Entre Mentiras e Amor escrita por The Deathly Mockingjay


Capítulo 4
Capítulo IV




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— Você não entende, Catnip.

— Como assim eu não entendo? Você estava tran-Ah! Nem consigo falar! Clove! Por que ela? Ela é—era minha melhor amiga!

— Eu sei disso, mas a gente precisa ficar junto. – Ele diz e fico confusa. Como assim ele quer que continuemos a namorar depois de pega-lo na minha cama com minha ex-melhor amigo?

— Você admite com a maior cara de pau e ainda espera que eu ainda queira ficar com você?

Eu revira os olhos e sussurra algo que não entendo.

— O que?

— Seu pai não te contou? – ele pergunta lentamente, mas ainda irritado.

— Contou sobre o que, exatamente?

Ele suspira sem paciência.

— Papai disse que nós temos que nos casar para a empresa do seu pai ficar dividirmos as empresas. Ambas as nossas famílias terão tanto a empresa do meu pai quanto a do seu pai.

Não sei se é a sua expressão extremamente séria ou se são as suas palavras ridículas, mas eu gargalho. Quando minhas bochechas doem de tanto sorrir e minhas bochechas estão cobertas de lágrimas, eu falo:

— Essa foi ridícula, Gale, mas precisa melhorar as suas desculpas. – Eu digo enquanto limpo a minha bochecha com as costas da minha mão.

Estou prestes a ir embora quando ele puxa o meu braço um pouco mais forte que antes.

— Ai! – exclamo – Me solta! Tá me machucando!

— Eu não estou mentindo ou criando desculpas, Katniss.

Se ele referiu a mim enquanto Katniss, então eu posso dar uma chance a suas palavras, por mais absurdas que sejam. Uma coisa que aprendi nesses últimos 5 anos de amizade com Gale é que quando ele me chama pelo meu nome verdadeiro, então há algo de muito errado acontecendo. Posso contar nos dedos as vezes em que ele me chamou de Katniss, e não Catnip.

Ele solta meu braço quando relaxo após ele dizer meu nome. Viro meu rosto para encarar seus olhos cinzentos como os meus. Se alguém nos colocasse lado a lado, pensariam que éramos, no mínimo, parentes.

— Papai assinou o contrato com o seu quando nos conhecemos. Se lembra quando Papai ficava horas com o seu pai na sede? Ou quando eles ficavam fazendo piadinhas sobre nos casarmos?

Ele pergunta, mas a resposta é óbvia.

É claro que eu me lembro.

Não respondo. Apenas chuto as suas bolas e saio correndo até meu quarto.

~

— Um penny pelos seus pensamentos. — Uma voz masculina me tira de minhas memórias. Sorrio ao reconhecê-la.

— Meus pensamentos valem mais que um penny, Peeta. – Respondo sem desviar os olhos do mar.

Depois do café da manhã, Mags insistiu para que nós três fossemos fazer um tour pela cidade. Quase recusei inventando uma desculpa de que gostaria de descansar mais, mas ao ver o brilho nos olhos de Mags enquanto tagarelava sobre como eu deveria comprar roupas novas e ver os principais pontos turísticos de Porto, eu imaginei que não doeria passar o dia com eles. Afinal, iríamos para lugares públicos. Seria mais seguro do que ficar na pousada, certo?

— Certo, então, dois pennies?

Desvio o meu olhar para o mar, só para me encontrar com o oceano. Estava pronta para dar uma resposta sarcástica, mas seus olhos tiram minhas palavras junto com o meu fôlego mesmo com meus óculos escuros.

— Vou tomar isso como um não. – Ele ri.

— Não era nada demais. – Eu digo tentando mudar de assunto.

— Não parecia demais pelo tamanho da sua carranca.

Eu reviro os olhos.

— Qual o nome dessa praia, mesmo? – pergunto enquanto enterro meus dedos na areia macia.

—Παραλία Ψαρά (Paralía Psará), ou somente Praia dos Pescadores. – Ele responde.

— Para-o quê? – eu tento repetir.

Peeta começa rir e gargalhar tão alto que quase acorda uma Mags deitada em uma toalha do nosso lado. Minhas bochechas ardem de vergonha.

— Não é "peeerrah" é "paaara". Paralía Psará! – ele explica.

— É difícil – reclamo.

— Não é não. – Ele diz e minha carranca só aumenta.

— Eu sei que é diferente da sua língua nativa, então não se preocupe se não conseguir pronunciar tudo certinho, okay? Grego não é fácil nem para nativos.

Apenas aceno com a cabeça.

— Obrigada.

— Se quiser aulas de grego, estou sempre aqui. – Ele diz e me lança mais um de seus sorrisos galanteadores. – Cobro um tanto caro, mas para você, lindinha, faço de graça.

Ele me dá uma piscadela. De novo a mesma sensação no meu estômago; ele revira e revira, mas um jeito tão bom. Como quando um estamos numa montanha russa e ela está indo para baixo...

— Vai precisar se quiser ficar aqui por um tempo. – Ele continua – Afinal, quanto tempo vai ficar aqui? Mags não me falou nada.

Uma parte de mm agradece à Mags por não ter falado com ninguém sobre o motivo de estar aqui, mas parte de mim gela pois percebo que ainda não sei quanto tempo ficarei aqui. Quando fui perguntada na Emigração quanto tempo ficaria aqui, disse que seria por tempo indeterminado por causa da minha bisavó Mags. Tenho um limite de dois meses para ficar aqui, se não, teria que arranjar um visto às pressas. Mas eu não pretendo ficar aqui por dois meses, certo? Um mês é o suficiente para eu arrumar um pedaço da minha vida e voltar para Londres e nunca mais falar com a minha família.

Meu deus, o que vou fazer? Como será minha vida a partir daqui?

— Não sei – Finalmente respondo depois de uns segundos de silêncio – Tenho dois meses para arrumar a minha vida e voltar correndo para Londres.

— Então falou que está de turista aqui, certo? – pergunta Peeta.

— O que mais poderia falar?

Ele dá de ombros.

Parte de mim quer colocar tudo para fora; toda a agonia e tristeza de quase ser forçada pela minha própria família a me casar com alguém que não quero, toda frustação por não saber se posso confiar de verdade em Mags e sua família por mais que queira e todo o desespero de não saber o que fazer sem eles para me apoiar aqui.

— Bom, se quiser ficar conosco por esses dois meses, terá de fazer algo para se sustentar.

— Mas não é ilegal? – pergunto.

— Podemos mexer uns pauzinhos. O que fazia antes de vir para cá?

— Estudava. Estou querendo uma bolsa para doutorado em Oxford.

— Mas você não é rica? Por que não paga pela sua vaga? – Ele pergunta confuso.

— Por que não quero usar o dinheiro do meu pai para tudo na minha vida. – Digo irritada.

— Okay... Mas e antes? Trabalhava com o quê?

— A última vez que trabalhei foi no estágio durante o mestrado.

— Isso foi há quanto tempo?

— Há quase dois meses que terminei o mestrado.

— Entendo, mas nunca teve um trabalho para juntar seu dinheiro próprio?

— Já cuidei de muitos bebês e crianças durante a faculdade, rendeu uma graninha boa. Trabalhei de garçonete, depois de barista e depois só estágio. Quando me formei, eu estava dentro de quase todo trampo que conseguisse achar. Se não conseguisse dinheiro a tempo, pedia ajuda à Mamãe.

— Finnick precisa de ajuda com o pequeno Finn. Tanto ele quanto Annie vão voltar a trabalhar em menos de um mês e precisam de alguém para tomar conta do bebê.

É uma boa proposta, mas ainda tenho meios receios em ficar muito tempo com essa família. Eles podem estar me ajudando agora, mas sempre pode haver uma emboscada e sequestro, certo?

— Não sei se consigo cuidar de recém nascidos – digo inventando uma desculpa.

— Bom, garanto que terá mais opções. Até lá, nem eu ou Mags não nos importamos que fique em um dos quartos da pousada.

— Desculpa, Peeta, mas não sei se é uma boa ideia – digo sem pensar – Quero dizer, não quero atrapalhar vocês ou o negócio de sua avó.

— Katniss, eu acabei de falar que não nos importamos.

— Olha, eu tenho um pouco de dinheiro guardado para emergências como essa. Eu só preciso achar um aluguel não muito caro e um emprego pequeno. Só isso.

— Está certo, então. Vou ver se acho ofertas de empregos simples e aluguéis para você. Até lá, fique livre para usar o quarto. – Ele diz e por um segundo vejo um vislumbre do que parece ser decepção.

— Muito obrigada. Mesmo. – Digo com sinceridade. Só porque eu estou com uma perna para atrás não quer dizer que tenho que dizer não para tudo.

Ele apenas sorri.

~

— Espero que tenha gostado do dia, querida. – diz Mags quando chegamos na pousada, ambas carregando sacolas de roupas novas.

— Foi incrível, Mags. Muito obrigada por me mostrar tantos lugares incríveis. – Eu digo sorrindo enquanto tomo suas mãos delicadas nas minhas – E principalmente por me ajudar naquele barco. Se não fosse por você, eu não saberia o que fazer.

Mags balança a cabeça, negando.

— Ah querida, você sabe muito bem que não precisa agradecer. Eu simplesmente seguir meu coração.

— Bom, querida, agora tenho que ir para a recepção. O trabalho chama! – ela sorri e solta minhas mãos.

Quando ela está prestes a ir à recepção eu a chamo:

— Mags?

— Sim, querida?

— Onde fica a farmácia mais próxima daqui?

~

Loiro nunca foi minha cor. Pelo menos eu nunca gostei do jeito que a cor fica junto com o meu tom de pele. Mamãe e papai tem a pele muito clara e pálida, mas eu não. Nasci com a pele cor de oliva e vivi crescendo com comentários do tipo "Olha só, ela já nasceu bronzeada!". Mamãe disse que o pai dela era igualzinho a mim, então eu devo ter herdado quase tudo dele: morena, cabelos pretos e olhos cinzas.

Posso não gostar do meu cabelo loiro, mas prefiro estar assim do que ser achada por meu pai ou Gale. Encaro-me no espelho tentando me acostumar com meu novo visual. Até minhas sobrancelhas estão pintadas... É tudo muito estranho, mas eu não tenho outra escolha. Papai estará procurando uma mulher com cabelos pretos e não loiros.

Sou tirada de meus devaneios quando ouço batidas leves na porta do quarto.

— Olá? – pergunto do banheiro.

— Aqui é o Peeta. Jantar está pronto.

— Vou demorar um pouco, não precisam me esperar – digo enquanto pego uma tesoura.

~

Estou prestes a entrar na cozinha quando sou parada por uma voz:

— Uau! – exclama Peeta – Você está... am... diferente?

— Palavra engraçada para dizer que estou horrível.

— Mas você não está. Só não esperava você descer como uma pessoa completamente diferente.

Eu rio de sua reação.

— Era exatamente o que queria.

E entramos na cozinha.

— Katniss, querida, você está tão diferente! – Dessa vez quem exclama é Mags.

— Peeta disse a mesma coisa.

Em seguida, ouço assovios vindo de trás.

— Prefiro ruivas, mas loiras tem um espaço no meu coração. – Viro-me para perceber que a voz pertence à Finnick.

Ele está acompanhado por uma mulher de cabelos tão ruivos quanto os do bebê que ela segura.

— Está de bom humor hoje. – Ignoro seu comentário.

— Só por que está loira. – Ele rebate e a mulher ruiva dá um tapa em sua nuca – Ai, Annie!

Todos nós rimos, menos Finnick que massageia sua nuca. A mulher ruiva entrega o bebê para o pai e caminha em minha direção.

— Olá, sou Annie, esposa do Finnick e mãe do Finnick Jr. – ela diz estendendo sua mão para mim.

Sua voz carregada de sotaque é tão doce quanto seus olhos verdes. Seu sorriso é pequeno, mas iluminador.

— Oi, sou Katniss. – Digo enquanto aperto nossas mãos. – Mags basicamente me resgatou no barco de Atenas para cá.

— Finnick me contou tudo antes de virmos. Bem vinda à Panem!

— Obrigada, Annie.

Nossa conversa é interrompida por um Finnick aparentemente esfomeado, reclamando que estamos demorando demais para começarmos a comer. A bancada, que pela manhã estava cheia de frutas e pães, agora está repleta de comidas que não faço a mínima ideia do que são ou do que são feitas. Mags parece perceber minha hesitação perante aos diversos pratos e vem para o meu resgate.

— Ali na esquerda – ela diz apontando – é salada. Ao lado é Moussaka. É feito de camadas de carne cordeiro alternadas com camadas de berinjela. Uma delícia!

— Então, é uma lasanha de carne e beringela? – pergunto.

Todos me encaram estranho, mas Mags parece ignorar meu comentário e parte para as outras comidas.

— Do lado é a versão do Peeta de Spanakopita, que é torta de espinafre.

— E mais um ingrediente secreto – diz Peeta enquanto pega um pedaço para ele mesmo portando um sorriso lindo e meigo em seu rosto.

— Então, além de padeiro, é chef de cozinha? – eu pergunto divertidamente.

— O que posso dizer? Sou multi-tarefas! – ele diz orgulhosamente e me lança uma piscadela.

Sinto minha bochecha queimar e meu estômago revirar de um jeito bom, de novo. Mags me dá um prato com um pedaço da torta e da lasanha grega. Todos me observam atentamente, esperando eu comer. Quando finalmente levo um garfo com Spanakopita à boca e saboreio o delicioso prato do Peeta, eles parecem soltar o ar de seus pulmões, aliviados.

— É realmente muito bom, Peeta! – digo feliz e dar mais uma grande garfada em minha fatia.

Peeta ri levemente com suas bochechas rosadas.

— Mas é claro, fui eu que fiz. – ele diz com falsa arrogância em sua voz e todos riem.

Depois do delicioso jantar, Annie e Finnick se despedem de nós e partem para casa. Mags diz estar muito cansada e parte para seu quarto, deixando Peeta e eu a sós na porta da pousada. Observo o carro da pequena família diminuir de tamanho enquanto se distanciam de nós, pensando no quão feliz o casal estava. Tanto Annie quanto Finnick tinham a clássica aparência de pais cansados, mas sobretudo, felizes. O bebê é a cara do pai e faz mais do que sentido o por que que o nomearam de Finnick Jr, mas também é tão doce quanto a mãe e não chorou em momento nenhum durante o jantar em família.

— Está cansada? – pergunta Peeta, me tirando de meus devaneios.

— De jeito algum. – Digo.

— Quer que te apresente a pousada para passar o tempo? – ele pergunta timidamente, enfiando suas mãos nos bolsos de sua calça.

Não diga; apenas aceno.

A primeira casa é, de fato, pequena, mas o pátio é enorme. Piscina, jardim, um espaço para crianças, duas mesas grandes e mais seis pequenas estão presentes na área descoberta. É iluminado por luzes terrestres, como pequenos postes com lâmpadas na ponta, e algumas lâmpadas nas paredes e muros cobrindo o espaço do terreno. Logo em frente se encontra a segunda casa, construída com uma mistura de arquiteturas grega e mediterrânea.

— É lindo aqui – eu digo.

— Durante o dia é ainda melhor – diz Peeta sem se virar para mim – Principalmente durante o pôr do sol. Parece que o sol é engolido pelo mar.

— Parece ser maravilhoso. – Digo observando seu rosto. Ele parece perdido olhando para o horizonte.

— Durante a noite mal dá para ver o mar daqui, mas pelo menos todos os quartos da segunda casa têm uma vista maravilhosa.

— Gostaria muito de ver – digo.

Ele não parece me ouvir, pois caminha rapidamente para uma parte do jardim e se ajoelha, parecendo pegar algo. Quando levanta e caminha em minha direção bem delicadamente, percebo que o que colheu é um pequeno dente de leão.

— Faça um pedido e assopre. – Ele diz segurando a flor na altura de meu rosto.

O obedeço e assopro o dente de leão. Ele sorri e joga o talo no chão.

— O que pediu? – pergunta.

— É segredo.

— Entrarei numa fila para descobrir seus segredos, então? – ele sorri.

Ele acabou de flertar comigo?!

— Talvez... – flerto de volta. Dessa vez é minha vez de dar uma piscadela. – Vou pensar em seu caso.

 


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