Sua Razão Para Sorrir

quando a chuva passar,
quando o tempo abrir; 
abra as janelas e veja, 
eu sou o Sol.

De todas as pessoas, Neji era a que menos se parecia com um Sol. Mesmo depois que Naruto mudou sua vida com suas palavras motivadoras, o Hyuuga continuava ranzinza. Certos hábitos, características íntimas e pessoais, eram impossíveis de serem mudados, mas ainda assim, com suas inúmeras imperfeições, Neji era o Sol de Tenten. 

Foi quando Tenten se lembrou do tempo da academia, quando ainda eram criancinhas. Em uma aula aleatória lhe pediram para desenhar algo que se parecesse consigo, o objetivo dessa atividade era tentar entender como as crianças, os futuros ninjas da folha, se viam. Tenten desenhou um lindo Sol, radiante e sorridente como ela. Neji não conseguia desenhar nada específico, apenas alguns muros parecidos com os do Clã Hyuuga. Outros desenharam flores, cerejeiras, nuvens, pacotes de salgadinho… e teve até gente que não desenhou nada; dormia em cima da página em branco. Seus professores riam da animação de alguns, e do desprezo de outros. No fundo sabiam que no futuro de Konoha haveria um mix de ótimos ninjas. 

Naquele dia do desenho, o garoto Hyuuga viu que a Mitsashi tinha recebido muitos elogios dos professores, dos colegas e até mesmo de seus próprios parentes. Todos estavam muito felizes com aquele desenho, por mais simples que fosse. Exceto Neji. No fundo do peito do garoto, a inveja bateu; no seu rosto o choro desceu como se fossem cascatas e, para acompanhar, a chuva começou a cair. Ir para casa naquele dia foi sofrido por motivos que não lhe pertenciam. 

Muito antes de Neji mudar seus pensamentos e virar uma pessoa de melhor convivência dentro e fora do Clã Hyuuga, Tenten já tinha certos sentimentos por ele. Não era exatamente o que aquela ninja procurava, pois seus objetivos eram claros e sem rodeios: se tornaria uma ninja excelente, e ajudaria quem precisasse, prosperando o bem de sua vila. No entanto, certo dia, se encontrou pensando no dono daqueles olhos claros e cintilantes. Neji. Não conseguia imaginar outra pessoa que não fosse ele, por isso o Hyuuga foi se tornando, gradativamente, o seu Sol. Seus objetivos como ninja nunca mudaram, apenas se agruparam aos pensamentos que envolviam aquele rapaz. Ela era uma ninja apaixonada, que ajudava a todos de sua vida, trazendo alegria por onde quer que passasse. 

Em sua adolescência, já com sua equipe formada — a equipe 9; o time Gai — foi uma das etapas da vida de Tenten que ela jamais poderia esquecer. Foi quando finalmente pôde conhecê-lo melhor, onde descobriu seus pontos fortes e fracos, quando pôde, finalmente, revelar seus sentimentos. Acima de tudo eram uma equipe, então a garota não tinha nada o que perder, por isso foi até onde ele morava, passou por todos aqueles Hyuuga’s, entrou no quarto dele — mesmo sabendo que estavam sendo, de certa forma, “vigiados” — e confessou seus sentimentos. Era o bom e velho fogo da juventude que seu Sensei falava tanto. 

Como aquela época lhe trazia saudades… Quando aquele sentimento se instalava em seu ser, fazia uma prece, orando para que um dia ela pudesse parar de chorar quando chovia. Era difícil, principalmente quando uma temporada de sua vida passou compartilhando com sua equipe, e Neji fazia parte dessa fase na qual ela havia sido muito feliz, e ao seu lado. A frase que ele disse, “Eu sou o seu Sol”, nunca saiu de sua mente. 

Ainda antes de sua morte, na época que Tenten buscava se reinventar, quando ela quase tinha a certeza de que não eram infelizes por não terem relacionamento, alguma coisa interferia. A vida lhe trazia, vez ou outra, um ou mais empecilhos que faziam com que a vida de todo mundo virasse de ponta cabeça, inclusive a deles. E foi numa dessas reviravoltas que Neji perdeu sua vida. 

Não sabia ao certo como, mas ela sentiu, no exato momento que Neji morreu, um aperto no coração. Era diferente, como se algo tivesse se dissipando dentro de si aos poucos. Só depois de um tempo que soube o verdadeiro significado de seu coração se quebrar. A chuva lhe acompanhou naquele dia, nesse e em outros, principalmente naqueles dias em que se encontrava com Neji através de sua espiritualidade. Não podiam trocar palavras, mas ainda assim, mesmo chovendo, mesmo triste e chorando de dor; naqueles dias ele ainda era o seu Sol, e a sua razão para ainda poder sorrir. 

eu sou o céu e o mar,
eu sou o céu e fim,
e o meu amor é imensidão.