P.O.V Da Jade

— Misericórdia! - Minha mãe fez o sinal da cruz.

— O que foi, mãe? Não me deixe mais nervosa! - Pedi.

— Esse vestido... Casar de preto vai dar azar, Jadelyn. Esse casamento não vai durar muito mesmo. - Resmungou.

— Vira a boca pra lá, praga de mãe pega! Era só o que me faltava! - Fiquei mais nervosa.

— Prontinho, madame. - A costureira deu os últimos ajustes.

Me olhei no espelho. Me senti deslumbrante.

Não gastei 35 mil naquele vestido para pagar vexame. Até que o estilista francês cobrou barato, encomendei o melhor tecido. Renda de primeira.

— Como estou, mamãe? - Virei para ela.

Dona Jessica me olhou da cabeça aos pés e tentou segurar a pose.

— Está linda, filha. - Não conseguiu se conter.

— Ramirez, sirva mais chá para ela. - Pedi.

Ele se apressou saindo do quarto.

— Por quê um jovem tão bonito é gay? - Ela continuou chorando.

— O Ramirez não é gay, mãe. - Desci do banquinho.

— Mas ele esteve aqui o tempo todo, até te viu nua. - Usou o lenço para limpar o nariz.

— E daí? - Dei de ombros.

— Se importaria se eu o convidasse pra sair? - Ela não tinha jeito.

— Ele tem idade para ser seu filho. - Falei.

— Olha o preconceito, querida. - Me advertiu.

— O papai vem ou não vem de Barcelona? - Mudei de assunto.

— E eu vou saber? Aquele ridículo me trocou por uma mulher mais madura. Olha como eu tô jovem e bonita. - Se aproximou do espelho.

— Isso se chama plástica, mamãe. - Revirei os olhos.

— Que calúnia! Eu só coloquei botox uma vez na vida! - Exclamou ofendida.

Ramirez apareceu trazendo mais uma xícara de chá de camomila.

Minha mãe se engraçou para cima do coitado.

— Me sirva uma taça de vinho. - Pedi.

— Como quiser, patroa. - Estava todo elegante.

[...]

P.O.V Da Sam

— Por quê não me deixou desenhar um vestido para você? - Nevel me analisou.

— O que tem de errado com o meu terno? Paguei 10 mil nele. Olha como estou linda e elegante. - Dei uma voltinha.

— Essa cor é tão brega... - Torceu o nariz. - Deveria ter escolhido azul-metálico. - Comentou.

— Tia, a Felicity está solta! - Antony veio correndo me avisar.

Felicity era a galinha de estimação do Nevel.

— Pelo amor de Deus! Mande prender aquele bicho! Se essa galinha voar em cima do bolo, eu vou mandar servir galinhada no banquete! - Fiquei nervosa.

A ideia de casarmos ao ar livre foi minha, Jade adorou porque escolhemos uma noite de lua cheia.

Nosso amigo Papperman cedeu a casa de campo.

Ele se prontificou em cuidar de tudo mesmo. Ganhamos um presentão.

— Você não é louca de tocar numa pena da Felicity. Eu nunca iria te perdoar! - Saiu porta afora quase dando chilique.

— Tia, você tá linda. - Meu enteado se aproximou com os olhinhos brilhando.

— Obrigada, amor. - Sorri.

Ele sorriu, vi seus dentes sujos de chocolate.

— Roubando docinhos? - Segurei o riso.

— Peguei pra você. - Tirou dos bolsos as mãos cheias de brigadeirinhos.

Como eu poderia me irritar com aquele anjinho fofo?

— A mamãe só sabe gritar, ela fez as moças que cuidavam do vestido chorarem. - Falou inocentemente.

Minha morena devia estar uma pilha de nervos.

Mastiguei um brigadeiro. Antony ficou ali no quarto me fazendo companhia enquanto narrava tudo.

Minutos depois...

A decoração estava impressionante.

Arranjos de Lírios, Tulipas e Copo-de-leite.

Filas de cadeiras de ambos os lados, o longo tapete dourado fazendo a divisão.

Toalhas de mesas douradas, jogos de cadeiras e mesas pretas.

Arrumaram um cantinho para a cerimônia, enfeitaram um gazebo com Lírios e Samambaias.

Quase 60% dos convidados eram meus parentes.

Os parentes da minha noiva pareciam bichos do mato se escondendo. Fechados e estranhos demais.

Havia três longas mesas postas com um banquete digno da realeza.

Brincadeira... Realeza nada.

Jade queria servir comida japonesa, bati o pé e arrumei minhas tias para cozinharem comidas do campo junto com a avó do Nevel.

Assaram um leitão com mel. Fizeram espetinhos de frango e prepararam um cordeiro com molho caipira.

Nunca vi tantas panelas no fogo à lenha com arroz temperado, verduras e comidas típicas da região sulista.

O tio da Jade se ofereceu para celebrar nosso casamento. Ele era o mestre de cerimônia da família.

Tio Bill era legal, só era um pouco gago.

— FELICITY, VOLTA AQUI! - Nevel saiu correndo atrás da galinha que perseguia um de nossos convidados, Beck Oliver.

Papperman usava um terno cor de rosa.

Vi Freddie Benson pegar uma vassoura e correr indo ajudar o namorado em apuros.

O coitado do Oliver estava se descabelando todo.

Aquela galinha era pior que um ganso.

Atacava sem dó.

[...]

P.O.V Da Jade

Apertei meu buquê de rosas vermelhas. Vermelhas como sangue. Uma das minhas cores favoritas. Lá estava ela me esperando no altar improvisado, tão linda e elegante, perfeita em seus trajes roxos.

Meu pai chegou a tempo de me levar ao altar e trouxe a noiva 10 anos mais velha que ele...

Atravessar o tapete dourado foi uma tarefa e tanto, com todo mundo me olhando, a maioria sendo parentes da minha deusa loira.

A emoção mal cabia em meu peito... A vontade de vomitar me atingia à cada passo.

Estava tão nervosa, com as mãos geladas e as pernas bambas.

Tio Bill segurava uma bíblia surrada, tinha um cantil de bebida escondida nas vestes dele. Ele afirmava que bebida ajudava em sua gagueira.

Mamãe chorava agarrada ao meu assistente. O pobre do Ramirez parecia tão pálido... Minha mãe era louca.

— Estou orgulhoso de você, filha... Ela é...

— Maravilhosa. Incrível. Linda de morrer e perfeita, é, eu sei, papai! - Sorri ainda mais apaixonada.

— Eu ia dizer que ela é muito sortuda. - Riu.

Ele por fim me entregou ilesa para a mulher que tinha o meu coração.

Todos se calaram e se sentaram quando tio Bill começou a cerimônia.

Era uma noite perfeita de lua cheia.

Uma noite mágica... A mais importante de nossas vidas.

De mãos dadas, perdidas em olhares, sorrindo uma para a outra.

Não ouvi mais nada quando meu tio se danou a falar.

Antony segurava nossas alianças. Meu anjinho lindo. Meu filho era tudo para mim.

André estava com a mulher, Tori estava grávida.

Não fizemos votos, nossos olhares repletos de amor e cumplicidade já eram o suficiente.

— Eu, Samantha Joy Puckett, recebo você Jadelyn Christina West como minha companheira, prometo te amar incondicionalmente e ser fiel a você pelo resto de nossas vidas... - Sorriu pegando a aliança de ouro.

Colocou em meu dedo cuidadosamente, ambas tinham nossas iniciais gravadas.

— Eu, Jadelyn Christina West, recebo você Samantha Joy Puckett como minha companheira, prometo te amar incondicionalmente e ser fiel a você pelo resto de nossas vidas... - Fiz o mesmo que ela.

— Com a graça de Deus, o que o homem une, ninguém separa, e como ninguém vai levantar para estragar essa cerimônia... Podem beijar logo, filhas. Estamos todos morrendo de fome! - Tio Bill já estava bêbado.

Pelo menos ele não tinha gaguejado.

Avançamos uma na outra e fomos aplaudidas.

Ouvimos gritos eufóricos.

— HORA DO BUQUÊ! - Minha sogra gritou.

Pam estava usando um extravagante vestido vermelho com decote em V que ia até o umbigo...

Um grupo de mulheres enlouquecidas se juntaram esperando.

Sam tinha um buquê de Tulipas.

Jogamos ao mesmo tempo.

Foi uma gritaria, empurra-empurra, puxões de cabelo...

— PEGUEI! - Nevel saltitou agarrando o meu.

As primas da Sam estavam se atracando no chão.

— ELE PEGOU O OUTRO! - Minha sogra apontou para Beck Oliver.

Sam jogou com tanta força que o buquê dela foi parar nas mãos dele.

Oliver saiu correndo e a mulherada foi atrás, todas enlouquecidas.

— DEIXEM ELE EM PAZ! - Freddie Benson foi socorrer o namorado.

— Vamos cortar o bolo agora, amor? - Minha gulosa me agarrou por trás.

O bolo tinha 5 andares e 3 tipos de recheios escolhidos por ela.

— Claro, linda. - Me virei para vê-la. - Te amo, esposa. - A puxei para meus braços.

— Também te amo, marida. - Sorriu antes de me beijar.

Estávamos radiantes.

Mal podíamos esperar pela lua-de-mel.