Soul(rose)mate escrita por CrushHP


Capítulo 1
Capítulo 1: a tristeza de Scorpius.


Notas iniciais do capítulo

Olaaaaaa, serão três capítulos (talvez um epílogo?) dessa belezura.

Um agradecimento especial para todas as pessoas envolvidas no junho scorose. Vocês são incríveis.



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10 anos, 13 dias, 2 horas, 35 minutos.

Ter uma alma gêmea é bastante comum no mundo de Scorpius. Elas são tão amplamente divulgadas que ele não lembra de uma época em que não sabia que tinha uma alma gêmea. Na televisão, todos os dias havia notícias sobre encontros inesperados entre duas almas gêmeas, comerciais dos mais avançados sites que prometiam acelerar seu tão aguardado encontro de almas e anúncios lembrando a obrigatoriedade do uso de temporizadores a partir dos doze anos de idade. 

Ao nascer, todas as pessoas eram submetidas a um simples teste que avaliava sua compatibilidade sanguínea e apontaria uma provável ligação de alma no futuro. 

Scorpius teve uma inacreditável taxa de compatibilidade, alcançado incríveis 97,89%.

Seu resultado era ainda mais difícil de acreditar quando seus pais eram citados como Incompatíveis.

Os incompatíveis eram metade da população sem uma alma gêmea. Logo, era esperado que o pequeno Scorpius também fosse caracterizado como eles. Não foi o que aconteceu e seus pais o exibiam com orgulho por aí, afinal, eram raros os casos de Incompatíveis tendo um filho ligado, ainda mais com um resultado tão alto.

 Ou seja, Scorpius sempre soube que teria uma alma gêmea e estava animado para receber seu temporizador e contava os dias para conhecê-la. 

Ou conhecê-lo. Nunca se sabe. 

Ele esperava que fosse uma garota porque ele sabia que gostava de garotas e queria se apaixonar e sentir tudo aquilo que ele ouviu os ligados falando. 

Mas ele também não se oporia a um garoto, uma amizade verdadeira com uma pessoa que vai te entender pelo resto da vida não parece tão ruim.

Ele também poderia ter só uma amizade com essa com uma garota, não é? 

Sua alma gêmea poderia gostar de garotas e ser uma garota! 

Eram tantas as possibilidades que Scorpius pensou enquanto crescia. Ele não podia esperar para conhecer seu parceiro.

Mas o dia de receber o marcador no seu pulso chegou e Scorpius nunca imaginou que demoraria tanto para realizar seu sonho.

Na manhã em que o pequeno Malfoy completou doze anos de idade estava excepcionalmente chuvoso para o verão. Ele acordou e em completa animação desceu a longa escadaria com pés rápidos até a cozinha, onde encontrou seu pai cozinhando e cantarolando uma música que tocava baixinho em seu celular. Draco virou a cabeça ao ouvir o som de passo vindo pelo corredor. 

Ele sorriu para seu filho quando ele apareceu e indicou o assento ao lado da bancada que foi rapidamente ocupado.

O café da manhã aconteceu mais rápido que o normal e Scorpius correu escada acima para se trocar. Ele e seu pai discutiram esse dia durante toda a semana anterior e ele sabia que após o café eles seriam os primeiros a chegar no atendimento para conseguir seu marcador com um encontro já marcado.

O nervosismo tomou conta de Scorpius quando ele entrou no carro com seu pai.

A viagem até o centro de instalação foi rápida, já que existiam muitos deles na cidade e a Mansão Malfoy não ficava longe da rodovia principal que levava ao centro da cidade. Draco assistiu divertido quando seu filho quase saltou do carro assim que o veículo parou no estacionamento. 

Scorpius batia o pé com impaciência ao esperar que o Malfoy mais velho saísse do carro e parasse ao seu lado para acompanhá-lo. Seu pai colocou a mão em seu ombro quando ambos estavam lado a lado e assim que Scorpius olhou para cima, recebeu um sorriso discreto do seu pai que o guiou gentilmente para o centro de instalação.

Num passe de mágica, seus nervos se acalmaram e ele lembrou do sorriso que sua mãe dava sempre que falavam sobre sua alma gêmea. Sua mãe não estava mais aqui, mas seu pai sim e estava ali para apoiá-lo e o ajudar.

Seu entusiasmo voltou com tudo e ele subiu o pequeno lance de escadas quase pulando de degrau em degrau.

As paredes brancas e com decorações escassas arrepiaram o jovem Malfoy assim que ele entrou, mas nem a falta de vida do lugar poderia diminuir a sua animação. Ele assistiu distraidamente seu pai cuidar das burocracias no balcão com a atendente e logo ele estava sendo levado a sala do médico que explicou para ele o procedimento.

Não havia necessidade para isso, já que Scorpius lembra de pesquisar sobre almas gêmeas desde que aprendeu a usar um computador. Um dispositivo do tamanho de um relógio seria inserido no seu pulso com uma agulha conectada à artéria. Esse equipamento mediria as batidas de seu coração e calcularia, através de um sistema tecnológico muito complexo para ele entender, o tempo estimado para encontrar sua parceira. (Ou seu parceiro).

Não doeu quando o médico simpático inseriu a agulha em sua pele, nem quando o temporizador foi preso ao osso de seu braço e ficaria ali até que ele se apresentasse com sua alma gêmea para remoção. 

Não, nada disso machucou porque com a tecnologia que eles tinham, Scorpius só sentiria um pequeno desconforto nos primeiros dias e se acostumaria com a sensação. 

Mas ele quase podia sentir o olhar de pena que o médico lançou a ele quando sincronizou a série de aparelhos atrás de si e seu temporizador foi ligado. 

Lá estava. 

10 anos

13 dias

 2h.35min. 

89% • Garota.

Ele olhou para o seu pai em busca de qualquer coisa, nem mesmo Scorpius sabia o que estava esperando. Draco tentou trazer de volta sua animação:

"Vai demorar mais que o normal, Scor, mas você tem uma alma gêmea e é muito provável que seja uma garota."

Parecia vazio de alegria.As palavras ditas por seu pai deveriam confortá-lo, mas não ajudou no momento. 

Scorpius ainda teria que esperar 10 anos para conhecer sua companheira de alma. 

Era seu pior pesadelo se tornando real.

4 anos, 11 meses, 29 dias, 3 horas e 54 minutos.

 

O choque inicial que Scorpius teve não era nada comparado ao que ele sentiu ao longo dos meses e anos que seguiram. 

Na verdade, ele acredita que foram os dias mais difíceis de sua vida. 

Ele ficou triste no começo, mas tentou ser positivo por um tempo. Era quase certo que seria uma garota! Será que eles se apaixonariam? O garoto loiro acreditava que sim. Ela seria morena? Loira? 

Sua pele seria clara como a dele ou escura? 

Ela gostaria de sorvete? Ou seria mais uma garota de coisas salgadas? 

Como seria seu estilo? Ela gostaria de vestidos, calças, ambos?

Sua positividade logo sumiu quando, numa noite deprimente, buscou na internet casos como o dele, onde almas gêmeas demoraram tantos anos para se encontrar. Normalmente, levava de três a cinco anos para acontecer. A esmagadora maioria das almas gêmeas já tinha conhecido seu companheiro antes de sair para a faculdade e os que se apaixonavam se casavam antes dos vinte. 

Quando sua pesquisa terminou, o loiro estava deitado em sua cama olhando para o teto. Seu peito doía com um sentimento de impotência que tomou sua mente. Ele sentiu que o lustre acima da sua cabeça era uma testemunha zombeteira das ondas poderosas de amargura que inundaram tudo e transbordavam pelos seus olhos. 

Casos acima de sete anos tendiam a significar coisas ruins. Scorpius leu o relato de pessoas que depois de longos anos de espera tiveram o tempo aumentado em seu temporizador pois, apesar de ser muito apurado, os contadores ainda podiam errar. Outro relato disse que seu temporizador desativou depois de esperar doze anos. Quando buscou o centro de instalação, descobriu que sua alma gêmea morreu anos antes e que o temporizador devia tê-lo avisado do laço partido há quase uma década.

Scorpius só ficou mais e mais incomodado com sua situação e logo a frustração tomou conta de seus pensamentos. 

Principalmente quando chegou na escola após as férias e todos perguntavam sobre a sua alma gêmea e mostravam seus pulsos com números muito menores que os dele. 

E Scorpius, que era um garoto já retraído desde a morte de sua mãe, entrou ainda mais em sua pequena bolha e ficou lá por muito tempo. 

O jovem Malfoy conseguia ver a preocupação nos olhos de seu pai. A maneira como seu olhar o perseguia sempre que ele achava que Scorpius não estava prestando atenção. E, apesar dos dois se entenderem trocando poucas palavras desde que Scorpius se lembra, seu pai desistiu dessa abordagem muito rapidamente.

Começaram com perguntas simples de "seus amigos estão bem?", "Seus professores te fizeram alguma pergunta interessante, filho?"

Para as mais elaboradas e feitas com muito rodeio como "O que você quer fazer quando terminar a escola?", "Você não está bem, eu posso marcar uma consulta para você?"

Scorpius não lembra exatamente quando foi que se afastou de seus amigos na escola. Ele recorda vagamente de sentir-se vazio quando Teddy Lupin apareceu comemorando que sua alma gêmea era sua amiga Victoire, que acabara de ter seu temporizador ligado e o removeu quase no mesmo momento junto com ele.

Scorpius e Teddy tinham quatorze anos na época.

Nancy Goyle encontrou sua alma gêmea em uma garota alta e sorridente no aeroporto quando viajou com sua família nas férias do ano seguinte. 

E seus amigos incompatíveis não entendiam porque ele estava tão deprimido, Peter Jackson o incomodava com piadas sobre ficar velho demais e seu contador apenas parar de contar. 

Jean Bones, talvez a garota que ele chegou mais próximo de ter um relacionamento em seus dezesseis anos de vida, não queria algo sério, principalmente com ele, que era um parceiro de alma e tinha um contador ditando quanto tempo poderiam ficar juntos.

E não importava quantas vezes Scorpius dissesse que ele não tinha como saber se amaria sua alma gêmea dessa forma, ela não se importou.

E aquele vazio, que ele achou insignificante no começo, começou a crescer em seu peito e tomar seus sentidos de forma tão intensa que até mesmo levantar da cama parecia uma tarefa complicada de se executar.

Ele atingiu o fundo do poço quando completou dezessete anos e sua única ação naquele dia foi olhar para os números em seu pulso por horas e mais horas. 

Scorpius não lembrava muito daqueles anos conturbados, mas o dia de seu aniversário marcou um ponto de virada em seus sentidos.

Seu pai entrou em seu quarto no final da tarde, e, Scorpius acredita que pode ter imaginado isso, seus olhos encheram-se de lágrimas não derramadas, mas também de uma resolução assustadora.

Ele o agarrou pelos braços e mesmo Scorpius já tendo o ultrapassado em altura, o carregou com uma criança para o banheiro. Ligou o registro e encheu a banheira enquanto o jovem o olhava sem expressão. 

Quando a água atingiu uma temperatura aceitável, ele o ajudou a se despir e, sem um pingo de vergonha sobre sua quase nudez, o guiou para dentro. 

O desespero tomou conta de sua alma naquela noite e ele só recobrou os sentidos ao perceber os braços longos de seu pai ao seu redor. 

Scorpius sabe que chorou naquele banho por horas e seu pai ficou ao seu lado por todo o tempo, sussurrando garantias vazias que apenas o faziam chorar mais.

Ele nunca foi tão grato a alguém. Tão grato por ele estar ali, tão grato por tudo.

Na manhã seguinte, Scorpius acordou com muita dor de cabeça e seu pai já estava ao seu lado, um cartão de uma terapeuta em sua mão e o telefone na outra. Seus olhos estavam vermelhos e ele parecia tão velho e cansado que o assustou.

"Acho que esperamos tempo demais, filho."








 


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Notas finais do capítulo

Eu revisei esse capítulo muitas vezes e ainda podem haver erros. É a vida.

Se eu tiver tempo, o próximo capítulo sai essa semana ainda.

Beijinhos.



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