Sério? escrita por Shinoda Yuuka


Capítulo 1
Capítulo único




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A paisagem era clara para ele naquele momento: sol se pondo no horizonte, colorindo o céu de laranja, seu brilho perdendo aos poucos a força, desaparecendo como se o mar o engolisse. A calmaria daquele momento parecia mentira, se tratando de uma jornada a bordo do Big Top; com uma tripulação agitada como aquela, um momento de paz para Buggy era pura sorte. Conseguia ouvir bem o barulho das ondas e das gaivotas. Caso se concentrasse de verdade, sentiria até a brisa fresca tocando sua pele, e o movimento prazeroso que o navio fazia ao navegar.

Aquela era, infelizmente, apenas uma lembrança um tanto distante.

Não era um homem apreciador de momentos de tranquilidade. Era seguro dizer que gostava de aventuras cheias de agito! Ou de festas junto aquele bando de malucos que chamava de companheiros. Pensando bem, por exceção daquela bruxa da Alvida, eles deveriam todos estar preocupados consigo nesse momento. Talvez chorando, pensando que seria executado a qualquer momento. E não era pra menos. Estava enfiado dentro de uma cela em Impel Down, a maior prisão do mundo!

— Cambada de idiotas! — exclamou, a voz aguda ecoando dentro do cômodo minúsculo.

 Alguns pensamentos aleatórios costumavam passar por sua mente em momentos extremos como aquele. Como por exemplo, aquele cara do afro verde que viveu dentro de um baú por uns 20 anos. Como será que ele estava agora? Buggy se sentia mal por não lembrar o nome dele. Revivia lembranças estranhas agora de sua infância, que apesar de ter sido um tanto divertida, foi passada toda ao lado daquele desgraçado do cabelo vermelho. Revirou os olhos, sentindo ânsia de vômito. Quando notou que a garganta estava bem seca, Buggy se lembrou de outra coisa, e não era só que tinha que beber água.

Durante uma viagem turbulenta pela Grand Line, o Big Top foi invadido. Provavelmente a tripulação estava muito distraída com a festança sem motivo que estavam fazendo, com muita comida, bebida e barulho. Mas, se pensar bem (coisa que ninguém ali fazia direito), mesmo em estado de plena concentração e calmaria, nenhum deles teria percebido que outra pessoa estava a bordo. E concluíram isso não só por terem percebido um “marujo” a mais depois de uma semana inteira, nada a ver! Foi porque se tratava uma garota aleatória e baixinha, que estava escondida na popa do navio, detonando um barril de água potável e um pacote de biscoitos.

— Ei, mulher — disse o palhaço, tentando engrossar a voz em uma provável e falha tentativa de botar medo. Estava de pé diante dela, então na sua cabeça, ela estava morrendo de medo da sua cara de vilão. Sacou as facas e colocou entre os dedos, incrementando sua pose de mal encarado. — Você sabe de quem tá roubando suprimentos?

— Do Deus dos Piratas, o Capitão Buggy!

A resposta deixou o resto da tripulação em choque. Algumas vozes diziam coisas sobre ela ser uma fã do capitão, outras discutiam se ela estava apenas tentando se safar com uma bajulação estúpida. Mas qualquer dúvida acabou sumindo quando a garota começou a rir; ela gargalhava com vontade, quase engasgando com o biscoito.

— Ela vai morrer. — Alvida deu seu primeiro sinal de vida desde que a algazarra começou, soando irritantemente superior. Todos ao redor dela concordaram, afinal, uma garota aleatória estava roubando suprimentos e rindo na cara do Capitão Buggy. Não tinha como aquilo acabar bem. Será que ele a faria andar na prancha, ou simplesmente cortaria a garganta dela como em muito não fazia? Agora essas eram as discussões da tripulação.

Mas o que Buggy achava daquilo? Bom, surpreendente ou não, o pirata acompanhou a garota na risada. Não era uma risada maligna, ele não sabia fazer esse negócio não. Ele só riu, achando que ela havia sido genuinamente engraçada. Ele era um palhaço, Deus do céu! Era mais do que compreensível que ele apreciasse o bom humor das pessoas.

Além disso, ela lembrava alguém. Alguém que invadiu seu navio e começou a comer sua comida e conversar com todos como se fossem velhos amigos. Ah, e depois desmaiou! Mas isso não importava no momento.

Durante dois meses inteiros, a garota navegou com os Piratas do Buggy. O Capitão estranhamente concordou em levar ela para a próxima ilha, que havia sido de onde ela saiu. Digamos que ela saiu em busca de aventuras em um barco precário, que com certeza não sobreviria ao tempo esquisito da Grand Line. Decidiu desistir de sua jornada, voltando para casa como se toda aquela história houvesse sido um delírio coletivo.

A companhia dela havia agregado bastante na farra a bordo do Big Top. Quer dizer, ela não se importava em fazer piada com a cara de ninguém ali, e todo mundo morria de rir. Não era novidade que o Mohji era feio pra cacete, e que o Richie não fazia medo nem em um ratinho. O Cabaji era o pior espadachim da história e a Alvida tinha comido a Akuma no Mi mais inútil que se tinha notícia. E todo mundo tinha noção disso, mas ninguém falava nada.

Para o Capitão Buggy, ela era a pessoa mais engraçada que havia conhecido aleatoriamente. Não era por ter um senso de humor sofisticado, irônico nem nada. Era só... palhaçada. Ela dizia a verdade, todo mundo sabia, mas morria de rir mesmo assim. Ela não levava nenhum deles a sério, e estava mais do que certa. Gostava de quem pensava assim.

Em um fim de tarde daqueles ultra raros, onde aquele povo maluco estava ou caindo de bêbado, ou enfiado em alguma cabine, dormindo. Era silencioso e cômodo, e Buggy achava estranho. De pé na proa, olhando o sol se pôr no horizonte, ao lado dela, que nenhuma piada fazia no momento. De sobrancelhas franzidas, a olhou de cima, odiando o quanto gostava de estar daquele jeito.

— Ei, mulher — chamou, como na primeira vez em que se viram. Ao ter atenção dos olhos castanhos, prosseguiu. — Você... sabe?

— Sei do que, Capitão? — retrucou em tom debochado, rindo mais um pouco. — Que você finge ser um fracote por pura preguiça? Ou que você na verdade é apaixonado pelo Ruivo?

— Ficou maluca, sua desgraçada? — exasperou-se, claramente indignado. Que nojo! Sabia que foi uma piada da moça, mas mesmo assim foi nojento! Depois de alguns gritos desconexos que quebravam a calmaria do momento, Buggy se acalmou para raciocinar. — Mas tu sabe mais do que eu imaginei, ein?

— Eu faço minha lição de casa. — Ela sorriu de canto, voltando a apreciar o céu alaranjado. — Mas não se preocupe, Buggy. Eu não te levo a sério.

— Sério? — A pergunta soou sarcástica de propósito, mas ainda assim era uma pergunta. Buggy queria uma resposta concreta.

— Sério, ué. — Deu de ombros, como se fosse óbvio. — Você é um pirata hilário, de fato. Não sei se é muito burro, ou muito inteligente. Mas é uma piada, com certeza.

E Buggy se sentiu aliviado. As melhores pessoas eram aquelas que não o levavam a sério, e que entendiam o que estava fazendo. Não era todo dia que admitia isso, mas é que aquela garota não era um inimigo declarado ou um velho rival nojento. Era só uma pessoa aleatória, e que Buggy também não levava a sério nem um pouco.

— O sentimento é mútuo, mulher! — Gargalhou, sendo acompanhado.

E tinha mesmo que ser mútuo. Duas pessoas completamente aleatórias e engraçadas, navegando juntos em direção a alguma coisa que nem sabiam o que era. Claro que iria dar nisso, no fim das contas. E eles gostaram disso enquanto durou. Quando chegaram a ilha da garota, a despedida foi melosa por parte da tripulação que não era a Alvida ou o próprio Buggy.

Só se arrependia de não ter feito alguma piada sobre ela enquanto viajaram. Talvez assim não ficasse óbvio que ele havia gostado de verdade da mulher. Enfim, agora já era. Um dia ele vai negar com todas as forças.

Provavelmente, na ilhazinha onde ela jurou que nunca mais navegaria, o jornal deve ter trago a notícia, em letras miúdas e sem o mínimo de destaque: “O Pirata Buggy, o Palhaço, foi capturado e enviado para a prisão de Impel Down, sob jurisdição do Governo Mundial”, ou algo assim. Com certeza ela iria adorar caçoar de sua aparência naquele momento: vestido com o uniforme listrado e surrado da prisão, o cabelo longo preso num rabo de cavalo, a maquiagem completamente borrada. Mas não importava realmente como estava sua aparência no momento, Buggy sabia que ela não levaria aquela notícia tão a sério.

Independente de como e onde foi capturado, ela sabia tanto quanto ele que ninguém o levaria a sério a ponto de jogar-lhe no fundo de uma cela, preso com algemas feitas de kairouseki.

Buggy começou a rir alto ao constatar que ela era a única que provavelmente não estava preocupada consigo. Afinal, ela era uma daquelas pessoas que não lhe levava a sério, e isso era perfeito. Ainda gargalhando, o palhaço ativou a Bara Bara no Mi, soltando as mãos do próprio corpo, deixando a algema de ferro comum e normal cair no chão.

E em algum lugar da Grand Line, e em alguma ilha aleatória, a garota que chamou Buggy de “Deus dos Piratas”, gargalhava alto lendo a manchete do jornal. E a parte mais engraçada era que ela sabia qual seria a notícia dos próximos dias.

“O Pirata Buggy, o Palhaço, foi o primeiro pirata da história a fugir da prisão de Impel Down, debaixo do nariz do Governo Mundial.”


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