Hoje era sábado e como de costume era meu dia de folga, portanto, levaria Sophie para brincar no parque com as outras crianças de sua escola. Preparei nosso café da manhã e não demorou muito para ela acordar e devorar tudo. Embora sua aparência seja extremamente parecida com Freddie, seu jeito travesso e comilão, com certeza, era meu.

Ela se trocou em um instante e correu para dentro do carro.

Minha mãe havia deixado a casa e o carro para mim há quatro anos, quando se mudou para New York para morar com a minha irmã Melanie. Pam estava com problemas de saúde nos últimos anos e a melhor forma que encontramos de mantê-la bem e perto de um bom hospital bom foi essa, mas ultimamente, seu quadro de saúde estava melhorando.

—Mamãe, quero sorvete! Sorvete, por favor! Eu comi todo meu café da manhã como você fala que eu devo fazer. Por favor, por favor! Sorvete – Sophie puxava a barra da minha blusa enquanto falava tudo rapidamente.

Tínhamos acabado de chegar ao parque e ela já avistara um carrinho de sorvete de longe.

—Vou comprar só um, mas quero ver você almoçando depois, mocinha.

—Eba – entreguei algumas moedinhas para ela que foi correndo até o carrinho.

Não estava muito longe e fiquei o tempo todo de olho nela. Em poucos segundos ela pegou o sorvete e se juntou a alguns amiguinhos da escola para brincar toda feliz.

Sentei-me em um dos bancos que tinha e me perdi por um bom tempo em pensamentos e na imagem dela correndo para lá e para cá até que senti alguém se sentando ao meu lado. Meu humor mudou na hora ao reconhecer a pessoa.

—O que está fazendo aqui? – trinquei os dentes.

—Bom dia para você também, Samantha – Freddie sorriu.

Apenas o encarei com desdém e estava me levantando do banco quando senti ele segurar meu braço para que eu continuasse no mesmo lugar.

—Por que está fugindo de mim? Eu só quero conversar.

—E eu já disse que não temos nada para conversar.

—Você precisa me escutar. Já tive uma noite de jantar horrível com minha mãe, Carly e Gibby.

—Que pena. Se ainda estivesse em Los Angeles, talvez teria terminado a noite de uma maneira melhor. Já pode voltar se quiser. Dessa vez não será surpresa para ninguém se for sem se despedir – sorri ironicamente.

—Olha Sam, aquele dia...

—Já disse que para você é Samantha.

—Tudo bem, desculpa. Enfim, eu sei que desculpas não são capazes de apagar tudo o que eu fiz no passado – pausou por um instante como se estivesse procurando as palavras certas para dizer – Eu era muito imaturo na época, eu sabia que amava você, sempre amei. Mas a oportunidade dos meus sonhos estava bem ali na minha frente, eu estava incapacitado de dizer não, mas também não conseguia dizer não a você. Eu sabia que você nunca iria embora comigo para Los Angeles, seu pai estava doente e sua mãe estava péssima por causa disso...

—E você só melhorou tudo indo embora do nada sem nem me avisar – ironizei.

—Eu não tinha coragem de olhar você nos olhos depois que decidi aceitar a proposta. Eu nunca quis humilhar você. Nunca foi minha intenção te magoar – nesse momento ele olhava nos meus olhos e eu senti todo meu corpo se arrepiar. Droga, ele ainda tinha um certo controle sobre mim, mesmo depois de anos – Se eu te visse antes de ir, provavelmente desistiria, por isso meu orgulho falou mais alto e eu fui um completo egoísta ao fazer isso. Se eu não fosse, me culparia pelo resto da vida e nunca teria sido capaz de te fazer feliz, mas agora que eu fui, me sinto culpado por ter abandonado você.

Ele estava sendo sincero, mas eu não podia deixar ele entrar na minha vida e no meu coração novamente.

—Freddie, você tomou sua decisão. E o que eu posso fazer agora é só respeitar, se você acha que vai se sentir melhor se eu te perdoar, ótimo. Eu perdoo você. Mas é apenas isso, em breve você volta para a sua vida em Los Angeles e eu continuo aqui – tentei transparecer o mais calma possível, embora eu sentisse que meu coração pudesse pular do meu peito a qualquer minuto.

—Na verdade, acho que vou ficar um tempo por aqui.

—O que?

—Eu magoei a Carly, não posso ir embora sem me acertar com ela. Perdi meu pai sem nem ao menos ter tido a oportunidade de me despedir, eu nem fui capaz de vir visitá-lo por bobeira minha. Isso é o tipo de coisa que te faz pensar sobre a vida.

Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, Sophie veio correndo em minha direção.

—Mamãe, mamãe! Meu cabelo tá caindo no meu rosto.

—Vem cá, meu amor. Eu vou prender para você.

Sophie virou de costas para mim e comecei a fazer um rabo de cavalo.

—Oi senhor da lanchonete – se virou para Freddie.

Senti meu coração se apertar nesse momento, ele ouviu ela me chamando de mãe e sabia sua idade. Se fizesse as contas, iria perceber.

—Oi mocinha – ele sorriu de lado. Pela primeira vez durante a nossa conversa, o sorriso tinha sido sincero.

—Prontinho. Já está linda – terminei de prender seu cabelo e em poucos segundos voltou a correr para seus amiguinhos.

—Então, mamãe em. Parabéns – ele disse com os olhos fixos em Sophie correndo – Ela é muito linda.

—Obrigada – disse incerta se deveria contar a verdade ou não.

—Bom, já vou indo. Eu falei o que tinha para falar, obrigado por escutar.

Dito isso, ele se levantou e começou a atravessar o parque, e, claro atraindo inúmeros olhares e sorrisinhos de outras mães que já estavam o reconhecendo da televisão.