Veisalgia escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único




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INTRODUÇÃO

 

Este estudo tem como objeto os sintomas da veisalgia, conhecida vulgarmente como ressaca.

Este trabalho surgiu a partir de uma discussão [discussão com quem? Com Deus? É trabalho individual, Rose!], tendo como motivação para a escolha do tema sintomas da veisalgia, o aumento de acidentes de trânsito de jovens embriagados, o que favorece diretamente para o aumento da mortalidade juvenil em Londres.

Mediante esse entendimento, estabeleceu-se a seguinte questão:

Quais as manifestações da veisalgia e como podem afetar a percepção dos jovens?

[Referência de três autores mencionados no desenvolvimento]

Frente a esse contexto, definiu-se o seguinte objetivo:

Descrever a sintomatologia da veisalgia e relacioná-la ao aumento dos acidentes de trânsito.

A relevância deste estudo está no direcionamento do olhar dos graduandos de cursos da área da saúde para ações e cuidados aos jovens, tendo como fator principal a ampliação do conhecimento sobre a sintomatologia da veisalgia e para fornecer opções de ações a serem tomadas diante desses conhecimentos.

Este estudo traz uma contribuição na formação de novos profissionais...

A contribuição no desenvolvimento de novas pesquisas...

A contribuição do desenvolvimento desse estudo para o desenvolvimento do cuidado...

 

Rose Weasley não era enfermeira.

Não era médica.

Nem bióloga.

Muito menos biomédica.

Então por que ela estava criando um estudo em cima de ressaca?

Porque ela estava sem ideias para a sua monografia e ela queria beber. Queria beber até cair. Ela nunca tinha feito isso antes, mas era o que ela mais estava precisando. Queria experimentar todo o tipo de bebidas que um bar poderia fornecer e que ela nunca se permitiu por estar ocupada sendo a filha perfeita.

Quantas vias orais, álcoolnomias, cai de bocas — e seja lá quais outros nomes que as atléticas davam às chopadas — ela não tinha faltado para ficar estudando?

Até mesmo Lily, que tinha entrado na faculdade depois dela, estava aproveitando melhor a vida. Todos os seus primos aproveitavam a vida melhor do que ela. Agora a faculdade estava acabando, ela estava cada vez mais perto dos temidos 30 anos (ainda faltava uns 5 anos, mas a crise bateu forte) e não tinha aproveitado o que a faculdade melhor tinha a oferecer.

Por isso, naquele dia, ela largou todas as suas anotações e foi para um bar beber. Muito provavelmente aquele não seria o seu tema de monografia, estava apenas inventando uma desculpa que a fizesse sentir menos culpada por procrastinar, e treinando o formato do documento em um tema fictício.

Sentou-se no banco elevado perto do bar e pegou um guardanapo de papel para começar a escrever com a sua caneta azul. Ela precisava de um plano, ela iria ao bar durante aquela semana e tomaria as bebidas mais consumidas pela população. Naquele dia, tomaria cerveja e então calcularia quanto tempo demoraria para começar a sentir os sintomas, anotaria quais sintomas eram, quais seriam os efeitos colaterais no dia seguinte. Depois pesquisaria o percentual alcoólico e talvez pudesse até pegar um bafômetro emprestado do seu pai para ver como isso influenciava...

— Uma Anchor Porter, por favor — disse Rose, assim que o barista passou à sua frente, sem levantar o olhar de seu guardanapo.

Só precisava se lembrar de não limpar a boca com ele, ou jogá-lo fora acidentalmente.

Se fosse um estudo sério, ela precisaria de mais voluntários, já que cada pessoa tem uma resistência ao álcool diferente. Ela podia ser mais ou menos resistente que outra pessoa, eram muitas variáveis.

Não demorou para o barista deslizar a garrafa destampada pelo balcão em sua direção e se ocupar em secar copos e atender outros clientes, os que pediam drink em vez de cerveja. Bebeu do gargalo, tentando não se demorar muito. Assim que esvaziou a garrafa, pensou que seria uma tarefa bem entediante e que poderia facilmente ter feito isso na segurança de seu lar.

Pensou se Hugo ou algum de seus primos estivesse ali com ela, mas ao mesmo tempo não queria que estivessem lá. Se fosse mesmo passar horas, pelo menos devia se distrair. Puxou o cardápio de cima do balcão, observando o garçom passar para atender as mesas mais afastadas do bar.

A sua noite provavelmente seria bem solitária, comendo snotch eggs e bebendo cerveja preta até sentir os sintomas da ressaca, se um loiro não tivesse sentado ao seu lado na mesa do bar.

— Eu mereço... — ela resmungou.

Scorpius Malfoy era o melhor amigo do seu primo Albus — e ex-namorado também, vale acrescentar. Como estudaram em escolas diferentes, não chegaram a ter um convívio, mas em toda data comemorativa ele estava agregado lá como se fosse da família. E considerando que o aniversário de todos os seus tios e primos era comemorado na casa dos seus avós, e ela tinha muitos parentes, eles se viam praticamente todos os meses.

— Você é mesmo um raio de sol — ele respondeu com sua acidez característica.

Não sabia dizer quando começaram a implicar um com o outro. Foi apenas algo que surgiu quando ainda eram crianças e foram levando, mesmo que já fossem adultos. Era divertido implicar, e Rose podia dizer que era uma pessoa bem implicante, o que fazia a maioria das pessoas não gostar dela. Ele também gostava de implicar, mas era exclusivamente com ela. Podia ter escolhido qualquer outra cadeira vazia do pub, mas ele escolheu sentar-se justo ao seu lado.

— Então devia se afastar para não se queimar — Rose retrucou.

— Engraçadinha. Pensei que estivesse fazendo jornalismo, não comédia.

— Esse curso nem existe.

— Artes cênicas, já ouviu falar?

O barista limpava o balcão, observando interessado a discussão.

Rose pegou a garrafa e voltou a beber, pensando que precisaria estar totalmente bêbada para suportá-lo. Scorpius virou-se para o homem, sentindo-se vitorioso por ela não respondê-lo, e pedindo um Macallan Ruby, antes de voltar a olhá-la.

— Estou impressionado. Rose Weasley enchendo a cara em um bar em plena terça-feira. Al tinha me dito que estava preocupada com a monografia, mas acho que ele estava apenas exagerando — ele deu um sorriso debochado.

— Se não te conhecesse, diria que está se sentindo solitário e tentando puxar assunto comigo — ela retrucou, dando um último gole para acabar com a garrafa.

— Que bom que me conhece então.

— Estou surpresa que saiba o que é uma cerveja, pensei que só bebesse whisky de 300 libras.

— Você andou reparando — Scorpius se fez de lisonjeado, dando uma olhada ao redor.

— Não sinta-se tão especial, eu sou uma pessoa naturalmente observadora — ela conteve um arroto e sinalizou para o barista trazer mais uma garrafa.

Ele estendeu o braço e puxou para si o guardanapo, antes que ela pudesse impedi-lo.

— Tá anotando quantas garrafas bebeu, o que está sentindo... É um experimento?

Ela pegou o seu guardanapo de volta.

— Estou analisando os sintomas da veisalgia e como isso afeta nos acidentes de trânsito — respondeu, agindo como se fosse um tema de extrema importância.

— Não está pensando em dirigir depois daqui, não é? — o loiro sorriu, incapaz de levar alguma coisa a sério, principalmente quando partia dela, e apertou as suas bochechas bem próximas como se fosse uma criança — Seria uma pena ver esse rostinho lindo ralado no asfalto.

Ela deu um tapa forte em seu braço para que ele a soltasse, sentindo o seu rosto ficar vermelho. Culpou o álcool e a sua genética.

— Parece muito preocupado pelo meu bem estar, Malfoy — forçou um sorriso debochado — Apaixonou?

— Só não quero ter que aguentar o Albus se lamuriando no seu funeral — ele retrucou — Não tenho nem terno pra isso.

Ela quase debochou. Afinal, o filhinho de papai não tinha um terno? Então lembrou-se que a mãe de Scorpius tinha morrido não fazia muitos anos. É claro que ele tinha um terno, e é claro que ele odiaria ter que usá-lo outra vez, fosse pelo motivo que fosse.

— Então o objetivo é se embebedar? — ele puxou assunto quando ela ficou em silêncio, bebendo da boca da garrafa.

— Por quê? Está se oferecendo para me fazer companhia? — Rose perguntou, empurrando o ombro dele com o seu.

— Alguém precisa ser a voz da razão por aqui.

— A voz da razão? Você? Sei.

Scorpius puxou um guardanapo de papel de dentro do porta guardanapos.

— Então, o que planeja? Beber a mesma marca a noite inteira? Talvez voltar aqui amanhã e tomar uma Belhaven? Ou algo que não seja cerveja?

— Talvez — ela respondeu desafiadora, negando-se a dar o braço a torcer e admitir que não tinha ideia do que estava fazendo — Estudos levam tempo.

— Se ficar bebendo todos os dias indefinidamente até cair, vai precisar de um transplante de fígado muito em breve — ele retrucou.

Não estava planejando repetir aquilo muitas vezes, talvez apenas o suficiente para experimentar diferentes bebidas e decidir quais lhe agradavam e quais não. Era um experimento puramente científico, tentou convencer a si mesma. Depois seria obrigada a voltar a encarar a realidade e focar no seu Trabalho de Conclusão de Curso.

— Eu sou grandinha, sei me cuidar — disse, tomando mais um longo gole da sua garrafa.

Scorpius abafou a risada, negando com a cabeça.

Ele tinha um sorriso lindo.

O quê?

Ela definitivamente estava bêbada.

Consultou o seu guardanapo de papel. Tinha bebido cinco garrafas de 355 mililitros? Isso era suficiente para estar tão insana? Sabia que tinha uma resistência baixa, principalmente quando considerava que não costumava beber, mas nunca delirou daquele jeito, pois só podia ser delírio.

Sorriso lindo. Essa era boa.

Sorriso debochado, ridículo, irônico, sarcástico, irritante. Tantos adjetivos melhores para descrever, lindo estava bem longe na fila.

— Traz a conta — ela sinalizou pro barista.

— Tão cedo? — ele demonstrou surpresa e uma emoção que não soube descrever.

Decepção? Mágoa?

— Eu preciso ir embora, isso foi uma péssima ideia — resmungou para si mesma, revirando a sua própria bolsa.

Tinha um alarme piscando em algum lugar no seu cérebro, dizendo que ela precisava sair dali o mais rápido possível. Não podia continuar ao lado de Scorpius naquele estado.

— Eu te levo! — ele se pôs prontamente de pé.

— Não, não precisa!

Foi um péssimo momento para ela tentar descer da cadeira alta demais — mesmo que ela não fosse nenhuma anã — e quase cair no chão, a cabeça errando o balcão por alguns centímetros.

— Certo, você tem duas opções — Scorpius desceu com facilidade do banco, jogando algumas cédulas em cima do balcão, antes que ela pudesse protestar por ele estar pagando a sua conta também — Ou eu ligo para alguém te buscar, ou eu te levo para casa.

Ela hesitou.

Não conseguia pensar em uma única pessoa da sua família que gostaria que a visse naquele estado. Nem mesmo Teddy, que era sempre a primeira opção dos irmãos Potter quando faziam burrada, não tinha tanta proximidade assim com ele.

— Tanto faz — deu de ombros desengonçada.

A conclusão do seu trabalho fictício podia dissertar sobre como não entendia o porquê as pessoas passavam tanto do ponto. Era horrível a pressão no crânio, o equilíbrio prejudicado, os tornozelos balançando como se fossem gelatinas, a boca que parecia incapaz de se fechar mesmo quando não tinha o que dizer, os olhos que pesavam... Não conseguia pensar em uma coisa boa. Talvez apenas as preocupações que pareciam desaparecer, mas em compensação eram substituídas por tantos efeitos colaterais...

Na verdade, de uma família que parecia gostar muito de beber em ocasiões especiais, ela nunca teve um bom paladar, então não sentia que estava perdendo muita coisa quando ficava muito tempo sem degustar um vinho.

Talvez fosse apenas a ocasião. A sensação de beber sem motivo algum sozinha em um bar devia ser bem diferente de beber entre amigos no meio de uma festa — mesmo que ela não gostasse muito de festas.

Nunca admitiria a ninguém que precisou de ajuda para entrar no carro. Encostou a testa no vidro da porta, observando a movimentação das ruas. Odiava andar de carro, mas Scorpius Malfoy nunca usaria transporte público.

— Tem alguma coisa te incomodando?

Ele nunca insistia tanto para puxar assunto com ela, ainda mais naquele tom preocupado. Era sempre implicância, mesmo que ambos soubessem quando parar para não magoar verdadeiramente o outro.

— Faculdade é uma merda. Por que eu decidi fazer isso? — ela resmungou.

Ele gargalhou, surpreso por escutá-la falando palavrão.

— Problemas no paraíso? — provocou, recebendo um grunhido como resposta — Você sempre pode trancar a matrícula.

— Claro, eu gastei os últimos quatro anos da minha vida à toa. Nem todos nascem em berço de ouro como você.

Podia não ser uma comparação muito justa. Era verdade que a família Weasley não era milionária, mas todos os seus tios e primos se encontraram em suas profissões. Não era como se eles passassem necessidade, mas em berço de ouro ninguém tinha nascido.

— Sim, berço de ouro — Scorpius repetiu — Se nós fôssemos portugueses, o ouro teria sido roubado do Brasil.

Rose não conseguiu conter a gargalhada, mesmo sentindo-se culpada por esquecer da corrupção por trás dos negócios da família Malfoy.

— Me desculpa, eu só tô falando merda hoje. Me ignora.

— Você está mesmo muito bêbada — ele negou com a cabeça, sem desviar os olhos da estrada — Porque pra me pedir desculpas...

— Para! Assim você me faz sentir péssima!

Ela ajeitou-se no banco, pensando que devia ter ido para o banco de trás, onde teria mais espaço para deitar. Mas é claro que, no estado em que estava, ela não pensou apenas.

— Eu vou dormir — Rose soltou o cinto, que Scorpius tinha encaixado ao redor dela, e começou a se mexer para passar pro banco de trás.

Quase bateu o carro quando desviou o olhar da estrada direto para uma parte da anatomia de Rose que ele não admitiria nem sob tortura.

— Senta aí, criatura! Quer que a gente vire estatística? — ralhou com ela.

Ela tirou a jaqueta, usando-a de cobertor, enquanto se ajeitava no banco de trás.

— Eu nem cheguei perto do volante, Malfoy. Se a gente virar estatística, é porque você se distraiu — as palavras fugiram da sua boca sem que ela controlasse.

— Você se acha, não é? — ele soltou uma risada nervosa — Você nem é tudo isso.

— Típica resposta de homem que levou um fora.

Scorpius olhou para a janela ao lado, provavelmente perguntando a si mesmo se alguém repararia se ele a jogasse para fora do carro no meio da estrada.

Antes que pudesse pensar em uma resposta apropriada, olhou para o retrovisor e reparou que Rose já estava dormindo com a boca aberta.

Mudou a marcha do carro, assim que o semáforo mudou para a cor vermelha. Conectou o bluetooth do celular no carro, digitando a numeração rapidamente, os olhos movendo-se frequentemente para a frente. Seria irônico se ele batesse o carro por estar mexendo no celular, a segunda maior causa de acidentes automobilísticos, atrás do consumo de bebidas alcoólicas. Rose seria como uma mensageira da morte.

— Rose ainda mora com vocês? — ele perguntou para o nada, vendo como o semáforo mudava para a cor amarela.

— Essa perseguição está bem esquisita, Malfoy — respondeu a voz de Lucy do outro lado da linha.

— Esquisita significa outra coisa no espanhol, você sabe — disse Roxanne também do outro lado, como toda vez que alguém usava aquela palavra.

Os primos da família já tinham adaptado o vocabulário para usar sempre "estranho", apenas para fugir das insinuações maliciosas da filha de George Weasley.

De todas as parentes, Lucy e Roxy eram as últimas pessoas que Scorpius pensaria que dividiriam uma república com Rose. Ele só sabia disso por causa de Albus, era difícil não ficar sabendo sobre as coisas através daquele fofoqueiro.

— Vou precisar de ajuda. O porteiro pode pensar que eu a sequestrei — ele mudou a marcha, voltando a dirigir.

— Não temos porteiro — respondeu Roxanne.

— O que aconteceu? — perguntou Lucy quase no mesmo instante.

Ele a observou pelo retrovisor por alguns segundos.

— Encontrei ela em um bar. Acho que não está muito acostumada a beber — não deu detalhes — Chego em uns 15 minutos.

— Desde quando ele tem o nosso endereço? — escutou Lucy perguntar antes de desligar a ligação.

Alguns minutos depois, percebeu uma movimentação no banco de trás. Rose tinha despertado assustada, uma breve consciência recobrada por alguns segundos. Não o suficiente, já que não fazia muito tempo desde que tinha bebido. Ela limpou a baba no canto da boca, tentando entender o que estava acontecendo.

Pensou em avisar que já estavam chegando, em vez disso o que saiu da sua boca foi:

— Nunca pensei que veria Rose Weasley analisando os efeitos da ressaca.

Ela grunhiu, cobrindo o rosto com o antebraço.

— Pode ter certeza de que nunca mais verá — retrucou, como toda boa bêbada após passar do ponto.

Vindo dela, podia bem ser verdade.

— Que pena — fez beicinho — Essa Rose sabe ser divertida.

— Vou ser super divertida quando vomitar no carpete do seu carro caro — ameaçou.

Devia ficar preocupado, mas apenas riu.

Sempre uma resposta na ponta da língua...

Implicar com Rose era divertido. Fazia isso desde sempre, mesmo que não soubesse o porquê. Alguma coisa na prima do seu melhor amigo despertava o lado quinta série dentro dele.

E então ele não conseguiu evitar um alarme piscando na sua cabeça.

— Acha que é melhor ir para o hospital?

— Eu não bebi tanto assim, Malfoy — ela disse, sem tirar o antebraço do rosto.

Voltou a prestar a atenção na estrada, mesmo que não tivesse desviado o olhar em nenhum instante.

Rose era bem crescidinha, não precisava se preocupar com ela, mesmo que fosse sua obrigação como ser humano. Ela mesma tinha se levantado completamente do nada e declarado que ia embora, sabia que precisava parar de beber. Ou talvez só estivesse querendo se livrar dele, e ele insistiu para levá-la em casa.

— Desculpe estragar sua noite.

Ela afastou o antebraço, parecendo surpresa.

— E qual foi a grande conclusão do seu TCC? — ele desviou o assunto rapidamente, um leve sorriso no rosto.

— Sabe que eu não vou escrever sobre isso — ela disse depois de alguns segundos.

— Por que não? É uma boa ideia. E é a primeira que teve.

— Bom, eu queria escrever sobre como a romantização de relacionamentos abusivos pela mídia afeta na percepção e comportamento de jovens mulheres, considerando até mesmo os gráficos de violência doméstica e feminicídio, mas... — ela mordeu o lábio, parecendo mais confortável do que nunca conversando com ele.

Podia imaginar que ela não tinha demonstrado suas preocupações para ninguém. Era a cara dela. Scorpius era alguém conhecido, mas não próximo o suficiente como seus primos, para que pudesse desabafar. E sempre podia ameaçá-lo, mesmo que não fosse levada a sério.

— A sua cobaia seria Lily, naturalmente — ele disse.

— Não, mas quando ela me disse que After era o seu... — ela fechou os olhos, tentando lembrar-se da palavra certa — Objetivo? Foco?

— Meta.

— Isso! — exclamou — Meta de relacionamento. Vê se eu mereço uma coisa dessas?

— E por que desistiu?

— Difícil de provar, poucos dados... — ela deu de ombros — Seria pura teoria social.

— Parece algo que você conseguiria contornar.

Rose sorriu, inclinando-se na direção dele.

— Um elogio? O que está pretendendo, Scorpius Malfoy?

— Manter uma conversa civilizada — alfinetou.

Pôde avistar Roxanne na calçada a alguns metros, à frente do portão do prédio delas, os braços cruzados com apenas a chave do apartamento na mão.

— Às vezes eu odeio morar com família — ela resmungou, também tendo avistado, encostando a testa no encosto do banco.

— Podia ser pior. Podia ser a casa dos seus pais.

— Podia morar contigo e com Al, isso sim seria um pesadelo.

Ele fez uma expressão ferida, estacionando o carro no meio fio.

Roxanne apressou-se para abrir a porta do carro e ajudar a prima a descer.

— Rose, o que deu em você?

Ela perguntou-se se soava tão irritante assim, quando cobrava respostas de seus parentes e queria repreendê-los. Nunca pensou que se encontraria do outro lado.

Apenas resmungou, subitamente sem vontade de conversar. Queria apenas a sua cama.

Scorpius arrancou o carro sem se despedir. Principalmente porque tinha ocupado uma parte da rua com o semáforo verde, e estacionado brevemente em lugar proibido. Mesmo assim, ela o xingou sem vontade.

— Babaca, nem se despediu.

— E desde quando você liga pra isso? — a prima ergueu a sobrancelha.

Nem percebeu que tinha esquecido o seu casaco no banco de trás.

Voltou para aquele mesmo bar no dia seguinte, após as aulas da tarde.

Não foi combinado. Tinha passado o tempo das aulas na biblioteca pesquisando por artigos e reportagens, algo que pudesse lhe inspirar. Sinceramente não sabia o que pretendia. Se quisesse falar com Scorpius, podia pedir pelo número dele para Al, mesmo que tivesse que suportar seu interrogatório e suas insinuações.

Teve a sua visão do caderno universitário impedida quando um casaco foi jogado em cima dela.

— Esqueceu no carro ontem — disse Scorpius, surgido como se ela tivesse mandado uma mensagem de íris através do arco-íris formado pelo chá gelado colorido em cima da mesa.

— Estava me procurando? — não pôde evitar a provocação.

— Garantindo que não ficasse bêbada outra vez. E como vai a dor de cabeça?

— Parece saber muito sobre isso — ela inclinou-se um pouco sobre a mesa.

Dessa vez estava afastada da mesa alta do bar, os seus pés alcançavam o chão.

— E parece que queria muito me encontrar — ele deu um sorriso debochado, quase sentando-se em cima da mesa.

— Costumo vir aqui — respondeu, sabendo que era um péssimo argumento.

— Ah sim, posso ver, um lugar calmo para estudar, onde pode conseguir um café.

Rose desviou o olhar, não querendo ver a sua expressão ao tê-la deixado sem palavras. Puxou o caderno de cima da mesa, fechando-o.

— Obrigada por me devolver o casaco — disse, levantando-se.

Cometeu o erro de erguer a cabeça, percebendo o quão próximos estavam.

— Já escreveu uma nova introdução?

Ela piscou os olhos, tentando raciocinar.

— Hã? — foi o que saiu de sua boca.

O jeito como o olhava estava tornando quase impossível para Scorpius se conter. Não era exatamente a primeira vez que tinha pensado em como seria beijar Rose Weasley, mas sempre lembrava que não era uma boa ideia. Mesmo que não estivesse com Albus há alguns anos, e o relacionamento deles nem tivesse durado tanto assim, poderia deixar as coisas bem estranhas. Eles eram primos, afinal.

Mas aquela boca...

— A... introdução, Rose — repetiu — Do TCC.

Ela desviou o olhar dos lábios dele, pelo bem de sua saúde mental, focando em seus olhos, o que não era muito melhor.

— Ah, sim — respondeu aérea — Eu...

Então ela virou-se, pondo o caderno de volta em cima da mesa e se concentrando em procurar entre as folhas soltas.

Podia ser bem desorganizada às vezes.

— Entende de TCCs agora? — ela perguntou, dando a folha para ele ler.

— Alguma coisa... — ele deixou no ar.

 

INTRODUÇÃO

 

Este estudo tem como objeto a influência da representação midiática e literária de relacionamentos abusivos.

Este trabalho surgiu a partir de uma discussão [com Lily, minha prima, mas não vou escrever assim], tendo como motivação para a escolha do tema influência da romantização de relacionamentos abusivos, o aumento da violência doméstica, o que favorece diretamente para o aumento do feminicídio em Londres.

Mediante esse entendimento, estabeleceu-se a seguinte questão:

Como a representação midiática e literária de relacionamentos abusivos de maneira romantizada pode influenciar os relacionamentos reais e no ideal de "relacionamento perfeito"?

[Referência de três autores mencionados no desenvolvimento]

Frente a esse contexto, definiu-se o seguinte objetivo:

Descrever as problemáticas da romantização dos relacionamentos abusivos e relacionar ao aumento das taxas de violência doméstica e feminicídio.

A relevância deste estudo está...

Este estudo traz uma contribuição na formação de novos profissionais...

A contribuição no desenvolvimento de novas pesquisas...

A contribuição do desenvolvimento desse estudo para o desenvolvimento do cuidado...

 

— Você vai ser muito cancelada no Twitter.

— Scorpius! — Rose exclamou.

— Eu consigo ver perfeitamente. Você vai falar daqueles livros — ele continuou, sorrindo.

Ela pegou a folha da mão dele, ignorando-o. Passaria o texto pro Word quando tivesse a chance, já que raramente escrevia os trabalhos da faculdade a mão, aquela foi uma exceção.

— Pegou o modelo base do TCC de quem? Porque relevância do trabalho para "desenvolvimento do cuidado" está gritando medicina ou coisa do tipo — ele continuou.

— Lorcan — ela respondeu — Eu vou apresentar um rascunho à minha orientadora e então vou ver como me saio.

— Você vai se sair bem. Se precisar de ajuda... — deu de ombros.

— Okay, obrigada — disse de repente tímida.

O que estava acontecendo com ela?

— Eu acho que jornalismo não apresenta TCC desse jeito — Scorpius frisou o "acho" — Arquitetura cria um projeto de conclusão, então faria sentido se jornalismo fosse a apresentação de uma matéria, não?

— Ah — ela disse, sentindo-se estúpida — Eu deveria falar com a minha orientadora, mas queria ter algo pronto antes...

Basicamente, ela queria ter a sua monografia inteira escrita e formatada em norma ABNT para receber os elogios e algumas correções apenas da professora. Só não tinha a menor ideia do que estava fazendo.

— Eu posso estar errado — ele apressou-se a dizer ao ver a sua expressão — Afinal, o que eu sei de faculdade?

Rose sorriu com sua óbvia tentativa de animá-la.

— Eu vou indo então.

Pôs o casaco na dobra do seu braço — "fossa cubital", de acordo com Lorcan — junto com o seu caderno, por pura preguiça de puxar uma das alças da mochila de seu ombro para guardá-los.

— A gente se vê...

— Domingo. Aniversário da Molly — ele completou rapidamente.

— Ai, meu Deus. Eu não comprei presente para ela ainda.

Esteve tão preocupada com o TCC que não pensou em muitas outras coisas.

— Eu cuido disso — ele disse com as mãos nos bolsos da calça.

Estava muito difícil se segurar.

Então usou o seu braço livre para empurrar a cabeça dele em direção a sua, roubando-lhe um selinho que durou mais de 3 segundos.

— Até domingo — sussurrou, antes de afastar-se e sair o mais rápido possível do bar.

Scorpius ficou sem reação.

Pôde ouvir o barista, que esteve atento à conversa e era o mesmo da outra noite, rir e comentar com um colega.

— Não te disse? Quanto tem discussão demais, o santo desconfia.


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