Golden Years escrita por condekilmartin


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que não tenham morrido de curiosidade com aquele final! Já trouxe o segundo capítulo para vocês.
Aproveitem ♥



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O mundo parecia mesmo fazer de tudo para rir da cara dela. Ao menos era o que Cecília pensava quando se viu presa naquela situação, quase atropelada e com seu olhar perdido naqueles olhos que a enganaram uma vez.

Ela só queria sair daquele lugar, ir embora e nunca mais encontrar Rômulo Tibúrcio outra vez. Não suportaria. Por mais que tivesse lutado para esquecer, aquela dor ainda a sufocava de vez em quando, como a lembrança dolorosa que era e, quando finalmente estava se dando ao luxo de se permitir seguir em frente, ele aparecia novamente, como um fantasma.

 — Cecília! — Ele a chamou e ela sentiu seu coração estilhaçar ao ouvir aquela voz dizer seu nome mais uma vez. Achava que aquilo nunca mais iria acontecer. — Você está bem?

Ela não conseguiu responder, mas também não conseguia desviar o olhar. O universo estava lhe pregando uma peça, era a única alternativa possível. Se estavam dizendo que o homem poderia chegar à lua qualquer dia desses, então tudo era realmente possível, inclusive ele voltar para atormentá-la.

Uma pequena multidão de curiosos estava se formando entre eles, querendo saber se algo grave havia acontecido naquele acidente e garantido mais um pouco de mexerico para o resto do dia.

Rômulo já havia descido do carro e estava na frente dela, que não conseguiu tirar a expressão assustada do rosto. Como ela gostaria de não ter deixado a bagunça de sua casa naquele dia. Como desejaria não ter deixado Lídia convencê-la a sair de casa. Como apreciaria não ter entregado seu coração para o homem que estava na sua frente. Especialmente, como adoraria que ele não voltasse. Nunca mais, de preferência.

— Você está bem, Cecília? — Ele repetiu a pergunta, a preocupação de que teria, acidentalmente, a machucado rondando sua mente. Seus olhos conferiam se ela tinha todos os pedaços do corpo no lugar, antes de pensarem outro tipo de coisa.

Deus, como ela era linda. Rômulo não havia esquecido nenhum detalhe do corpo de Cecília, de seu rosto, suas expressões, seu olhar, seu sorriso… estava ainda mais bonita do que ele lembrava, é verdade.

Ele só queria correr seus dedos pelo corpo dela, a abraçando e a protegendo de todo o mal. Mas não podia. Havia tomado essa decisão anos atrás. Não podia voltar atrás agora.

— Cecília, vamos embora! — Ouviu a irmã mais nova dela se aproximar. Lídia, ele lembrava.

Ela abraçou Cecília e a tirou dali, garantindo que estava tudo bem com a irmã, mas Rômulo sabia muito bem que essa não era a verdade.

Cecília estava em choque.

Lídia conseguira levá-la para casa, mas ela não tivera forças suficientes para explicar o motivo de voltar naquele estado. Trancou-se no quarto e deixou as lágrimas rolarem pelo seu rosto, fazendo uma oração silenciosa para que aquilo não estivesse acontecendo, que fosse um pedaço da sua mente lhe pregando uma peça, movido pela saudade. Estava alucinando.

Rômulo havia partido seu coração e o deixado em um milhão de pedacinhos por vontade própria. Não tinha direito algum de voltar de uma hora para a outra, quase a atropelar, e ainda perguntar se ela estava bem. Não era da conta dele. Não mais. Nunca fora.

Ela deixou as lágrimas escorrerem livremente por mais alguns minutos, quando decidiu que não havia sido criada para aquele tipo de situação. Fora criada para ser forte e decidida, não uma mulher que chora amargurada por alguém que não a quis. Estava decidida a dar um ponto final naquela história de uma vez por todas.

Não sofreria mais.

Abriria o coração novamente.

Rômulo não fazia mais parte da sua vida.

***

O quão irônico fora Cecília Benedito ter sido a primeira pessoa em quem ele pousara os olhos ao voltar para aquele lugar. Não só os olhos, pois quase a atropelara e não se perdoaria se a tivesse machucado. Mais, lembrou.

Sabia que merecia todos os olhares que ela o lançou naquele curto espaço de tempo. Sequer se deu o trabalho de falar com ele, que fosse apenas para assegurá-lo que estava bem. Ele merecia que ela o odiasse. Sabia disso.

Rômulo achou irônico que Cecília, inteligente como era, não havia percebido que o coração dele também se partira quando tudo aconteceu. A dor dela era tão grande que a cegara para os sentimentos dele, exatamente como ele pretendera. Fez o que fez para protegê-la, porque iria embora e não poderia tomá-la por esposa naquele momento. Partiu o coração dos dois ao mesmo tempo, se forçando a ficar longe de Cecília por todos aqueles anos, transformando-a numa memória constante.

Tudo o que quisera fazer ali, naquele segundo em que se aproximou dela, no meio de toda aquela gente curiosa, era beijá-la. Acabar com a curta distância física que os separava e colocá-la em seus braços, para que nunca mais saísse dali. Mas não era uma distância física que os separava, não mais; era aquela maldita distância emocional que ele impusera.

Cecília havia mudado tanto assim? Teria deixado de amá-lo? Ela nunca fora uma mulher de promessas vagas, do mesmo jeito que ele também não era. Mas fora um dia, por pura necessidade e proteção. Havia lhe prometido o mundo e não tinha cumprido. Jamais se perdoaria por isso.

A vida estava lhe dando outra chance, pensou. Existia um propósito para ter voltado aquele lugar minúsculo, com tantos boatos sobre sua vida e um amor interrompido. Não iria deixá-la escapar de suas mãos novamente, pelo bem da própria felicidade.

Lutaria por ela.

A reconquistaria.

Seus pensamentos foram interrompidos quando chegou à sua casa e foi recebido por seu pai, exalando a mesma animosidade e alegria que uma porta. Era tão bom estar em casa...

— Finalmente está em casa, meu filho! — O Almirante disse, com a expressão taciturna de sempre.

— É bom estar em casa, pai. — Rômulo sorriu, sem se deixar enganar pelo humor do pai. — Eu acho.

— Espero que tenha finalmente aceitado seu lugar. — O Almirante começou, mas foi interrompido por Rômulo.

— Não vamos começar com isso agora, por favor. Eu estou exausto, papai, preciso de um banho, uns minutos de descanso e aí podemos conversar sobre o que o senhor quiser, está bem?

— Se é assim que prefere... Estarei na biblioteca quando você estiver descansado o suficiente para conversar sobre seu futuro.

Rômulo não deixou de perceber a ironia na voz de seu pai, indicando o quanto estava insatisfeito por ser contrariado, mas ele não era mais aquele garotinho que fora comandado por este homem. O Almirante havia conseguido destruir toda a alegria da vida do médico uma vez, não iria fazer aquilo novamente.

Que falta fazia Edmundo ali, mas sabia que o irmão mais novo nunca tivera um emocional forte o suficiente para enfrentar tudo aquilo que os Tibúrcios tinham que aguentar, toda a hostilidade e os olhares curiosos. Se não tivesse sido por Fani, Edmundo teria perdido todas as estribeiras e se entregado a um futuro terrível, mas ele conseguiu se manter bem e são por tempo o bastante para sair do país. Um oceano de distância do Almirante e de todo aquele caos. Um sonho, realmente.

O médico se acomodou em seu antigo quarto, com a mesma decoração que havia deixado quando partira para São Paulo. Ele se aproximou de uma gaveta e a abriu com cuidado, analisando o conteúdo que estava ali, até que encontrou o que buscava.

O par de luvas rendadas em um tom de verde menta ainda estava ali, com poucas manchas de tempo e um leve aroma de mofo, mas ele não se importou. Pegou-as com cuidado, admirando cada detalhe e se lembrando do momento exato onde as havia conseguido.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Comentem e recomendem!
Até o próximo, xero ♥



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