Ladybug, ela era Ladybug. Isso a acalmava há alguns anos: a máscara de joaninha concedia confiança e destreza, mas neste momento ela apenas queria ser Marinette Dupain-Cheng. Afinal, queria voltar a ser uma adolescente normal.

As coisas começaram devagar, o misto de insegurança no início deu brecha à amada super heroína disposta a salvar Paris por nada, mas ainda assim, inconsequente.

Ladybug bufou. A ideia era esvaziar a mente e pensar em algo que não fosse a vida dela. Mas àquele ponto, o telhado de Paris era o lugar perfeito para ela reviver as memórias.

A azulada compartilhava horas de conversa com seu gatinho bem ali. E talvez, só talvez estivesse com mais saudade dele do que pensaria estar antes.

—Droga.–  A azulada fechou as mãos com o objeto entre elas. Objeto em formato de gato que fazia lembrar Chat Noir. O brinquedo nada mais de tratava de um alarme para Ladybug. Chat Noir apertando o botão vermelho de conjunto ao gatinho, e o pequeno mascote agitaria, chamando a atenção da mestiça. Havia presenteado Chat Noir com aquilo antes da viagem para New York no caso de algum akuma. Passado os meses, ela era idiota por ainda guardar aquele símbolo de Chat Noir e esperar que seu gatinho apertasse aquele minúsculo botão. Idiota por ainda querer momentos com Ele.

"Sinto falta do meu gatinho" 

Chat Noir estava cada vez mais distante, as brigas eram constantes.

Por ser orgulhosa ela não abriu brecha. Chat Noir estava sendo dramático por achar que ela estava o abandonando. Não que ele tivesse dito isso, mas ela podia sentir. Era certo que como Ladybug estava mais focada nas lutas, mal humorada com os trocadilhos do parceiro, e sem tempo para sustentar uma conversa amigável constantemente. Os deveres como guardiã tomavam seu tempo, aquela rotina a acabava e a deixava irritada quase sempre.

Chat Noir sabia que a parceira estava sofrendo, por isso resolveu que iria conversar. No horário de patrulha noturna, ele a chamou para desabafar, mas as palavras da amada o destruiram por inteiro. 

—Às vezes é muito difícil ser Ladybug.–Ela virou a cabeça mordendo o lábio inferior.–Essas gracinhas que você faz todos os dias cansam, Chat Noir. Você está me atrapalhando ainda mais com esse seu jeito. – Ela inspirou fundo antes de soltar o ar de forma brusca.– Deve ser muito fácil ser você e viver de brincadeiras, mas experimenta ser eu? Eu sou a guardiâ, sou a Ladybug, eu não posso falhar. Se eu falho, todos falham. Não é como se eu pudesse brincar toda a luta como você faz, para no final... no final esperar alguém reverter tudo para mim. Eu, Chat Noir, eu não posso fugir dos meus problemas.–Ela deu uma pausa apenas para que pudesse encontrar os olhos de Chat Noir.– E quer saber? Não nos conhecemos o suficiente, não somos um casal, e nunca seremos para eu contar a história da minha vida. Enfia isso na sua cabeça.– Ladybug soltou as palavras com precisão e desapareceu na penumbra da noite.

Sua transformação caiu quando caiu na sacada. Marinette desceu as escadas e limpou as lágrimas dos olhos se dando conta do que havia feito. Ela se martirizava por em um momento de descontrole ter descontado sua raiva em Chat Noir. 

Aquela foi mais uma das noites mal dormidas, mas Marinette podia considerar a pior. Flashes da expressão de Chat Noir, antes a encarando com tanto carinho e noutro momento com tamanha decepção, a invadiram. Seus olhos perdidos e sua expressão sofrida a perfuravam como facas em seu coração. O que mais doeu foi notar que Chat a escutou atentamente. Ele deu a chance de ela dizer e destruir a última garantia do elo que tinham.

A culpa ainda estava sobre seus ombros quando Marinette levantou com baixa disposição. O dia havia amanhecido nublado, a fazendo se sentir ainda mais impotente. Ela estava claramente enganada de achar que Chat Noir a perdoaria. Havia decorado as palavras na mente e as repetia enquanto  pulava pelos telhados de Paris. Ao final da luta, buscou pelo carinho, o amor nos gestos e o tão conhecido zerou, mas o que encontrou foram olhares gélidos e uma distância considerável de seu parceiro. Custou uma semana para que Ladybug  se desse conta que Chat Noir realmente estava magoado, não que ela não tivesse notado antes, mas a esperanças se esgotaram de vez.

Agora, Ladybug chorava agarrando o pequeno mascote em suas mãos, como se ela dependesse daquilo para viver. Ela não sabia dizer quanto tempo esteve ali e nem há quanto tempo um certo gatinho a observava. Apenas sentiu os braços fortes de Chat Noir a envolvendo com urgência. 

—C-Chat...m-me desculpe.–Ela agarrou os braços de Chat Noir que estavam ao redor de seu pescoço e balbuciou uma súplica por perdão, com a voz arrastada e os soluços ameaçando voltar.

Chat Noir virou o corpo da joaninha para que ela olhar para ele e deu um sorriso mínimo. A mestiça apresentava os olhos e o nariz vermelhos; os lábios formavam uma curva linha fina. Chat Noir a abraçou mais uma vez, enquanto Ladybug explorava as volumosas madeixas de Chat e com as mãos tremendo pelo choro.

O "eu te amo" travou em sua garganta. Ela o amava, queria dizer, mas seus lábios não se moviam. Talvez por tudo ser tão novo para ela. 

Ele também a amava e na mesma intensidade que sua parceira. Por fim, ela não podia estar mais feliz em ter seu gatinho de volta, um gatinho teimoso e galanteador em seus braços.