Os Oito e o Mundo escrita por BRENA, Paola Mellark Valdez Weasley


Capítulo 2
Pedro Ito, Castelobruxo


Notas iniciais do capítulo

E ai galera! Feliz em postar mais um capítulo pra vocês ♥ Segue a arte das personagens do capítulo:

Pedro Ito: https://artbreeder.b-cdn.net/imgs/f0e98e9b47ccbdf68018c3275926.jpeg

Zé: blob:https://web.whatsapp.com/29beb29a-e1ef-4d3f-9046-b824df188c3c

Malu: https://artbreeder.b-cdn.net/imgs/047603b4458e8963b61e5a8a7028.jpeg



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/802199/chapter/2

Pedro acordou sentindo uma pontada de dor de cabeça. Levantou esfregando os olhos, agradecendo por pelo menos não estar com vontade de vomitar - a noite passada havia sido a primeira vez que bebera de verdade na vida.

Diz-se “de verdade” porque ele estava acostumado a dar uns goles quando preparava caipirinha, afinal era o seu emprego. No entanto, bebia apenas para se certificar de que o gosto estava bom, confirmando seu talento como bartender trouxa: Colocava um pouco no copo de plástico para si mesmo e, se estivesse bom, servia no de vidro para o cliente.

Mas a noite anterior havia sido seu aniversário de 17 anos. Pedro nunca foi muito de comemorar e, considerando que passou sozinho seu 16º aniversário, não esperava comemorar o de 17º também. Porém, para sua surpresa, seu recém companheiro de apartamento e de negócios, José Lucas - o qual insistia para que Pedro o chamasse apenas de Zé - era um apreciador de comemorações.

“Falta só um ano para você ser maior de idade, isso é motivo para comemorar!" havia dito Zé, servindo dois copos de cerveja para eles e violando as leis trouxas brasileiras que não permitiam a venda de bebida para menores de 18 anos. O líquido tinha um gosto amargo e parecia um pouco aguado, mas Pedro bebeu mesmo assim. “Diferente de cerveja amanteigada”, Pedro pensou enquanto perdia a conta de quantos goles havia dado.

O que Zé não sabia é que Pedro já era maior de idade, pelo menos da onde ele viera.

Com a cara amassada, o garoto levantou-se da cama e olhou sua imagem no espelho e, no reflexo, pôde ver o quarto singelo que muito lhe agradava. No cômodo havia apenas um guarda-roupa com espelho embutido, sua cama magra e uma escrivaninha acolhedora com algumas gavetas. Era muito diferente de seu antigo quarto na casa dos seus pais, onde tinha de tudo e mais um pouco. A lembrança do velho quarto parecia distante e sem formato na mente de Pedro. Já fazia mais de um ano e meio que ele não punha os pés naquela casa.

Lentamente, o garoto virou-se para a escrivaninha e olhou de relance para a última gaveta do móvel, a única que tinha tranca. Lá estava guardado o segredo que ele decidira esconder e levar para o túmulo: sua varinha.

Desde que largou a Escola de Magia e Bruxaria Castelobruxo, no início de seu 6º ano, Pedro não fez uso de sua varinha nenhuma vez. Provavelmente também não teria usado se precisasse. O Ministério da Magia podia rastrear bruxos menores de idade que usavam magia fora da escola e Pedro não arriscaria ser encontrado. Não queria voltar para escola, não queria voltar para sua família. 

“Se bem que…duvido que me aceitassem de volta”, começou a refletir o garoto, chacoalhando a cabeça para afastar os pensamentos. Ele sabia como era uma vergonha para a família Ito, uma das linhagens de sangue-puro mais conhecidas de toda a comunidade bruxa do Brasil, ter alguém que havia tirado apenas um “Excede as Expectativas” nos NOMs do quinto ano, sendo esse em “Estudo dos Trouxas”, a matéria que a família Ito mais abominava.

Mas desde a noite anterior, tudo mudou. Se Pedro usasse magia agora, o Ministério não teria como saber, e ele sairia impune. O bruxo pensou sobre isso enquanto estava parado, encarando a gaveta trancada.

Dirigindo-se para o guarda-roupa, o garoto começou a se arrumar para o trabalho. Decidiu que não pegaria a varinha. Não arriscaria que seus amigos descobrissem seu segredo, não arriscaria quebrar o estatuto de sigilo e dar chances para que algum outro bruxo o encontre, não suportava a ideia de ter seu paradeiro reportado à sua família.

Havia mais motivos para permanecer no mundo dos trouxas do que ceder às facilidades da magia, disso ele tinha certeza. Olhou para sua cama desgrenhada e começou a arrumá-la, estendendo o lençol e em seguida dobrando os cobertores. Com um sorriso de canto, Pedro sentiu-se satisfeito com sua decisão. Bruxos nunca precisavam arrumar a cama e, para o garoto, eram esses pequenos detalhes e esforços que faziam a vida valer a pena. Construir, cuidar, dar atenção, ter que se virar quando as coisas dão errado. Para Pedro, isso fazia com que os trouxas fossem muito mais admiráveis do que os bruxos.

Pedro saiu de seu apartamento para trabalhar, embarcando em uma viagem de metrô. Ao chegar em Copacabana, deu de cara com o mar e sorriu extasiado com a beleza dele. “O Rio de Janeiro continua lindo”, pensou em ritmo de samba. Caminhando até a barraca em que trabalhava, Pedro recordou de sua aventura.

Lembrou do momento em que fugiu de casa, na madrugada anterior à saída do expresso para o Castelobruxo. Saiu de fininho de sua casa em Brasília e, ao invés de ir para escola de bruxaria no Amazonas, pegou carona até o litoral bahiano. Passou meses incríveis acampando, vivendo como nômade e sem magia. Conheceu trouxas, comeu comidas típicas preparadas por cozinheiras humildes, caminhou até as pernas doerem, viu o céu estrelado, tomou banho de mar pelado, e foi vivendo e andando até se ver morando no Rio de Janeiro.

Conheceu seu companheiro de trabalho Zé na praia, em um bate bola trouxa popular brasileiro denominado futebol. Pedro também descobriu um talento nato para o esporte durante sua viagem, e sempre que via um jogo, perguntava se podia participar. Durante bons dois meses, Pedro e Zé se viam periodicamente em partidas distintas. Construíram uma boa parceria e, quando Zé descobriu que o amigo dormia acampado na praia, o convidou para morar em seu apartamento em troca de ajuda como bartender em sua barraquinha praieira - uma das mais badaladas de Copacabana.

— Pedro! Tá no mundo da lua rapaz? Vê se o casal ali quer uma gelada. - Disse Zé, apontando para dois jovens apaixonados na beira do mar. O garoto assentiu com a cabeça e se dirigiu até o casal, que aceitou feliz as cervejas geladinhas.

Retornando para a barraquinha de Zé, o coração de Pedro disparou ao ver Malu, a garota de quem ele estava afim há semanas. Malu passava todos os dias de bicicleta, no mesmo horário indo para o cursinho pré-vestibular, e sempre pedia a mesma bebida. Pedro sabia de cor: Shake de manga com leite de coco gelado e pouco açúcar sem canudo - a menina era preocupada com as tartarugas.

Pedro olhou de relance para Zé, que sabia de sua paixonite adolescente. Zé, que já tinha 23 anos e namorava há quatro, achava divertido ver Pedro nervoso por causa de Malu e fez um aceno de cabeça para que o garoto voltasse para a barraca a tempo de atender a vestibulanda. Apressando o passo, Pedro assumiu seu posto minutos antes de Malu chegar ao balcão.

— Oi Pedro! - sorriu Malu - Tudo bem? Eu vou querer um…

— Shake de manga com leite de coco gelado e pouco açúcar - Respondeu ele sem pensar. Malu riu.

— Isso mesmo. Você decora o pedido de todas as clientes? - Brincou ela. Pedro enrubesceu.

— Eu…não… sim, mais ou menos, depende... - O garoto não sabia o que dizer. Apesar de suas habilidades sociais geralmente serem boas, perto de Malu ele ficava sem jeito.

— Relaxa, tô te gastando! - Malu tocou o braço do bruxo fazendo com que ele arrepiasse - Mas vou te falar, acho que sei porque você decorou meu pedido.

— Ah, é porque eu adoro o chorinho dele - Pedro sorriu de lado - sempre que cê pede eu faço um pouco a mais pra eu beber também. Só não conta pro Zé.

— Aé? - Malu abriu um sorriso largo - Achei que fosse por outra coisa.

— O que? - Pedro perguntou desatento. Estava concentrado em bater os ingredientes no liquidificador para que o suco ficasse bom. Quem sabe suas habilidades como bartender pudessem conquistar Malu?

— Zé comentou que você tem uma queda por mim. - Disse Malu, ainda sorridente. - Achei que fosse por isso.

Pedro parou de bater os ingredientes e olhou fixamente para o liquidificador, com o rosto mais vermelho que o ketchup das batatas vendidas naquela barraca. Não sabia o que dizer, não tinha coragem de olhar para Malu. Naquele momento, Pedro só pensava na bicuda que iria dar em Zé quando o expediente acabasse. Malu se aproximou do balcão e, na ponta dos pés, aproximou seu rosto do de Pedro sussurrando:

— Eu também tenho uma quedinha por você. - Disse a garota. Sentindo mil borboletas em sua barriga, Pedro olhou para os olhos de Malu e em seguida para boca, que estava apenas a alguns centímetros da sua. Em um impulso, Pedro soube o que tinha que fazer. “É agora ou nunca”, pensou o garoto segundos antes de beijar Malu, afagando seus cabelos, o coração batendo alto.

Ambos se afastaram e sorriram um para o outro. Sem dizer nada, Malu deu um papel para Pedro e foi embora em sua bicicleta, tão de repente como chegou. Pedro, sem acreditar no que acabara de acontecer, abriu o papel. No bilhete, havia um número de telefone acompanhado dos dizeres “Me liga!”, com alguns coraçõezinhos.

Naquela noite, Pedro voltou para casa reluzente. Não tinha mais vontade de dar nenhuma bicuda em seu colega de quarto, não tinha mais medo de ser reportado para sua família e, principalmente, não tinha dúvidas de que o mundo trouxa era o seu lugar. Foi até seu quarto e deitou em sua cama sorridente.

Aquela foi a noite que Pedro quebrou sua varinha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você está curtindo a história, deixa um review pra gente! Estamos muito animadas para receber o primeiro comentário. Essa fic está sendo criada com muito carinho e entusiasmo ♥ conta pra gente o que está achando!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Oito e o Mundo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.