Operação Cupido escrita por dearcwllen


Capítulo 1
Capítulo único




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Parte 1

Existem coisas que simplesmente não mudam.

Séculos podem se passar e o Ensino Médio continuará sendo uma tortura, por exemplo. Mas, ao mesmo tempo, nem ao menos milênios fariam minha doce Bella entediante. E é justamente por causa dela - e de Nessie, é claro - que, hoje, eu não usaria a palavra “purgatório” para descrever essa experiência insuportavelmente humana.

Ter ao meu lado minhas duas pessoas favoritas fazia tudo valer a pena. Fazia a minha existência valer a pena. E em dias que eu sentia que isso era muito exagerado, ao menos não me sentia tão solitário.

Nessa nova cidade, apenas eu, Bella, Nessie e Alice estávamos em “idade escolar”. Um grupo muito grande poderia ser muito chamativo. Por isso, Emmett, Jasper e Rosalie frequentavam a universidade. Novos cursos eram menos entediantes.

Apesar de minha querida irmã odiar passar tanto tempo longe de Jasper, ele estava se controlando mais facilmente ao redor dos humanos. E como era a primeira vez de Nessie, queríamos que ela tivesse o maior suporte possível. Tanto tempo isolada de experiências normais poderiam ser um pouco perturbador… eu sei muito bem.

Embora eu também preferisse estar na universidade, não queria ficar longe de minha esposa e filha. Por isso, Bella e eu inventamos nosso pequeno jogo que tornou a rotina escolar mais interessante. 

Enquanto minha adorada companheira tentava adivinhar o que cada aluno estava pensando durante a aula, eu lia suas mentes para saber se ela estava certa. Bella mais errava do que acertava, mas era exatamente sua mente fértil que fazia tudo ser mais divertido. Cem pensamentos humanos não chegavam aos pés da criatividade de minha esposa.

No momento, me encontrava em uma aula insuportavelmente chata de matemática. Anos poderiam se passar e os números continuariam o mesmo… Ao menos em outras matérias novas descobertas e interpretações deixavam as coisas um pouquinho mais animadas.

Inquieto, comecei a prestar mais atenção nas mentes ao meu redor. Era segunda-feira, então as pessoas, embora sonolentas, estavam pensando sobre o que fizeram durante o final de semana. Talvez eu conseguisse captar algo interessante para Bella.

“Se eu tivesse ido dormir mais cedo, talvez não estivesse tão cansada agora…” uma pessoa lamentava, e eu controlei a minha vontade de revirar os olhos. Todo começo de semana era a mesma coisa: adolescentes se arrependendo do que fizeram no sábado e no domingo, desejando terem tomado decisões mais inteligentes.

Entediado, passei para a próxima pessoa. “Não acredito que esse maldito tem a cara de pau de ficar me encarando quando eu literalmente peguei ele com outra no nosso aniversário de namoro!” uma namorada traída pensava, seguindo de várias imagens bastante violentas. Ergui uma sobrancelha, fazendo uma anotação mental de falar para Bella que ela estava certa e a pobre Rebecca realmente estava sendo traída.

Fiquei passando de mente em mente, tentando encontrar uma novidade interessante até o final da aula. Sabia que aquilo era invasão de privacidade e, provavelmente, se eu tivesse uma alma, estaria condenando-a ao inferno, mas o que eu poderia fazer? Um vampiro tinha que fazer sacrifícios para sobreviver ao Ensino Médio pela milésima vez.

Levantei rapidamente assim que o sinal finalmente tocou, saindo pela porta antes mesmo que o professor terminasse de desligar o projetor, e esperei por Bella e Nessie na porta de sua sala. Diferente de mim, elas tinham um pouquinho mais de paciência. Vamos ver daqui cem anos…

Parte 2

— Como foi a aula, minhas estudantes favoritas? – perguntei e Nessie revirou os olhos enquanto Bella me dava um beijo rápido.

— Chata. Como todas as outras. A gente precisa mesmo fazer isso? – minha filha perguntou enquanto a gente andava até a cafeteria, onde Alice esperava por nós.

— A gente já conversou sobre isso, Nessie… Não podemos viver isolados do mundo pra sempre. Principalmente você! Você ainda tem muitas experiências humanas para viver, querida – Bella falou suavemente, passando o braço ao redor dos ombros de nossa adolescente emburrada. 

Quem diria: Bella defendendo as experiências humanas. Parecia que o jogo tinha virado, não é mesmo?

— Humanos são chatos. E as aulas deles também! – ela rebateu e eu não consegui segurar a minha risada.

— Toda essa revolta significa que a Cassie não veio hoje?

Cassie era a melhor amiga humana de Nessie. Incrivelmente, elas conseguiram se conectar de uma forma tão rápida que não demorou nem um mês para fazerem absolutamente tudo juntas. O problema é que, quando a adolescente faltava às aulas, trazia à tona esse lado mais agressivo de minha filha.

Ainda muito tímida, ela não tinha facilidade em fazer amigos fora do mundo sobrenatural. Tinha medo de ser descoberta. O que era compreensível, é claro, mas nada bom para a saúde mental de minha pequena híbrida. Eu já tinha passado pela adolescência como humano, assim como todos da minha família.

Nessie era diferente. E ainda estávamos aprendendo a melhor forma de lidar com isso.

— Eu não nasci grudada na Cassie, sabia?

— Sabia sim! Eu estava lá quando você nasceu, esqueceu? – empurrei os seus ombros de leve e consegui arrancar um projeto de sorriso dela.

— Que seja – resmungou, correndo para a fila pegar o seu lanche, deixando eu e Bella para trás.

— Tá tudo bem? – perguntei preocupado enquanto nos sentávamos na mesa, acenando para Alice.

— Ela disse que a Cassie está estranha, mas tenho certeza de que vai ficar tudo bem logo. Drama de adolescente, amor – falou com um sorriso tranquilizador enquanto engatava em uma conversa com Alice sobre a decoração de nossa nova casa.

Enquanto isso, fiquei analisando minha filha na fila da cafeteria, meus olhos passando pelo ambiente, tentando encontrar sua melhor amiga. Ela havia me feito prometer que não leria a mente de seus amigos, mas eu estava no meu direito de pai ao tentar garantir que tudo estivesse certo, não é mesmo?

Bufei levemente quando percebi que a garota não estava lá, e me virei para Bella quando percebi que Nessie estava vindo em nossa direção, tentando não transparecer que eu ainda estava remoendo o seu comportamento estranho. Dar espaço para as pessoas que eu amo ainda era um pouco complicado para mim.

— Você estava certa, aliás – falei para Bella, deixando-a confusa — Rebecca não conseguia parar de pensar em seu chifre hoje.

Bella tentou conter uma gargalhada, falhando miseravelmente e atraindo a atenção de todos para a nossa mesa. Ignorei os olhares curiosos, focado em minha esposa, analisando todos os seus detalhes. Será que um dia eu me acostumaria com a sua beleza? Eu achava que não. 

Sabia que era impossível, pois assim como eu, ela estava congelada no tempo, mas parecia que a cada dia que passava, ela ficava mais radiante, mais inteligente, mais perfeita, mais… Bella. Sorri enquanto ela me lançava um olhar vitorioso.

— Viu só? Eu não sou nenhuma Alice, mas às vezes eu acerto!

— Vocês deveriam é parar com esse jogo ridículo. É muito feio ficar fuxicando a mente alheia – Nessie resmungou enquanto se sentava, dando uma mordida na pizza de aparência duvidosa em seu prato. — Vocês são meus pais, eu não deveria ter que ensinar o básico, né? – sussurrou a última parte, mastigando furiosamente.

Lancei um olhar divertido para Bella ao mesmo tempo em que minha irmã perguntava:

— O que foi, querida? O jogo nunca te irritou tanto assim – Alice franziu os lábios, confusa. Ser pega de surpresa era raro para ela, mesmo quando envolvia Renesmee; apesar de não ver o futuro de minha filha claramente, ela conseguia ler sua sobrinha como ninguém.

E é claro, o nosso jogo era alvo de discussões com bastante frequência, mas ela parecia mais irritada com isso do que o normal.

— Nada! É só que não é todo mundo que tem o privilégio de ter uma mãe que bloqueia a sua mente de seu pai fofoqueiro.

— Ela está irritada com algo relacionado à Cassie – respondi ao mesmo tempo, recebendo um olhar enfurecedor de Renesmee e Bella.

Dei de ombros, sem ter como me defender. Aparentemente eu era mesmo um verdadeiro fofoqueiro… e foi nesse momento que percebi que Alice estava quieta demais.

— Bella, proteja a minha mente de Edward agora mesmo! – minha irmã ordenou e, mesmo sem entender nada, minha esposa obedeceu.

— O que está acontecendo? – perguntei, o tom de irritação denunciando a falsa calmaria em meu rosto. Não importava o que eu tentasse, não conseguiria passar pela barreira de Bella para visualizar o que minha irmã estava escondendo.

— Ainda é incerto, querido irmão, mas daqui um tempo todos saberemos – falou com um sorriso animado extremamente irritante. Rosnei baixinho, o que só fez o seu sorriso aumentar Relaxa, irmãozinho, é algo bom! Só fui pega de surpresa. Bella, querida, obrigada. Pode deixar que consigo pensar em qualquer outra coisa menos no que acabei de ver de agora em diante.

Parte 3

Não importava o quanto eu insistisse, Alice não iria me falar o que tinha visto. Ela estava focada demais pensando nas decorações de nossa nova casa.

Lancei um olhar enfurecedor à ela quando o sinal tocou e ela foi em direção à sua aula saltitando. “Não se preocupe, irmãozinho. Você vai saber o que eu vi em breve” pensou rapidamente antes de sumir sala adentro.

Revirei os olhos, me sentando ao lado de Bella enquanto Nessie ia em direção ao seu lugar habitual, com Cassie.

Estudei a garota com atenção. Ela parecia um pouco nervosa, mas isso não era tão incomum, principalmente quando estava perto de minha filha. Apesar de ser apenas metade vampira, ela ainda causava esse efeito nos humanos. Bufei de frustração, ainda irritado com Alice.

Bella cutucou o meu braço levemente, erguendo uma de suas sobrancelhas em uma pergunta silenciosa. Logo peguei um pedaço de papel, escrevi rapidamente e lhe passei.

Odeio quando Alice mantém segredos de mim.

Poderíamos sussurrar em um tom tão baixo que ninguém ia perceber? Sim. Mas a troca de bilhetes nos lembrava dos tempos de Forks, então preferíamos manter nossa comunicação na sala de aula assim. O que eu posso dizer? Vampiros também são sentimentais.

Você não pode saber o que se passa na cabeça das pessoas 100% do tempo, Edward. Pensei que tinha aprendido essa lição quando me conheceu ;)

Li sua resposta e sorri levemente, dando de ombros. Parece que algumas coisas nunca mudam. Me habituei tanto a estar dentro da cabeça de minha família que não sabia lidar com segredos muito bem.

Intrigado, voltei a olhar para minha filha e sua amiga, tentando encontrar alguma dica do que Alice poderia ter visto. Por sua surpresa, era algo relacionado à Nessie. Apesar de estar pesquisando mais sobre sua vida de humana e como potencializar os seus poderes, minha filha híbrida ainda era um caso a ser desvendado, assim como os lobos.

Por isso, as visões sobre ela não vinham facilmente, e muito menos de forma independente. O que fazia tudo ficar ainda mais estranho.

Cassie olhava de relance para Renesmee o tempo todo. Apesar do seu medo constante de ser pega em flagrante, parecia não perceber o mundo ao seu redor; estava completamente focada em minha filha. Parecia até mesmo eu com Bella…

“Meu Deus, eu só queria beijar essa boca!”

Um pensamento, que mais parecia um grito, penetrou em minha mente. Fiquei tão surpreso com a intensidade das palavras que demorei um instante para perceber que elas vieram de Cassie. E que ela estava com vontade de beijar Renesmee.

Então era por isso que ela estava tão estranha; não porque não estava mais interessada na amizade da minha filha, mas porque queria algo a mais.

Agora tudo fazia sentido.

Estava tão chocado e perdido em pensamentos que só percebi que o professor de biologia estava falando comigo quando Bella cutucou minha perna violentamente.

Xinguei mentalmente quando percebi que tinha chamado a atenção da sala inteira para mim, ainda tentando assimilar o que estava acontecendo. Foi isso que Alice viu, então? E viu tão claramente porque não envolvia Renesmee diretamente?

— É… – gaguejei debilmente quando minha querida esposa me cutucou de forma dolorosa mais uma vez. Olhei para Renesmee, que parecia preocupada que eu teria uma síncope a qualquer momento — Qual foi a pergunta, professor?

Estava com medo de vasculhar a mente de mais alguém e perceber que ele também estava apaixonado por alguém da minha família.

— Preste atenção na aula, Cullen – respondeu de forma cansada e eu apenas assenti enquanto ele voltava a dar aula. Não consegui deixar de escutar o “Família estranha” que saiu de sua mente, mas não poderia discordar disso, não é mesmo?

Fingi estar prestando atenção no que o professor falava para não causar ainda mais comoção, porém sentia o olhar de Bella e Nessie em mim, indagando o que tinha acabado de acontecer.

Não posso me aparecer tanto, né? Adolescentes normais não têm todas as respostas na ponta da língua. — sussurrei rapidamente, sem precisar mover os meus lábios.

— Você não se importava com isso em Forks – Bella rebateu e eu dei de ombros levemente.

— A prática leva a perfeição. Hoje eu sou um falso aluno melhor – respondi simplesmente, piscando para Nessie.

Senti minha filha mais tranquila, mas Bella me olhou com um semblante de “vamos falar sobre isso mais tarde”.

Eu estava encrencado.

Parte 4

Mal cheguei à pequena estrada de terra que levava até a nossa casa e Renesmee e Alice pularam do carro, correndo e gritando por Emmett. Grunhi baixinho, sabendo que o meu “pane no sistema” seria tópico de conversa pelo resto da semana.

Estacionei calmamente, o que era estranho pra mim; normalmente eu não via a hora de chegar em casa e aproveitar a minha família verdadeiramente, sem ter que fingir ser um humano.

Bella revirou os olhos com a minha clara tentativa de evitar a conversa que sabia que teríamos e saiu lentamente do carro. Em um acordo silencioso, entramos em casa para deixar nossas mochilas e não alarmar ninguém com o nosso sumiço repentino. Teríamos que ir até um lugar privado para conversar, onde não seríamos interrompidos por ninguém.

— A idade finalmente está afetando a sua cabeça, irmão? – Emmett perguntou com uma risada estrondosa e eu lancei um olhar ameaçador para minha filha.

— Ninguém gosta de um sabe-tudo – respondi simplesmente, me sentando ao lado de Nessie no sofá.

 — Ué, mas era só fingir que não sabia a resposta, pai. Você ficou lá todo travado! Foi estranho.

— Humanos são estranhos – dei de ombros e recebi um empurrão de Bella.

— Cuidado com o que fala, bonitão. Você se apaixonou por uma humana, lembre-se disso – minha esposa retrucou e Emmett riu ainda mais alto.

— Você sempre foi muito mais do que uma simples humana, meu amor – respondi suavemente, pegando sua mão e levando-a aos meus lábios em um beijo rápido.

Sabia que, se o coração de Bella ainda batesse, ele estaria completamente acelerado agora, assim como as suas bochechas estariam praticamente vermelhas. Agora os seus sinais eram diferentes: ela mordiscou os lábios, seus olhos presos em minha boca. Sabia que ela estava se contendo para focar no assunto ao invés de me levar para a nossa pequena cabana e usar uma das únicas camas de toda a propriedade.

Sai do meu transe quando escutei Emmett fingindo que estava tossindo a palavra “Gado” e revirei meus olhos.

— Você não deveria estar na universidade?

— Humanos faltam às aulas, Edward. Eu não posso ser um sabe-tudo, né?

— Boa, tio! – Renesmee riu, levantando do sofá para ir buscar sua comida de humana.

— Já que estou sendo atacado, eu e sua mãe vamos sair para correr um pouco. Comportem-se! – seguindo os passos de minha filha, abandonei o sofá e fui em direção à porta, convidando Bella para se juntar a mim com um leve aceno.

— Nessie, querida, não deixe seu tio incendiar a casa. Voltamos logo! – minha esposa assoprou um beijo para os dois e logo estávamos correndo pela floresta.

Eu sempre amei correr pela floresta, sentir o ar em meu rosto e a liberdade em todas as partes de meu corpo. Era um momento em que eu não precisava me preocupar em me esconder ou se estava agindo humano demais; eu poderia simplesmente ser eu mesmo.

Mas nada havia me preparado para a felicidade que seria correr ao lado de Bella. Compartilhar uma de minhas atividades favoritas com uma das pessoas que eu mais amava, e saber que ela sentia o mesmo que eu, quase fazia o meu coração, há tanto tempo congelado, voltar a bater.

Sorri levemente para a minha companheira da eternidade quando finalmente paramos de correr, decidindo que já estávamos longe o suficiente para sermos ouvidos, e a puxei delicadamente para perto de mim.

Com uma mão em sua cintura e a outra em sua bochecha, acariciei levemente a sua pele, observando enquanto os leves raios de sol a faziam brilhar como um diamante.

Houve um dia em que essa simples ideia me assombrava de todas as formas possíveis. Hoje, eu não poderia imaginar uma visão mais gloriosa e mais certa.

Impaciente como sempre, Bella se cansou de esperar e logo me puxou para um beijo. Gemi baixinho contra a sua boca, abrindo os meus lábios para poder dar a entrada que ela tanto queria. Eu não me importaria de passar o resto de minha eternidade exatamente daquele jeito.

Com um suspiro, senti ela se afastando de mim cedo demais.

— O que aconteceu durante a aula, Edward? – perguntou suavemente, um brilho de preocupação em seu olhar.

Me amaldiçoei mentalmente por ter feito ela se preocupar tanto. Sabia que, apesar de anos terem se passado, Bella ainda tinha receio dos Volturi mudarem de ideia e virem atrás de nós. Eles eram pacientes; o tempo não iria fazê-los esquecer tão facilmente de tudo que aconteceu.

— Eu acidentalmente escutei um pensamento de Cassie… – antes que eu pudesse terminar, minha doce esposa tinha me dado um tapa um tanto quanto doloroso no braço.

— Você prometeu à Nessie que não ia ler a mente dos amigos dela!

— Mulher, você precisa parar de me bater! – reclamei, esfregando o braço que ela havia acertado.

— Você nunca reclamou disso antes – disse com um sorriso de lado e eu ri baixinho. — Mas e aí? O que você escutou que te deixou tão chocado?

— Cassie estava pensando… De forma bastante intensa… O quanto queria beijar Renesmee.

A boca de Bella abriu em um perfeito “O” mas, sempre mais rápida e inteligente do que eu, ela se recompôs em poucos segundos.

— Bom, isso explica porque ela anda estranha com Nessie então. Será que é algum tipo de herança genética fazer pobres garotas humanas suspirarem e terem pensamentos pecaminosos durante as aulas? – perguntou se aproximando de mim novamente e eu ri, abraçando-a fortemente.

— Será que Nessie gosta dela também?

— Ela parece bem afetada em relação a tudo que acontece envolvendo a garota, mas não tenho certeza. Ela pode ser bem misteriosa quando quer.

— Hmm, eu me pergunto de quem ela puxou isso – brinquei, beijando o topo de sua cabeça levemente.

— Olha só quem fala! Não vou nem comentar, Cullen... 

Ficamos em um silêncio confortável por alguns minutos. Apesar de não compartilhar os seus pensamentos comigo naquele momento, sabia que Bella, assim como eu, estava pensando em como ajudar nossa filha. Sua possível história de amor não precisava ser tão conturbada quanto a nossa, certo?

— Você poderia levantar o escudo da mente de Nessie por alguns segundos só pra eu ver se ela gosta de Cassie ou não…

— Edward! Você não vai invadir a mente de sua própria filha.

Você não se importa de invadir a privacidade de outros adolescentes diariamente — retruquei e apertei meus braços ao redor de seu corpo, impedindo que ela me desse outro tapa. — Eu tô brincando. Nunca faria isso com ela.

— Eu sei… Invadir a mente dela não é uma opção. Mas dar um empurrãozinho no casal com certeza é. E Alice não vai perder a chance de nos ajudar…

— Você está propondo uma operação cupido, Isabella? –  perguntei em um tom chocado, olhando para ela completamente em choque. Eu esperaria isso de minha irmã, não de minha esposa.

— Sim… É exatamente isso que eu estou propondo – respondeu com um largo sorriso, se inclinando para me beijar.

Tinha a sensação de que as próximas semanas seriam um tanto quanto ocupadas… e malucas.

Parte 5

Já faziam duas semanas desde que eu descobri o interesse de Cassie em minha filha. Já faziam duas semanas que eu, Bella e Alice tentávamos, incansavelmente, juntar as duas. E já faziam duas semanas que a gente falhava miseravelmente nessa tarefa.

Era de se esperar que com uma pessoa que literalmente previa o futuro ao nosso lado as coisas seriam mais fáceis. Mas as milhares de variáveis atrapalhavam tudo, e Cassie estar tão confusa e mudar de ideia o tempo todo, misturado ao fato do hibridismo de Nessie bloquear as visões de Alice, estavam nos deixando de mãos atadas.

— Isso é uma má ideia… – sussurrei enquanto minha esposa se preparava para propor mais uma de suas ideias malucas para as meninas.

— Edward, a única ideia que ouvimos de você nessas duas semanas foi invadir a mente de sua própria filha, então fique quieto e para de criticar! – ela retrucou e eu ergui os braços como em uma rendição. Não custava tentar. Certo? — Cassie, por que você não vai lá em casa hoje a tarde? Assim a gente pode estudar um pouco mais sobre esse autor. Eu estou tendo um pouquinho de dificuldade.

Segurei uma risada. Não sabia o que era mais cômico: Bella, que já tinha um doutorado em literatura, pedindo ajuda de uma adolescente de 17 anos, ou a cara que Nessie fez com o pedido inusitado de sua mãe.

Cassie olhou para Renesmee como se pedindo socorro, mas nossa filha estava olhando fixamente para nós, como se estivéssemos tramando alguma coisa. O que estávamos. Mas ela não precisava saber.

— É, Cassie. Vai ser legal – dei um de meus sorrisos que sabia que ia deixar a menina um pouco desnorteada.

Não me orgulhava em usar esse recurso com alguém tão próximo de Nessie, mas momentos desesperados exigiam ações desesperadas. E eu sabia que Bella iria me matar se eu não a ajudasse.

— Ah… Claro. Vou sim – respondeu e olhou para minha filha nervosamente — Se tiver tudo bem pra você, Ness.

Senti minha esposa estremecer com o apelido e segurei a risada novamente. Ela nunca ia superar.

— Tá sim. Por que não estaria? – respondeu, olhando para nós fixamente.

— É verdade. Por que não estaria? – Bella respondeu simplesmente, encarando nossa filha de volta até que ela desviasse o olhar, bufando. Ela podia ser bem intimidadora quando queria.

A aula passou devagar. Eu podia sentir a tensão entre minha filha e minha esposa. Ao mesmo tempo, Cassie estava tão nervosa que havia momentos em que eu não conseguia bloquear os seus pensamentos, que vinham em gritos até a minha mente.

O sinal tocou e nós quatro nos levantamos, nos olhando estranhamente. Eu conseguia escutar a pobre coitada se perguntando se era mesmo uma boa ideia ir até a nossa casa, e senti uma onda de simpatia por ela.

Queria que Jasper estivesse aqui para acalmar um pouco os ânimos dela.

— Eu vou ao banheiro rapidinho e aí a gente já pode ir – falou e saiu praticamente correndo da sala. Eu me surpreenderia se ela realmente voltasse e não fugisse de nós; eu com certeza já teria fugido.

Assim que ela desapareceu pela porta, Nessie desembestou a falar:

— O que vocês estavam pensando? A nossa casa é literalmente de vidro! Ela vai surtar quando ver um bando de doidos brilhando no sol! 

— Querida, relaxa. A gente vai ficar em nosso quarto, longe de vocês, o tempo todo. – Bella falou em um tom tão calmo que, por um segundo, eu realmente acreditei que aquilo era uma boa ideia. Até que Renesmee falou o óbvio:

— Mãe, você chamou ela para te ajudar com a matéria e vai simplesmente sumir? Ela vai achar que você é doida!

— Não seria o primeiro a achar isso. –  sussurrei para mim mesmo e recebi um empurrão em resposta.

— Cassie é mais esperta do que você imagina. Tenho certeza que ela já percebeu que eu não preciso de ajuda, só estou tentando fazer vocês duas resolverem o que tem para resolver. Já faz duas semanas que você está estranha por causa dela.

— E aí você achou que seria uma boa ideia tomar uma decisão dessas no meu lugar? – Nessie praticamente gritou e eu senti que era hora de intervir oficialmente.

Bella e Renesmee eram parecidas demais, tanto em aparência quanto em teimosia. E isso sempre gerava esses atritos bobos.

— Renesmee, se acalme! A gente promete que vai dar tudo certo. A gente só quer que você tenha experiências humanas. E convidar sua melhor amiga para ir até a sua casa é algo completamente humano.

— Você e suas experiências humanas! Elas são superestimadas! – resmungou e eu ri.

Igualzinha à mãe.

— Pode até ser. Mas você nunca vai ter certeza se não tentar, não é mesmo? Por favor, monstrinha. Por mim.

— Tá bom! Mas se a gente tiver que se mudar porque um humano descobriu que a gente não é, exatamente, humano, vocês que vão lidar com a raiva da tia Rose! – ela apontou o dedo em nossa cara e eu fingi uma continência. 

— Sim, senhora! – brinquei e ela revirou os olhos. — Eu venho fazendo isso por um século, meu amor. Relaxa. – pisquei em sua direção e senti a sua expressão ficar menos tensa.

Enquanto saíamos da sala, nossa filha na frente para encontrar Cassie, Bella segurou a minha mão e apertou levemente.

— Obrigada por me apoiar – falou baixinho, beijando minha bochecha levemente — Mas eu ainda acho irritante o jeito que você sempre sabe o que falar para ela.

— Você acha irritante o jeito que eu acalmo a minha filha?

— Cala a boca antes que minha gratidão vá embora.

Ri baixinho, beijando o topo de sua cabeça antes da gente começar a andar em direção ao estacionamento. Essa tarde seria longa.

Parte 6

Desastre.

Essa palavra poderia descrever bem o que aconteceu naquela tarde. Em um momento Bella e eu estávamos aproveitando o fato de que todo mundo estava trancado em seus quartos para dar uns amassos sem sermos interrompidos, e no outro escutamos a porta do quarto de Nessie bater e ela sair correndo.

— Eu disse que isso era uma péssima ideia! – gritou enquanto saía porta afora, correndo pela floresta.

Olhei para Bella e em um acordo silencioso, ela foi acolher Cassie, que provavelmente estava se arrependendo muito de ter vindo até a nossa casa, e eu sai correndo atrás de nossa filha.

Não demorou muito até que eu a encontrasse sentada em um tronco de árvore, observando a natureza ao seu redor.

— Não quero conversar – falou rispidamente quando eu me sentei ao seu lado. Embora o seu tom fosse gélido, ela se aproximou de mim, seu rosto apoiado em meu ombro.

Eu nunca pensei que seria um bom pai. Fui transformado num vampiro tão novo que essa possibilidade nunca nem havia passado pela minha mente, para ser sincero. Mas Nessie aflorava um lado paterno em mim que estava morto havia muito tempo.

Eu adorava ser seu pai. E eu gostava de pensar que também era seu amigo. Que a nossa ligação era muito mais forte do que sangue. Que eu a conhecia melhor do que a maioria das pessoas.

Por isso, não a pressionei; sabia que ela se abriria quando se sentisse confortável. E sabia que ela precisava desse tempo para assimilar o que quer que tivesse acontecido.

 — Cassie me beijou. – sussurrou nervosamente.

— E você não gostou do beijo? – perguntei. Será que a gente havia entendido tudo errado? Será que ela não gostava de Cassie daquele jeito, a menina tinha confessado os seus sentimentos, e por isso tudo andava estranho?

Um milhão de possibilidades começaram a rondar a minha mente.

— Não… O problema é justamente esse. Eu gostei do beijo. Eu gostei muito do beijo. – Nessie respondeu em um tom tão baixo que eu me perguntei se não estava imaginando sua resposta para aliviar a minha consciência pesada.

— Ok… Eu estou confuso, querida. Se você gostou tanto do beijo, por que saiu correndo de casa daquele jeito?

— Porque eu entrei em pânico! Porque eu não quero ficar com alguém que não pode saber a verdade sobre mim e sobre a minha família. E porque… – ela se interrompeu, balançando a cabeça.

— O que foi, monstrinha? Você sabe que pode falar sobre tudo comigo. 

Nessie fechou os olhos e respirou fundo. Esperei pacientemente. Ser uma adolescente humana não era normal, mas ser uma adolescente híbrida com uma família de vampiros era mil vezes mais difícil. Por isso, estava disposto a esperar o tempo que fosse para que ela se sentisse confortável o suficiente para se abrir completamente comigo

— Porque eu fiquei com medo da sua reação. – dessa vez minha filha falou em uma velocidade tão rápida que eu mal entendi sua frase. Será que ela tinha atingido a velocidade da luz?

— Da minha reação? – perguntei, incrédulo.

—  Pai, você nasceu no século vinte. E Cassie é uma garota. E eu também. E… Sei lá. Eu não sabia qual seria a sua reação com a sua filha namorando outra garota.

Respirei fundo. Aquela conversa estava sendo, no mínimo, diferente de tudo que eu imaginei que ela seria. Mas eu sabia que ela era importante para minha filha, então tentei encontrar as palavras certas.

Me virei para encará-la, meu coração congelado quebrando em mil pedacinhos com o medo que eu vi em seus olhos.

— Nessie... eu posso ser antiquado em relação a certas coisas. Pergunte para a sua mãe e você sabe que ela vai confirmar. Mas ao longo de 100 anos muita coisa mudou. E eu me adaptei e entendi que essa evolução é pra melhor. E você é minha filha, querida. – sorri levemente, minhas mãos suas bochechas. — Você é o meu pequeno milagre, o milagre que eu nem sabia que precisava. Você pode matar mil pessoas que eu vou dar um jeito de achar um motivo plausível e continuar ao seu lado. Quem você ama não importa para mim, eu só quero te ver feliz.

Sequei a lágrima que escorreu pelo rosto de minha família no segundo em que ela jogou seus braços ao redor de meu pescoço e me abraçou fortemente. Sorri, retribuindo o seu abraço.

— Eu te amo – ela sussurrou e eu senti meu sorriso abrindo ainda mais. Eu deveria estar parecendo o Coringa, mas não me importei.

— Eu te amo mais, monstrinha. Para sempre. – beijei o topo de sua cabeça antes de soltá-la. — Você falou sobre isso com a sua mãe?

— Claro que não. Ela teria aberto a boca perto de você um segundo depois. Vocês dois não têm segredos. – ela revirou os olhos e eu sorri. Ela não estava errada.

— É verdade… Há quanto tempo você vem guardando isso? – perguntei, curioso. Odiava a ideia de minha filha estar escondendo algo tão importante com medo de minha reação.

— Desde que eu rejeitei o Jacob. Já era estranho o fato de que ele já tinha sido apaixonado pela mamãe, mas eu talvez teria conseguido passar por cima disso se ele fosse a Leah… – deu de ombros e eu gargalhei.

— Bom, só entre nós dois, você não perdeu nada. Eu prefiro a Cassie. – bati meus ombros nos dela levemente, fazendo-a rir.

— Mas tem outro problema. – suspirou com um semblante cansado. — A Cassie é humana.

— E daí? Sua mãe também era. – falei simplesmente, não entendendo onde ela queria chegar.

— E se ela me achar uma aberração?

— Nessie, sua mãe achava que eu tinha saído de uma revista em quadrinhos. – sorri com a lembrança. Bella é realmente muito criativa — Mesmo assim ela continuou ao meu lado. Você só precisa dar uma chance a ela. Às vezes as pessoas podem nos surpreender positivamente.

— Você acha que eu deveria falar com ela? – perguntou, mordendo os lábios. Às vezes ela era tão parecida com Bella que era um pouquinho assustador.

— Se você quiser, sim.

— Tudo bem… Mas a gente pode ficar aqui mais um tempinho? – pediu, voltando a apoiar sua cabeça em meus ombros e observar a natureza ao nosso redor.

— A gente pode ficar aqui o tempo que você quiser, monstrinha. – sussurrei de volta, meu braço ao redor de seu corpo, puxando-a mais perto de mim de forma protetiva.

Parte 7

Quando começamos a correr de volta para casa já estava escuro. Estava com medo de Cassie já ter ido embora, mas eu estava disposto a acompanhar minha filha onde quer que fosse para que ela pudesse conversar direito com sua possível-futura-namorada.

Para a minha surpresa, assim que passamos pela porta da sala, vimos a garota sendo entuchada de comida por Esme - tínhamos aprendido a cozinhar pelo bem de Renesmee - enquanto Emmett contava algo de forma muito animada para ela. Não tinha certeza de que queria saber o que ele estava falando.

Felizmente, Cassie parecia muito mais calma agora. Supus que isso fosse efeito de Jasper, que estava sentado com Alice ao seu lado em um canto mais afastado da cozinha. Acenei em agradecimento e ele apenas sorriu.

— Nessie, querida, fiz o seu bolo favorito! – Esme falou animadamente, cortando uma fatia generosa e colocando em um prato.

— Obrigada, vó. – minha filha falou e automaticamente congelou ao ver o semblante confuso de Cassie.

— Vamos deixar as meninas comerem em paz? Vamos, todo mundo saindo da cozinha. – apressei minha família, que caso contrário ficaria ali a noite toda.

Minha filha lançou um olhar agradecido para mim e eu sorri.

— Vocês demoraram. Eu estava quase sem desculpas para manter Cassie aqui. Mais um pouco e ela iria nos acusar de cárcere privado. – Bella reclamou assim que entramos em nosso quarto.

Um dos maiores benefícios dessa casa é que todos os cômodos tinham um isolamento acústico impressionante. A gente não escutava nada do lado de fora, e ninguém escutava o que estávamos fazendo. Privacidade para todos.

— Nessie precisava de um tempo. Mas agora elas vão conversar e eu tenho um pressentimento bom em relação a isso. – falei suavemente, tirando o moletom sujo de terra.

— Pressentimento bom? Você andou falando com a Alice sem mim? – perguntou com os olhos cerrados e eu ri do absurdo. Fofocar sem Bella seria como tentar respirar embaixo d’água.

— Claro que não, meu amor. Mas eu tive uma conversa esclarecedora com Nessie, e eu acho que agora tudo ficará mais fácil. – expliquei o que tinha acontecido, tirando meu par de tênis assim como minha calça jeans.

— Hm… Essa positividade te deixa muito atraente, Sr. Cullen. – falou com um sorriso de lado, andando em minha direção.

— Fico feliz em saber disso, Sra. Cullen. – sussurrei antes de beijá-la.

Suas mãos logo foram em direção ao meu cabelo, puxando-me para mais perto dela e aprofundando o beijo. Movi meus dedos por debaixo de sua blusa, arrancando um gemido de sua boca quando toquei um ponto mais sensível.

Estava prestes a tirar a sua blusa quando Alice entrou como um furacão em nosso quarto. Mas antes que eu pudesse reclamar, ela estava segurando minha mão animadamente.

— Edward, olha! – exclamou com um sorriso enquanto repassava uma de suas visões para que eu pudesse ver.

Várias imagens de Cassie com a nossa família ao longo dos anos: a graduação no Ensino Médio. Mais um casamento de Emmett e Rosalie. Ela trabalhando ao lado de Carlisle em um hospital. Sendo uma das cobaias fashion de Alice. Se transformando em vampira. Se casando com Nessie.

Ofeguei com a visão de minha filha em seu vestido de casamento, um largo sorriso aparecendo em meu rosto. Se eu pudesse chorar, sabia que faria isso de emoção nesse exato momento.

Parecia que tudo daria certo, afinal de contas, e que o nosso pedacinho do para sempre havia acabado de ganhar mais um membro. E eu não poderia estar mais feliz com isso.


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