Dancing is a Dangerous Game escrita por prongs


Capítulo 3
I breathe a little deeper when I'm next to you




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Na manhã seguinte, Albus acordou com a cabeça latejando e tirou algumas conclusões enquanto desviava o olhar da persiana meio aberta, que deixava a luz forte do sol entrar em seu quarto de hotel: 1) ele nunca mais iria tomar tequila; 2) ele nunca mais deixaria Scorpius Malfoy tomar tequila, e; 3) ele precisava falar com Rigel Thomas-Finnigan urgentemente.

As informações invadiram sua mente devagar, como se fossem passos cuidadosos em um piso de madeira. Primeiro o gosto forte da tequila, então o cheiro do perfume de Rigel misturado com o suor na pista de dança e, em seguida, a sensação dos braços dele ao seu redor junto ao gosto da boca de Rigel, que parecia ainda estar nos seus lábios, pendendo deles como os jardins da Babilônia. 

Albus tocou os próprios lábios na esperança de que a sensação fosse embora, porém ela pareceu ficar mais forte. Ele suspirou, levantou-se da cama e viu que já se passava de meio-dia no relógio do seu celular. Checou algumas mensagens perdidas, mas não achou nada que fosse muito urgente, a não ser por uma de Scorpius, de alguns minutos antes, informando-o que ele ainda estava vomitando. Ele realmente não podia mais deixar o rapaz tomar tequila, em especial sozinho.

Depois de algumas horas e uma aspirina tomada, ele finalmente se levantou, tomou um banho e bateu na porta do quarto de hotel de Scorpius.

— Bom dia — Um Scorpius de cabelo bagunçado e olheiras profundas murmurou ao abrir a porta.

— São quase três da tarde — Albus resmungou, ajeitando os óculos escuros no rosto, tentando evitar uma enxaqueca. — Vamos, se arruma, a gente vai sair pra comer.

— Eu ia só pedir pro serviço de quarto trazer alguma coisa — Scorpius tentou argumentar, mas seu assistente balançou a cabeça em negação.

— Você vai se arrumar e os paparazzi vão tirar fotos suas com o cabelo penteado comendo croissant em uma cafeteria — Ele insistiu. — E talvez eu precise sair e pegar um pouco de ar fresco. E de companhia. Talvez.

O ator sorriu brevemente, ainda sentindo os efeitos da ressaca, e deixou Albus entrar para que pudesse se arrumar. O moreno sentou-se numa poltrona no canto do quarto enquanto Scorpius trocava de roupa, os olhos fechados e a cabeça sempre voltando para o maldito beijo. O maldito e maravilhoso beijo.

Seus pensamentos rodavam e rodavam e ele nunca chegava a uma conclusão, e, antes que ele percebesse, Scorpius estava pronto e eles estavam indo até a cafeteria mais próxima atrás de algo para comer. Os paparazzi não demoraram para aparecer e ele observou o amigo arrumar o cabelo e sorrir naturalmente, como se não tivesse vomitado na calçada do hotel na noite anterior.

— Você se divertiu ontem? — Albus foi arrancado de seus pensamentos pelo loiro e o encarou distraído.

— Quê?

— Ontem, na festa. Você se divertiu? — Scorpius repetiu, tentando decifrar a expressão do rapaz sentado à sua frente.

— Sim, claro — Albus balançou a cabeça, tentando parecer mais presente. — Foi… muito legal. Por quê?

— Você tá meio quieto demais — Scorpius parecia genuinamente preocupado e deu de ombros. — Fiquei me perguntando se aconteceu alguma coisa pra te deixar assim.

— Não, não aconteceu nada. De verdade. Nada demais. A noite foi divertida de um jeito muito normal — Albus bebericou seu café, querendo desesperadamente que aquela conversa acabasse, enquanto Scorpius o encarava com uma sobrancelha arqueada.

— Cara, você é muito estranho às vezes — Ele disse e sorriu de novo para os fotógrafos, encerrando o assunto.

Albus sabia que ficaria estranho até falar com Rigel sobre o que tinha acontecido naquela noite. Ele passara tanto tempo achando que o rapaz o odiava, apenas para descobrir que Rigel estava flertando com ele aquele tempo todo — Albus havia de fato perdido todas as suas habilidades sociais, aparentemente. Agora ele não sabia como se sentir; ele ainda odiava Rigel? Aquilo havia sido só um beijo ou Rigel iria querer mais? Ele não suportava aquelas incertezas e somente queria resolver a história na sua cabeça.

As horas do fim de semana se arrastaram lentamente e Albus sentia que estava à beira de um colapso mental, até que a segunda-feira enfim chegou e ele se encontrou nos estúdios de gravação mais cedo que o normal, por completo impulsionado pela ansiedade de ver Rigel de novo.

Ele o ignoraria? Ou iria atrás dele? Será que ele fingiria que nada tinha acontecido, ou talvez diria que não se lembrava de nada? Se Rigel havia o beijado na frente de várias pessoas, certamente seus colegas de cena sabiam que ele gostava de homens, mas e seus fãs? Rigel se importava com isso? Eram tantas perguntas rondando sua mente que Albus precisava de respostas de imediato. Odiava não ter certeza sobre as coisas, em especial as que o envolviam diretamente.

Então Albus resolveu de uma vez por todas não esperar nenhuma atitude de Rigel, e ir ele mesmo atrás do ator para ter um pouco de paz interior. Ele esperou que Scorpius fosse gravar uma de suas últimas cenas e tentou ir discretamente até o trailer de Rigel, sabendo que o ator estaria lá se preparando para alguma das suas cenas. Ele respirou fundo, sentiu o coração martelar forte no peito devido ao nervosismo, e bateu na porta de metal. O rapaz a abriu alguns segundos depois, recepcionando Albus vestido de moletons e com um sorriso grande e surpreso no rosto.

— Albus Potter. Você por aqui?

— Rigel — Ele respondeu, estranhamente polido. Estava nervoso, mas precisava daquela conversa. — Posso entrar? Eu queria… resolver algumas coisas com você.

Rigel o observou, e Albus teve certeza que ele sabia exatamente sobre o que queria falar. O rapaz assentiu e abriu mais a porta, deixando que Albus entrasse, e encostou-se em uma das paredes do trailer enquanto o assistente inquietamente procurava um lugar para se sentar. Ele decidiu se sentar na beira da cama perfeitamente coberta e intocada de Rigel, que ainda o observava com atenção depois de trancar a porta atrás de si.

— Então — Albus começou, e respirou fundo.

— Então…? — Rigel levantou uma sobrancelha.

— Sobre a… festa — O rapaz continuou encarando-o sem piscar, e Albus engoliu em seco antes de continuar. — Sobre o que aconteceu na festa. Você sabe, o… você sabe.

— O beijo?

Rigel o encarava com olhos perfurantes e Albus engoliu em seco ao assentir rapidamente. Não sabia por que estava tão nervoso ou com a sensação que seu coração iria sair pela boca. Talvez porque aquele tinha sido um dos melhores beijos de sua vida, além de que Rigel era obviamente atraente e já havia dito que Albus também o era. Apenas talvez.

— Sim, o beijo — Após uma breve pausa de Albus, Rigel levantou uma sobrancelha e deu de ombros.

— Então, o que você quer falar?

Albus coçou a cabeça e respirou fundo — não tinha pensado nas palavras que iria usar e agora estava se sentindo extremamente idiota. Ele odiava aquela sensação mais que tudo.

— Bem… definitivamente aconteceu… alguma coisa ali… certo? — Ele tropeçou nas palavras e quis se esconder num buraco; orgulhava-se de ser uma pessoa direta, assertiva, e no momento não estava conseguindo ser nada disso. Para a sua sorte, Rigel percebeu que ele estava nervoso, riu e sentou-se ao lado dele, na cama, provavelmente tentando facilitar a conversa, embora estivesse apenas deixando Albus mais sem jeito ainda.

— Sim, Albus, aconteceu um beijo. Chegamos à conclusão que eu te acho gato, eu estou supondo que você admitiu pra si mesmo que também me acha bonito, a gente tava bêbado, rolou uma química e nos beijamos.

— Com certeza — Albus concordou, sua cabeça girando novamente ao pensar no beijo, e Rigel franziu as sobrancelhas.

— O quê?

— Eu com certeza também te acho bonito — Ele reformulou a frase, sentindo as orelhas esquentarem. Ele definitivamente precisava voltar a se comunicar como uma pessoa normal com urgência, então balançou a cabeça para clarear os pensamentos e encarou os olhos escuros de Rigel. — Mas eu preciso saber o que vai acontecer agora, sabe? Vamos fingir que não aconteceu nada e continuar tratando um ao outro normalmente, ou…?

Rigel umedeceu os lábios com aquele sorriso irritante no rosto, torto e sarcástico, que fazia Albus perder a cabeça. 

— Ou o quê, Albus? — Rigel sorriu mais e ele sentiu algo similar com o que sentia toda vez que Rigel o provocava antes do beijo, mas dessa vez era um pouco diferente. O mesmo borbulhar no fundo do estômago, a vontade de bufar e gritar, mas o que antes era pura irritação agora se misturava com a vontade de agarrá-lo, e as linhas entre os sentimentos de ódio e atração se misturavam cada vez mais.

— Ou se a gente vai continuar se beijando — Ele murmurou, sem conseguir evitar encarar os lábios especialmente convidativos do rapaz sentado ao seu lado. 

Rigel se aproximou de Albus na cama e pousou uma mão na coxa dele, fazendo arrepios subirem pela espinha do menino, que engoliu em seco e não conseguiu olhar para ele de volta sem que seu corpo e cérebro derretessem. Rigel aproximou os lábios da orelha dele e sussurrou:

— Você quer continuar me beijando?

Albus respirou fundo e fora impossível resistir ao ímpeto de se virar, segurar o rosto de Rigel entre as mãos e beijá-lo.

Sóbrio, Albus conseguia aproveitar melhor o gosto de canela da boca dele, provavelmente por causa dos vários chicletes que o ator mascava durante o dia com aquele sabor. Ele também conseguia notar com mais atenção os movimentos que as mãos do rapaz faziam ao deitá-lo na cama e acariciar seu corpo, explorando cada centímetro desconhecido com cuidado e atenção. O que não mudava era o descontrole que Albus tinha sobre o próprio corpo; mesmo que ele quisesse, não conseguiria impedir que suas mãos continuassem procurando a pele de Rigel desesperadamente entre as roupas e os lençóis.

E todos os dias até o fim das gravações naquela semana, Rigel roubou olhares de Albus entre cenas, além de beijos entre trailers e paredes que os mantinham escondidos. Albus sabia que aquilo não era uma boa ideia, e tinha medo de algo dar errado e ter que pagar pela sua estupidez, mas não conseguia ignorar o calor que tomava conta de seu corpo toda vez que Rigel sorria para ele e o puxava pela cintura com alguma piada sarcástica antes de beijá-lo. Era impossível.

Mas, claro, o universo ainda não tinha feito as pazes com Albus e precisava lembrá-lo que ele estava sendo idiota.

— Então… você vai voltar para Los Angeles? — Albus perguntou para Rigel naquela sexta-feira, enquanto os dois terminavam de se vestir. Rigel tinha passado no trailer de Scorpius apenas para dar um oi para o rapaz, mas ao encontrá-lo sozinho, o oi se transformou em algo bem melhor.

— Sim — Ele sorriu para o garoto. — Você também vai? — Albus assentiu e sorriu de volta. — Bem, você tem meu número e eu tenho o seu. Se sentir minha falta é só mandar mensagem… — Albus sentiu o estômago irromper em chamas quando Rigel se aproximou, pegou seu queixo com delicadeza e o beijou, o gosto de canela inebriando todos os seus sentidos. — E se eu sentir sua falta eu vou mandar mensagem.

— Se? — Ele levantou uma sobrancelha enquanto Rigel se afastava para calçar os sapatos.

— Sim, ué, nunca se sabe o que pode acontecer — Ele deu de ombros com seu habitual tom zombeteiro que deixava Albus com vontade de arrancar sua cabeça fora. E beijá-lo ao mesmo tempo. — Por acaso você tem certeza que vai sentir minha falta, Potter?

— Do seu sarcasmo, definitivamente não. Já de outras coisas… — Albus contemplou o corpo de Rigel de cima a baixo e deu de ombros, fazendo o outro garoto cair na gargalhada.

— Você me diverte, Albus. Te vejo em L.A.

Rigel terminou de amarrar os cadarços e abriu a porta para sair, e foi aí que Albus escutou a voz de Scorpius.

Ele fechou os olhos e começou a xingar com todos os palavrões que conhecia em sua cabeça ao mesmo tempo que ouvia os dois atores se cumprimentarem, não deixando passar o tom de desconfiança na voz do Malfoy. Ele com certeza iria questionar Albus sobre o que estava acontecendo, e seu casinho secreto não iria mais ser tão secreto, afinal.

Scorpius subiu as escadas do trailer com uma sobrancelha arqueada e o olhar mais desconfiado que Albus já havia presenciado em toda a sua vida. Os dois se encararam e o moreno não conseguiu evitar que a culpa ficasse estampada em seu rosto corado, suas roupas amassadas e seu cabelo bagunçado.

— O que Rigel Thomas-Finnigan, seu arqui-inimigo declarado, estava fazendo no meu trailer? — Scorpius perguntou vagarosamente.

— Ele veio aqui pra me ver — Albus deu de ombros e pôs-se a arrumar os lençóis.

Te ver? Sozinho? Por que ele faria isso se você odeia ele? E por que você parece que acabou de correr uma maratona? — Scorpius cruzou os braços para o amigo, encurralando-o no lugar. Albus suspirou e se esquivou do olhar dele. 

— Porque a gente não se odeia mais e… — Ele deu de ombros outra vez. — ele sempre me irrita e eu fico vermelho de raiva, sei lá, Scorpius.

— Então se eu tivesse chegado aqui dez minutos antes, eu teria encontrado vocês dois conversando pacificamente, feito dois melhores amigos?

Albus apertou os olhos sentindo o rosto corar mais ainda, e quis se xingar. Não podia mais negar, pelo menos não para seu único e talvez melhor amigo, o que estava acontecendo entre ele e Rigel.

— Não, okay — Ele bufou, voltando ao seu eu irritado e respondão de sempre, mesmo que tivesse a intenção de esclarecer as coisas. — Não teria. Estávamos fazendo outras coisas, tá bom? — Ele tentou andar até a cozinha do trailer, mas Scorpius encostou uma das mãos na parede ao seu lado, impedindo a passagem, e olhou para o assessor com um semblante preocupado que irritou Albus. Não era como se Scorpius fosse seu pai ou algo do tipo.

— E você acha que isso é uma boa ideia, Albus?

O moreno bufou, irritando-se, e sentou-se na cama, passando uma das mãos pelo cabelo. Ele não queria ter que achar nada sobre o assunto porque estava apenas tirando proveito de uma situação convenientemente boa, mas sabia que se continuasse a ver Rigel, tudo aquilo poderia evoluir para algo nada casual. E Albus definitivamente não sabia como se sentir em relação a essa possibilidade.

— Você não acha? — Albus encarou Scorpius, secretamente buscando respostas e ajuda no amigo; não que fosse admitir isso para ele ou para si mesmo.

O loiro suspirou e juntou-se a Albus na cama, procurando as palavras certas. A última coisa que queria era chateá-lo.

— Olha, Albus, a gente não conversa muito sobre relacionamentos… pelo menos não sobre os seus — Ele riu baixinho. — Mas pelo pouco que você já me contou, eu sei que seu último namoro não foi exatamente fácil, né? E independente de namoro, você é uma pessoa muito fechada e eu me preocupo com você se envolver com alguém como o Rigel enquanto você não trabalhar isso.

— Como assim alguém como o Rigel? — Albus olhou para o amigo com as sobrancelhas franzidas, confuso. — Eu pensei que você gostasse dele e achasse ele super legal.

— E eu gosto! Mas… — Scorpius coçou a cabeça. — Todo mundo do elenco sabe como é o jeito dele. De paquerar com todo mundo, sabe? E ser meio que um espírito livre, não querer ficar preso a ninguém, coisa e tal. Além disso, eu não sei se você tá lembrado, mas ele é extremamente famoso, sabe…

— Bem, então se eu também quiser algo casual vai ficar tudo tranquilo, e é o que vai acontecer — Albus se levantou, interrompendo-o, novamente na defensiva. Agora ele tinha certeza que tudo o que precisava fazer era aproveitar o lado físico de estar com Rigel e não se apegar a nada emocionalmente, o que seria fácil para alguém com um coração de pedra como ele, como vários de seus amigos diziam. — Não é como se eu fosse me apaixonar por ele, pelo amor de Deus, Scorpius — Ele revirou os olhos. — Eu tô só aproveitando algo legal, e isso vai acabar antes que qualquer um descubra o que tá acontecendo. Fora você, claro. 

Scorpius o encarava com olhos indecifráveis. Talvez ele estivesse preocupado, ou com pena, ou talvez apenas achasse que Albus estivesse mentindo. Mas ele realmente não estava; passara anos sem se apegar a ninguém, por que ele iria começar a gostar de um ator famoso de Hollywood depois de alguns beijos e um pouco de sexo casual? Era praticamente impossível.

— Então tá bom — Scorpius disse e se levantou para arrumar as malas, sem dizer mais nada. Albus decidiu não se irritar com isso e começou a ajudar o ator a se preparar para a volta para casa.

Eles retornariam para Los Angeles naquele final de semana e toda a produção teria três semanas de folga antes do retorno das gravações, que seriam em L.A. por questões climáticas e de orçamento, e durariam um mês e meio. Albus estava animado para voltar para o calor da Califórnia e para o conforto de seu lar, e ele só queria que, naquelas três semanas, pudesse ter paz, sem surpresas ou atores famosos lhe trazendo problemas.


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