A Força do Destino escrita por AnaBonagamba


Capítulo 1
Capítulo Único - Eu sou feliz com você


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bem?
Eu já fui muito famosa aqui por escrever histórias Tom Riddle x Hermione, ou Tom Riddle x OC. Então, nem preciso dizer que DarkAlina faz totalmente meu tipo.

Aleksander é manipulador, sim, mas se você leu os livros talvez tenha um pouco mais de empatia por ele. Ou não. Sei lá, eu tenho.

NOTA: Eu sei que a série tá bombando e o Ben Barnes é perfeito. Porém, gosto da ideia do Darkling ter a aparência mais juvenil, e os olhos azuis acinzentados também. Desculpe BB, eu ainda te amo.

NOTA²: Eu gostei de como a série já apresentou Aleksander com nome próprio. Adaptei isso aqui.

Boa leitura :)



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Eu estava cansada. Não. Estava exausta, ao ponto de minhas pernas mal suportarem o peso do meu próprio corpo e, arrastando-me, fui de encontro à entrada do Pequeno Palácio após meu tempo com Baghra e seu treinamento inútil.

"Você deve fazer mais do que isso, não é possível." Reclamava ela constantemente, depois da minha centésima tentativa falha de produzir um pouco mais de luz e, com as mãos trêmulas de nervoso, ver qualquer sutil desempenho positivo daquelas horas simplesmente sumir.           

Sentir-me inútil já era tão comum para mim, porém, ali, eu percebia que realmente precisava fazer mais, ou seria uma fraude. Comecei a ter medo do que viria caso eu não fosse capaz de colaborar com o que todos esperavam que eu fizesse: ajudar o Darkling a destruir a Dobra. Com minha luz.

Teimosa luz que não dava para sequer para iluminar um corredor curto.

Baghra insistia comigo com técnicas altamente questionáveis, já que nem como parte do exército, seguindo muito bem as regras, eu tive algum episódio de tortura ou algo similar. Eram empurrões, beliscões, invasões mentais cruéis que despertavam em mim fúria e dor e, nesse momento, a luz saia, límpida e clara, inundando-me num calor confortável e defensivo.

"Vamos começar a trabalhar..." Ao instigar em mim toda essa energia negativa, ela conseguia algum progresso. Controle, habilidade de expansão, milhares de termos e técnicas com as quais eu nunca me familiarizaria em tão pouco tempo. Eu era uma Grisha em que? 3 meses? Aquelas pessoas viviam ali por anos!

Injustiça, pensei, repreendendo-me em seguida. Você não vai esperar que seja justo, não é, Alina? A voz aveludada do Darkling ecoou na minha cabeça.

Passo a passo fiz meu caminho, de uma forma tão barulhenta que despertou todos os que estavam no primeiro hall e na sala de visitas, dedicando-se a afazeres nada convencionais. Entretanto, alguém me abordou com mesmo tom enfadado.

"Eu tenho novidades." Genya me puxou pelo cotovelo, guiando-me às pressas até meus aposentos. Eu não queria intromissões, estava de péssimo humor, mas algo no jeito quase irritante que ela falou cativou minha atenção, como se estivesse escondendo alguma coisa dos outros ali.

"Sente-se, você está péssima, vou dar um jeito nisso logo..." começou ela, empurrando-me para a cadeira aveludada de frente para a penteadeira mais bela que eu já tinha visto na vida.

"A novidade é que você vai brincar de boneca comigo de novo?" questionei aborrecida. "Desculpe. O tempo com Baghra não foi dos melhores."

"Nunca é!" ela riu, o som delicado tilintando pelo cômodo ricamente decorado. "O Darkling me convocou para tratar de você essa noite. Vocês dois têm um jantar no Grande Palácio e eu mesma vou conduzir você. Não sabe como isso é diferente pra mim, nunca fiz nada tão importante a não ser impedir que a rainha parecesse uma coruja recém-nascida."

"Com o rei?" por um segundo o ar falhou e quase engasguei. "Como assim?"

"Rei, ministros, todo mundo que realmente não importa nessa soma..." Genya puxou meu cabelo para o lado iniciando uma trança rebuscada nos fios grossos e negros. "O importante é que ele estará lá e isso já é evento suficiente. Mesmo para o Darkling não é sempre que essas ocasiões acontecem. Eles estão esperando receber uma Sankta ao invés de uma menina assustada." informou ela, segurando meus ombros com força.

"Isso era pra me tranquilizar?"

"De modo algum. Você precisa se preparar."

Me senti ainda mais angustiada do que antes. Você precisa. Precisa, precisa... Eu mal sabia como me portar numa mesa de jantar e me sujeitaria a outro tipo de humilhação: o moral, da pobre orfã de Keramzin que simplesmente surgira do nada em meio às sombras.

E por falar em sombras, Aleksander estaria comigo. Isso me deixava insegura e, de certa forma, confusa.

Nossa última interação na cova de Baghra tinha sido peculiar. Ela sabia também como irritá-lo mas, no auge dos seus 120 anos, ele pouco se afetava. O cabelo bagunçado, as bochechas coradas, tão...humano. Eu pouco ouvira mencionar seu nome depois disso, devido aos esforços incansáveis dele e de seu exército para encontrarem vestígios do cervo de Morozova. A história do amplificador foi como um lampejo de esperança e, tão rápido quanto as luzes que eu tentava produzir, foi-se, já que até então não se passava de uma lenda antiga.

Acho que estou pedindo para confiar em mim, dissera ele. Pois bem. Não me restava nada além disso. Por mais que não fizesse sentido eu ainda não conseguia desapontá-lo.

"Algo está borbulhando aqui dentro." despertou-me Genya, terminando seu penteado meticuloso. "Deve ser importante, suas têmporas estão quentes."

Eu ri de nervoso.

"Estava tentando me lembrar das poucas aulas de etiqueta que tive na vida." comentei displicente. "Meu encontro com Sua Majestade da primeira vez foi um sucesso pela surpresa: oh, vejam só essa coitadinha, ela pode nos salvar!" caçoei.

"Alguma coisa mudou de lá pra cá, você não sente?" Genya estava séria agora, colorindo minhas bochechas de um rosa delicado.

"E o que seria?" perguntei sincera.

Genya saiu de perto de mim, caminhando a passos largos até a mesa próxima a porta. Lá encima, sem que eu tivesse notado, pousava uma caixa grande de veludo negra com um laço acetinado azul turquesa, sem querer, a minha cor favorita. Nem precisei olhar o selo do pacote para saber do remetente. Ela o pousou sobre mim e senti algo pesado estar dentro.

"Isso, minha querida, é tão bom quanto ser serva de um Rei." disse ela verdadeiramente sincera. "Abra logo, odeio alimentar minha curiosidade."

Puxei o laço com delicadeza, e abri o embrulho. Levantei-me, puxando o tecido junto para ver todo caimento e, surpresa, percebi que era um vestido, e não um kefta. Um lindo vestido de seda, simples, se comparado aos entalhes dourados de ouro puro do meu casaco oficial. Um vestido, sim, aquilo realmente tinha outro significado.

"Preto e azul." adicionou Genya apenas para provocar. "Ele insiste que você seja seu par, Alina."

"Baghra diz que sou como todas as outras."

Genya riu alto, tirando minha roupa sem permissão. Grunhi.

"Bom pra você, porque ele não deve pensar assim. Claro, você é mesmo especial, mas isso poderia ser apenas uma combinação, não é verdade? Uma união de interesses comuns. E se fosse isso, não te daria um vestido de presente quanto somos praticamente proibidas de usarmos um."

"Como assim?"

"Oras, você não vê as damas da corte usando casacos militares ricamente bordados. Elas usam vestidos ricamente bordados. São como castas. Mesmo que tenhamos poderes e sejamos tratados com certa cordialidade, ainda somos servos, e temos que representar essa figura ridícula."

Genya tinha muitos motivos para odiar a corte, logicamente.

"Ao usar esse vestido, você não acha que...bem..." parei por um segundo, respirando profundamente. "Eu vá ofender o Rei ou algo assim?"

"Se o Darkling pensou nisso pessoalmente Alina, o que importa?" ela habilmente passou a parte de cima do vestido pela minha cabeça, evitando estragar o penteado. "Ivan virá buscar você e eu. Enquanto isso, sugiro que não pense em nada. Deixe fluir, afinal, você está muito bem acompanhada essa noite."

Olhei-me no espelho, desacreditando na figura encorpada e alva contrastando com o belo traje noturno negro. Os treinos de Botkin tinham surtido algum efeito, afinal, minhas curvas antes inexistentes começavam a ganhar forma, e a cintura alargada pelo cinto do kefta parecia marcada na faixa delicada de bordados que cobriam todo seu diâmetro.

Aquela roupa emanava certo poder. Sempre fomos julgados por nossos uniformes puídos e sujos, quase sempre reutilizados, e dessa maneira éramos tratados com indiferença e desgosto. Mally e eu. Apertei levemente a cicatriz na palma da mão com o pensamento mas, antes que pudesse me deixar levar pela tristeza do abandono, que me consumia sempre, Genya passou pelo meu colo um lindo colar de âmbar amarelo.

"Veio de muito, muito longe... Dizem que ajuda a equilibrar as emoções. Talvez você precise dele hoje."

Suspirei um obrigada, voltando meu olhar para o espelho.

* * *

Me perdi nos assuntos de Genya até a chegada de Ivan, menos de uma hora depois. A exaustão acumulada me fez perceber o quanto estava faminta e agradeci mentalmente quando o mesmo adentrou os aposentos com uma reverência forçada e nos conduziu até os corredores externos junto de uma pequena comitiva.

Pelo visto eu ainda era ameaçada mesmo dentro daquela fortaleza.

O Pequeno Palácio já era grande demais para mim e, com exceção dos corredores centrais e dos aposentos, eu nunca me aventurei. O máximo do exótico tinha sido a Sala de Guerra, no primeiro dia de treinamento. E, claro, a biblioteca.

Outro portão colossal separava nosso espaço do espaço real, e de repente hesitei. Genya percebeu meu desconforto e não demorou a me empurrar para frente num sinal de caminhe ou juro que deixo seus olhos redondos como de um lagarto e logo eu refiz meus passos atrás de Ivan, que esboçara um sorriso mesquinho.

Droga, a noite nem havia começado.

Ao cruzar a primeira porta, um cheiro delicioso de cordeiro assado inundou minhas narinas e senti meu estômago roncar. Porém, continuamos o caminho penetrando cada vez mais os salões amplos e ricamente decorados de ouro, veludo, e afrescos, tão impecável que perdi um pouco da fome.

"Antes do jantar, você deverá se apresentar ao Rei." Genya me deu mais um empurrão nas costas. "Eu não posso ir, a Rainha morreria de ódio." riu, olhando significativamente para Ivan. "O Darkling estará na sala. Respire, faça uma reverência larga e diga o quanto está honrada por ter recebido o convite de hoje, certo?"

Suas instruções básicas serpentearam na minha mente e assenti.

"Ótimo. Nada de shows, a não ser que o Rei peça e, mesmo assim, o Darkling deve intervir. " disse Ivan, abrindo a última porta do corredor. Era enorme, muito superior a que tínhamos no Pequeno Palácio, na Sala de Recepções.

Ao contrário do que imaginei, aquele silêncio cruel da primeira exposição não surgiu depois que anunciaram meu nome. Alguns convidados ergueram suas taças, outros conversaram mais alto e podia ouvir, entre uma palavra e outra, o assustador Sankta Alina que tirava meu sono.

Eu, uma Santa fajuta, que não conseguia conjurar um fio de luz sem ser beliscada, ou estapeada. Ótimo.

"Aproxime-se, Alina Starkov!" adiantou-se o Rei, fazendo um gesto receptivo com ambas as mãos. "Ah! Deixe-me olhar você. Está bem melhor. Os serviços do Pequeno Palácio mostraram novamente sua eficiência..."

"Está magra demais, criança." replicou a Rainha, loira, banhada em trajes azuis tão claros quanto seus olhos maquiados por Genya. "A comida dos Grisha não agrada seu paladar?"

Senti meu estômago remexer e, num átimo, passeei os olhos pela multidão procurando Aleksander.

"Estou satisfeita e grata, minha Rainha." fiz minha mensura lentamente, rezando para que a resposta a tivesse agradado o suficiente para dar o fora dali.

"Claro, claro, é muito humilde para dizer qualquer coisa. " riu o Rei, num som que lembrava um relincho. "Aproveite o banquete, Sankta Alina. Não queremos que você pareça doente."

Com uma nova mensura e um silêncio ensurdecedor, dei três passos para trás, esbarrando em alguém. Para minha total indignação, Darkling estava ali o tempo todo, fora do meu campo de visão.

Ele fez uma pequena reverência com a cabeça olhando fixamente para suas majestades e me puxou pelos ombros protetoramente.

"Não desmaie." sussurrou. "Vamos comer alguma coisa."

Cerrei os olhos para ele, emburrada.

"Não vou desmaiar. Aliás, eu acho que fui muito bem pra quem foi deixada completamente sozinha."

Ele riu discretamente.

"Nada de drama, Alina. Você sabe que eu nunca submeteria nós dois a uma situação que não pudesse ser dominada, além disso, eu também não a deixaria aqui sozinha a mercê desses abutres todos." Aleksander diminuiu o tom de voz o suficiente para que apenas eu pudesse ouvi-lo, sussurrando em meu ouvido. "Não existe uma só alma nesse espaço, senão nós dois, que mereça total confiança. Bom, talvez Ivan, mas não sei onde ele está."

Senti seu hálito gélido por todo pescoço, e arrepiei instintivamente.

A mesa de petiscos estava posta apenas para ilustrar que ninguém jantaria o delicioso cordeiro assado até que o Rei decidisse que era o momento. O Darkling puxou uma cadeira e se sentou do meu lado, abrindo a bandeja de prata a nossa frente. Uma variedade incrível de pães e patês estava perfeitamente colocada junto de frutas incomuns como figo cristalizado, coisa que ainda não tinha me acostumado a comer com frequência. Açúcar, para mim, era mais caro que ouro.

"Está gostoso?" perguntou, vendo que eu me continha em atacar com mãos e boca toda aquela refeição bárbara que me fora oferecida. Ele sorriu, e pude olhá-lo melhor agora. Como se não bastasse todo aquele cenário, ele não estava usando seu kefta comum, e sim um lindo conjunto de veludo azul escuro, quase negro, com entalhes num tom mais claro de azul que combinava perfeitamente com seus olhos de topázio. "Eu também gostei muito do seu vestido."

Engasguei.

"Você pode ler mentes? Eu ia te perguntar outro dia, mas acabei esquecendo..." desviei o assunto, enchendo a boca com queijo e damasco.

Ele se aproximou mais de mim, deixando-me tonta.

"Se eu pudesse, tudo seria mais fácil. Mas duvido que me impediria de perguntar as coisas a você. Gosto da forma como me responde, é sempre uma novidade interagir com você."

"Não sei se posso considerar como um elogio." respondi sincera, tentando não rir de boca cheia.

"Hum..." foi o que ele, enquanto me analisava. "Acho que posso decifrar algumas coisas apenas olhando pra elas." completou, beliscando um pedaço de torta.

"Por exemplo?" não me contive em questionar.

"Bem, você com certeza nunca vivenciou nada parecido como aqui. É claro que não. Muitos dariam a vida por essa oportunidade, a de uma refeição tão requintada, o salão, o vestido. Mas você estava com tanto medo do julgamento alheio que nem se deixou sentir animada com tudo isso."

Arregalei meus olhos, afinal, se ele lia as pessoas tão fácil assim, o que ele já sabia sobre como eu me sentia em relação a ele?

"Eu tenho medo de falhar." argumentei. "Não ser o que todos aqui esperam."

"Você é." respondeu ele, assertivo. "Eu nunca me enganei na vida."

"Exibido. Você nem viveu tanto assim."

Aleksander esboçou seu sorriso incrédulo, o meu favorito.

"Hoje não estamos aqui apenas como Grisha. Sou o líder do Segundo Exército e você é minha convidada."

O quê?

"Sua convidada? Achei que o convite partisse do Rei."

"Porque eu pedi, óbvio."

Espera, espera. O que ele queria dizer com isso?

"Então, o vestido, e tudo mais... não tinha exatamente uma mensagem por trás, é isso?

"Alina, é claro que sim. A mensagem é que você faz parte da humanidade assim como qualquer outro normal nesse salão. Porém, perceba, que mesmo vestida como uma normal, agindo como uma normal, não somos normais. E é por isso que todos estão falando sobre você, mas nenhum foi capaz de realmente falar com você. E acredite, minha presença não os intimidaria menos."

"Eles temem a mim?"

"Você é quase uma Santa para muitos deles. É lógico que eles tenham um pouco de receio. Vai que você decide fazê-los pagar pelos seus pecados, isso com certeza seria algo interessante..."

Passeei meu olhar novamente pelo salão, enquanto a figura gorducha do Rei tomava seu lugar e todos circundavam a mesa principal, ansiosos pelo jantar. Muitas vezes trombei meus olhos com os de outras pessoas, que desviavam abruptamente ou reverenciavam com uma mensura sutil.

Comi e bebi o suficiente por uma vida inteira. Surpreendentemente, após vários drinques, alguns assuntos nos envolviam com caráter simplório, e poucas vezes me senti desconfortável. Finalmente relaxei e me deixei levar como Genya sugerira. As pessoas me perguntavam quase exclusivamente sobre minha vida no orfanato, meus pais, e a herança Shu. Como eu não percebia a diferença entre ser normal e ser Grisha, e quantos assim como eu tinham burlado os testes dos amplificadores.

A música inundou o salão de repente, despertando casais para a roda de dança. Vestidos e casacas flutuavam de um lado para o outro numa sincronia ensaiada digna da corte de Ravka, algo que eu apenas conhecia de livros de história. Era belo de se ver, uma realidade paralela a qual eu agora também fazia parte.

E foi com essa sensação de pertencimento que uma mão erguida abanou-se no ar, chamando-me para a valsa.

Aleksander estava levemente corado, mas eu duvidava que a bebida tivesse o mesmo efeito nele como tinha em mim. Empurrei a cadeira pesada de madeira sem muita delicadeza e segurei sua mão, indo com ele para próximo do amontoado de pares dançantes.

Minha respiração falhou quando ele se aproximou mais, apertando-me a cintura. Nossa diferença de altura fazia com que minha cabeça repousasse instantaneamente em seu peito, e ele apoiou seu próprio queixo em mim, rodando devagar. Achei que talvez ele estivesse com medo de que eu vomitasse em seu belíssimo traje de gala azul.

"Aliás..." eu comecei quebrando o silêncio entre nós. "Eu realmente gostei da sua roupa. Agora entendi porque você mandou Ivan me buscar, e não foi você mesmo. Todos ficariam estarrecidos com essa nova figura Darkling."

Ele nos afastou um pouco, olhando para mim.

"É um privilégio que poucos podem ter. Espero que depois de destruirmos a Dobra as coisas possam se equilibrar para os Grisha." confessou, mantendo contato visual.

Desviei meu olhar ferozmente, envergonhada.

"Olhe para mim, Alina." pediu gentilmente, mas eu não atendi. Ser banhada por aqueles olhos azuis acinzentados estava me bagunçando de uma maneira estranha, e eu sentia que podia explodir em milhares de feixes de luz a qualquer instante.

"Vamos voltar para casa." ele disse, abraçando-me uma última vez. Com um movimento ágil, guiou-me novamente para o Rei e, com uma mensura longa, saiu comigo do lado. "Está frio, use isso." Cobrindo-me com seu casaco, ele finalmente sorriu. Meu sorriso. Como eu podia me achar no direito de reivindicar um sorriso exclusivo só meu?

"Não estou com frio." argumentei, passando os braços pelas mangas aveludadas. "Mas vou aceitar a gentileza."

"Você parece bem." ele disse, caminhando comigo pelos corredores - agora vazios - do Grande Palácio, até o magnífico portão de entrada. "Você se sente bem?"

Não respondi.

Passamos pelo portão, de volta ao que ele mesmo chamou de casa. Então ali era definitivamente minha casa?

"Você está feliz?" insistiu, diminuindo o passo diante dos meus aposentos. Percebi o silêncio profundo do sono já adiantado dos meus colegas.

Fitei-o mais uma vez. Agora, minutos se passavam, enquanto eu mergulhava nas formas delicadas e masculinas de seu rosto, a camisa de seda azul clara que estava escondida por baixo do casaco desenhando alguns detalhes de seu corpo magro, porém firme, a maneira como ele penteara o cabelo preto como a noite, como as sombras que tão magistralmente conjurava.

Aleksander levou uma mão até meus rosto, os dedos frios tocando minha pele corada pela caminhada, a bebida e a timidez de uma menina abobalhada que mal sabia como reagir àquela investida. Fechei meus olhos.

"Você é feliz aqui, comigo, Alina?" ele mudou a pergunta, e despertei para seu toque.

"Sim, eu sou feliz com você."

Seu sorriso se ampliou.

"Sua existência me faz muito, mas muito feliz, Alina." ele confessou, continuando a carícia pelo meu pescoço exposto. "Eu sempre soube que você chegaria, e eu esperei por isso. Eu contei os dias para encontrar você."

Sustentei seu olhar até que fosse inevitável permanecer longe dos seus lábios entreabertos. Ele estava quente, um contraste marcante entre o toque e o beijo, tão avassalador e excitante que automaticamente me joguei em seus braços. Aleksander me sustentou imediatamente, passando um dos braços na minha cintura enquanto a outra mão segurava com firmeza meu rosto.

Seu gosto era melhor do que qualquer bebida ou comida que eu tinha provado, e me vi necessitada de algo mais. Mais toque, mais beijo. Mais dele. A coragem se dá de maneira curiosa: precisamos dela em momentos de receio e medo, porém, agimos por impulso quando sentimos excesso de confiança. Num lapso, avancei para a porta do quarto, girando a maçaneta e praticamente caindo com ele para dentro do cômodo.

"Um passo de cada vez, Alina." ele riu, fechando a porta atrás de si. "Devagar iremos longe."

Eu mal me importava com o que ele estava dizendo, não era a hora para tomar notas de lições. Eu precisava dele. Sua boca voltou até a minha antes mesmo de eu reformular qualquer pensamento, pois todo seu poder me inundou novamente. A confiança, a certeza, tudo era parte dele. Ele estava dentro de mim, meu eu já o pertencia.

O belo casaco azul foi para o chão rapidamente, junto com a camisa anil de seda. Seu corpo bem moldado era magro e pálido, com uma quantidade significativa de cicatrizes e hematomas. Olhei para elas cuidadosamente, trilhando um caminho sutil com a ponta dos dedos. Senti ele arrepiar.

"Por quê não usa um curandeiro?"

"Elas são memórias." disse ele, acariciando meu rosto. "Iguais as suas."

Sorri. Ele tinha razão.

Aleksander voltou a me abraçar, e pude aproveitar ao máximo sua presença calorosa parcialmente despida enquanto percebia desfazia todo o penteado trançado de Genya, deixando as madeixas caírem em cascata pela extensão do vestido nas minhas costas. Com um suspiro longo, senti suas mãos descerem levemente a abotoadura, afrouxando um por um o aperto do tecido em meu corpo.

"Alina." ele me chamou. Eu estava adsorvida em tantas sensações, tantos estímulos, que demorei pra notar seu olhar indagador cruzando o meu. "Você quer ficar comigo?"

"Sim". Pouco pensei ao responder. Invadi sua boca com a minha ferozmente, bagunçando seu cabelo daquela maneira que eu adorava. O toque de seus fios se desfazendo nos meus dedos balançou alguma coisa dentro de mim, e senti uma luz me preencher. Ele se afastou, olhando para o brilho fascinado e empolgado.

"Eu também quero ficar com você. Juntos mudaremos o mundo."

O vestido foi tirado no mesmo segundo que eu era debruçada na enorme cama com dossel, o cheiro de lençóis limpos e a maciez do tecido se juntando ao aroma adocicado que vinha dele e do toque fulminante da sua pele.

Eu nunca tinha chego tão longe com o homem antes. Nunca sonhara com isso. Talvez com Mally, em algum lapso de inconsciência, onde no plano dos sonhos eu pudesse estar com ele e conceber uma família feliz. Naquele instante eu mal conseguia lembrar de Mally, Keramzin, Dobra das Sombras, nada.

Havia somente ele.

Esse mesmo lapso de inconsciência era limitado sobre a quantidade de beijos e toques que seriam permitidos a dois. Aleksander passeou por meu corpo, apalpando-o, sentindo-o, deixando escapar de seus lábios rubros meu nome diversas vezes. E como se eu soubesse o que fazer, repeti a cortesia, deixando-me levar pela curiosidade de intensificar o prazer que ele estava sentindo - e o meu também. Senti-lo foi algo fascinante. Ele se fragmentou em sombras assim como eu estava brilhante feito uma lanterna. Luz e escuridão pairando juntas, e nossas respirações entrecortadas.

O ápice demorou mais para mim, e ele teve tempo de observar orgulhosamente seu efeito sobre meus membros e minha própria consciência de ser. Minha existência, tão limitada, tinha ganhado algum significado que eu até então não reconhecia.

Tremi abaixo dele até que relaxei de uma forma que nunca tinha experimentado antes. O êxtase de quem havia lutado uma batalha, e vencido. A sensação de gozo. Felicidade. Eu estava realmente feliz, mas não pelo ato em si, e sim por ser ele.

...mas jamais me deixaria envolver com o coração.

Aquelas palavras de Genya brotaram em minha cabeça subitamente. Ao meu lado, a figura pálida e igualmente satisfeita de Aleksander apoiava-se sobre os braços, de bruços, para se aninhar em meu colo nu. Ele desenhava displicente o caminho entre meu ventre e busto, indo e voltando, no ritmo da minha respiração. Encontrei seus olhos uma última vez naquela noite, cinzas e sonolentos, humanos. E antes que eu pudesse adormecer, ele disse:

"Posso curar minhas cicatrizes, se você curar as suas."

Assenti, abraçando seu corpo com o meu, a luz e as sombras irradiando por todos os lados.


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Notas finais do capítulo

Amigx, pelo amor dos Santos, escrevam fanfics com esse shipp também, por favor.
:P



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