Aquele Maldito Choro escrita por João Marcelo Santos


Capítulo 1
Só podem ser criaturas.


Notas iniciais do capítulo

Escrita com base num sonho muito doido que eu tive, e Brenda Geovanna é o nome de uma amiga minha XD espero que se divirtam



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Aquele maldito choro não parava de adentrar os tímpanos de Brenda.

Era por volta de 5:49, e nem seu despertador havia tocado ainda. Seus dois irmãos mais novos, o Gui e o Pedro, roncavam baixinho em um sonho de unicórnios. A casa estava silenciosa, e seus pais estariam fora por pelo menos duas semanas. Mas havia um maldito som vindo de um local próximo.

Não eram seus irmãos. Ela olhou em volta, aturdida. Parecia...um som de uma criança. Mais precisamente de um bebê. Como diabos ninguém estava prestando atenção naquilo? Parecia ressoar nas paredes, a fazendo vibrar. Ela já estava ficando com dor de cabeça.

Ao se aproximar do quarto de hóspedes, pôde ouvir o barulho mais claramente. Era definitivamente um choro de um bebê. Parecia faminto, desesperado e carnificeiro. E parecia vir de fora da janela.

Brenda travou. O telhado do vizinho era colado com a janela. Estaria...aquilo vindo da casa dos vizinhos? Mas por quê suas células pareciam vibrar em direção a aquele som?

Sem poder lutar contra sua curiosidade, ela pegou uma cadeira velha e empoeirada que habitava o canto do cômodo. Ao arrastar a cadeira até a janela, pôs os pés ali e ergueu seu olhar para fora.

De início, não viu nada além das nuvens em formato de coração e do céu azul - azul até demais. Parecia saido de um quadro da época da renascença. O choro estalava seus ossos de tal forma que sua cabeça foi rapidamente direcionada para baixo. As telhas. Elas rangiam. Elas tremiam. E lá estava ele. Enrolado em uma toalha azul, seu irmão estava desesperado.

Espere... o quê?
Seu irmão? O.. o Gui ou o Pedro? O bebê era idêntico aos dois gêmeos. Tinha covinhas na bochecha, sardas e cabelo ralinho preto. Entre as telhas velhas e vermelhas, havia um bebê igual aos seus irmãos.

Por quê ele está aqui?, indagou Brenda em seus pensamentos. Como alguém pôde deixar uma criatura tão ingênua bem aqui?

Há quanto tempo ele estava ali? Dias? Semanas? Poucas horas? Como ela jamais notara aquele choro antes? Ele tremia com o frio, lágrimas escorriam seus olhos. Ele estava tão desesperado... seria ele dos vizinhos? Teria ele subido o telhado sozinho? Como era possível? Como? Como?

Ela, sem resistir a tentação mortífera e sagaz, extendeu os braços para agarrar a criança. Ela o ergueu, e era definitivamente um menino. Ela o trouxe para dentro, e ele instintivamente a abraçou. Como um velho amigo que ela jamais lembraria de conhecê-lo. Ele chorava baixinho, e ela estava muito confusa.

Ele tinha a mesma cor de pele dos seus irmãos, o mesmo peso e tamanho. O mesmo formato de nariz herdado da mãe. O mesmo choro. Como se pudesse enxergar além do físico, Brenda não pôde deixar de perceber que sua alma era igual a de seus irmãos. Alma? Estaria ela maluca?

Cadê os pais do menino? Por quê ele está aqui? Por quê?

Mais choros. Dessa vez, ela parou a prestou atenção ao som ambiente. Ela percebeu que seus irmãos, agora com dois anos, acordaram. Eles choravam em unissonso e seus choros se tornavam apenas um só, um coral horrendo. A terceira criança também passou a chorar em harmonia, como velhas almas desejosas em se reencontrar, como velhos amigos que não se viam há tanto tempo.

Brenda não sabia o que fazer. Ligava para o conselho tutelar? Tocava a campainha dos vizinhos para perguntar-lhes que criança era aquela? Ela iria até a delegacia? O que ela faria? Ligava para os pais que estavam distantes?

Mas seus pés pareciam se mover contra a vontade dela, de forma que a encaminharam até o quarto verde de seus irmãos. As crianças gritaram, como uma canção há tanto esquecida, e Brenda não podia acreditar que a roupa dos três eram iguais: vermelhas. O pano azul que circulava o bebê caiu no chão.

Brenda suava frio. O que aquilo deveria significar? Uma criança igual a seus irmãos? Ela estava sonhando. Só podia estar. Ela colocou a criança junto deles, e eles se aninharam juntos como filhotes. Ela tentou se beliscar. Não estava sonhando.

Ela tentou piscar, para ver se não estava alucinando. O que estava acontecendo ali?

Passos ecoaram na sua sala de estar, e Brenda paralisou. Droga. Tinha alguém ali? Ela se escondeu atrás da parede. Passos, paff, paff, paff. Pés no assoalho de madeira rangendo. Ela sentiu seus dedos do pé formigarem.

Alguém invadiu a minha casa. Tem alguém aqui. Será um dos parentes da criança?

Por quê a criança parece com meus irmãos?
O que está acontecendo?

Uma figura apareceu na porta do quarto e Brenda se sobressaltou de forma que caiu de bunda no chão tremendo.

—Olha, eu vejo que encontrou o meu irmão. - a garota sorriu abertamente - Olha... você também tem irmãos. Eles são uma graça nessa idade, não são? Sem ter que se preocupar com a escola, emprego, família, amigos...eles só... - ela suspirou - existem.

A garota era idêntica à Brenda. Tinha cabelos negros caídos na altura do queixo, duad mechas rosas na frente, franja reta. Olhos expressivos e castanhos, o mesmo formato de nariz dela e dos três bebês. Os lábios de Emma Watson avermelhados. Uma covinha no queixo. Magra. Ela sorria de forma bizarra e amigável ao mesmo tempo. Mas Brenda vestia pijama, e ela uma blusinha rosa, short curto e sandálias havaianas. Suas unhas eram pintadas de branco.

—Oi. Me desculpa entrar dessa forma, é que estive tão preocupada com ele...

Brenda tinha tantas questões, sua mente parecia um baralho de cartas decaindo seguidamente. Como? Como? Como? Como? Como? Como? Como? Como? Como? Uma garota igual a ela? Até os óculos eram iguais. Teria ela enlouquecido? Teria ela ficado maluca de vez?

Mas a garota parecia não perceber nada estranho. Ela foi até o berço e pegou a criança no colo. Como ela sabia qual criança era qual? Como ela pôde apenas levar a criança até a sala e sentar no sofá.

Tremendo e suando frio, Brenda deu uma olharela para seus irmãos. Eles dormiam tranquilamente. Mas a pele deles parecia pálida, como se estivessem...mortos. Mas eles respiravam. O olhar lentamente de Brenda se dirigiu até a garota - ela mesma? - na sala. Ela cantava uma canção.

"Por tanto tempo esperei pra te ver
Por tanto tempo esperei pra te encontrar
Por tanto tempo soterrada em mentiras
Por tanto tempo vivendo tampada".

Brenda se beliscou de novo. Não parecia um sonho. Ao conferir o relógio em seu pulso, era 5:54. As cores pareciam as mesmas de sempre da casa. As posições dos móveis era a mesma. As crianças estavam usando a mesma roupa que ela as vestira ontem. Tudo parecia perfeitamente normal, com exceção da garota e do garotinho. Era... ela e seu irmão. Mas onde estava o outro?

—Quem é você? - perguntou Brenda, hesitante, engolindo em seco. Ela procurou alguma coisa para usar como arma ao redor - Eu...eu nunca te vi por aqui antes.

—Claro que viu, maluca! - ela deu uma risada mortífera e esganiçada. Era alta e fez com que a lâmpada da sala explodisse e espalhasse vários cacos de vidro pela sala, e Brenda gritou, se protegendo com a mão - Me viu quando nascemos juntas, lembra? Éramos tão próximas. Por quê não me ligou? Por quê não se lembra de mim?

—Meu subconsciente deve ter esquecido... - Balbuciou Brenda, tremendo. Era um demônio. Um alienígena. Era uma criatura paranormal que tomou a forma física dela. Ela sempre acreditou nessas coisas paranormais. Ela sempre soube da existências de seres. Era uma delas. Era a chance da garota de dezenove anos, Brenda, questionar coisas sobre a vida, morte e destinos.

—Esqueceu nada... - ela depositou a criança no sofá, e se moveu sorrateiramente até ela - Eu me lembro de você. Eu me lembro de como costumava agir diante de situações. Não entende que você fez mal?

—E que tipo de mal eu fiz? - Brenda mordeu o lábio inferior, aflita. A garota era ela. E parecia amigável. A garota sorriu e seus dentes perfeitamente alinhados brilharam.

—Eu nasci primeiro e você nasceu com inveja!

A garota começou a dançar uma música com paços de Ballett. A música soava do antigo rádio da família, que sua mãe comprara em São Paulo. Ela dançava de forma graciosa e mortífera. Suas pernas desenhavam no ar uma elegância. Ela cantou mais.

"Como posso eu te julgar
Uma vez que já não
Posso te ajudar?"

Brenda correu até a cozinha, abriu a gaveta e pegou uma faca afiada. Ela estava apavorada e seu coração martelava contra seu peito. O sol entrava pela janela da cozinha e iluminava a garota que dançava graciosamente. Pássaros cantavam do lado de fora.

"Eu já não mais
Agora tanto faz
Se eu disser
Se eu contar
Se em ti eu confiar
Como posso eu te falar
Que agora já não posso voltar
Atrás aonde foi
O melhor"

Brenda pulou em cima da garota, a estrangulando. Expressões de pânico, pavor, agonia, dor e sofrimento passaram pelo seu rosto enquanto Brenda cortava sua garganta.

O líquido vermelho passou a escorrer pelo chão, grudento. Ninguém lhe contou antes que sangue era tão viscoco. Que sangue era tão quente e acolhedor. A garota estava morta.

Brenda urrou. Uma garota estava morta e a outra estava viva. Como ela poderia se perdoar? Como seus pais a perdoariam? Como eles a veriam como normal de novo? Como as pessoas a veriam? A garota que assassinou sua cara metade, a garota que invadira-lhe a casa. Ela cometera um crime. Agora pagaria por ele. O bebê dava risadas gostosas e contagiantes enquanto batia palmas.

Ela correu até o celular, chorando e tremendo. Suas mãos sujas de sangue manchando tudo. Seus irmãos acordaram e mordiam o dedo um do outro. Ela discou para a emergência.

—Uma garota invadiu a minha casa, e eu... eu... eu me desesperei e a matei...

—Não seja tola, garota. - uma mão pousou em seu ombro, a fazendo derrubar o celular. Ele se espatifou no chão, quebrando-se por inteiro.  Sua avó estava ali. Seus cabelos brancos trançados, olhos azul-cristal. Mas a avó dela morrera há um ano - Não se pode contar quando comete um crime. Ela era sua irmã gêmea. Apenas finja que está morta e ficará tudo bem.

Ela parou. O que estava ela falando? Ela se bateu, esperando acordar. Mas as batidas pontiagudas e dolorosas do seu coração a lembravam que ela estava acordada. Ela estava acordada demais.

Uma música de rap americano começou a tocar no rádio.

—Eu quero te contar uma coisa que queria ter sabido na juventude. - ela pegou o bebê desconhecido no colo e se sentou na cadeira da cozinha - Você não escolhe quem te mata, quem você mata, quem sobrevive. Mas você estava no local onde aconteceu. Então precisa fingir que não esteve.

Brenda entrou no quarto dos seus irmãos e trancou a porta rapidamente.  Como sairia dali? Eram definitivamente alienígenas. Como tudo aquilo estava acontecendo? Como? Deabos? Seu celular estava em pedaços. Seus irmãos choravam a criança do lado de fora também.

Ela também. Mas tudo fechava. Tudo estava preto. Tudo acabara. Uma garota morta em seu tapete. O que pensariam disso? A senhora ali - era humana, para começo de conversa? - ligaria para a polícia? Onde poderia fugir? A janela do quarto dos irmãos pareceu uma opinião, mas ao olhar para lá - antes ela esfregou as mãos no cabelo, o cobrindo de sangue - ela viu sua mãe sentava na beirada da janela.

—Querida, eu acho que me esqueceu também. Eu estive bem aqui quando você nem mesmo de recorda. - a mulher saiu da beirada, e Brenda se recostou na porta, tremendo. Era uma alienígena, disso ela tinha certeza - Eu sempre falei pra sua mãe que gêmeos dão o dobro de sorrisos, o dobro de confusões e dobros de mortes quando separados. - Ela riu alto, pegando em sua mão e a sacudindo em seguida - Eu sou Amanda, Amanda que manda, Amanda que te manda, Amanda que te mata.

—SAIA DAQUI! - Brenda a empurrou forte, a fazendo cair forte no chão. Brenda berrou, se arrependendo de ter deixado sua faca na sala. Ela chutou o rosto da mulher que era igual a sua mãe até quebrar seu nariz. Ela chorava sangue, mas Brenda seguiu a ferindo. Ela pegou seus livros da escola e tacou na mulher. Os bebês gritavam.

"Um, dois, três,
Três melhor que três
Trigêmeos e uma morta
Uma garota morta morta
Eu te disse, querido
Uma garota maluca mata a gêmea"

"Mas a gêmea foi escondida de todos, como culpá-la? Ela a afastou!!! Não contou a ninguém sobre ela! Agora ela voltou para se vingar, e fez confusão na sua vida. Confusões que ela não pode desfazer"

"A velha voltou, a gêmea maluca da mamãe foi a razão pra tudo acontecer! Alguém contou alguma vez?"

Como crianças de dois anos estariam falando? Brenda se escondeu debaixo da cama, chorando alto.

Ela enloquecera. Com certeza absoluta. Como ela fazia para voltar a sanidade? Ela não estava pronta para deixar sua vida boa de lado, ela queria ainda terminar a escola. Ela ainda queria de casar. Ainda queria ir para a Disney. Ainda queria existir.

Mas a insanidade a atingia. Como ela resistiria? Como? O sangue tremulava. O sangue tremulava. O sangue fervia. Os olhos também. Os olhos pegavam fogo. A mente tamborilava. Ela estava maluca. Maluca, maluquinha. Malucona. Ela chorou e gritou, a garganta a arrancando a voz. A arrancando de dentro. Sua puxou o próprio cabelo, pessoas voavam sob ela. Seus pais. Seus irmãos. Sua irmã gêmea que morrera aos cinco anos. A irmã, que ao morrer, fez ela se culpar para sempre. A avó que morrera e fazia Brenda sentir sua falta.

Ela arregalou os olhos. Ela berrou. Um uivo de lobo. Um uivo assassino ecoou dela, ela virou um lobo. Suas veias saltavam rancor e ódio. Seus irmãos gritavam e riam.

ASSASSINA ASSASSINA ASSASSINA
CALEM A BOOOOCA

A S  S A S S I N A
HAHAHAHAHAHAHA
MAMÃE TE ODEIA
PAPAI TE ODEIA

MATOU A IRMÃ
MORRE
EU TE ODEIO

Cobras saiam debaixo da cama e puxavam sua pele. Puxavam sua pele lentamente, a arrancando. E Brenda não podia se mexer. Ela ficou parada e gritando. Suas lágrimas, ao chegar na sua boca, ganhou gosto de gasolina misturada com xixi. Ela mordeu  a língua. As cobras a enroscavam. As cobras a torturavam.

A MAMÃE SABE SABE SABE
HAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHA

PELE
SANGUE
SANGUE
UMA CRIANÇA MORTA A COBRA ME MORDE ELA ARRANCA TORTURA ELA ME VIRA A VOVÓ ME DISSE QUE AQUILO DEVERIA SER CERTO COMO NÃO É CERTO
SSDF
C

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NOTÍCIA DO DIA

"A garota de dezenove anos, Brenda Geovanna, moradora do estado de São Paulo, no Brasil, foi encontrada morta em sua casa. Os vizinhos alegaram terem ouvido gritos desesperados em sua residência, e um cheiro horrível. A garota assassinou seus irmãos à facadas e degustou de seus órgãos, e em seguida arrancou sua própria pele com a faca. Ela arrancou a língua e em seguida cortou a própria garganta.

Os pais estavam viajando em uma viagem de negócios e alegaram que sua filha nunca teve comportamentos  insanos antes. Segundo repórteres locais, as janelas da casa estavam abertas. Minha teoria é de que a garota avistou... aquilo. A coisa que está matando a sanidade de diversas pessoas ao redor do mundo. Já são mais de trezentos mil relatos ao redor do mundo de pessoas que avistam algo do lado de fora e em seguida agem do insanas, tirando a vida de outros e em seguida a delas próprias. Seus vizinhos já estão trancando as portas e fechando as janelas."

Malorie tremia, passando as mãos em sua barriga. Ela temia pela criança que se formava ali agora, a criança que ela sabia que iria nascer em breve e viver naquele mundo. Fazia duas semanas que ela e sua irmã Shannon estavam confinadas dentro de casa, sem sair. O relatório Russa estava se espalhando.

—Ouviu isso, Malorie? Até no Brasil! Só podem ser criaturas lá fora que fazem a gente perder a sanidade!

 


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Notas finais do capítulo

Acharam muito doido? Quais são as teorias de vocês? O que teorizam sobre este capítulo? O que acham que realmente aconteceu? Me deem o feedback de vocês ^^



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