A Câmara Secreta - Por Rony W. e Hermione G. escrita por overexposedxx, Popione


Capítulo 1
Capítulo 1 - Sem notícias


Notas iniciais do capítulo

Olá, potterheads! Esperamos que vocês estejam bem e se cuidando!

É com muito prazer que viemos trazer a vocês o segundo livro, A Câmara Secreta, pela perspectiva de Rony e Hermione!

Nós ficamos muito felizes com todos os comentários, notas nos capítulos, favoritos e visualizações que vocês deram ao livro um nessa nossa versão, e agradecemos muito por isso tudo, significa bastante ♥

Esperamos que vocês gostem desse também, e continuem nos deixando saber o que acharam!

Boa leitura! ♥



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Mais um dia comum das férias de verão vinha se passando para Hermione em sua casa, num comum bairro trouxa de Londres. Embora o Sol lá fora estivesse realmente convidativo, a garota já havia aproveitado aquele clima dias antes e dessa vez estava na sala de casa vendo filme com seus pais, quando uma coruja marrom colidiu com força contra o vidro da janela. Os três se sobressaltaram, e a garota, reconhecendo aquela penugem, correu para abrir a janela e resgatá-la.

—É a coruja da família de Rony. - explicou para os pais, segurando o sorriso que viera com a animação súbita pela ideia de receber uma carta de um de seus amigos, e voltou à coruja - Pobrezinha, está velhinha já.

Ela lamentou e pegou Errol da jardineira da janela, o colocando para dentro.

—Pronto, descanse um pouco, vou buscar um pouco de água pra você.

E assim, a garota correu à cozinha e voltou em minutos com uma tigela de água e um pouco de farelo de pão, que deu à coruja enquanto abria a carta que tinha tirado de sua pata.

Olá, Mione!

Espero que suas férias estejam legais.

Como havíamos combinado na estação, estou mandando esta coruja para convidar você e Harry para passar uns dias aqui em casa nesse verão. Mamãe já deixou, é claro, então vou esperar a resposta de Harry, pra saber quando ele pode sair da casa dos tios e te mando uma data.

Até logo,

Rony.

Hermione esticou o sorriso, ainda mais animada pelo convite: embora não tivesse certeza se poderia ir, porque os planos dos Granger para aquelas férias eram de passar algum tempo juntos com a filha, apenas receber a carta e Rony ter se lembrado de convidá-la já a deixava incrivelmente feliz. Com um breve aviso aos pais, ela correu até o quarto para respondê-lo - onde poderia pegar um pedaço de pergaminho e sua pena de escrever.

Olá, Rony!

Obrigada pelo convite! Não sei se conseguirei ir em sua casa neste verão - papai e mamãe estão com muitas saudades de mim e eu deles, então talvez a gente viaje por uns quinze dias no meio das férias. De qualquer forma espero sua data, dependendo de quando for até consigo ir, não é?

Vou mandar uma carta a Harry também pra saber como ele está - aqueles tios dele não me pareceram muito legais.

Afetuosamente,

Mione.

E enfim, ela fechou a carta. Depois de Errol ter se recuperado, a enviou de volta com a resposta. Mais tarde escreveu a de Harry perguntando como ele estava e contando como haviam sido suas primeiras semanas de férias - essa resolveu mandar por correio normal, porque com o pouco que conhecera dos tios do amigo, tinha um pressentimento que as corujas não seriam bem-vindas na casa.

Fazia pouco tempo que Hermione havia voltado para a casa e era estranho como agora "estar em casa" era muito diferente do que costumava ser antes de Hogwarts. Talvez pelo fato de não voltar toda noite pra casa ou pelo fato de ter amigos, mas o que quer que fosse, as férias de verão pareciam muito mais especiais. É claro que, com o tempo fora, a garota sempre queria aproveitar cada instante com os pais - até mesmo os acompanhava para o consultório alguns dias, e ficava lá revendo tudo que havia aprendido no primeiro ano de Hogwarts enquanto seus pais atendiam aos pacientes -, mas era diferente porque sua cabeça parecia sempre voltar à Hogwarts de alguma maneira.

Além do mais, com o tempo, ela se sentia ansiosa para voltar à escola. Queria saber quais eram as matérias daquele ano, como seria sua grade de horários, ver Rony e Harry outra vez e receber logo a lista de materiais daquele segundo ano para poder ler todos os livros novos que teria - se tinha uma coisa de que Hermione gostava era de cheiro de livro recém comprado. O malão de Hogwarts já estava até arrumado para receber os novos livros e vestes.

Uma semana se passou e Hermione não recebera resposta alguma de Harry ou de Rony: foi só na metade da segunda semana que a mesma coruja velha chegou trazendo notícias.

Olá, Mione,

Desculpe a demora para lhe responder, mas fiquei esperando a carta de Harry e não recebi nada. Por acaso ele respondeu à sua?

Espero que possa vir pelo menos por alguns dias. Assim que eu receber alguma coisa dele te aviso.

Até mais,

Rony.

Hermione terminou de ler a carta com preocupação: por que será que Harry não os respondia? Será que os tios dele também o haviam proibido disso? Honestamente, isso seria inaceitável.

Ela então escreveu outra carta a Harry, perguntando novamente como estava e desta vez enviaria por coruja - talvez não tivesse a ver com os tios, talvez tivesse apenas anotado o endereço errado e a carta não tivesse chegado.

Mas, Rony também não havia recebido resposta, não é?

Então, deixando de se perguntar demais, ela pegou outro pergaminho e respondeu a Rony.

Oi, Rony

Ele também não respondeu à minha carta ainda, estou mandando outra para ver se foi erro na entrega - tinha enviado por correio trouxa.

Caso ele me responda te aviso na mesma hora. Estou começando a ficar preocupada. Será que aconteceu algo a ele?

Vou viajar no próximo fim de semana e devo voltar só daqui algumas semanas, então te mando uma carta avisando quando tiver voltado, e pedindo notícias.

Afetuosamente,

Mione.

Longe dali, Rony estava nervosíssimo, andando de um lado para outro em seu quarto. Já tinha enviado mais de cinco cartas a Harry e não obtivera respostas - ele simplesmente não sabia o que pensar. Talvez o amigo tivesse se metido numa enrascada, ele pensou primeiro, como no fim do ano passado na Escola, mas depois pensou que se Você-Sabe-Quem tivesse aparecido no mundo dos trouxas atrás de Harry Potter, os jornais bruxos já teriam dito alguma coisa.

Então, só havia uma hipótese: deviam ser aqueles tios estúpidos dele, que tratavam o garoto tão mal e agora podiam tê-lo proibido de se corresponder com os amigos. Ou, quem sabe pior: talvez o tivessem trancado debaixo do armário outra vez, fazendo-o de prisioneiro, talvez também de empregado, feito um elfo doméstico - isso sim seria horrível, Rony pensou, fazendo uma careta. E magricela como Harry era, Rony tinha certeza de que ele não sobreviveria muito tempo sem comer direito - a possibilidade o agonizava quase tanto quanto ele tinha certeza de que perturbaria sua mãe, Molly, se ela soubesse.

De toda forma, agora estava fazendo o que lhe havia restado: aguardando a resposta de Hermione para saber se ao menos ela havia recebido algo. Foi quando Gina bateu na porta e, sem esperar resposta, foi direto sentar-se na cama dele.

—Que você quer, Gina? Não vê que estou ocupado? - ele esbravejou sem pensar, virando-se pra ela.

—Ocupado com o que, Rony? - a garotinha arqueou as sobrancelhas pra ele, ignorando seu tom - Você nem arrumou o quarto como mamãe mandou.

—Ah... - ele pensou em dizer, mas hesitou - Você não entenderia. - e abanou a mão no ar, deixando pra lá.

—Bem, experimente me contar. - ela convidou simplesmente, se ajeitando na cama com o olhar no irmão.

—Não, não... Deixa pra lá. - ele abanou com uma mão de novo, e se virou para ela cruzando os braços - Mas me faz um favor? Quando Errol voltar, me avise imediatamente, certo?

E com isso, Gina tornou a arquear uma sobrancelha, um sorriso travesso esticando seus lábios.

—Humm, por que? Tá esperando a carta de sua namorada, "Mione"? - ela provocou, já se levantando e correndo para a porta porque sabia que o irmão iria querer pegá-la.

Rony imediatamente ficou muito vermelho e ameaçou correr atrás dela, que já ria, mas lembrou-se de sua preocupação e voltou a cruzar os braços no quarto, mais irritado do que antes.

—Não diz besteira, Gina, ela NÃO é minha namorada, é minha amiga e só! Quantas vezes terei que lhe dizer isso? - ele esbravejou de novo, mas dessa vez consciente, e espalmou as mãos nas pernas, impaciente.

Sua irmã vivia lhe enchendo a paciência com essa história e, por algum motivo, pensar em Hermione de qualquer maneira que não fosse como sua amiga o deixava com uma sensação estranha. Talvez fosse só a aversão que a maioria dos garotos e garotas criam um para com o outro no sentido romântico àquela idade, e de toda forma, a brincadeira já o havia cansado.

—Tá bom, tá bom! - a garotinha rolou os olhos, voltando para o quarto, e encolheu os ombros, ainda com um pequeno sorriso - É que só ela te escreve.

—E é exatamente por isso que tô preocupado, Harry não responde às cartas. - Rony confessou, se sentando na cama com desânimo. A garotinha ruiva deixou de sorrir e, entendendo agora o nervoso do irmão, perguntou:

—Será que aconteceu alguma coisa? - ela perguntou baixo, se sentando ao lado dele com o cenho franzido.

—Honestamente? Não sei. Mas, estou esperando pela resposta de Mione para saber se ao menos pra ela houve alguma resposta dele. - explicou, soltando o ar impacientemente. E de repente, Gina já estava perguntando de novo.

—Eles são namorados, Rony? - ela perguntou, com um tom de preocupação.

—Claro que não, Gina! - Rony respondeu logo, saltando da cama nervosamente. Qual era o sentido naquela pergunta? Ele estava começando a considerar seriamente o que se passava na cabeça de uma criança daquele tamanho, quando enfatizou, gesticulando para ela.

—Amiga, A-M-I-G-A! Só amiga dele. - Rony explicou, andando para o outro canto do quarto -Por que é que você cisma com isso?

—Ah, é porque ele salvou a pedra no semestre passado, sabe, deve ter muitas garotas atrás dele. - ela explicou, num tom sonhador, os olhos vagando pelo teto - Ele é tão incrível! - e disse, ficando vermelha. Rony estreitou os olhos, a censurando.

—Não diga bobagens! Você é que é fascinada por ele. - e balançou a cabeça, dando as costas para ela de novo.

—Não sou fascinada por ele! - ela retrucou, ficando vermelha de novo, agora com um semblante sério, mas Rony não a ouviu.

—E além disso, ele teve nossa ajuda pra conseguir resgatar a pedra. - ele disse apenas, sem ouvir o que ela dissera, e tornando a se virar para ela.

—Vocês podem até ter ajudado, mas foi ele quem enfrentou o final sozinho. - ela deu de ombros, assumindo aquele olhar de encanto outra vez.

—Ah, certo, tanto faz! Nem dá pra discutir com a fã número um dele. - Rony suspirou, rolando os olhos, e provocou-a mais de perto - Vou ver se te consigo um autógrafo, está bem?

—Eu não sou fã! - Gina falou brava, e saiu pisando duro e batendo a porta.

Minutos depois, cansado de esperar no quarto, Rony desceu pra cozinha - onde tentou roubar um bolinho antes do jantar e levou um tapa na mão, da mãe. Antes que pudesse protestar viu Errol chegando, quase desmaiando ao aterrissar: o garoto correu para pegar a carta e assim que viu a resposta de Hermione, correu para falar com a mãe.

—Mamãe, veja só, - ele balançou a carta em suas mãos para ela, que se virou do fogão para olhá-lo - Harry não responde às minhas cartas nem de Mione, será que aconteceu alguma coisa?

Ele perguntou preocupado e, dando uma olhada na carta com os olhos estreitos, sem deixar de florear a varinha que controlava o preparo do jantar, Molly disse, em contrapartida, sem preocupação alguma.

—Rony, querido, tenho certeza de que não aconteceu nada demais ou já saberíamos. Talvez ele não tenha tido tempo de responder, e só. - ela assegurou, dando um sorriso de consolo para o filho antes de voltar a se concentrar no fogão.

—Mas mamãe, por que não teria tempo? Estamos de férias! - o garoto insistiu, descrente da possibilidade tão simples.

—Rony, dê a ele mais um tempo. Se até agosto não tivermos notícias, eu mesma vou com seu pai até lá para ver como ele está.

—Agosto? Mas, aí já estaremos quase voltando das férias! - ele protestou, mais ansioso do que já estivera até agora, e recomeçou a falar dramaticamente - Você viu como são os tios dele, eles podem estar o tratando realmente mal, mãe! Até lá ele pode... Pode morrer de fome!

—Ah, não exagere, Ronald! - ela o dispensou sem paciência - Eu já disse o que podemos fazer, agora tire essa ideia da cabeça e vá se lavar para o jantar.

E assim, Rony saiu bufando, correndo para responder à carta de Hermione que ainda estava em sua mão - mesmo sabendo que teria de enviar no dia seguinte porque Errol não teria condições de fazer mais nenhuma entrega naquele dia.

Olá Mione,

Também estou preocupado com ele. Falei com mamãe mas ela parece não entender como são os tios dele. Vou esperar mais uma semana, se não receber nada irei eu mesmo buscá-lo.

Faça uma boa viagem. Se tudo der certo, na sua volta ele já estará aqui na Toca.

Até mais,

Rony.

A semana que havia estabelecido como prazo passou e, não tendo recebido nada, Rony resolveu começar a planejar como iria até a casa dos tios de Harry para tirá-lo de lá.

Certa noite seu pai contou no jantar que Harry havia recebido uma advertência do Ministério por usar magia fora de casa. Rony sentiu um arrepio sinistro na mesma hora: se ele tivera que fazer isso era porque algo tinha acontecido, com certeza.

O garoto já tinha cansado de implorar aos pais que fizessem algo, mas eles haviam tomado aquela notícia como um aviso de que ele estaria simplesmente se divertindo nas férias - o que fez Rony tomar a decisão de que precisaria agir sozinho e rápido, e com isso se trancou no quarto e pôs se a planejar o resgate.

Mas, os lapsos de possibilidade que vinham em sua cabeça não eram de muita utilidade - não davam em nada para um plano completo. Como era difícil fazer isso sozinho! Onde é que estava Hermione quando precisava dela?

De repente, os gêmeos entraram no quarto escancarando a porta, quase derrubando Rony da cadeira com o susto. Todos os pensamentos se foram de sua cabeça e ele ficou mais impaciente pela presença dos irmãos: se descobrissem o que estava planejando, certamente tudo iria por água abaixo, sua mãe saberia, ele ficaria de castigo só por pensar e...

—O que tá fazendo, Roniquinho? - perguntou Fred, olhando por cima do ombro dele para tentar ver o que escrevia.

—Não é nada. - ele disse simplesmente, segurando o papel, tentando se concentrar de novo - Saiam daqui, tô ocupado!

—Ocupado? Estudando nas férias, Roniquinho? Que decepção! - provocou Jorge, puxando o papel da mão dele.

—Oh, não! Temos outro Percy na família! - Fred continuou a provocação, embora já estivesse atento ao papel na mão de seu gêmeo.

—Me devolve isso, Jorge! - ele se esticou para pegar, o que teria conseguido por pouco já que era quase da mesma altura do irmão, mas este subiu na cama para ler.

—"Ideias para resgatar Harry". - leu Jorge no papel, em voz alta.

—Que é isso, Rony? Vai invadir a casa dos trouxas e trazer Harry pra cá? - perguntou Fred, intrigado, e fechou a porta, negando com a cabeça - Ah, mas temo que isso não podemos deixar que faça.

—Quero ver vocês me impedirem! - o mais novo respondeu, realmente nervoso, ficando escarlate até as orelhas.

—Impedir? E quem falou em impedir? - continuou Fred, olhando para o gêmeo com um tom de obviedade.

—Isso não podemos deixar que faça sozinho! - completou Jorge, e os dois sorriram largo, pulando da cama para o chão.

—Como é? - perguntou Rony, confuso. Não era possível que estivessem mesmo sugerindo o que parecia.

—Ora, se Harry precisa de um resgate e para isso é necessário infringir algumas regras... - Jorge deu de ombros, olhando de relance para o irmão - Seria irresponsável da nossa parte deixar toda a aventura só pra você, não é?

—Então quer dizer que vão me ajudar? - Rony arregalou os olhos, dividido entre a surpresa e a animação, além da confiança crescendo em seu peito para aquela tarefa que, dessa forma, já não parecia tão difícil.

—Mas, é claro! E já até sei o que faremos! - declarou Fred, olhando para Jorge e Rony com uma expressão travessa, esfregando uma mão na outra. Os dois se sentaram na beira da cama e o mais novo puxou a cadeira para perto, se sentando, quando Fred começou a falar, em tom mais baixo.

—Tudo o que precisamos fazer é esperar até amanhã, o dia em que o papai estará trabalhando até mais tarde, e então vamos escondido até a garagem, pegamos o carro emprestado, voamos até a casa de Harry e o trazemos para cá antes de papai chegar ou mamãe dar por nossa falta! - ele declarou, como se fosse muito simples, e dando um sorriso satisfeito quando se virou para fazer um "high-five" com o irmão gêmeo.

—E você acha simples fazer tudo isso sem a mamãe perceber? - perguntou Rony, desconfiado e hesitante.

—Ah Rony, qual é! É seu amigo que está precisando. - Jorge retrucou, sem abrir mão do tom animado - E depois, se conseguirmos sair sem ela perceber, na volta a gente vê no que dá.

—Certo, certo! Vamos fazer isso então! - concordou, Rony levantando-se.

—Ótimo! Missão "Weasleys ao resgate" está em operação! - disse Fred, se levantando de um salto. Jorge havia feito o mesmo e Rony estava com um esboço de sorriso no rosto, quando algo em sua cabeça o fez hesitar.

—Mas, espere aí... Quem é que vai dirigir o carro? - perguntou, intrigado.

—Rony, Rony... Não seja tão ingênuo! - Jorge emendou, bagunçando os cabelos do irmão antes de caminhar até a porta - Deixa com a gente! - falou por último, saindo do quarto depois de Fred com uma piscadela para o mais novo.

Entre toda a animação e a sensação de mais confiança agora que os irmãos o ajudariam, Rony também ficou incrédulo por receber ajuda dos gêmeos: eles nunca haviam sido realmente próximos dele - na verdade sempre se juntavam para zombar dele, sobretudo quando era ainda menor -, mas ao que parecia, desta vez finalmente seria uma aventura a três.

(...)

No dia seguinte, os irmãos tentaram não dar bandeira de que estavam se preparando para executar qualquer plano - sobretudo um tão audacioso quanto "furtar o carro do papai para sair às escondidas e resgatar Harry" soava. Eles precisavam esperar que Molly fosse dormir para que pudessem pegar o carro, então logo após o jantar os três inventaram desculpas para irem para o quarto cedo e esperar que a mãe fosse se recolher - já que o pai voltaria só mais tarde.

Rony entrou debaixo do lençol, de roupa e tudo, e ficou esperando a mãe passar para lhe desejar boa noite, como em todas as noites, para que ela pensasse que ele estava realmente dormindo. Depois que ela saiu e ele ouviu o som de seus passos cessar, Rony desceu devagar, procurando não fazer barulho, e foi se encontrar com os gêmeos na porta da garagem - que estavam entocados num canto mais escuro, de olhos ansiosos virados para a Toca.

—Finalmente. - Fred sussurrou, assumindo uma postura animada, quando quis saber - Tomou cuidado para não fazer barulho? Percy é como a nossa própria Madame Norrra da Toca, ouve todas as coisas e corre pra contar pra mamãe.

Jorge assentiu com a cabeça à comparação engraçada, concordando com um sorriso travesso, enquanto Rony se concentrava em colocar os sapatos.

—É claro, desci descalço. Não fiz barulho algum. - afirmou, se levantando.

—Ótimo, então vamos logo. - completou Jorge, se virando para a garagem - É um pouco longe e temos pouco tempo até papai voltar.

Assim, os três abriram a porta da garagem e tiraram o carro devagar, empurrando-o até saírem do quintal da casa para só então ligarem o motor barulhento. Fred foi ao volante e Jorge a seu lado, com Rony no banco de trás.

—Agora vejamos... Se bem me lembro, quando papai mostrou, este botão faz o carro levantar voo... - Fred apertou o botão que indicava e o carro começou a flutuar.

—Uau! - exclamou Rony, olhando pelas janelas.

—E agora esse aqui... - ele mostrou um tipo de alto-falante, intrigado - Rony, experimente falar o endereço aqui.

Com um pouco de hesitação, mas ansioso, Rony se aproximou do local indicado e falou:

—Rua dos Alfeneiros, 4. Little Whinging, Surrey.

A bússola do painel começou a apontar para um lugar que não era o norte e Fred acelerou o carro, que começou a flutuar pelo céu, como uma vassoura, girando o volante na direção mostrada pela bússola. Fred e Jorge se entreolharam animados, trocando um toque de mãos, e Rony sorriu no banco de trás, se inclinando para olhar pelas janelas.

—Para que serve este botão? - perguntou Rony, indicando um botão ao lado do volante.

—Esse torna o carro invisível. Mas não vamos precisar, está nublado, entende? Ninguém nos verá, e assim não gastamos o feitiço à toa. - explicou Jorge, e o mais novo assentiu, recostando-se ao banco de trás de novo.

Depois de mais ou menos uma hora sobrevoando pastos, rios, depois prédios, finalmente a paisagem abaixo deles se tornou repleta por áreas residenciais. Nessa altura, a bússola começou a piscar em amarelo e então Fred começou a descida. Ao chegarem na rua dos Alfeneiros, Jorge e Rony se colocaram a buscar pelo número para guiar o irmão que dirigia, e quando o encontraram, sobrevoaram a casa e puderam avistar uma janela com grades e uma coruja branca no fundo do quarto, trancada na gaiola.

—É Edwiges! - disse Rony aos irmãos, mal acreditando que estavam mesmo ali. Harry estava a apenas alguns metros de distância, talvez detrás daquelas grades horrorosas que haviam colocado em sua janela, e então se inclinou para os gêmeos - É aqui mesmo. Encosta mais, Fred.

Dessa forma o irmão o fez. Rony se inclinou pela janela do carro e espiou para dentro do quarto, tentando ver aonde estava Harry. Havia uma silhueta magricela na cama, e então ele chamou, quase num sussurro.

—Psiu! Harry... Ei, Harry!

Quase na mesma hora Harry abriu os olhos e se virou para ele, na janela.

—Rony! – murmurou Harry, deslizando furtivamente até a janela e abrindo-a de modo que pudessem conversar através das grades – Rony, como foi que você... Que é...?

Rony notou que o amigo ficou boquiaberto quando viu o carro flutuando no ar.

— Tudo bem, Harry? – perguntou Jorge, casualmente.

— Que é que está acontecendo? – perguntou Rony, ansioso– Por que você não tem respondido às minhas cartas? Convidei-o a vir nos visitar umas doze vezes e então papai chegou em casa e disse que você tinha recebido uma advertência oficial por usar mágica na frente de trouxas...

— Não fui eu... - Harry explicou, e fez uma cara de confusão em seguida - Como é que ele soube?

— Ele trabalha no Ministério. Você sabe que não temos permissão para usar mágica fora da escola... - Rony lembrou, ainda querendo saber o que acontecera.

— Olha quem fala – respondeu Harry, com um ar de ironia, olhando para o carro que flutuava.

— Ah, isto não conta – respondeu o ruivo com um tom de obviedade, abanando uma das mãos – É só emprestado. É do papai, não fomos nós que o enfeitiçamos. Mas fazer mágica na frente desses trouxas com quem você mora... - ele torceu o nariz, temeroso.

— Eu já disse que não fiz... Mas vai levar muito tempo para explicar agora. - Harry suspirou, e desatou a falar - Olha, será que você pode avisar em Hogwarts que os Dursley me trancaram e não vão me deixar voltar e, é claro, não posso sair usando mágica, porque o Ministério vai achar que é a segunda mágica que faço em três dias, e aí...

— Pare de falar coisas sem sentido – Rony franziu o cenho, desacreditado. Como é que ele podia achar que haviam ido até ali só para falar com ele? – Viemos levá-lo para casa conosco.

— Mas vocês também não podem me tirar usando mágica...

— Não precisamos – disse Rony, indicando com a cabeça o banco dianteiro do carro e sorrindo. – Você esqueceu quem foi que eu trouxe comigo. - ele olhou para os irmãos, indicando com a cabeça.

— Amarre isso nas grades – mandou Fred, atirando a ponta de uma corda para Harry.

— Se os Dursley acordarem, estou morto – comentou Harry, amedrontado, enquanto amarrava a corda bem firme em volta da grade e Fred acelerava o carro.

— Não se preocupe – falou Fred, serenamente –, e dê distância.

Harry recuou para as sombras próximas a Edwiges, que ficou parada e silenciosa. O carro roncou cada vez mais alto e, de repente, com um ruído de trituração, as grades foram totalmente arrancadas da janela, enquanto Fred continuava a subir no ar. As grades balançavam a pouco mais de um metro do chão. Rony, ofegante, guindou-as para dentro do carro. Depois que as grades foram guardadas no banco traseiro do carro, ao lado de Rony, Fred deu marcha a ré até chegar o mais próximo possível da janela de Harry.

— Entre – convidou Rony.

— Mas todo o meu material de Hogwarts... Minha varinha... Minha vassoura... - ele hesitou, com um tom incerto e temeroso.

— Onde está? - Rony quis saber apressadamente, tentando achar o malão por detrás da figura de Harry, no quarto.

— Trancado no armário embaixo da escada, e não posso sair deste quarto...

Rony estava começando a se perguntar como é que fariam aquilo, e pensar nas formas como poderiam ser pegos por trouxas naquele intervalo de tempo, quando olhou de relance para os irmãos e suas expressões entregaram que, ao seu modo, estava tudo sob controle.

— Não tem problema – disse Jorge do banco dianteiro do carro. – Saia da frente, Harry.

Fred e Jorge entraram no quarto de Harry pela janela, feito gatos, e Jorge puxou um grampo do bolso e começou a arrombar a fechadura.

— Tem muito bruxo que acha que é uma perda de tempo conhecer macetes de trouxas como esse – disse Fred –, mas nós achamos que vale a pena aprender essas habilidades, mesmo que sejam um pouco demoradas.

A porta fez um clique e se abriu.

— Então, vamos apanhar o seu malão, e você pega o que precisar do seu quarto e passa para o Rony – murmurou Jorge em instrução.

— Cuidado com o último degrau, ele range – murmurou Harry para os gêmeos que desapareceram no corredor escuro.

Harry fez o que lhe foi dito e depois foi ajudar Fred e Jorge a carregar o malão para cima. Rony, depois de ajeitar as coisas do amigo no carro, inclinou-se para a janela em espera a eles que, pouco depois, apareceram carregando o malão pelo quarto de Harry. Fred pulou a janela de volta ao carro para puxar o malão com Rony, enquanto Harry e Jorge o empurravam pelo lado de dentro. Pouco a pouco, o malão deslizou pela janela.

— Mais um pouquinho – arfou Fred, que estava puxando o malão para dentro do carro. – Mais um bom empurrão...

Harry e Jorge jogaram os ombros contra o malão e ele deslizou da janela para o assento traseiro do carro.

— Muito bem, vamos – cochichou Jorge.

Mas quando Harry subia no parapeito da janela ouviram um guincho alto atrás dele, seguido imediatamente pela voz trovejante do tio de Harry.

— ESSA CORUJA DESGRAÇADA!

— Eu esqueci a Edwiges!

Harry precipitou-se de volta ao quarto na hora em que a luz do corredor se acendeu – agarrou a gaiola, correu à janela e passou-a a Rony. Rony trouxe-a para dentro apressadamente e estava assistindo o amigo subir de volta na cômoda quando viu seu tio socar a porta destrancada e ela se escancarou. Por uma fração de segundo, o tio parou, em seguida deixou escapar um urro como o de um touro enfurecido e atirou-se contra Harry prendendo-o pelo tornozelo. Rony, Fred e Jorge agarraram os braços de Harry e o puxaram com toda a força que tinham.

— Petúnia! – berrou o tio. – Ele está fugindo! ELE ESTÁ FUGINDO!

Mas os Weasley deram um puxão gigantesco e a perna de Harry se soltou da garra daquele trouxa insano, e num minuto Harry já estava no carro e batia a porta.

— Pé na tábua, Fred! – gritou Rony, e o carro disparou de repente em direção à lua.

Harry baixou a janela, o ar da noite chicoteou seus cabelos. Rony olhou para trás e viu os tios e primo de Harry debruçados, estupefatos, na janela.

— Vejo vocês no próximo verão! – gritou Harry.

Os Weasley soltaram gargalhadas e Harry se acomodou no banco, sorrindo de orelha a orelha.

— Solte a Edwiges – pediu ele a Rony. – Ela pode voar atrás do carro. Há séculos que não tem uma chance de esticar as asas.

Jorge passou o grampo a Rony e, um momento depois, Edwiges voou feliz pela janela e ficou deslizando ao lado do carro como um fantasma.

— Então, qual é a história, Harry? – perguntou Rony impaciente, e novamente animado, mas dessa vez com uma sensação mais plena de alívio. – Que aconteceu?

Harry contou que um elfo doméstico chamado Dobby apareceu dizendo que ele não devia voltar a Hogwarts, que corria grande perigo, e descobriu que ele quem interceptara as cartas e por isso Harry estava achando que não tinha recebido nenhuma. Falou que os tios o prenderam no quarto e, como eles haviam visto, colocaram grades em suas janelas, impedindo até mesmo que Edwiges saísse para voar e que ele pedisse ajuda. Por fim, contou que o elfo, numa tentativa de o impedir de ir para a escola, fez um pudim cair magicamente na cabeça da visita do seu tio, o que fez o Ministério pensar que tinha sido ele - daí a denúncia de magia feita fora da escola. Fez-se um silêncio longo e assombroso quando ele terminou.

— Muito esquisito – disse Fred, finalmente.

— Decididamente suspeito – concordou Jorge. – E ele nem quis lhe dizer quem estaria tramando tudo isso?

— Acho que ele não podia – respondeu Harry. – Eu lhe contei, todas as vezes que ele estava quase deixando escapar alguma coisa, começava a bater a cabeça na parede.

Fred e Jorge se entreolharam.

— O quê, vocês acham que ele estava mentindo para mim? – perguntou Harry.

— Bom – respondeu Fred –, vamos colocar a coisa assim... Elfos domésticos têm poderes mágicos próprios, mas em geral não podem usá-los sem a permissão dos donos. Calculo que o velho Dobby foi mandado para impedir que você voltasse a Hogwarts. Deve ser a ideia que alguém faz de uma brincadeira. Você pode imaginar alguém na escola que tenha raiva de você?

— Claro – disseram Harry e Rony, juntos, na mesma hora. Estavam pensando na mesma coisa, Rony teve certeza.

— Draco Malfoy – explicou Harry. – Ele me odeia.

— Draco Malfoy? – perguntou Jorge, virando-se. – O filho de Lúcio Malfoy?

— Deve ser, não é um nome muito comum, é? – disse Harry. – Por quê?

— Já ouvi papai falar nele. Era um grande seguidor de Você-Sabe-Quem.

— E quando Você-Sabe-Quem desapareceu – acrescentou Fred, esticando-se para olhar para Harry –, Lúcio Malfoy voltou dizendo que nunca tivera intenção de fazer nada. Um monte de bosta... Papai acha que ele fazia parte do círculo íntimo de Você-Sabe-Quem.

— Não sei se os Malfoy têm um elfo doméstico... – disse Harry.

— Bom, seja quem for, os donos dele devem ser uma família de bruxos antiga e rica – disse Fred.

— É, mamãe sempre desejou que a gente tivesse um elfo doméstico para passar a roupa – comentou Jorge. – Mas só o que temos é um vampiro velho e incompetente no sótão e gnomos por todo o jardim. Elfos domésticos combinam com grandes casas senhoriais, castelos e lugares do gênero; você não toparia com um na nossa casa...

Rony deu de ombros, concordando, e olhou de relance para Harry, que estava calado e parecia pensar sobre o que acabara de ser dito.

— Em todo o caso, - Rony quebrou o silêncio, incapaz de manter sua animação contida - fico contente que a gente tenha vindo buscá-lo. Eu estava ficando realmente preocupado quando você não respondeu minhas cartas. Primeiro pensei que tinha sido culpa de Errol...

— Quem é Errol?

— Nossa coruja. Ele é velhíssimo. Não seria a primeira vez que desmaia ao fazer uma entrega. - o garoto arqueou as sobrancelhas com um tom de desdém, e continuou - Então tentei pedir o Hermes emprestado...

— Quem?

— A coruja que mamãe e papai compraram para Percy quando ele foi nomeado monitor – explicou Fred do banco da frente.

— Mas Percy não quis me emprestar. - falou Rony- Disse que precisava dele.

— Percy anda se comportando de forma muito estranha este verão – disse Jorge franzindo a testa. – E tem despachado um bocado de cartas e passado um tempão trancado no quarto... Quero dizer, tem limite o número de vezes que a pessoa pode querer dar brilho num distintivo de monitor... Você está se afastando demais para oeste, Fred – acrescentou, apontando a bússola no painel do carro. Fred corrigiu o rumo girando o volante.

— E seu pai sabe que você está dirigindo o carro? – perguntou Harry.

— Ah, não – disse Rony, sequer querendo imaginar a possibilidade –, ele teve que trabalhar hoje à noite. Com sorte conseguiremos guardar o carro de volta na garagem antes que mamãe note que saímos com ele.

— Afinal, que é que seu pai faz no Ministério da Magia?

— Ele trabalha no departamento mais monótono de todos – disse Rony. – O do Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas.

— O quê? - Harry soou confuso, e Rony tornou a falar, explicando.

— Tratam do feitiço lançado em objetos feitos pelos trouxas, sabe, no caso de acabarem indo parar numa loja ou numa casa de trouxas. Como no ano passado, uma velha bruxa morreu e o seu serviço de chá foi vendido a uma loja de antiguidades. Uma mulher trouxa comprou o serviço, levou para casa e tentou servir chá aos amigos. Foi um pesadelo, papai ficou trabalhando depois do expediente durante semanas.

— Que aconteceu?

— O bule de chá endoidou e espirrou chá fervendo para todo lado, e um homem foi parar no hospital com as pinças de açúcar presas no nariz. Papai quase ficou louco, só existe ele e um velho bruxo chamado Perkins no escritório, e os dois tiveram que usar feitiços para apagar lembranças e outros tipos de recursos para abafar o caso...

— Mas o seu pai... este carro...

Fred riu.

— É, papai é doido por tudo que os trouxas produzem; nosso barraco de ferramentas é cheio de coisas de trouxas. Ele desmonta um objeto, enfeitiça e torna a montá-lo. Se ele revistasse a nossa casa teria que se dar ordem de prisão. Mamãe fica danada.

— Aquela é a estrada principal – disse Jorge, espiando para baixo pelo para-brisa. – Estaremos lá em dez minutos... Antes assim, já está clareando...

Uma ligeira claridade rosada tornava-se visível na linha do horizonte à leste. Fred fez o carro baixar um pouco e Rony se inclinou para ver a paisagem.

— Moramos um pouquinho fora da cidade – disse Jorge. – Ottery St. Catchpole...

O carro voador continuava a descer. A auréola escarlate do sol agora brilhava por entre as árvores.

— Pousamos! – exclamou Fred quando, com um ligeiro solavanco, eles tocaram o chão. Tinham pousado ao lado da garagem desmantelada.

Rony percebeu a cara do amigo, olhando tudo ao redor, e teve uma sensação discreta de vergonha subindo até suas bochechas, fazendo-as corar um pouco. Harry provavelmente estava achando aquilo muito estranho e desmantelado, mesmo para uma casa bruxa. Provavelmente não era nada como ele imaginara, nem como tivera. Mesmo na casa dos seus tios, com grades nas janelas do quarto, as coisas deviam parecer um pouco mais... Arrumadas, talvez agradáveis à vista. Quer dizer, ele mesmo, Rony, havia se acostumado: aquela era sua casa desde que nascera - seu lar. Mas, talvez não fosse onde Harry esperara passar o verão quando ele dissera que estariam indo para sua casa.

— Não é muita coisa – Rony se apressou em dizer, encolhendo os ombros, sem jeito. Harry suspirou discretamente e balançou a cabeça.

— É maravilhosa – Harry corrigiu-o, feliz, os olhos cintilando na direção d'A Toca. O amigo sorriu, novamente sem jeito, mas agora de uma boa forma.

Eles desembarcaram do carro.

— Agora vamos subir muito quietinhos – recomendou Fred – e esperar mamãe nos chamar para tomar o café da manhã. Então Rony, você desce correndo e diz: "Mamãe, olhe só quem apareceu durante a noite!" e ela vai ficar contente de ver o Harry e ninguém vai precisar saber que saímos voando no carro.

— Certo – concordou Rony. – Vamos Harry, eu durmo no... no alto...

Foi então que Rony viu a mãe, vindo pela porta da Toca com uma expressão feroz. Seu rosto ganhou um tom verde esquisito enquanto seu estômago embrulhava em ansiedade e seus olhos se fixaram nela, fazendo os outros três se virarem.

A Sra. Weasley atravessou o quintal, espantando galinhas, com aquele semblante que, Rony sabia há muito, dizia que estavam encrencados.

— Ah! – exclamou Fred.

— Essa não! – exclamou Jorge.

A Sra. Weasley parou diante deles, as mãos nos quadris, olhando de uma cara culpada para a outra.

— Muito bem – disse ela.

— Bom-dia, mamãe – disse Jorge, no que ele audivelmente pensou que era uma voz lampeira e cativante.

— Vocês fazem ideia da preocupação que tive? – perguntou a Sra. Weasley num sussurro letal.

— Desculpe, mamãe, mas sabe, tínhamos que...

Os três filhos Weasley eram mais altos do que a mãe, mas encolheram à medida que a raiva dela ia desabando sobre eles.

— As camas vazias! Nenhum bilhete! O carro desaparecido... podia ter batido... louca de preocupação... vocês se importaram?... nunca em minha vida... esperem até seu pai voltar, nunca tivemos problemas assim com o Gui nem com o Carlinhos nem com o Percy...

— O Percy perfeito – resmungou Fred, dizendo exatamente a única coisa que pudera se passar pela cabeça de Rony naquele momento..

— VOCÊS PODIAM SE MIRAR NO EXEMPLO DO PERCY! – berrou a Sra. Weasley, metendo o dedo no peito de Fred. – Vocês podiam ter morrido, podiam ter sido vistos, podiam ter feito seu pai perder o emprego...

Os três filhos se encolhiam conforme ela falava. Já estavam acostumados a receber sermãossermões - afinal, não eram o mais quieto conjunto de irmãos numa casa só ao longo de todo o verão, mas nunca tão longo quanto aquele. Mesmo assim, Rony pensou, tentando absorver o mínimo que pudesse das palavras amedrontadoras que a mãe lhe dizia, aquele era, na verdade, o melhor que podiam ter esperado, cogitando que ela descobrisse - se dessem sorte, ela ficaria tão feliz por Harry estar lá que não os colocaria de castigo, por exemplo.

Enquanto isso, a Sra. Weasley ficou rouca de tanto gritar, até se virar para Harry, que recuou.

— Estou muito contente em vê-lo, Harry, querido – disse ela, num tom ameno completamente diferente – Entre, venha tomar café.

Assim, ela deu meia-volta e entrou em casa, e Harry lançou um olhar nervoso a Rony, que acenou com a cabeça, animando-o a acompanhá-la.

Uma vez do lado de dentro, Harry se sentou à mesa. A Sra. Weasley batia pratos e panelas, preparando o café da manhã um pouco a esmo, lançando olhares feios aos filhos, enquanto atirava salsichas na frigideira. De vez em quando resmungava coisas como "não sei o que estavam pensando" e "eu nunca teria acreditado".

— Não estou culpando você, querido – ela falou para Harry, enquanto servia oito ou nove salsichas no prato dele. – Arthur e eu estivemos preocupados com você, também. Ainda na outra noite estávamos falando que iríamos buscá-lo pessoalmente se você não escrevesse a Rony até sexta-feira. Mas francamente – (ela agora acrescentava três ovos fritos às salsichas) – atravessar metade do país em um carro ilegal, vocês podiam ter sido vistos...

Ela acenou a varinha displicentemente em direção dos pratos na pia, que começaram a se lavar, entrechocando-se de leve ao fundo.

— Estava nublado, mamãe! – exclamou Fred.

— Você fique de boca fechada enquanto come! – ralhou a Sra. Weasley.

— Estavam matando ele de fome, mamãe! – disse Jorge.

— E você! – disse a Sra. Weasley, mas foi com uma expressão ligeiramente mais branda que ela começou a cortar e passar manteiga no pão para Harry.

Naquele momento, Gina apareceu na cozinha vestindo sua camisola longa de sempre. Ela deu um gritinho e saiu correndo, ao que Rony imediatamente se lembrou de esclarecer.

— Gina – disse Rony baixinho para Harry. – Minha irmã. Andou falando em você o verão inteiro.

— É, ela vai querer o seu autógrafo, Harry – disse Fred com um sorriso, mas viu que a mãe o olhava e baixou o rosto para o prato, calando-se.

Nada mais foi dito até os quatro pratos ficarem limpos, o que levou um tempo surpreendentemente breve.

— Putz, estou cansado – bocejou Fred, pousando finalmente a faca e o garfo. – Acho que vou me deitar e...

— Não vai, não – retrucou a Sra. Weasley. – A culpa foi sua se ficou a noite toda acordado. Você vai desgnomizar o jardim para mim; eles estão ficando completamente rebeldes outra vez.

— Ah, mamãe... - ele reclamou, rolando os olhos.

— E vocês dois – disse ela, olhando feio para Rony e Jorge. E lá se ia o pensamento inocente de que ela não os daria castigo algum, pensou o mais novo – Você pode ir se deitar, querido – acrescentou dirigindo-se a Harry. – Você não pediu a eles para voarem naquele carro infernal.

Mas Harry disse depressa:

— Vou ajudar o Rony. Nunca vi fazer uma desgnomização...

— É muito gentil de sua parte, querido, mas é trabalho monótono – disse a Sra. Weasley. – Agora vamos ver o que Lockhart tem a dizer sobre o assunto.

Ela puxou um livro pesado de cima do console. Jorge gemeu.

— Mamãe, nós sabemos como desgnomizar um jardim.

— Ah, ele é um assombro – disse a mãe, naquele tom que Rony já conhecia, e vendo que Harry olhava o livro. – Conhece bem as pragas domésticas. É um livro maravilhoso...

— Mamãe tem um xodó por ele – disse Fred num sussurro muito audível.

— Não seja ridículo Fred – retorquiu a Sra. Weasley, o rosto muito corado. – Está bem, se vocês acham que sabem mais do que Lockhart, podem ir fazer o trabalho, mas tenho pena de vocês se tiver sobrado um único gnomo naquele jardim quando eu sair para inspecioná-lo.

Aos bocejos e resmungos, os Weasley saíram se arrastando, com Harry em sua cola.

— Os trouxas também têm gnomos de jardim, sabe – Harry contou a Rony quando cruzavam o gramado.

— Sei, já vi aquelas coisas que eles acham que são gnomos – disse Rony, com o corpo dobrado e a cabeça enfiada num pé de peônias –, como papais noéis baixinhos e gordinhos segurando varas de pescar...

Ouviram um ruído de alguém se debatendo violentamente, o pé de peônia estremeceu e Rony se levantou.

— Isto é um gnomo – disse, sério..

— Tire as mãos de cima de mim! Tire as mãos de cima de mim! – guinchou o gnomo.

Rony segurou-o à distância enquanto o gnomo o chutava com os pezinhos calosos; o garoto o agarrou pelos tornozelos e o virou de cabeça para baixo.

— Isto é o que a gente tem que fazer – explicou, um pouco mal-humorado com a tarefa. E ergueu o gnomo acima da cabeça ("Tire as mãos de mim!") e começou a rodá-lo em grandes círculos como se fosse laçar um boi. Ao ver a cara de espanto de Harry, Rony acrescentou: – Isto não machuca, você só precisa deixá-los bem tontos para não poderem encontrar o caminho de volta para as tocas de gnomos.

Ele soltou os tornozelos do gnomo: que voou uns seis metros para o alto e caiu com um baque surdo no campo do outro lado da sebe.

— Lamentável! – exclamou Fred. – Aposto que posso atirar o meu bem além daquele toco de árvore.

Harry aprendeu depressa apesar de ter levado uma mordida no seu dedo.

— Uau, Harry, esse deve ter caído a uns quinze metros...

O ar não tardou a ficar coalhado de gnomos voadores.

— Está vendo, eles não são muito inteligentes – disse Jorge, agarrando cinco ou seis gnomos de uma vez. – Na hora que descobrem que está havendo uma desgnomização, aparecem correndo para dar uma espiada. Era de se esperar que já tivessem aprendido a ficar quietos.

— Eles vão voltar – disse Rony. dando de ombros, enquanto observavam os gnomos desaparecerem na sebe do outro lado do campo. – Eles adoram isso aqui... Papai é muito mole com eles; acha que são engraçados...

Naquele instante, a porta de entrada bateu.

— Ele voltou! – disse Jorge. – Papai está em casa!

Os garotos atravessaram correndo o jardim e entraram em casa.

O Sr. Weasley estava largado numa cadeira da cozinha, sem óculos e de olhos, ainda vestindo a roupa de viagem.

— Que noite! – murmurou, tateando à procura do bule de chá enquanto todos se sentaram à sua volta. – Nove batidas. Nove! E o velho Mundungo Fletcher ainda tentou me lançar um feitiço quando eu estava de costas...

O Sr. Weasley tomou um longo gole de chá e suspirou.

— Encontrou alguma coisa, papai? – perguntou Fred ansioso.

— Só encontrei umas chaves para portas que encolhem e uma chaleira que morde – bocejou o Sr. Weasley. – Houve algumas ocorrências feias mas não foram no meu departamento. Mortlake foi levado para interrogatório sobre umas doninhas muito esquisitas, mas isto foi com a Comissão de Feitiços Experimentais, graças a Deus...

— Mas por que alguém ia se dar o trabalho de fazer chaves que encolhem? – perguntou Jorge.

— Só para aborrecer os trouxas – suspirou o Sr. Weasley. – Vendem a eles uma chave que encolhe até desaparecer, de modo que nunca conseguem encontrá-la quando precisam... É claro que é muito difícil processar alguém porque nenhum trouxa vai admitir que a chave dele não para de encolher, insistem que vivem a perdê-las. Deus os abençoe, eles vão a extremos para fingir que magia não existe, mesmo que esteja no nariz deles... mas as coisas que o nosso pessoal anda enfeitiçando, vocês não iriam acreditar...

Rony fez uma careta de quem não gostaria de ouvir o que viria em seguida, porque sabia que aquela seria a deixa da mãe para atualizar o pai sobre o que acontecera.

— COMO CARROS, POR EXEMPLO?

A Sra. Weasley aparecera, empunhando um longo atiçador como uma espada. Os olhos do Sr. Weasley se arregalaram. Ele olhou com cara de culpa para a mulher.

— C-carros, Molly, querida?

— É Arthur, carros – disse a Sra. Weasley, os olhos faiscando. – Imagine só um bruxo comprar um carro velho e enferrujado e dizer à mulher que só quer desmontá-lo para ver como funciona, quando na realidade o enfeitiçou para fazê-lo voar.

O Sr. Weasley piscou os olhos.

— Bom, querida, acho que você vai descobrir que ele estava agindo dentro da lei quando fez isso, mesmo que... ah... tivesse agido melhor se, hum, se tivesse contado a verdade à mulher... Há um furo na lei, você vai descobrir... Desde que ele não tivesse intenção de voar no carro, o fato de que o carro poderia voar não...

— Arthur Weasley, você providenciou para que houvesse um furo nessa lei quando a escreveu! – gritou a Sra. Weasley. – Só para você poder continuar a se distrair com aquela lixaria dos trouxas no seu barraco! E para sua informação, Harry chegou hoje de manhã naquele carro que você não tinha intenção de fazer voar!

— Harry?! – exclamou o Sr. Weasley sem entender. – Que Harry?

Ele olhou à volta, viu Harry e deu um salto. Rony já havia falado do melhor amigo para a família, mas seu pai ainda não pudera conhecê-lo, e ele tinha certeza que estava tão animado com a ideia do que os gêmeos haviam ficado no Expresso de Hogwarts de seu primeiro dia de aula - talvez só menos descaradamente.

— Deus do céu, é Harry Potter? Muito prazer em conhecê-lo. Rony tem falado tanto em...

— Os seus filhos foram naquele carro até a casa de Harry e voltaram de lá ontem à noite! – gritou a Sra. Weasley. – Que é que você me diz disso, hein?

— Vocês fizeram mesmo isso? – perguntou o Sr. Weasley, ansioso. – E o carro voou bem? Eu... eu quero dizer – gaguejou, enquanto voavam faíscas dos olhos da Sra. Weasley – que... isso foi muito errado, meninos... muito errado mesmo...

— Vamos deixar eles discutirem – Rony sussurrou para Harry quando a Sra. Weasley inchou como um sapo-boi. – Vamos, vou lhe mostrar o meu quarto.

Os dois saíram discretamente da cozinha e seguiram por um corredor estreito até uma escada irregular, que subia em zigue-zague pela casa. No terceiro, Rony indicou o quarto da irmã.

— Gina – explicou Rony, e emendou – Você não sabe como é estranho ela estar tão tímida. Normalmente ela nunca para de falar...

Eles subiram mais dois lances e chegaram ao quarto dele.

— O seu time de quadribol? – perguntou Harry depois de olhar cada detalhe do quarto.

— O Chudley Cannons – disse Rony, apontando para a colcha laranja, que exibia um brasão com dois enormes C's pretos e uma bala de canhão em movimento. – Nono lugar na divisão.

Rony observava Harry um pouco apreensivo, esperando um comentário sobre seu quarto e, com pensamentos parecidos com o que tivera ao apresentá-lo à vista da Toca, resolveu justificar:

— É meio pequeno – disse depressa. – Nada como aquele quarto que você tinha na casa dos trouxas. E estou bem debaixo do vampiro no sótão; sempre batendo nos canos e gemendo... - ele fez uma careta, encolhendo os ombros.

Mas Harry, com um grande sorriso, disse:

— Esta é a melhor casa que já visitei.

As orelhas de Rony ficaram vermelhas, da mesma forma que as bochechas outra vez, e ele sentiu algo ameno encher seu peito, uma sensação mais abrangente e doce do que alívio, que o fez sorrir longamente antes de desatar a falar animado, mostrando todas as coisas simples que havia ali, mas que pensava que Harry pudesse gostar - como fora com a Toca.

 


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Notas finais do capítulo

Coisa mais linda que é a Toca e o Roniquinho orgulhoso dela, não é não? ♥

Nós particularmente amamos escrever esse capítulo, então esperamos que vocês tenham gostado de ler também - aliás, nos deixem saber o que acharam nos comentários!

Se cuidem e até o próximo! ♥



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