Soul observou o relógio da sala contar 23:48 e em seguida seu celular tocar com o som de mensagem seguido pelo nome de Black Star. Suspirou e leu a mensagem com os dizeres:

“Já resolveu?”

Respondeu com um simples “não” e como resposta obteve um “quero sua foto de cabelo cortado.”

Soul encostou-se no sofá e tentou focar no filme que assistia com Maka. Ela parecia focada, mas era apenas um disfarce. Logo, aquele olhar questionador de sempre o mirava.

— O que aconteceu, Soul?

—Nada. — Tentou parecer despreocupado.

— Preciso realmente te lembrar que você não me engana? — Disse virando seu corpo para o dele.

Como dizer para Maka que ele não tinha intenção de enganá-la? Que na verdade, ele só não queria arriscar tudo o que construiu ao lado dela por sentimentos e desejos que não deveriam existir por ela?

Fechou os olhos e pensou mais um pouco.

Não era justo.

Não era justo com ele e muito menos com ela. E se ele falasse e perdesse tudo o que tinham no momento? Toda a boa convivência apesar das brigas por seu jeito bagunceiro ou a falta de habilidades culinárias dela ou pior, se perdesse a parceria. Como iria sempre dar o seu melhor se não fosse mais a arma daquela que o transformou em uma Death Scythe?

—O que tanto o incomoda? — Antes que respondesse, ela o olhou tocou sua perna o fazendo se arrepiar. Sorte estar de calça. Queria poder controlar as reações de seu corpo a pequenos toques dela. Ou ao prazer de sentir seu perfume. — Não precisa mentir ou arrumar desculpas, Soul. Sei que está acontecendo algo.

— Como sabe?

—Te conheço. — A loira mexeu os ombros.

Se ela conhecia, será que ao menos imaginava o que se passava dentro dele? Sentia toda a agitação e incerteza?

—Você está ficando agitado. — Fez careta e Soul suspirou.

—Não é tão simples.

—E por que você não me conta do início? Talvez eu possa te ajudar.

Ah, se ela soubesse que era a raiz de tudo aquilo..., mas não era certo a deixa sem saber o que sentia.

Se bem que talvez não precisasse contar tudo... poderia tirar um pouco daquilo que sentia e compartilhar com a dona dos sentimentos.

—Vou te contar por cima. Sabe que sou péssimo...

—Falando... Sim, eu sei. Você demostra melhor por meio da música. — Maka sorriu e o ato enviou uma onda de satisfação gigantesca. Uma leveza se instalou em seu corpo o fazendo relaxar um pouco.

— Sim, com a música é sempre mais fácil. — Deu de ombros.

—Sua inquietação de algo a ver com a aposta de Black Star?

—Como sabe? — Sirenes de alerta apitaram em sua cabeça.

—Aquele idiota estava me perguntando se você já tinha cumprido sua parte e que eu iria cortar seu cabelo meia noite. — Bufou em desagrado. —Então, Soul, como sua parceira e amiga, eu gostaria de saber o que aconteceu e por que essa aposta mexeu tanto com você, uma vez que vocês já fizeram tantas.

— Essa eu fiz no dia em que bebi com Black. —Abaixou a cabeça. — Eu estava um pouco desesperado e precisava desabafar. Contar o que eu estava sentido. Black disse que eu deveria agir e acabei falando que iria agir. — Deu de ombros. —Então combinamos que se eu não agisse, deveria corta meu cabelo.

— E o que é tão importante que você ainda não fez? Seu cabelo não é tão importante para você?

—Sim. Mas o motivo do combinado também. — Maka se levantou e voltou da cozinha com uma garrafa de vodka e um copo.

—Que tal você me contar por cima? — Ofereceu o copo sorrindo e recebeu um aceno de negação.

— Vou contar sem bebida alcóolica.

Teria mesmo coragem? Sim!

— Estou apaixonado. — Falou rápido e observou o sorriso da garota que segurava o copo se fechar e seu corpo indo parar no sofá.

—Apaixonado por quem? — Deixou a garrafa e copo na mesinha de centro.

— Por uma garota especial.

— E por que não fala com a garota? Você é requisitado. — Deu de ombros. —Esqueceu? — Disse com uma leve amargura.

Soul revirou os olhos. De novo aquilo? O assunto era complicado entre os dois. Uma vez que Maka não era muito de confiar em homens e a insegurança sobre ser abandonada por seu parceiro os levou a algumas discussões.

—Não, não esqueci e na verdade, nem me importei com isso. E acredito que ela também não deveria.

— Hum. Sortuda. — Fez bico. — Certo, fale mais.

Sorriu minimamente. Mal sabia quem era a “sortuda”.

O albino puxou o ar e soltou devagar. Era tão difícil falar sobre aquilo.

— Tenho medo de estragar tudo. Não sei se ela sente o mesmo ou se já cogitou a ideia. Talvez eu morra sem tentar ou sem saber como seria ter algo amoroso com ela.

— E perder a chance de saber se ela sente algo por você? Bobagem.

—Você já gostou de alguém, Maks?

Observou as bochechas dela corarem.

— Talvez.

Soul sentiu uma pequena fisgada.

— E por que nunca falou com a pessoa.

—Acho que ele não iria me querer.

— Só por você ser uma rata de livros? — Brincou para amenizar a vergonha dela.

— Idiota. — Bufou. — Não sei se ele iria querer algo comigo. Como você mesmo sabe não possuo tantos atributos físicos. — Cruzou os braços em desagrado. — Vocês costumam focar muito nisso.

— Você não vem se olhando no espelho, né? — Quando terminou a frase sentiu as bochechas corarem.

—O que eu deveria olhar?

Ambos estavam vermelhos. A constatação era óbvia. Ela poderia não ter olhado, mas ele sim.

— Você está com vários atributos... — Disse desviando o olhar. — E também é bonita...

— So... sou? — Maka parecia incerta e ele se odiou por em algum momento não ter demonstrado isso, mesmo quando era mais novo e fazia de pirraça para implicar com ela.

— Sim.

— Ate que você não é de se jogar fora. — Ela disse implicando com ele que bufou e encarou.

— Você sabe muito bem que sou lindo.

—Não exagera. — Sorriu.

— Em pensar que senti medo de estragar nossa relação... — Resmungou baixo, mas logo foi interrompido por Maka que praticamente pulou em cima dele. — Ei! — Sentiu a vermelhidão voltar ao rosto.

— Estragar nossa relação de que jeito? — Perguntou olhando para os olhos dele que tentou desviar. — Olhando nos meus olhos, por favor.

—Estragar... — Era agora! Suas mãos foram parar na cintura fina. — Estragar dizendo que estou gostando do você Maka Albarn.

O silencio se seguiu enquanto ambos se encaravam. Era como se estivessem observando a alma um do outro ou como o quarto escuro em que a conexão dos dois era única e inquebrável.

—Graças a Kami-sama. —Maka disse antes de se jogar por completo em cima dele e encostar seus lábios aos dele que se assustou e demorou alguns segundos para entender. Sorriu.

O beijo era desajeitado e logo percebeu que era o primeiro beijo dela.

Ok, ele era um maldito sortudo!

Subiu sua mão direita para a nuca da loira e tentou organizar o beijo que estavam trocando. Maka esperou e sentiu os movimentos que ele fazia enquanto a mostrava na prática. Em seguida, os imitou e fez com perfeição como sempre fazia. Primeiro observa e em seguida tentava. Aquela era sua shokunin. Aquela era Maka Albarn. E ninguém era como ela.

Os lábios em ajuste, o gosto de morango dos lábios dela que agora tornara-se o sabor favorito de Soul. O calor dos corpos em contato e o cheiro inebriante dela. Ah, como ele era sortudo. Sim, Soul Eater Evans era sortudo.

—Soul. — Disse ofegante separando alguns centímetros dos seus lábios.

—Uh?

—Eu estou gostando...

—Estou apaixonado por você Maks. — Foi presenteado com um sorriso.

—De você. — Completou.

Voltaram a se beijar em meio a sorrisos de satisfação. Aquilo era felicidade.

Era como o sol aparecendo depois de dias chuvosos. Era conforto e liberdade.

Sentiu as mãos macias de Maka seguirem para seu rosto o tocando com carinho e subirem para seus cabelos. Suspirou com a sensação prazerosa. Então era essa a sensação de beijar alguém que se gosta? Era muito bom.

Logo suas línguas estavam juntas compartilhando espaço, enquanto sua mão a segurava pela cintura e a outra segurava sua nuca. Foram interrompidos pelo barulho do relógio marcando meia noite e o celular de Soul que tocava.

—Black Star. — Disseram juntos.

—Atende. — Maka disse tentando sair dos braços dele, mas logo foi puxada e acabaram deitados um de frente para o outro. —Soul!

— Depois eu atendo. Agora tenho coisas mais importantes para fazer.

—Tem? — Perguntou sorrindo. — Como o quê?

—Perguntar se você aceita sair comigo. — Sorriu e beijou a testa da garota.

—Aceito. — Disse sorrindo e brincando com a cordinha da blusa de frio dele.

—Eu estava morrendo de medo de estragar tudo e você não querer nem chegar perto.

— E eu estava morrendo de medo de ter que escutar você falar o nome de outra e eu ter que fingir que não estava acabada por dentro.

Ambos se olharam e sorriram. O medo quase o impediu de viver o momento. Como era bobo.

O celular tocou de novo e dessa vez Soul resmungou e atendeu.

— O que é?

— Não atendeu por estar chorando e cortando o cabelo? — Disse rindo.

Soul olhou para Maka e ela piscou.

— Na verdade, eu não atendi por estar com a boca ocupada enquanto beijava a Maks.

Maka soltou uma risada nervosa por estar com vergonha.

—Mentira! Quero falar com ela!

—Estou escutando Black. — Disse sorrindo. — E é a pura verdade.

—Tsc. Bom, pelo menos vocês tiveram um final feliz. Agradeçam ao seu grande deus, EU! — E voltou a rir.

Soul desligou enquanto o outro ainda falava algo sobre sua divindade.

— Isso explica a Tsu me perguntando sobre o que eu achava de armas e artesões juntos... — Maka refletiu.

— E o que você acha? — Perguntou colocando uma mexa do cabelo dela atras da orelha.

— Que se ambos estão apaixonados, por que achar que todo caso vai ser como o caso dos meus pais?

— Nem acredito que esperei tanto para isso. — Alisou a bochecha dela.

—Nem eu.

Sorriram e voltaram aos beijos. E agora com a sensação de conforto por saberem que algo recíproco surgia ali e ansiosos pelo o que poderiam construir a partir dali.

Em outra casa próxima, Black Star e Tsubaki comemoravam com uma dancinha estranha o momento em que seus melhores amigos finalmente viviam.