O babá do rock escrita por Suoflya


Capítulo 1
Capítulo 1- Heavy metal de ninar




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Brasil – Rio de Janeiro, Rj: Mansão dos Kim’s, verão de 2021.

O sol alto indicava que era de manhã, provavelmente umas nove, porém isso ao menos importava para si no momento, afinal tudo que conseguia era se xingar mentalmente pela infeliz quebra de ciclo, pois estava tão acostumado a levantar somente as duas da tarde que tudo parecida estranho demais. Em frente a uma extensa porta de madeira, a qual para Jungkook deveria valer mais do que ele, seus órgãos e todas as ações da agência de seguros de sua família, lógico que uma opinião exagerada, mas quem hoje em dia não age assim mesmo?

O jovem mantinha uma respiração pesada, nervoso, talvez? Buscava a coragem que jurava ter de sobra para tocar o luxuoso interfone e por fim, começar toda aquela ladainha de ter responsabilidades de um adulto que seu pai tanto insistia, sem contar que se mantinha empenhado a esfregar bem no seu nariz que era apto a isso, assim pensava.

Okay, okay... decerto se iniciarmos dessa forma, provavelmente alguém sequer vai entender alguma coisa, não? Então, seguindo o obvio, iremos do começo.

O babá do Rock

Com o mais caro dos fones em seu ouvido, Jungkook parecia esquecer completamente do mundo a sua volta, batucava na mesa do desjejum ao ritmo de Metallica, pois dizia para si mesmo que essa era a única maneira possível de começar bem o dia. Como já imaginado, ou não... ao menos era daqueles garotos prodígios e muito menos o padrão esperado para aqueles adolescentes problema que gostava de rock; na verdade nem adolescente era mais, mesmo que incisivamente ainda agisse como um.

Era um homem alto na medida do possível, desajeitado e com cabelos na altura de seus ombros em um corte de gosto duvidoso, no qual insistia de pés juntos fazer parte de seu estilo e não dá preguiça que sentia de ter que arrumá-lo todo o mês. Sempre trajava óculos de armação redonda, os quais se mantinham tão tortos que só deus sabia como ele ainda conseguia enxergar com aquilo e não era por menos que os odiava, só não mais que o papinho de “seja um homem responsável” qual seu velho teimava por tentar colocar na sua cabeça, mas sua baixa adaptação as lentes, praticamente o obrigava a ter que usá-lo.

Cantava baixinho e usava as colheres até então em cima da mesa como baquetas o que lhe gerou um olhar de tremenda repreensão de sua irmã mais velha Mirae, a moça já tinha até desistido de um dia fazer o cabeça dura do seu irmão entender que não era educado ouvir música ou performar um show quando faziam suas refeições. O mais velho da casa, o pai de ambos os jovens, lia calmamente seu jornal e agradecia a todos os deuses possíveis por seu filho estar quieto, isto é, sem toda aquela ladainha de astro do rock e audição fora do Estado. Bom, ele tinha comemorado cedo demais...

O aspirante a roqueiro, amante de heavy metal e bateria, possuía um grande sonho, daqueles que ele se negava a desistir mesmo que ao menos tivesse uma oportunidade; participar da audição para sua banda favorita e mais comentada do momento: Pyotr Bulykin, nome que se perguntasse aos membros possivelmente eles sequer saberiam a pronúncia correta. Talvez aquela fosse a sua chance de levar o seu som para o mundo e vivenciar toda a adrenalina de tocar em um palco de verdade, só de pensar em algo parecido, seu coração acelerava e sua mente divagava por seus anseios.

— Hanbin! — sorriu amarelos e abaixou o volume da sua música, tentaria mais uma vez convencer o seu velho que seria um bom negócio apoiar a sua carreira musical. Sua irmã já imaginava o que viria a seguir, não tardou a revirar os olhos e bufar logo em seguida, era sempre assim, nenhuma mísera manhã ele deixava passar, sempre a mesma insistência. — Vendo o seu bom humor hoje, vejo que deu tudo certo lá com a Júlia, não? — fingiu interesse, Júlia era mais uma das namoradas de seu pai.

— Jeon Jungkook... — sim, nome completo: assustador não? — Se for me encher o saco de novo sobre ir para São Paulo — Esquece! — Sei que é meu filho, vejo que tem talento, mas sinceramente não dá! — soou firme enquanto bebericava seu café ainda quente. — Tu ao menos tem maturidade para ir a um mercado local sozinho, quiçá outra cidade. — Vai me dizer que não lembra de quando tu quase foi preso por ter esquecido de pagar as compras?

— Foi só um erro, nunca mais rolou... — tentou se defender, porém ninguém ali levara em consideração o que ele afirmava.

— Só um erro? Pontuaria todos os outros aqui, mas perderia um dia inteiro e você ainda teria a cara de pau de se fazer de sonso. — suspirou, fechou o jornal e encarou o filho que o olhava com cara de tédio. — Enquanto não me provar que posso confiar em você, não tem minha permissão, não importa se você tem vinte ou trinta e cinco anos. — levantou e apoiou a xícara na mesa. — Gostando ou não, ainda sou o provedor dessa casa e enquanto eu pagar tua mesada, você tem a obrigação de me obedecer.

Os Jeon’s devido a sua aparência, inegavelmente poderiam ser comparados a uma família imigrante coreana pouco convencional e diante desse fato, Jungkook ao menos tivera grandes problemas enquanto crescia ao meio de tudo isso; seus pais mal conseguiram ficar cinco anos casados, seus valores e sonhos conflitaram tanto que chegou um momento onde a fadiga falara mais alto e ambos optaram amigavelmente por seguir seu próprio caminho. Podia se dizer que sua mãe era uma grande inspiração, talvez até a maior delas pois se sentiria em uma tremenda saia justa em uma comparação com sua banda favorita, ela quem fora a principal responsável pelo intenso interesse pela música, afinal sempre que se sentia triste, a lembrança de quando a acompanhava em seus ensaios no teatro o acalentavam e a melodia feita pela sua voz o fazia ter força para bater de frente com tudo. Sim, ela era uma atriz, daquelas perceptivelmente egocêntricas e que viajavam por todo o país devido a incansável rotina de suas apresentações, tal situação fizera com que ela não fosse muito presente, mas sempre que podia dava o seu melhor para nunca sair da mente de seus dois filhos, mesmo que isso resultasse em alguma confusão.

Já seu pai, Jeon Hanbin era o extremo oposto, uma pessoa considerada tão monótona para si que as vezes achava que se ficasse por um longo período de tempo o observando cairia no sono de tanto tédio, um homem que raramente via a necessidade de bruscas mudanças, na qual sua vida baseou-se em tentar criar seus filhos, por mais que achasse que tinha falhado miseravelmente com um deles. Mas como qualquer ser humano, também tinha uma falha na sua personalidade quieta e reservada, afinal era um tremendo de um Casanova, quem desde então vinha por ter relacionamentos tão fracassados como fora seu casamento, além disso, geria uma empresa de seguros que sua família fundara assim que chegara no Brasil. Eles viviam uma vida confortável, isto é, sem muitas dificuldades, habitavam uma casa grande e um bairro tranquilo.     

— Olha pai, sei que não passo de um filho da puta encostado. — murmurou um pedido de desculpas a mãe pelo péssimo adjetivo não merecido que lhe dera. — Mas sabe quando você só se ver fazendo algo no futuro e nada além disso parece fazer sentido?

— Também pensava que a sua mãe seria a última mulher da minha vida... — comentou. — Entendo esse teu lado jovem, impulsivo que só parece funcionar no famoso e preocupante “tudo ou nada” — fez aspas com as mãos para enfatizar. —  Mas você não tem mais quinze anos, agora são quase vinte poxa e você ainda não se desvencilhou dessa fase. — suspirou cansado. — Sei como se sente, mas essa conversa vai ter que terminar por aqui. — afirmou e levantou-se da mesa, antes de sair despediu-se da filha que ouvia quieta a conversa dos dois.

O aspirante a roqueiro olhou para irmã que mexia em seu celular, parecia ocupada e estava bem arrumada, logo mais também teria que sair e ir até seu trabalho.

— Você quer que eu converse com o pai, não é? — questionou e direcionou o olhar ao caçula que parecia mais aqueles cachorrinhos pidões. — Faço isso se você me prometer que irá arcar com todos os custos. — apoiou o aparelho na mesa e cruzou os braços. — Vai ser a única maneira de fazer com que o pai te leve a sério, arranjando um trabalho e resolvendo as coisas como um adulto. Se me prometer cumprir isso, tentarei convencê-lo a deixar você ir. — não precisara nem sair da mesa para receber um abraço mega apertado de seu irmão que jurou para a mais velha que honraria o acordo, pois bem, não deveria ser tão difícil assim arranjar um trampo, assim pensava.

O babá do rock

Com a luz apagada, som no volume mais alto que podia e um incenso de capim de cidreira aceso, que ele alegava ser ótimo para se manter calmo, Jungkook se encontrava estirado sobre a sua enorme cama pensando na vida e no que diabos faria para colocar ela nos “eixos” de seu velho; seu quarto era todo escuro, trabalhado no clichê de algumas paredes pretas que contrastavam com uma de cimento queimado, miniaturas de jogos, figuras de ação que ele ficava muito puto quando as comparava com “simples bonequinhos” e vários posters de bandas espalhados pelas mesmas. Um adendo, não era uma bagunça, pois possuía aversão a própria.

É indubitável que precisava mais do que tudo arranjar uma forma de conseguir um trampo, cogitou em chorar para irmã novamente, mas em um surto de coerência e bom senso pensou que não era a melhor alternativa, mandou mensagem e áudios de suplicas para seus dois primos que também se encontravam no país, Taehyung e Jimin, ambos parceiros dos mais variados crimes infantis, mas como o de todo esperado, nada de muito relevante sairia dali, com isso, primeiro o Kim chegou com um papo estranho que estava precisando de uns comerciantes de boa pinta para suas paradinhas e que ele era per-fei-to; totais palavras dele, tal a oferta fora recusada com sucesso. Em seguida o Park veio com uma ideia bastante semelhante a prostituição onde lucraria cinquenta por cento de tudo, por fim, só lhe restou a opção de visitar o pai dos burros, o google, e entrar em um fórum de desesperados para anunciar sua cabeça por um preço mais baixo que convencional.

Todas as vagas meramente interessantes para si, vulgo com salários acima de 25 reais a hora, ademais sempre pedia coisas complicadas como domínio do word, excel, power point, programas que só de Jeon saber da existência tornava-se um bom motivo para uma comemoração e a única objeção na qual se enquadrava era o domínio do inglês, pois como o bom roqueiro que era, na sua cabecinha avoada ele precisaria saber e o fez. Depois de quase vinte minutos procurando, decidiu abaixar seu nível e aceitar a primeira oferta que caísse sobre seu colo, ou seja, candidatara-se a babá, pois além de um salário estranhamente alto, leu as reclamações e xingamentos de várias pessoas na página, logo presumiu que deveriam estar desesperados também. Bom, suspirou cansado, era isso ou tornar-se uma das putas de Jimin, o que de longe parecia boa coisa.    

Agora sim, podemos de fato voltar de onde começamos...

Brasil – Rio de Janeiro, Rj: Mansão dos Kim’s, verão de 2021.

Não tardou para que todo o suspense e curiosidade que assolava a pobre mente de Jungkook sobre aquela riquíssima residência fosse sanado quando uma jovem moça abriu a porta, minutos antes ele já se encontrava cogitando diversas e infundadas teorias mirabolantes sobre os atuais moradores. Ela usava um uniforme simples de doméstica, o que Jeon estranhou, afinal quem hoje em dia mantem esse costume? E tinha um sorriso bonito, mas estranhamente suspeito estampado em seu rosto, ele também reconheceu os traços asiáticos em si e depois que a mesma lhe disse seu nome, Liz Loan e animada contou sobre sua família, ou seja, sobre seus avós maternos vietnamitas, teve de fato certeza. Empolgada com a nova cara e com uma possível ajuda, a jovem o guiou para dentro do local e quando ele colocou os pés, ficou incrédulo que tudo parecia ainda mais caro que na sua imaginação, somente a sala de estar deveria valer uma fortuna. Pediu para que ele esperasse sentado em um dos sofás bege, pois chamaria a governanta com quem ele provavelmente tinha conversado e fingido ser o mister simpatia pelo telefone.

Muitas pessoas próximas de si ao menos saberiam dizer se Jungkook era um cara inconsequente ou apenas burro, afinal não tivera um pingo de noção de apagar mesmo que de forma sutil esse seu lado roqueiro desajeitado, pois lá estava ele com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo desleixado, blusa clássica de sua tão amada Steppenwolf, jeans rasgado de lavagem clara, coturnos e com uma nítida visão as tatuagens em estilo oriental que fechava os seus dois braços, quem o visse de longe julgariam tudo, menos com um candidato a babá de duas crianças entre cinco e sete anos, mas enfim, ele não tinha escolha, era isso ou nada.

— Você deve ser o jovem Jeon... — uma senhora que devia estar no auge de seus sessenta anos entrou no cômodo, estarrecida, ao menos conseguira terminar a frase na qual pensará em falar. O analisou por completo e murmurou algo inaudível, o suficiente para que o único rapaz ali presente gelasse e já se desse como causa perdida. Sua percepção sobre aquela mulher fora péssima, imediatamente a associou aquelas velhas diabólicas de filmes ruins de terror, ainda mais depois que a mesma nem mesmo sorrira falsamente para si. — Tem experiencia com crianças? — ela sequer acreditava que um cara daqueles estava bem na sua frente através de um cargo como aquele, o mundo realmente tinha mudado, assim pensava. Jungkook assentiu com a cabeça, digamos que não era ao todo uma mentira, sua idade mental e imaturidade se assemelhavam a uma mesmo. — Por fim, o que faz alguém tão peculiar procurar esse emprego?

— Grana curta — soou direto e a mais velha o repreendeu mentalmente. — E também curto crianças tanto quando eu curto rock. — mentiu descaradamente e seu semblante de nada de fato fazia aquilo ser convincente.

— Por que acha que vai conseguir esse emprego? — seus olhos azuis pareciam enxergar através de sua alma de tão séria que era a sua expressão. — Diga-me um motivo para que tenha confiança de deixar duas crianças pequenas a seus cuidados?

— Bom... — tentou o seu máximo para formular uma boa resposta, tinha que arranjar uma maneira de enrolar a mais velha, até que lembrou de algo que poderia o ajudar e muito, das inúmeras reclamações que já tinha visto naquele anúncio, ou seja, concluiu que nenhuma babá aguentava ficar naquela casa. — Percebi que sempre estão à procura de alguém, creio que sempre desistem do trabalho, não? Eu garanto que serei tanto responsável como a última babá — fez aspas com as mãos ao pronunciar a palavra “última” no feminino. — Pois se eu não aguentar esse trampo, terei que dizer adeus a São Paulo, minha carreira de sucesso e todas as minhas futuras apresentações.

— Pois bem, você começa amanhã. — não precisou nem terminar a frase para que o mais novo se sentisse aliviado. — Já aviso que essa casa tem regras, câmeras e as crianças são umas verdadeiras pragas, fiquei aí por um tempo que já pegarei o manual de comportamento que seguimos por aqui. — retirou-se por alguns minutos e voltou com um grosso e pesado livro em mãos. — Sugiro que tire hoje para dar uma olhada, o patrão detesta funcionários despreparados. — o guiou até a saída. — Às nove em ponto menino Jeon! — relembrou. — Até! — ao menos esperou que fosse embora para fechar a porta, mas Jungkook jamais se importaria com algo do tipo.

Na manhã seguinte, antes mesmo das sete o roqueiro já se mantinha de pé, tomou um longo e relaxante banho, no qual encenou uma de suas fictícias apresentações e comeu calmamente seu desjejum feito pela sua irmã que o encarava surpresa devido ao horário e pelo fato dele realmente ter arranjado um trabalho. Antes de adormecer, até se arriscou a ler o tedioso manual e viu mais do obvio escrito nele, era extremamente proibido cigarros, maconha e qualquer tipo de drogas tanto licitas ou não, o que convenhamos não faria a menor diferença para si, pois estava limpo desde os quinze e meio q se orgulhava disto. Também suas roupas, para sua infelicidade foram censuradas, isto é, nada de jeans rasgado, coturno e até mesmo seus brincos, com isso só lhe restou em inconsequentemente ignorar um dos termos e colocar uma camisa da banda Aerosmith, afinal ainda tinha que preservar seu estilo, porém a contragosto teve que colocar um casaco por cima para evitar reclamações logo no primeiro dia.

Já á frente do casarão, o aspirante a baterista conferiu seu relógio e viu que estava alguns minutos adiantados, comemorou orgulhoso e tocou o interfone confiante, não demorou muito para que Loan atendesse, lhe dirigiu um sorridente “bom dia!” e o guiou para onde mais tarde ele catalogaria como semelhante ao inferno, melhor dizendo até as crianças.

— Pessoal deem as boas-vindas ao novo babá de vocês, Jungkook! Ele quem irá cuidar de vocês a partir de hoje. — chamou atenção dos pequenos pestinhas que não demonstraram felicidade ou sequer uma reação positiva depois da notícia. — Então, qual dos dois anjinhos vai se apresentar primeiro? — era nítido que nem ela mesma acreditava em sua própria fala. Sua sugestão fora ignorada com sucesso, com isso a jovem simplesmente desistiu e os apresentou. — Bom... Jungkook, não é? Aquela ali desenhando uns bonecos estranhos é a Alice Kim, por ser mais velha — apontou para uma menininha de no máximo sete anos, franjinha e com pequenos é curiosos olhos. — Talvez seja um pouco difícil de lidar, mas com o tempo você acostuma... Assim espero — murmurou. — Aquele entre os carrinhos e penteado tigelinha é o Benjamin, ele é um amor, porém um pouco manhoso e também o que mais se assemelha ao Sr.Kim — sorriu ao falar do patrão. — Pode ter a certeza que não vai lhe trazer problemas. Seus pais são divorciados tem dois anos, acho que deve ser por isso que meio que expulsam todas as babás que ousam trabalhar por aqui, mas enfim, tenho muita coisa para lidar agora. — Boa sorte! — sussurrou e em seguida voltou aos seus afazeres.

— Então crianças, o que gostariam de fazer por hoje? — o baterista deu o sorriso mais falso que conseguira e inclinou-se para ficar da altura dos mesmos. — Montar um tedioso quebra-cabeça, ler algum livro piegas ou brincar de algum pique lá no jardim?

— Gostaria que você saísse por aquela porta. — a tal de Alice soou sincera, até demais... — Ou um futebol com esse capacete ridículo que você chama de cabeça — ácida também, o mais velho deles via que ela seria um belo de um trampo de se lidar. — Talvez assim o pai passe a ficar mais tempo com a gente. — voltou a atenção a colorir as coisas bizarras que estava fazendo, quais Jeon as apelidou carinhosamente de demônios, com aquela fala o roqueiro já tinha entendido tudo, compreendia, porque por um breve momento havia passado pelo mesmo que essas crianças, mas ainda assim era orgulhoso demais para se deixar humilhar por pirralhos.

— Então a tampinha aqui acha que expulsar qualquer babá que pretender trabalhar aqui vai chamar a atenção de seu velho? — riu e continuou a inclinado até a altura da mesma. — Deveria mudar de tática, pois essa já está batida não? No máximo ele vai continuar contratando desesperados como eu que precisam desse trabalho e quando desistirmos jogará vocês em qualquer colégio interno para apodrecerem. — okay, ele havia pegado pesado com a garota, sabia disso mais do que ninguém, porém negava-se a pedir desculpas ou a admitir isso. Logo após a fala infeliz, os olhos da menininha se encheram de água, sim, ele tinha a feito chorar, xingou-se tanto mentalmente que provavelmente gastou todo o seu extenso vocabulário de palavras chulas, sem saber o que fazer e na tentativa de evitar que notassem a barulheira que era o choro desesperado da menina, tampou a sua boca.

— Olha Alice... — diminuiu drasticamente o tom de voz anterior na tentativa de parecer mais aconchegante. — Eu menti tá bom? Esses colégios nem existem mais, tudo coisa da minha época, agora trate parar de chorar, hm? —  nada que ele fizesse seria capaz de impedir que a menina protagonizasse um tremendo escândalo, tanto que ele já podia ver sua temida carta de demissão bem na sua frente, o olhar decepcionado de sua irmã e a cara de deboche de seu pai, ainda com as mãos cobrindo os lábios da menininha ele ao menos cogitou que seria mordido, porém ela o fez e por fim saiu correndo, já Benjamin o encarava com um semblante confuso, sinal que deveria não ter entendido nada da conversa anterior para a sua sorte.

Estava tarde e pode se dizer que seu dia fora longo e cansativo, pois em síntese fora repleto por incontáveis pegadinhas feitas pelos monstrinhos, como ele os apelidou carinhosamente. Em menos de algumas horas ele já tinha rolado escada abaixo, tomado um belo e gelado banho de tinta, sido forçado a lanchar barata e por fim enquanto adormecera, acabara com palavras como “idiota” e “Bundão” escritas em colorido bem no meio de sua testa. Seria uma tremenda mentira se ele dissesse que não estava exausto, mas tentou convencer a si mesmo que todo esse esforço valeria a pena no final, ou seja, insistia em enganar a si mesmo com o seu falso lado otimista.

A noite já se fazia presente, com as crianças banhadas e alimentadas, Jungkook se via na mais difícil de todas as suas tarefas: colocar elas na cama e induzi-las ao sono. Durante o dia inteiro as próprias gastaram energia como loucas, entretanto ainda assim pareciam ligadas aos duzentos e vinte volts de tão elétricas; Benjamin puxava a sua calça praticamente implorando para que lesse uma história, daquelas cheias de dragões e princesas que de tão entediante faria com que o roqueiro preferisse a morte, enquanto carregava entre os braços um medonho ursinho de pelúcia, Alice o ignorava, mas já não era mais nenhuma novidade.

O aspirante a roqueiro estava pronto para entrar em colapso até que deve uma ideia, uma bem péssima por sinal. Conseguiu persuadir os então monstrinhos e os levou até suas camas, isto é, prometera que cantaria uma música para que eles dormissem, gabou-se tanto de seus dotes musicais que até mesmo a mais velha que ao menos o respeitava pareceu interessada. O velho deles ali perdeu alguns preciosos minutos pensando em seu repertório para enfim escolher a canção perfeita, assim achava.

“Todos os dias eu penso no que você fez

Viver a vida não é grande coisa com toda essa merda

E por que eu fico insano por tudo isso”

— Blow it away; Adema

Para Jungkook, era imprescindível não o considerar um ótimo cantor, alguma vez o outra arriscava como vocalista, até cantara como quebra galho em uma boate perto de seu bairro, mas sua paixão era nada mais além da bateria, o primeiro instrumento que ganhara quando completara onze anos, mesmo que isso sequer seja relevante agora; à medida que cantava, a letra, o som inebriante da bateria em que só podiam ser ouvido por si, o cativara de uma forma que o próprio acabara por se empolgar, em um nível tão extremo que se encontrava a usar as girafas de Benjamin como baquetas, um verdadeiro show de horrores.

Você vai acordar um dia morta por dentro porque você está só e não da minha vida

Eu penso em você as vezes e quero te matar”

Uma ótima canção para se ouvir antes de adormecer, não? O aspirante a roqueiro se mantinha tão inerte no momento que sem ao menos perceber praticamente gritava o refrão da música.

“ESTOU FICANDO LOUCO ESTÁ NOITE E VOU EXPLODIR”

Caso não já bastasse, insatisfeito, ele além de ter agitado ainda mais as crianças, proporcionando-as um considerável trauma ou até possível pesadelo; conseguiu fazer com que o mais novo dos dois desabasse de tanto chorar. Com isso, agora ele sequer possuía alguma noção de como reverter tudo aquilo, para piorar ouvira passos pesados pelo corredor, o qual para sua sorte era enorme, isto é, levava alguns poucos minutos até o quarto onde estava, sabia que se não pensasse rápido, provavelmente se encontraria no olho da rua, isto mesmo, demitido no primeiro dia, tornar-se-ia a piada da casa, entretanto, talvez fosse o desespero, começou a tatear seus bolsos na tentativa de encontrar alguma guloseima, mas só achou um pedaço bem pequeno de um de seus incensos de capim cidreira, jamais entenderia como fora parar ali, mas sua mente lhe dizia “tudo ou nada”, acendera e rezou para que funcionasse, para sua sorte, não tardou que os pequenos adormecessem e o quarto ser inundado pelo aroma relaxante da erva.

Minutos depois a porta fora aberta, era a governanta, quem estava mais assustadora do que nunca, surpresa com o silêncio e com o fato do jovem ainda se encontrar inteiro, o agradeceu e o levou até a porta, afinal sua hora terminara tinha um tempo. Assim que deixou a residência, o aspirante a roqueiro suspirou aliviado, tinha sido por pouco que concluíra seu primeiro dia, não se podia falar que fora um sucesso, mas pelo menos ainda mantinha-se no emprego, foi ali que o Jeon decidiu que nunca teria filhos, uma pena, pois a vida parecia não muito favorável a essa decisão.

No jardim, muito atraente por sinal, verde e cheio de rosas e outras flores que ele não sabia ou ao menos se interessava para descobrir o nome, acabou por observar a entrada de um luxuoso carro, daqueles que nem vendendo um rim de seus rins se consegue quitar a primeira parcela do veículo; logo em seguida saiu um homem, não era velho, mas seria de uma enorme mentira se dizer que poderia o considerar alguém jovem, devia estar no auge de seus trinta e poucos anos, usava um terno azul petróleo, o qual fazia jus a expressão séria que dominava seu rosto, era moreno, bonito, mas ainda assim sua presença lhe causava arrepios na espinha, “Tá aí o motivo dos monstrinhos serem assim” pensou.

Cansado e sem olhar para trás, saiu sem que chamasse a atenção de tal homem, dirigiu-se até onde combinará com seu primo Taehyung para buscá-lo, não que tivesse problemas para encontrar o caminho de casa à noite, longe disso, ele somente queria relaxar, o baterista tentava se enganar.

Felizmente ou não, o Jovem aspirante a roqueiro, Jungkook ainda tinha muito o que percorrer para enfim conseguir provar a seu pai sua capacidade. Porém é que ele não sabia que ao meio de tudo isso, descobriria valores muito mais importantes para a sua vida.


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