Golden Years escrita por condekilmartin


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oiee! Mais um capítulo liberado para vocês curtirem o feriado, aproveitem ♥



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Rômulo não havia imaginado que Cecília fosse aparecer na casa da árvore no meio da noite, mas não deveria ter ficado tão surpreso porque não era uma situação impossível de acontecer. Certa vez ela lhe contara que costumava ir até lá no meio da noite, tantas vezes que seus pais nem chegavam a se surpreender quando encontravam sua cama vazia no dia seguinte.

Quando a viu, precisou de todo o seu esforço para não a colocar em seus braços e embalar seu corpo até que se acalmasse. Percebeu o quanto ela tremia, que estava à beira das lágrimas, e sabia que podia ter algo a ver com aquilo. Seu peito doía ao constatar que ainda era responsável por um pedaço do sofrimento que a consumia, especialmente quando ela explodiu.

Havia sido mandado embora, mas não podia ir, não quando estava ali e a vida estava lhe dando uma nova chance. Não deixaria as palavras do Almirante entrarem na sua mente mais uma vez.

Precisava de Cecília.

Iria reconquistá-la porque precisava dela para respirar, simples assim.

Quando chegou à sala de jantar, que estava com a mesa posta para o café da manhã, Rômulo deu de cara com seu pai, lendo o jornal e claramente esperando pelo primogênito aparecer.

— Finalmente me deu o prazer da sua companhia, filho. — As palavras do Almirante não continham um pingo de emoção.

— Não seja assim, papai. — Rômulo suspirou. — Acredito que conversamos ontem à noite.

— Isso até você me largar aqui e ir fazer sabe-se Deus o que e onde nessa cidade minúscula. — O Almirante finalmente encarou o filho. — Não precisamos de mais boatos sobre a nossa família, Rômulo.

— O senhor sabe que nossa família atrairia muito menos curiosos se o senhor tentasse ser um pouco mais simpático, não sabe? — Fizera uma pergunta retórica, mas obteve uma resposta mesmo assim.

—  Não preciso ser simpático para que mais pessoas tenham interesse em cuidar da minha vida, elas o fazem de qualquer maneira. — Deu de ombros. — Onde esteve?

— Não acredito que seja da sua conta, meu pai. — Rômulo desafiou.

— Está morando sob meu teto, garoto. Ande, responda. Onde esteve?

O médico conseguia ver o olhar de fúria atravessando o rosto do pai, mas sabia que ele estava tentando se controlar para não criar uma cena logo no início do dia. Não que se importasse, não ficaria ali tempo o suficiente para remoer aqueles lamentos.

— Estava passeando, satisfeito? Revendo a cidade. — Respondeu, numa lufada de ar. — Caso não saiba, faz mais de 6 anos que não venho até aqui.

— Por um acaso não foi ver a menina Benedito? — O Almirante perguntou e Rômulo entendeu onde o assunto iria chegar.

— Não fale de Cecília, meu pai. Não tem o direito de colocar o nome dela na boca. — O médico tentou engolir a raiva.

— Você não vê que eu só estava tentando protegê-la do fardo que é entrar nessa família? Tentando proteger você de cometer um erro igual seu irmão quando se casou com aquela moça Priceli.

— Cecília nunca foi um erro. — Rômulo sentia a fúria rugindo no seu peito com o rumo que aquela conversa estava tomando. — E Edmundo teve muito mais coragem do que eu quando não desistiu de Fani.

— E fugiu daqui mesmo assim. — O Almirante fez um ponto enquanto encarava o filho. — Edmundo pode ter ido para o raio que o parta, com Fani ou qualquer outra mulher, mas ele vai continuar carregando o fardo de ser um Tibúrcio.

— Por sua culpa! — Rômulo explodiu.

— Culpa da desgovernada da sua mãe, que manchou nosso nome. — Devolveu.

— Ela não está mais aqui! — O médico disse e não se conteve ao completar. — Por sua culpa!

— Até você acredita nos boatos então? —  O Almirante encarou o primogênito, seu rosto sem esboçar sinal algum de emoção, mas a voz carregava a incredulidade de perceber que o próprio filho acreditava em tamanhos despautérios.

— Não acredito em nada. — Rômulo disse, por fim. — Não sei o que aconteceu entre você e mamãe e, sabe-se Deus se um dia gostarei de saber. O que acredito é que eu e Edmundo fomos traumatizados o suficiente por toda uma vida.

O médico saiu assim que completou sua frase. Não conseguia ficar ali e arrumar mais alguma briga com o pai. Conviver naquela casa, naquele clima terrível, fora um tormento que lhe acompanhara a maior parte da vida, aliviando apenas quando fora embora para São Paulo.

Mas São Paulo não o faria esquecer, nunca o fez. Tinha curiosidade sobre o que aconteceu com sua mãe e esperava descobrir a verdade algum dia. Por enquanto, não tinha estômago o suficiente para ficar ali.

Pensara diversas vezes sobre o que fazer ao herdar todo o negócio da família, afinal, era o mais velho e, apesar de ter nascido e crescido ali, exceto o curto período que esteve em Portugal junto com Edmundo para estudar e todo aquele caos acontecido, não tinha certeza de que manteria a casa. Não tinha uma memória feliz ali sequer.

Nunca tivera coragem de levar Cecília até lá, não saberia o que fazer assim que seu pai colocasse os olhos nela e a assustasse o suficiente para que o deixasse. Mas o Almirante havia entrado na sua própria cabeça para que ele a deixasse. Que irônico, não?

Rômulo precisava extravasar a raiva e não havia lugar melhor que o lago onde sempre praticava suas atividades físicas quando mais novo. Só esperava que ali ainda estivesse tão vazio e silencioso como sempre, pois era tudo o que ele precisava para colocar a cabeça em ordem.

O lago continuava do jeito que lembrava, vazio, tranquilo, sereno... um lugar de paz. Seu lugar de paz. Não tardou a perder tempo e colocou a roupa de banho, começando a se exercitar e organizar a mente.

Pensou no que faria, agora que estava no interior. Poderia fazer uso da sua profissão como médico; era o que gostaria de fazer, na verdade. Não precisava passar tanto tempo com o pai e ainda tinha anos antes de herdar os negócios da família, ele esperava. Decidiu que falaria com doutor Jonas e usaria parte do seu tempo livre para trabalhar em sua clínica, auxiliando-o.

A outra metade, seria para trazer Cecília de volta e aproveitar cada segundo tendo-a em seus braços. Sentia tanta saudade que poderia sufocar.

Mergulhou mais algumas vezes e, quando estava pronto para voltar para a cidade, percebeu que alguém se aproximava dali. Eram passos silenciosos o bastante para passarem despercebidos a um ouvido desatento, o que não era o caso.

Estava prestes a aparecer para a pessoa desconhecida quando esta tropeçou e caiu diretamente em seus braços. Não conseguiu evitar um sorriso.

— Sempre soube que seu lugar era aqui, meu anjo.

— Quer parar de me chamar assim? E me solte! — Cecília resmungou.

— Você quem se deu o trabalho de tropeçar em cima de mim, Cecília. — Ele pontuou, mas deixou a moça sair de seus braços, embora com muita relutância.

— Está me perseguindo, Rômulo? — Ela virou para encará-lo.

— Sinto dizer que foi pura coincidência. — Ele levantou os braços em sinal de rendição. — Não sabia que costumava vir ao lago esse horário. Se tivesse vindo mais cedo, conseguiria me ver nadar.

O médico deu um sorriso de lado para a moça a sua frente.

— Obrigada pelo aviso, não passarei mais por aqui essa hora. — Cecília deu meia volta, ignorando o flerte.

— Espere. — Rômulo pediu, segurando o braço dela.

Sentiu o choque entre suas peles, o aquecendo por dentro. Acreditava fielmente que ela havia sentido também.

— O que você quer?

— Saber se você está bem. — Ele disse, sincero. — Ontem a noite você parecia... tempestuosa.

— Ainda não entendi o que foi fazer na minha casa da árvore. — Ela disse antes de completar. — Estou bem, como sempre estive.

— Sempre esteve? — Rômulo levantou a sobrancelha, desconfiado.

— Sempre. — Cecília disse, mas o médico sentiu que sua voz falhara um pouco.

— Que bom. — Ele forçou um sorriso. Não acreditara em uma palavra. — Fico feliz que ao menos um de nós estava bem.

— Um de nós? — Ela perguntou, desconfiada.

— Um de nós. — Rômulo se aproximou dela, até ficarem a dois passos de distância.

— Bom, foi você quem quis assim. — Cecília o encarava, mantendo a expressão decidida.

— Eu nunca quis ficar longe de você, Cecília. — Rômulo se pegou confessando. — Me matou ter que fazer aquilo com você, com nós dois. Nunca quis partir seu coração.

— Mas foi o que você fez. — Ela tentou manter a voz firme, mas o médico viu que seus olhos enchiam de lágrimas e a voz começava a tremular. — Foi sua escolha.

— Acreditaria em mim se eu disser que fui forçado?

— Ninguém é forçado a nada, Rômulo. — Cecília o encarava, lutando contra as lágrimas.

— Eu fui. Nunca quis terminar o que nós tínhamos. Meu pai, ele... Ele me forçou a terminar tudo com você. Disse que, se nos casássemos, você seria desgraçada e arruinada pelo nome da minha família, que todos na cidade sabem que não é o melhor. — Rômulo sentiu um peso sair das suas costas, ao finalmente revelar isso a ela.

— Você terminou comigo por causa de boatos? — Cecília perguntou, incrédula com o que acabara de ouvir.

— Cecília, você precisa entender que...

— Eu não posso acreditar que tenha sido tão covarde, Rômulo. — Ele sentia a fúria que saía de dentro dela. — Você destruiu a coisa mais pura que nós tínhamos por que seu pai tem medo de fofoca?

— Eu sei o que aconteceu entre meus pais tanto quanto você ou o resto da cidade, Cecília. Sabe que quando voltei de Portugal fui assolado pela rede de fuxicos que existe nesse lugar. — Ele se defendeu.

— Eu nunca julguei você por causa disso, Rômulo. Me toma por idiota se acha que o julgaria por causa dessa história. — Os olhos dela faiscavam. — Você me deixou ir por causa do seu pai, porque ele não é capaz de lidar com o assunto, nem se pronunciar ou fazer qualquer aparição pela cidade.

Não tinha como negar. Errara feio, a machucara e machucara a si mesmo porque seu pai havia entrado na sua mente. Não se perdoava e não julgaria se Cecília também não o perdoasse. Mas precisava que ela o fizesse para conseguir viver com o mínimo de paz.

— Me perdoe, Cecília. — Ele se viu implorando. — Por favor, me perdoe.

— Não sei se sou capaz de perdoá-lo, Rômulo. — A voz fria colocava uma distância ainda maior do que já existia entre eles. A moça não lhe dera chance de redenção ou de uma última defesa, não que Rômulo tivesse mais alguma, quando se virou para deixar o lago.

— Cecília... — Ele murmurou, observando-a ir embora entre as árvores.


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Notas finais do capítulo

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