Magnificently Cursed escrita por violet hood


Capítulo 4
IV: and meet me there


Notas iniciais do capítulo

Olá! Cheguei atrasada, mas cheguei
Muito obrigada pó de flu que favoritou ♥ ♥ e todo mundo que está comentando a fic ♥
Ainda tenho comentários para responder, mas estou na correria aqui com meus dois últimos trabalhos, prometo responder mais tarde!!

música: promise - ben howard



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801595/chapter/4

Rose tinha certeza de que a festa na mansão Scamander seria possivelmente a festa mais peculiar da sua vida.

E suas suposições foram confirmadas assim que entrou no jardim, enquanto os últimos preparativos estavam sendo arrumados.

— Tentei fazer uma decoração mais simples — explicou Luna para Rose e Hermione. — Sei que vocês preferem assim.

Hermione forçou um sorriso.

— Ficou ótimo, Luna!

Rose ainda estava muito chocada para responder. O jardim em si já era peculiar, com flores de diversas cores bagunçadas, e esculturas de vários animais — alguns tão estranhos que Rose nem ao menos sabia identificar —, além de uma imensa fonte de água no meio do jardim, que aparentava ser grande demais para estar ali.

E a decoração não parecia nada simples, todas as mesas tinha toalhas com algum tom muito forte de azul, amarelo, rosa ou verde. Além de os enfeites, que também eram muito coloridos. Rose nunca tinha visto tanta cor em um lugar ao mesmo tempo.

Hermione a empurrou de leve, para chamar a sua atenção. Luna ainda a encarava, esperando para saber o que ela tinha achado.

— Está lindo — mentiu, também forçando um sorriso.

Luna não pareceu se importar ou notar, mostrava-se satisfeita com as respostas delas.

— Fiquem à vontade, vou terminar de arrumar as coisas — disse feliz antes de retornar para dentro da mansão.

Sozinhas, mãe e filha se encararam chocadas e sem saber o que dizer.

— Então — começou Hermione, tentando recuperar a compostura. — Com certeza vai ser uma festa inesquecível.

Rose fez uma careta.

— Já estou vendo as mulheres fofocarem sobre essa festa em seus chás da tarde.

— Vai ser a festa mais falada do reino! — Hermione tentou ser positiva, mas Rose apenas a olhou como se estivesse doida. — Tudo bem. Melhor eu ir atrás da Luna, quem sabe consiga evitar que ela coloque mais algum enfeite aqui.

Rose observou a mãe entrar dentro da casa. E, assim que ficou sozinha soltou um longo suspiro, já se sentindo cansada, enquanto olhava a decoração mais uma vez. Tinha certeza de que Katherine Wood e suas amigas teriam muito o que falar sobre aquela festa.

Caminhou um pouco pelas mesas, observando o lugar, considerando que não tinha nada melhor para fazer. Notou que tudo na mansão Scamander parecia único e incrivelmente peculiar, pelo menos Rose não teria que se mudar para lá após o casamento. Ela e Lorcan iriam construir uma nova casa na capital, havia sido ideia de seu pai, e Rose estava muito grata por isso. Por mais que não fosse um futuro ideal, ela pelo menos poderia escolher a decoração. Só precisava torcer para que Luna não se oferecesse para ajudar.

— Rose! — exclamou uma voz atrás dela.

Rose se virou, deparando-se com seu noivo.

— Lorcan! Olá — disse, enquanto o homem se aproximava.

Ele, pelo menos, usava roupas tão normais quanto as dela. Uma calça simples com uma camisa azul clara de botões, que vestia muito bem nele. Percebeu que Lorcan parecia levemente envergonhado ao vê-la.

— Minha mãe se animou um pouco com a decoração — disse timidamente. — Tentei fazer com que ela diminuísse, mas não deu muito certo.

Rose sorriu, esperando fazer com que ele se sentisse melhor. Lorcan não tinha culpa pelo gosto único de Luna e, para falar a verdade, Rose tinha sorte que ele não tinha puxado isso da mãe.

— Está tudo bem — assegurou. — Não está tão ruim assim.

Lorcan riu.

— Você é uma péssima mentirosa, Rose Weasley — disse fazendo com que ela risse junto. Pelo menos agora, Lorcan parecia menos envergonhado pela situação. — Você está muito bonita hoje.

Rose olhou para o próprio vestido amarelo claro, arrumado, mas também simples para uma festa a tarde no jardim. Ela também usava o colar que tinha ganhado de Luna. A futura sogra havia notado no momento que Rose entrou na mansão e logo comentou que ficava bem nela.

— Obrigada, você também — agradeceu o elogio. — Você fica bem de azul.

No mesmo momento sua mente lembrou da conversa que tinha tido com Leo ontem, quando ele disse que os dois ficavam bem em vermelho. Rose se perguntou se ele apareceria vestindo vermelho hoje.

Pensar em outro homem com seu noivo na sua frente, com certeza não era uma boa ideia. Assim que notou isso, Rose tentou retornar sua mente para prestar atenção no que Lorcan dizia.

Ela estava na casa de seu noivo, tinha coisas mais importantes para pensar do que em qual roupa Leo Black estaria vestindo.

 

***

 

Os convidados também pareciam bem surpresos com a decoração, mas pelo menos se mostravam estar bastante satisfeitos com a comida e bebidas para comentar.

Rose e Lorcan tinham cumprimentado todo mundo, e nenhum sinal de Leo. Talvez ele nem aparecesse, não era obrigado a vir. Porém, como alguém que se dizia amigo de Rose, ela se sentia um pouco decepcionada em ver que ele não estava na festa.

No fim, não aguentava mais caminhar e cumprimentar todo mundo, decidiu se sentar em uma das mesas junto com as suas primas.

— Pode dizer para sua sogra que amei a decoração — comentou Roxanne tomando um gole de champanhe.

Rose revirou os olhos.

— Pare de falar disso, Roxy — pediu.

— Mas eu realmente gostei! — protestou a prima. — Com certeza o seu casamento com Lorcan vai ser inesquecível. Não me diga que Luna também vai ajudar na decoração da festa de casamento.

Lily não esperou que Rose respondesse:

— Claro que não! — exclamou. — Tia Hermione nunca permitiria isso. E soube que tia Fleur está ajudando-a.

Rose estava supreendentemente grata pela interrupção de Lily, ela não tinha ideia de como estava sendo a decoração para o dia do casamento, e nem buscou saber. Preferia que Roxanne não soubesse da indiferença dela em relação a tudo que envolvesse o casamento, apenas seria mais uma desculpa para ela reclamar e dizer que Rose não precisava se casar tão rápido.

— É verdade — disse Victoire, a última prima na mesa, já que Molly e Lucy não haviam comparecido. — Minha mãe está bem animada. Já faz anos desde que me casei, Dominique não vai se casar e nem mora mais aqui e Louis ainda é muito novo.

Foi só dizer isso que o mais novo passou pela mesa correndo com outras crianças, que podiam participar de festas no período da tarde. Victoire o repreendeu na mesma hora, mas Louis não deu muita atenção. A prima também não parecia muito empenhada em brigar com o irmão mais novo, principalmente estando grávida, não era ideal perseguir crianças nessa situação.

— Vic — chamou Lily. — Quando o bebê vai nascer?

— De acordo com minha médica Roxanne... — começou falando com orgulho.

Roxanne interrompeu:

— Não sou sua médica, apenas estou auxiliando o seu médico — corrigiu.

— Vai nascer no mesmo mês do casamento da Rose, mas só no fim do mês — contou, ignorando a interrupção.

— Vai ser um mês perfeito! — exclamou Lily alegre. Era muito ruim se Rose dissesse que estava mais animada para a nascimento do segundo filho de Victoire do que para o próprio casamento? Ela queria se casar com Lorcan, e o mais rápido possível, mas era algo que ela tinha que fazer, não que necessariamente desejasse. — Espero que seja uma menina dessa vez.

Victoire soltou um suspiro cansado.

— Também espero, preciso de uma folga de meninos — comentou, contudo, em seguida, refletiu melhor: — Mas se bem que Dominique não era nada fácil quando criança.

Todas riram, relembrando de como Dominique deixava Fleur doida correndo para todos os lados, bem pior do que Louis agora.

A conversa das quatro foi interrompida por outro convidado entrando no jardim. Leo Black chamava atenção por todo o lugar que passava, mas Rose sentia que não era só por ele ser de Durmstrang. O embaixador usava uma camisa vermelha de linho e uma calça branca simples. Rose tinha que admitir que ele ficava muito bem de vermelho e ela, com certeza, não era a única a notar isso.

Era frustrante como o seu coração batia mais rápido só de olhar para o homem, era pior ainda saber que alguém que mal conhecia conseguia causar esse efeito nela, no entanto, o seu noivo não.

Seus olhares se cruzaram, e Rose desviou rapidamente, não querendo que ele notasse o seu estado.

— Acho que vou caminhar um pouco — anunciou para as primas. — Preciso de um ar.

Saiu o mais rápido possível, ouvindo Lily comentar de longe que ela já estava ao ar livre.

Rose pegou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom. Não tinha planos de beber aquela tarde, mas talvez um pouco de álcool fosse ser necessário. Parou de andar apenas quando notou não ter mais ninguém por perto.

O que tinha de errado com ela? Será que era porque ela iria se casar com um homem que não amava? Talvez isso estivesse fazendo com que ela sentisse atração por outros homens, e quisesse viver desesperadamente uma história de amor que nunca seria capaz de acontecer.

Antes dos seus dezoito anos imaginou que o coração bater mais rápido, ou a respiração falhar seriam reações para ter quando estava frente a frente da sua alma gêmea— pelo menos era isso que os livros de romance contavam. Porém, a única reação que tinha ao pensar no nome Scorpius Malfoy era tremer de medo.

Rose tomou um gole da taça, que acabou sendo metade do champanhe. Talvez devesse ter pegado logo dois copos.

Lembrou-se do colar que usava. Luna havia dito que ele poderia intensificar sua capacidade de amar. Rose fechou os olhos e segurou o pingente com a mão livre, e torceu para que ele realmente funcionava. Sua vida seria muito mais fácil se ela pudesse amar Lorcan Scamander.

— O que está fazendo? — perguntou a última voz que Rose queria ouvir.

Abriu os olhos rapidamente, deparando-se com Leo Black. Ele estava ainda mais atraente visto de perto.

Rose segurou a vontade de virar o resto da taça. Não era a atitude certa para uma dama.

— Estava só descansando — explicou largando o colar e tentando ficar mais ereta.

Leo arqueou uma das sobrancelhas, suspeitando dela.

— Parecia mais que você estava fazendo um pedido — comentou. — Não sabia que as pessoas de Hogwarts faziam pedidos segurando colares, achei que jogavam moedas na fonte.

Rose sorriu sem graça. Ótimo, ela se sentia patética por ter sido pega na pior situação possível.

— Também fazemos pedidos segurando colares — mentiu, esperando soar convincente. Mas pela risada de Leo, ele não havia acreditado muito.

— E o que você pediu? — perguntou curioso.

“Para pensar menos em você e começar a pensar mais no meu noivo” com certeza não era uma boa resposta.

Rose pigarreou, tentando pensar em algo melhor.

— Não posso contar — respondeu, por fim. — Ou o pedido não vai se realizar.

Leo sorriu.

— Sim, você está certa — concordou. Rose notou que olhar dele pousou em seu colar, que dessa vez não estava sendo coberto pela roupa. Sentiu seu rosto ficar quente com o olhar dele. — Quartzo rosa.

— O quê? — perguntou descompassada graças ao olhar dele.

— O pingente.

— Sim — respondeu rapidamente, tentando parecer mais natural. Ela estava um completo caos ontem, era muito mais difícil conversar com Leo durante o dia, quando podia observar o rosto dele com muito mais clareza. — Como sabe? Foi um presente de Luna.

— Minha mãe gosta muito de pedras — contou, sorrindo fraco ao pensar na mãe. — Também temos elas em Durmstrang.

Rose acenou com a cabeça para mostrar que havia entendido, ainda sem saber o que falar com ele. Parecia que cada vez que o via, Rose ficava ainda mais nervosa, culpa dos malditos sonhos que tinha todas as noites.

— Então... — começou Leo chamando a sua atenção e, com um olhar que fazia Rose ter certeza de que não iria gostar do que estava por vir. — Um quartzo rosa, quer dizer que o seu desejo tem alguma relação com amor?

Rose arregalou os olhos, não esperava que ele fosse dizer aquilo. Agora sentia que havia sido pega no flagra. Ela tentou se acalmar antes de responder, não importava se ele sabia o que a pedra significava, considerando que Leo não sabia que estava no meio dos problemas amorosos de Rose.

— Você não precisa saber — respondeu se esforçando para parecer confiante. — Já disse que não funciona se eu revelar.

Leo riu, mas concordou.

— Ok, acho que mereci essa — disse. — Mas... já que você não vai revelar nada sobre o pedido, poderia pelo menos me acompanhar por um passeio por esse belo jardim.

Rose o encarou, tentando entender o raciocínio dele.

— Não vejo o que uma coisa tem a ver com a outra.

— Você está certa — admitiu. — Mas é que, na verdade, vim aqui atrás de uma companhia para passear comigo pelo jardim.

Ela o olhava nem um pouco impressionada com suas palavras. E sem entender como estava tão nervosa por se aproximar dele apenas alguns segundos atrás. Com certeza estava passando por uma crise por conta do seu casamento que estava próximo.

— Tenho certeza de que existem outras damas nessa festa que estão loucas para acompanhar você nesse passeio — disse, pensando que até Katherine Wood sairia de perto de Albus para ter uma chance de passar alguns minutos do lado do “homem misterioso”.

— Claro que sim — concordou confiante, Rose só conseguiu revirar os olhos com a atitude dele. — Mas quero uma amiga para me fazer companhia, e não uma estranha.

— Amigos... — murmurou em um sussurro, sem entender o porquê de Leo ainda insistir nisso, e o motivo de ela mesma ter aceitado tão rápido.

— Sim, amigos — repetiu. — Provei que temos algo em comum. Não acha que fico bem de vermelho?

Rose achava que ele ficava mais do que bem de vermelho, bem o bastante para que ela pensasse que Leo Black de vermelho deveria ser ilegal. Talvez, Leo Black em qualquer coisa deveria ser ilegal, Rose tinha certeza de que ele ficaria bem até mesmo com as cores fortes que Luna havia escolhido para a decoração.

Entretanto, ela nunca diria aquilo em voz alta. Por isso manteve seu olhar confiante e tentou soar indiferente ao responder:

— Você não fica tão ruim.

Leo fez uma careta, como se esperasse por um elogio maior. Rose sentiu orgulho de si mesma por ter conseguido se controlar nessa.

— Tudo bem, acho que terei que me contentar com esse elogio — disse fingindo estar triste. — Mas você, Rose Weasley, fica muito bem mesmo de vermelho. E de verde, azul, amarelo...

Rose sentiu seu rosto esquentar mais uma vez, sabia que suas bochechas estavam vermelhas. E Leo com certeza conseguiria notar.

— Entendi — interrompeu rápido. — Não precisar dizer.

Leo a olhou, confuso.

— Mas o que tem de errado em elogiar minha amiga? — perguntou.

Rose pensou que não valia mais a pena tentar corrigir ele sobre a amizade dos dois, tinha que admitir que Leo poderia estar certo. Rose andava conversando mais com ele do que com as pessoas que chamava de amigos.

De longe, escutou vozes se aproximando. Não sabia quem era, mas Rose sabia que não era uma boa ideia ser pega conversando sozinha com o estrangeiro de Durmstrang. Provavelmente, estava fazendo uma expressão bem desesperada no momento, porque Leo pareceu entender.

— Que tal um passeio agora? — sugeriu, apontando para o lado oposto das vozes.

Sem muita escolha, Rose concordou. E, assim que Leo se virou para começar a caminhada, ela aproveitou para virar o restante de champanhe que tinha no copo.

O jardim na mansão era maior do que Rose esperava e incrivelmente bizarro em todas as partes. Além das esculturas, também possuía arbustos podados para parecer com formas que Rose não conseguia identificar.

— Acho que é um cachorro — disse Leo analisando um dos arbustos.

Rose fez uma careta. Não conseguia lembrar de nenhum cachorro que parecesse com aquilo.

— É claramente uma ave — retrucou, apontando para um dos cantos. — Olha, tem uma asa.

— E que tipo de ave só tem uma asa? — questionou Leo, pensativo. — Talvez seja um ser mitológico.

Rose também não se recordava de nenhum ser mitológico que se parecesse com um cachorro com uma asa só. Mas ela não conhecia todos os seres mitológicos do mundo, então poderia aceitar aquele palpite.

Antes que pudesse dizer algo, Leo mudou de assunto:

— Soube que vai ter um festival semana que vem — comentou.

Rose se recordou de Jane falando sobre o festival que acontecia sempre perto do início do verão, e que estava muito animada para ir, porque nunca tinha ido em um festival na capital.

— Sim — assentiu. — Está interessado em ir?

— Estou, acho que não terei outra oportunidade de conhecer um festival de Hogwarts antes de voltar para Durmstrang — respondeu. — E você?

— Eu? — questionou Rose, como se ele estivesse sugerindo algo absurdo. — Não posso ir nesses festivais.

Leo pareceu estar confuso.

— Por que não? Soube que é muito popular.

— Nobres não costumam ir nesses eventos — respondeu. — Só se o Rei for fazer uma aparição, mas esse festival é mais simples.

Rose se perguntou se existiam festivais assim em Durmstrang, não conseguia imaginar um lugar no qual os nobres caminhavam normalmente no meio do povo, jogavam os mesmos jogos ou comiam as mesmas comidas. Não era que eles não pudessem, era só que não era tão bem-visto, pincipalmente para a filha de um duque.

Rose imaginou que seria fácil para o estrangeiro não ser reconhecido por ninguém em um evento daqueles, já que apenas nobres e alguns funcionários tinham visto o seu rosto.

Leo a encarou, decepcionado.

— Mas você nunca teve vontade de ir?

Rose pensou bem, nunca tinha refletido muito sobre aquele festival específico porque passava a maior parte do seu tempo em outra cidade, porém já teve vontade de ir em outros perto de sua casa.

— Quando eu era menor, mas não me importo mais — respondeu indiferente. — Ficava bem triste por não poder ir à maioria dos festivais quando era criança. Algumas criadas me traziam doces e lembrancinhas escondido.

— Isso é tão triste — disse em um tom um pouco exagerado demais, que fez com que ela risse. Rose já estava acostumada com isso, e tinha vivido dezoito anos saudáveis sem ter comparecido aos festivais populares. — Por que não tenta ir em um agora? Pode ir escondido.

Rose riu ainda mais.

— Você é uma péssima influência, Lorde Leo Black — comentou, chamando-o pelo título apenas para o provocar. — Primeiro leva uma mulher que está noiva para passear a sós com você no jardim, e agora sugere que ela fuja de casa.

— Não a chamei para passear a sós! — defendeu-se. — Estamos passeando e coincidentemente não tem mais ninguém aqui.

Rose revirou os olhos, mas ainda sorria. Segurou-se para argumentar que se tivesse mais alguém ali, eles não estariam passeando juntos.

— Eu não vou fugir de casa por um festival — disse, por fim.

— Rose, você não é nada divertida — protestou com um tom de brincadeira.

Ela fez uma careta para ele como resposta. Não deveria ser normal o quanto Rose havia se aproximado de Leo em apenas alguns dias, não se lembrava de ninguém falando tão confortavelmente com ela que não fosse Jane ou um de seus parentes.

Entretanto ainda não conseguiria abaixar todos os seus muros por Leo Black, mesmo que pudesse chamá-lo de amigo, Rose ainda duvidava das intenções dele com ela. E a única maneira de saber se podia mesmo confiar nele, seria Leo voltando para Durmstrang sem dizer nada sobre a alma gêmea dela.

No fim, Rose ficou mais tempo do que deveria conversando com o estrangeiro. Quando voltou para mesa só Victoire estava sentada, e muito confusa pelo sumiço de Rose. Inventou uma desculpa, de que não se sentia muito bem e, por isso, demorou mais tempo do que o planejado descansando.

Felizmente, Victoire pareceu acreditar. Mas Rose sabia, que se fosse continuar a ter essas conversas secretas com Leo, ela teria que calcular o seu tempo melhor. Por pura sorte não teve que lidar com o pai e Hugo procurando por ela.

A festa no jardim acabou assim que começou a escurecer. E só então Rose notou que mal havia conversado com Lorcan, só no início e no final quando foi se despedir. Ela se sentia péssima por ter passado a maior parte do tempo na companhia de outro homem, e Lorcan com certeza não merecia aquilo.

E tudo ficava ainda pior quando ela acordava todas as manhãs sentindo-se bem por ter sonhado com Leo, ao invés dos pesadelos com Scorpius Malfoy. Porém a felicidade durava pouco, logo sua mente se enchia de culpa por estar pensando demais em um homem que não era o seu noivo.

A alma gêmea de Rose era Scorpius Malfoy, ela iria se casar em um mês com Lorcan Scamander, e não conseguia parar de pensar em Leo Black.

Nem mesmo os livros de romances mais loucos tinham uma história como aquela. E o pior de tudo, era que Rose não tinha ninguém com quem desabafar sobre.

Com o casamento se aproximando, imaginou que poderia ser uma boa ideia tentar ajudar a mãe com o que restava, pelo menos para se distrair um pouco. A ideia não havia se provado muito eficaz — os sonhos ainda continuavam —, mas pelo menos Rose tinha desculpas o bastante para não ir ao palácio sempre que Lily pedia e, assim, não ter que esbarrar com Leo.

— Rose! — exclamou Jane animada, entrando na biblioteca. Rose havia tirado uma folga de ajudar a mãe para tentar ler um livro, mas aparentemente não tinha durado nem trinta minutos. — O seu vestido de noiva chegou!

Ela soltou um suspiro cansado, contrária a animação de Jane. Realmente não queria ter que provar um vestido novo agora e ter que aguentar a costureira a alfinetando para ver que partes precisavam de ajuste. Contudo também sabia que não possuía escolha.

Deixou que Jane a guiasse até a sala em que a costureira estava. Quando as portas se abriram, Rose notou muitos rostos familiares presentes. Além de sua mãe, suas primas também estavam lá para ver Rose provar o vestido, como se aquilo fosse um grande evento.

Rose estava prestes a dizer que elas não precisavam estar ali para isso, quando notou uma mulher loira que não via há alguns anos.

— Dominique! — exclamou contente.

Dominique logo correu para abraçá-la. E ela não perdeu tempo e retribuiu com carinho o gesto.

— Rose, senti a sua falta — disse sorridente enquanto as duas se separavam.

— Quando você chegou? — perguntou ainda surpresa. — E por que não me avisou que estava vindo?

Dominique estava exatamente como Rose se recordava, mas, ao mesmo tempo, conseguia notar algumas mudanças nela. O cabelo loiro estava bem mais comprido, e Dominique ainda se recusava a prendê-lo como na época que morava em Hogwarts. E, por mais que seu rosto fosse o mesmo, Rose conseguia notar que ela parecia ainda mais feliz e radiante. A prima sempre falava, em cartas, do quanto gostava de seu novo lar, e agora Rose conseguia ver isso refletido no rosto dela.

— Cheguei ontem à noite — respondeu. — E obviamente quis fazer uma surpresa. Mas também não sei como você pôde pensar que não compareceria ao seu casamento.

Rose sorriu e pensou que ver Dominique de novo era provavelmente a melhor coisa daquele casamento.

Enquanto Rose colocava o vestido, a prima contou que ficaria até depois do nascimento do segundo filho de Victoire. E as outras primas logo começaram a discutir planos para se encontrarem mais vezes.

Rose estava tão feliz, que não se importava com as alfinetas que estava levando da costureira. Todas as mulheres presentes haviam dito que Rose estava linda com aquele vestido, ele era branco e elegante, enfeitado com pedras preciosas.

Rose não se importava se o vestido ficava bem nela ou não, quando olhava no espelho só conseguia sentir um frio na barriga. Não porque estava animada, mas porque estava começando a cair a ficha que o casamento estava chegando e, depois dele, Rose deixaria de ser Rose Weasley para sempre. E parte dela não queria isso. Por mais que soubesse que não tinha outra escolha.

***

Rose conseguiu alguns momentos a sós com Dominique, depois de terminar de provar o vestido, enquanto as outras primas conversavam do lado oposto do cômodo.

— Você parece estar muito bem — disse, ao passo que Dominique escolhia o sabor de biscoito que gostava, Rose notou que ela ainda era enjoada para comer.

— Eu me sinto muito bem — falou, mas logo encarou Rose com preocupação. — Mas você parece um pouco triste, prima.

Rose a olhou surpresa. Não sabia que era possível notar isso, principalmente quando ela estava mais feliz que o normal por estar vendo Dominique de novo.

— Só estou nervosa com o casamento — respondeu, não era mentira. Porém, também não estava sendo sincera. Mas preferia não perder seu tempo com a prima falando sobre o casamento, então mudou de assunto: — E a nobre que você serve, ela trata você bem?

Dominique sorriu feliz com a menção da outra mulher, e Rose soube a resposta.

— Sim, e você vai adorar a Jia!

— Como assim? — perguntou sem entender. Não fazia sentido que uma nobre do reino de Mahoutokoro tivesse acompanhado Dominique em uma longa viagem para o casamento de Rose.

— Jia é a princesa que eu sirvo, já te falei dela nas cartas — explicou. — Ela está aqui, hospedada lá em casa.

Rose a encarou com os olhos arregalados.

— Dominique, ela é uma princesa não deveria se hospedar no palácio? — questionou. — O Rei de Mahoutokoro não vai achar isso ofensivo?

Dominique soltou uma gargalhada com o comentário da prima, o que só deixou Rose ainda mais confusa.

— Ela é a oitava princesa, Rose — contou assim que conseguiu parar de rir. — Contanto que ela esteja viva, o Rei não liga muito para o que ela faz.

— Mas mesmo assim... — começou, sem conseguir imaginar que a chegada de uma princesa de outro país pudesse ser tão simples. Duvidava que o tio Harry soubesse disso, era para a Princesa Jia estar tendo a recepção que Leo tinha tido como embaixador de Durmstrang.

— Não precisa se preocupar, Rose — assegurou Dominique. — Ninguém liga muito para ela lá. Mas, acredite, é melhor assim.

Rose não conseguia entender como ser deixada de lado pelo pai e, provavelmente, pelo próprio país, era uma coisa boa. Porém, Dominique parecia estar sendo sincera e Rose resolveu não insistir no assunto. Também estava curiosa para conhecer essa oitava princesa, que tinha feito uma longa viagem para comparecer ao casamento de alguém que ela nem ao menos conhecia.

Rose também queria poder passar mais tempo com as primas, ou com qualquer um que a distraísse do casamento. Tudo bem que ter os preparativos para o casamento como distração ainda era melhor do que ter Leo Black rodeando os seus pensamentos.

Entretanto, nem mesmo os dias sem ver o embaixador eram capazes de fazer com que ela não pensasse nele pelo menos uma vez ao longo do dia. E as noites eram ainda mais desastrosas, Rose não sabia o que era pior: sonhar com Leo Black ou ter pesadelos com Scorpius Malfoy.

E pensar no próprio noivo só a fazia se sentir ainda pior. Lorcan merecia uma noiva melhor, mas Rose era provavelmente a única que ele teria.

E, nesse estado, ela claramente preferia não ter que encará-lo. Porém, não teve muita escolha quando Lorcan apareceu, sem anunciar, em sua porta com um buquê de rosas vermelhas.

Rose forçou um sorriso enquanto recebia o arranjo de flores. A visita surpresa havia a pegado desprevenida e, para falar a verdade, ela não gostava tanto de receber rosas. Graças ao seu nome, essa era a única flor que ganhava, até mesmo de sua família.

Todavia, Lorcan não precisava saber disso, ainda mais que Rose conseguia ver o quanto ele estava se esforçando para que os dois ficassem o mais próximos possível antes do grande dia.

Rose resolveu levá-lo para uma caminhada no jardim, assim teriam mais privacidade para conversar — Hugo ainda não sabia que Lorcan estava lá e, do jeito que o irmão agia, era melhor assim —, contudo, Rose rapidamente notou que não tinha feito a melhor escolha. A última pessoa que caminhou em um jardim com Rose tinha sido Leo, e agora ela estava lembrando disso enquanto caminhava com Lorcan.

— Queria ter passado mais tempo com você na última festa — começou o noivo. — Mas acabei ficando ocupado com os convidados, então me desculpe por isso.

Rose sorriu de leve. Na verdade, a culpa havia sido dela que passou uma boa parte do tempo na companhia de outro homem e, a outra parte, sentada na mesa com as primas evitando qualquer interação social.

Lorcan, com certeza, merecia uma noiva melhor.

— Não tem problema — disse. — Passei tempo demais conversando com as minhas primas também.

Lorcan pareceu satisfeito com a resposta. Eles caminharam em silêncio por um tempo, e Rose não pôde deixar de notar que o tempo estava nublado, diferente do dia ensolarado da festa na mansão Scamander.

— Você deve sentir saudade delas — comentou e Rose o encarou rapidamente, estava perdida em seus pensamentos e não tinha entendido bem a frase. Felizmente, Lorcan notou: — Suas primas, você deve sentir falta.

Rose assentiu, compreendendo o comentário.

— Sim, mas creio que isso não será mais um problema — disse. — Já que vou me mudar para capital, terei mais oportunidades de encontrá-las.

Lorcan abriu um grande sorriso, que não parecia tão feliz quanto deveria ser.

— Pelo menos tem uma vantagem em se casar comigo.

Rose foi pega de surpresa, não imaginava que ele achasse que o casamento dos dois era uma obrigação para Rose. Ela tinha escolhido isso, no fim. Talvez Lorcan tivesse notado o quanto desanimada ela parecia estar, mas aquilo era um problema dela, e Rose não queria que Lorcan a visse assim.

— Tem mais de uma vantagem — falou séria, parando no caminho e fazendo com que ele parasse também. — Lorcan, esse casamento vai salvar minha vida. Pode não ser meu casamento ideal, mas sou muito grata por você ter aceitado fazer isso.

Lorcan encarou o chão, envergonhado.

— Não queria ter falado assim, acho que estou muito estressado.

Rose estava prestes a dizer que entendia muito bem aquele sentimento, quando uma terceira pessoa apareceu.

— Rose! — gritou Hugo, ele realmente gostava de aparecer quando ela estava falando com outros homens. — O que está fazendo aqui fora? Vai chover!

Rose sabia que não conseguiria conversar mais a sós com Lorcan naquele dia, mesmo que sua mãe o tivesse convidado para ficar para o jantar. Era impossível com Hugo monitorando tudo, pelo menos seu pai sempre estava muito feliz em ver o futuro genro.

Quando Lorcan entrou em sua carruagem, Rose torceu para que ele não achasse mais que ela estava infeliz com o casamento. E, mesmo que parte dela estivesse, preferia que Lorcan não notasse isso.

***

Na manhã seguinte, Jane entrou no quarto de Rose enquanto ela lia um livro.

— Chegou uma carta para você — anunciou.

Rose imaginou que fosse de uma de suas primas, talvez de Lorcan ou, quem sabe, até de Albus. Porém, a expressão de Jane era de receio, como se não soubesse se deveria entregar a carta ou não.

— De quem é? — perguntou curiosa e confusa.

— Esse é o problema... — começou insegura. — Não diz de quem é. Deveria jogar fora sem abrir, mas você nunca recebeu uma carta assim.

Aquilo só deixou Rose ainda mais curiosa para saber o conteúdo da carta, e ela rapidamente estendeu a mão pedindo para que Jane a entregasse. A criada finalmente cedeu, mas ficou perto de Rose durante todo o tempo em que ela abria a correspondência.

“Querida Rose,

Hoje é o último dia do festival, queria muito ir, mas seria muito triste ir a um festival sozinho. Por isso queria te convidar para me acompanhar, sei que você não costuma a comparecer a esses eventos, mas acredito que deve existir uma primeira vez para tudo.

Estarei esperando na frente de sua casa, caso aceite meu pedido. Não ficarei magoado se você não aparecer (talvez um pouco).

E me desculpe mandar uma carta assim, espero que ela chegue até você. Mas caso outra pessoa esteja lendo isso, não irei revelar minha identidade.

Atenciosamente,

Um amigo”

 

Rose realmente não esperava receber uma carta de Leo Black, porém, de todos os encontros que tiveram, não estava surpresa que ele tivera a audácia de fazer isso. Teria sido uma situação horrível se aquela carta tivesse chegado nas mãos do Duque. Tinha sorte de ter Jane do seu lado, outra criada não a teria entregado.

E como Leo poderia pedir para que Rose fugisse de casa por uma noite? Ele só podia estar louco. Ela já havia deixado claro na conversa na festa que não faria isso.

Precisou ler a carta mais uma vez, para ter certeza de que tinha lido certo.

— O que diz? — perguntou Jane nervosa e Rose tomou um leve susto, tinha até mesmo esquecido que a mulher estava do seu lado.

Como poderia explicar? Jane a conhecia melhor que ninguém, sabia dizer quando Rose estava mentindo, ainda mais que ela estava nervosa demais para inventar uma boa mentira.

Rose respirou fundo, sabendo que não teria escolha. Precisava contar a verdade e implorar para que Jane não falasse nada para o Duque.

— É de Le... — começou, mas logo se interrompeu, notando que seria melhor não mostrar o quanto eles eram próximos. — Lorde Black, o embaixador de Durmstrang.

— O quê? — Jane parecia não ter certeza de que tinha escutado direito. — Embaixador de onde?

— Jane, não é o que você está achando...

Rose esperava que não fosse o que Jane estava achando, que provavelmente era que Leo Black queria levá-la para Durmstrang. Ela realmente queria confiar em Leo e acreditar que a única intenção dele com ela era a amizade. Mas Rose sabia que não tinha como ter certeza disso, porém, precisava se mostrar um pouco mais confiante falando com Jane.

— O que esse homem quer com você? — perguntou Jane, no entanto, não parecia disposta a ouvir uma resposta. — O Duque precisa saber disso agora mesmo!

— Não! — gritou Rose na mesma hora, ela não era do tipo que levantava a voz assim, então foi o bastante para chamar a atenção de Jane. — Deixe-me explicar.

— Explicar? — perguntou, como se tivesse escutado algo absurdo. — Esse homem deve estar planejando levar você para Durmstrang.

— Jane, por favor — suplicou.

Jane respirou fundo e Rose entendeu que aquela era a deixa dela para falar. Então contou sobre como eles tinham começado a se falar, e que Rose realmente gostava de passar tempo com o homem. Ela ocultou a parte de sonhar com ele, e pensar nele mais do que deveria.

— Rose, isso é loucura... — começou Jane.

— Você não pode contar para o meu pai — pediu. — Lorde Black vai embora depois do casamento mesmo, e eu nunca mais o verei.

Jane bufou, não acreditando.

— E ainda tem muito tempo para que ele possa te colocar em uma carruagem a caminho de Durmstrang!

Rose sabia que seria difícil fazer com que Jane confiasse nas intenções de Leo, em especial quando ela mesma não confiava plenamente.

— E ele já teve muito tempo para fazer isso — argumentou. — Mas ainda estou aqui.

— Ainda acho que o Duque deveria saber — murmurou.

— Não — disse rápido. — Se ele souber é capaz de ir atrás de Lorde Black, e ele ainda é um convidado de Durmstrang.

Felizmente, Jane trabalhava com a família Weasley bastante tempo para saber que Rose estava certa, o pai era capaz de entrar no palácio e virar tudo de cabeça para baixo.

— O que diz a carta? — perguntou.

Rose pigarreou, preparando-se para receber outro sermão.

— Ele me convidou para o festival hoje à noite — contou em voz baixa, não que isso fosse impedir Jane de escutar.

— O quê?! — exclamou, deixando claro que havia escutado perfeitamente bem. — Quem ele pensa que é? Você está noiva, Rose! É claro que você não vai, certo?

— É claro que... — começou Rose, segura de sua resposta no começo, mas sua voz logo ficando mais baixa e incerta. Ela não queria ir, ou melhor, sabia que não podia fazer isso. Contudo, não poder não era a mesma coisa de não querer. E Rose odiava admitir, porém sentia falta dele, sentia falta das conversas entre os dois, e do relacionamento estranho que tinham construído com poucos encontros.

Em um mês ela estaria casada e, em um mês, nunca mais teria outra chance de ver Leo.

— Rose — chamou Jane, nervosa. — Por que não terminou de responder?

— Eu... — Rose tentou de novo, mas estava tão confusa com os próprios sentimentos, com o que ela queria fazer. Em um mês teria uma vida nova, e nunca mais poderia fugir com um amigo para um festival.

— Não me diga que você quer ir — disse Jane, lendo os pensamentos dela.

— Jane, você pode me ajudar — sugeriu. Sozinha não conseguiria fugir sem ser notada, porém com a ajuda de Jane talvez desse certo. — Você sabe como eu sempre quis ir nesses festivais.

— Mas não com um embaixador de Durmstrang! — retrucou, horrorizada. — Esqueça, Rose. Aceito não contar para o Duque, mas não vou apoiar que você escape de noite para se encontrar com um homem. E você está noiva!

Rose fez um bico.

— Não terei essa chance depois de casada — disse tentando fazer com que a criada sentisse pena dela. — Prometo não demorar e, se demorar, você pode contar tudo para o meu pai.

Jane não parecia convencida, andou de um lado para os outros, tantas vezes que Rose quase se sentiu tonta ao acompanhá-la com o olhar. O silêncio dominou o ambiente por alguns minutos, tempo o bastante para que Rose perguntasse a si mesma se ela não havia enlouquecido de vez.

Talvez fosse melhor escutar Jane e ignorar a carta. Ela teria outras oportunidades de ver Leo, e nunca havia feito algo assim antes.

Estava prestes a dizer que ficaria em casa, quando Jane disse:

— Eu devo estar louca por estar pensando em te ajudar — comentou nervosa.

Os olhos de Rose brilharam na mesma hora, esquecendo o pensamento que havia tido alguns segundos atrás de desistir do plano.

— Você vai me ajudar? — perguntou esperançosa.

Jane finalmente parou de andar pelo quarto.

— Eu não confio nesse Lorde. E você também não deveria confiar — disse séria, e em seguida sua expressão suavizou. — Mas quero que você seja feliz, Rose. Espero que seja feliz com esse casamento, porém, não posso te julgar por querer viver um pouco.

Rose sorriu animada.

— Jane, muito obri...

— Vou te dar duas horas e, se você não voltar em exatamente duas horas, contarei tudo para o Duque e para a Duquesa — interrompeu.

Rose ignorou a voz durona da mulher e levantou-se na mesma hora da cadeira para dar um abraço em Jane.

— Você é a melhor pessoa do mundo!

— Tenho certeza de que vou me arrepender disso — falou Jane, suspirando alto.

Rose iria para o seu primeiro festival popular. Será que aquilo poderia ser considerado um encontro?

Leo a via como amiga, e Rose precisava colocar em sua cabeça que os dois eram apenas amigos. Mesmo que uma parte dela estivesse esperando que aquela noite fosse algo a mais. Sabia que era tudo um efeito do casamento próximo, por isso pensava no homem mais do que deveria e, assim que ele fosse embora, aqueles sentimentos também iriam.

E Leo tinha uma alma gêmea, por mais que não estivessem juntos e, ainda que ela realmente o odiasse, Rose havia sentido naquela conversa do baile em sua casa, que ele não odiava a alma gêmea nem um pouco. E sim que, quem quer que aquela mulher fosse, Leo parecia se importar o bastante com ela para soar triste ao falar dela.

Além do mais, a mão de Rose estava prometida para outro. Ela precisava urgentemente parar de viver dentro de seus sonhos, nunca teria nada entre os dois. Não importava o quanto seu coração batesse mais rápido ao pensar nele

Tinha certeza de que não teria conseguido fugir sem a ajuda de Jane. Primeiro porque Rose não tinha uma roupa apropriada, todas as suas roupas gritavam nobreza e não havia como passar despercebida com elas. Para sua sorte, Jane a trouxe um vestido simples e velho bege, além de uma capa preta para que pudesse cobrir o rosto com o capuz, caso fosse necessário.

Jane tinha feito o seu melhor em fazer Rose parecer o mais simples possível. Mas, infelizmente, o cabelo ruivo não era algo tão comum em Hogwarts, então era difícil não chamar atenção, por isso todo cuidado era pouco.

Para sair de casa, Rose acompanhou Jane por um caminho que só os funcionários usavam. Também passou o tempo todo murmurando que aquele era um péssimo plano, e que não deveria ter aceitado. Contudo, no fim, Rose conseguiu sair tranquilamente de casa.

Leo estava onde disse que estaria, um pouco escondido entre as árvores para não ser visto por ninguém. O resto dele se iluminou assim que a viu se aproximar.

— Você veio — disse com um sorriso aliviado no rosto.

Rose planejava dizer a ele que a ideia havia sido terrível e que seu pai poderia ter descoberto ou, pelo menos, mostrar que ele não deveria fazer algo assim de novo. Porém, ao vê-lo tão perto de si, todas as suas frustrações sumiram. Rose não conseguia ficar irritada com ele pela carta ou por tê-la feito fugir de casa no meio da noite.

— Sim — assentiu, sorrindo de volta. — Nem acredito que estou fazendo isso. Já estou começando a me arrepender.

Ela não estava arrependida, mas provavelmente era o que qualquer dama em sua situação diria. Na verdade, Rose estava mais animada do que pensou que estaria em ir para um festival.

— Confie em mim, você não vai se arrepender — garantiu.

Ela ainda não tinha certeza do quanto poderia confiar nas palavras do embaixador, mas, naquela noite, ela se deixou acreditar nas promessas dele.

Eles caminharam pelas ruas da cidade, chegando rapidamente no centro, local no qual grande parte das pessoas estavam aproveitando o festival. Eles brincavam nas barracas coloridas e comiam comidas gordurosas, que Rose nunca teria permissão para experimentar em outras circunstâncias.

Leo seguiu o olhar de Rose, notando a animação no rosto dela.

— Que tal comer algo primeiro? — sugeriu.

— Sim! — exclamou e, logo em seguida, sentiu-se envergonhada pelo entusiasmo, deveria estar parecendo uma criança. Por isso tentou manter um tom de voz mais sério: — Acho uma boa ideia.

Leo soltou uma risada baixa, no entanto, felizmente, não comentou nada. Ele guiou Rose pela multidão, os dois andavam lado a lado, os braços quase se tocando. Leo se mostrava despreocupado, caminhava como se já conhecesse o lugar e não como se estivesse ali pela primeira vez, assim como Rose. Ele não parecia notar a aproximação de seus corpos e, se notava, não demonstrava.

Com muita naturalidade, Leo escolheu uma das barracas e pediu. Rose ficou impressionada em como ele falava sem o sotaque de Durmstrang. Não era como se alguém fosse reconhecê-lo pelo sotaque, já que não sabia como alguém de Durmstrang falava. Porém, toda a população sabia do embaixador hospedado no palácio, então era melhor que não notassem que Leo era estrangeiro.

Rose não sabia o que ele estava pedindo e nem reconheceu a comida quando Leo mostrou, parecia gordurosa como todas as outras. Entretanto, ela não esperou pela explicação antes de pegar um pedaço para provar.

— Gostou? — perguntou Leo curioso.

Se Rose havia gostado? Ela nunca tinha provado algo como aquilo antes, nunca suas criadas tinham trazido escondido para ela experimentar.

— É bom — respondeu, tentando se controlar.

— Pela cara que você fez tenho certeza que é mais do que bom — comentou, fazendo com que Rose corasse de leve. Leo sorriu: — Vamos sentar.

Tinham algumas mesas por perto, a maioria ocupada por famílias e casais, porém, para a sorte deles, uma estava livre. Enquanto comiam, Rose observava as pessoas se divertindo, estava tarde para crianças estarem acordadas, mas muitos pais não conseguiam trazer os filhos mais cedo, então eles brincavam agora com os eles.

— Quer tentar uma dessas? — perguntou Leo olhando para a barraca de tiro ao alvo.

Rose concordou na hora, sendo tarde demais para tentar esconder a animação.

— Você parece muito familiar com festivais — comentou ela. — Deve ir em muitos em Durmstrang.

— Sim — assentiu, sorrindo como se estivesse se recordando de uma boa memória. — Mas também sou como você, não posso ir nesses festivais quando estou em casa.

Rose arqueou uma das sobrancelhas.

— Quer dizer quer você também foge de casa? — indagou.

Leo riu.

— Sim, mas não sozinho — respondeu. — Minha mãe que me ensinou a fugir.

Rose o encarou chocada. Imaginou que a mãe dele seria uma nobre como ele, não conseguia imaginar que tipo de nobre ensinaria o filho a fugir de casa e, na mesma hora, quis saber mais sobre a mulher.

— Sei o que você deve estar pensando, mas ela não é uma influência ruim — defendeu brincando. Rose não estava pensando isso, muito pelo contrário. — Ela só não gosta muito de agir como uma nobre.

— Como assim? — perguntou confusa.

— Minha mãe não era uma nobre antes de se casar com meu pai — respondeu, como se não fosse nada demais.

— Como a Rainha?

Por mais que pudesse acontecer, não era comum que nobres não se casassem entre si em Hogwarts, principalmente nobres importantes como Leo, que possuía parentesco com o Rei.

Leo riu, Rose não entendeu o motivo, talvez fosse pela reação de choque dela.

— Sim — concordou. — Assim como a Rainha.

Pensou que os pais de Leo também deveriam ser almas gêmeas, ou dificilmente teriam se casado.

— Eles são almas gêmeas? — perguntou, sem conseguir se segurar, queria saber mais deles, e saber mais sobre Leo.

— Sim, eles são — respondeu, parecendo estar feliz em falar sobre os pais. — Minha mãe não ficou feliz quando descobriu, mas no fim aceitou se casar com ele.

Rose achava adorável o jeito com que ele falava dos pais, e contava como eles ficaram juntos. Os pais de Rose também eram almas gêmeas, no entanto, eles se conheciam desde crianças, não era como a mãe de Leo que a vida mudou completamente depois da marca.

Eles continuaram conversando e Leo também falou sobre os diferentes festivais em Durmstrang que já tinha comparecido com a mãe. Rose sentiu uma grande vontade de conhecer aquela mulher, que o homem descrevia com tanta admiração. Mas teria que se contentar com as histórias dele.

Depois que terminaram de comer, eles foram até as barracas de jogos. Rose provou ser um completo desastre no tiro ao alvo, enquanto Leo conseguia ser bom em tudo. Porém, mesmo assim, ela estava se divertindo mais do que nunca. Ninguém a reconhecia com o cabelo levemente bagunçado e as roupas simples, e Rose se sentia bem assim. Sentia que podia ser quem ela queria, não era a filha do Duque, sua alma gêmea não era Scorpius Malfoy e, não iria se casar com Lorcan Scamander.

Naquela noite, ela poderia ser uma garota comum em um encontro com alguém que realmente queria estar. Não que Leo visse aquilo como um encontro, mas Rose deixou-se admitir para si mesma que queria que fosse um. Desejava poder se apaixonar, criar o seu próprio destino, bem como a maioria das pessoas caminhando pelas ruas, pessoas que não tinham as mesmas obrigações que ela.

Já estava tarde, e os dois já tinha provado grande parte das comidas, e se aventurado pelos diversos jogos. Não queria que a noite acabasse, e não pôde deixar de se sentir decepcionada quando Leo disse:

— Deveria levar você de volta — ele parecia tão triste quanto ela.

Rose não queria voltar, mas teve que concordar. Com certeza já haviam passado quase duas horas e ela não queria que Jane ficasse preocupada a ponto de ter que contar para os seus pais sobre Leo.

O caminho de volta foi silencioso e mais rápido do que Rose gostaria. Mais uma vez, eles andavam tão próximos um do outro, ela queria tocá-lo, porém não tinha coragem.

— Acho que só nos veremos agora em seu casamento — comentou Leo assim que chegaram perto da mansão.

— Você ainda pode me mandar cartas — disse Rose por impulso. Sabia que não deveria falar aquilo, mas não conseguia se impedir de sugerir: — Se você me mandar cartas como a de hoje, eu vou receber.

Leo sorriu vitorioso, Rose sentiu que havia dito exatamente o que ele já esperava ouvir.

— Irei te escrever mais vezes — anunciou e depois piscou para ela. — E quem sabe você pode fugir mais vezes para me encontrar.

Rose revirou os olhos.

— Não farei isso de novo — disse determinada, porém, sabendo que provavelmente estava mentindo. Duvidava que fosse capaz de recusar algum convite de Leo Black, não estava nem um pouco arrependida daquela noite. E, antes que pudessem se despedir, Rose acrescentou: — Mas obrigada por hoje. Eu realmente precisava disso.

Leo mostrou um sorriso contente que fazia com que suas covinhas aparecessem.

— Queria que pudéssemos fazer isso mais vezes — falou.

Rose também queria, no entanto sabia que não haveria outros festivais ao lado de Leo. Não importava o quanto gostasse de ficar ao lado dele, porque, depois do casamento, Rose nunca mais o veria.

Leo deve ter notado a expressão triste no rosto dela.

— Não fique triste, Rose — disse. — Estarei aqui sempre que quiser que eu esteja.

Rose não sabia o que ele queria dizer com aquelas palavras, não era como se ele fosse sair de Durmstrang só porque ela estava com saudades. Contudo, antes que pudesse perguntar, notou que ele parecia ainda mais próximo dela. Observou enquanto ele se curvava o bastante para ficar com o rosto na altura do seu. Leo estava próximo o bastante para beijá-la e, Rose sabia disso, ele também se aproximava devagar o bastante para que ela pudesse impedi-lo, caso quisesse.

Mas ela não queria, e nem fez nada para impedir que os lábios dele tocassem nos seus. Foi rápido demais, Leo não tentou aprofundar o beijo e, no segundo seguinte, já havia se afastado dela. Rose queria que ele a beijasse mais, desejava sentir o toque dos lábios dele mais uma vez.

Aquele havia sido o seu primeiro beijo, algo que achou que teria que dar para Lorcan, assim como o restante da sua vida e, Rose se sentiu feliz em poder ter beijado Leo primeiro, mesmo que tivesse sido tão breve.

Porém, não demorou muito para que uma onda de insegurança a atingisse. O que estava fazendo beijando alguém que não deveria nem ao menos ver como amigo?

Leo parecia prestes a dizer algo, ele estava levemente corado e, apesar de estar escuro, eles ainda estavam perto o suficiente para que ela notasse.

— Eu preciso ir — anunciou Rose, antes que ele pudesse falar.

Não podia ficar para escutar o que Leo tinha a dizer, não quando seu coração parecia prestes a sair do seu peito, e ela sabia que não deveria ter deixado isso acontecer.

Por mais que ela o desejasse, Rose entendia que aquilo fazia parte da grande confusão que estava a sua cabeça por conta do casamento. Mas, no fim, Leo não poderia passar de um desejo, e não poderia ter cruzado a barreira da amizade deles.

Rose não acreditava que por um momento se sentiu feliz em ter tido o seu primeiro beijo com ele. Lorcan com certeza não merecia aquilo dela.

Por isso foi embora sem o deixar falar. Não sabia se poderia confiar na própria mente quando Leo Black estava perto demais dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

finalmente um beijinho (bem inho)!!

Enquanto terminava esse capítulo aceitei que não iria conseguir terminar essa fanfic esse mês (faltam mais de 30k *choro*), mas vou estar escrevendo até o dia que planejei e ver até onde consigo chegar. Depois voltamos em setembro, porque tenho 4 fanfics para escrever para o pride kkkk (cada k uma lágrima)
Quero muito escrever essa fanfic, mas também não quero correr com ela e acabar deixando o final ruim

Enfim, estou sempre aceitando comentários ;) e até o próximo (que sai ainda esse mês)

Beijos, Violet