentos. Nada, metódico; tudo, bem aleatório, de acordo com o tema que, de repente, chamava-me a atenção.

Quando, de fato, transformei-me numa mocinha, não tive pressa para ser igual às outras. Não me interessei por garotos, não bati pestanas para os bonitinhos... Mas fui seduzida, irremediavelmente, pela Poesia que me desencaminhou de vez. E lá fui eu bandear pelas bordas dos abismos íntimos, mergulhar nos mares esconsos da minha alminha ainda aturdida.

Moça, não tive qualquer pressa para descobrir a vida além do meu meio quarto, meio escritório. Eram os estudos universitários, a música, a leitura e, claro, a dedicação aos poemas.

Mulher feita, tive pressa de conhecer o mundo, as pessoas. Viajei, trabalhei, espalhei-me na noite, enrolei-me em relacionamentos... Após algum tempo, cansei. Sobretudo, porque jamais fora talhada para mais do que a doce solidão dos que amam por amar somente e não precisam pedir nada em troca a ninguém.

Madura, não tive pressa para tentar exceder-me. Foi lenta a investigação da própria alma. Teve que ser cuidadosa. Teve que ser, principalmente, atenta às ilusões que forjara a meu respeito. Teve que ser, acima de tudo, bem ponderada, evitando os excessos tanto da intransigência quanto da complacência.

Idosa -- isso que sou agora --, não me interessa pressa alguma. Para nada. Nem para viver nem para morrer. Tudo o que busco e quero alcançar, com calma, é a Transcendência.