O Peso da Profecia escrita por Melody Holy


Capítulo 2
;capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Sabadou com fanfic nova e atualização em dobro?? Isso mesmo!
Eu só tinha esses dois capítulos prontos, e o terceiro tá em andamento! Aqui vocês vão ver um pouco da Mari.

Boa leitura!!



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[ARME]

— Deusas, ela tá viva?

Stellar parecia bastante chocada com a visão enquanto eu tateava ao redor do vidro atrás de um botão ou algo que abrisse aquela cápsula. De acordo com as histórias, as cápsulas podiam ser abertas por fora, e eu estava torcendo para não ter que quebrar o vidro e acabar machucando aquela garota.

— Será que ela foi trancada aí por ser uma ameaça? O diretor vai ficar bravo se a gente acordar alguma ameaça. Isso não é uma boa ideia. Arme, vamos embora e deixar ela aí, cobre ela de volta.

— Stel, será que dá pra ficar quieta? — resmunguei, bufando de raiva quando o cristal de luz se apagou, o pouco tempo que tinha de duração parecendo ainda menor do que normalmente. 

Eu até podia pedir pra Stellar conjurar outro, mas ela ainda estava perto da porta, ocupada demais especulando todas as merdas que podiam acontecer, então eu mesma conjurei outro cristal, a luz quase lilás servindo para iluminar bem o que eu precisava enxergar.

Consegui encontrar o bendito botão enquanto Stellar ainda reclamava sobre como aquilo não era uma boa ideia. Encarei a maga, refletindo por um momento se não valeria mais a pena sair das ruínas e voltar em outro momento, sem Stellar, para tirar aquela menina dali de dentro. Mas o fluxo de magia agora era bem mais fraco e eu não tinha prestado atenção no caminho até ali, então provavelmente não conseguiria encontrar aquela sala de novo.

Eu não tinha outra chance.

Fiquei em silêncio, olhando para Stellar por mais algum tempo, antes de suspirar e apertar o botão. Eu realmente esperava que ela estivesse errada e aquela garota não fosse uma ameaça. 

Afastei-me da cápsula enquanto assistia ao vidro se desintegrar lentamente, e algumas luzes se acenderam no interior da cápsula. Sem o vidro, dava para ver que a própria menina parecia estar empoeirada. Okay, aquilo era bem estranho.

— Arme... Vamos só deixar ela aí, por favor? — Stellar parecia quase desesperada, e acho que eu também deveria estar, mas estava tão maravilhada com a situação que não conseguia. 

Afinal, eu tinha sentido, tinha visto o fluxo de magia esquisito que estava emanando dali. E era uma magia limpa, boa e leve, era impossível que aquela garota fosse má. Impossível.

Observei o rosto da garota adormecida por um momento, distraída pelo tom de azul que tinham seus cabelos. Estremeci em um susto quando vi as pálpebras dela tremerem e se abrirem, revelando olhos de cores diferentes. O olho direito era azul, do mesmo tom dos cabelos e cílios, enquanto o esquerdo era vermelho.

Murmurei o feitiço para conjurar mais dois cristais de luz quando reparei que a garota franziu minimamente as sobrancelhas. Se eu não estivesse tão encantada com toda a situação e tão atenta ao seu rosto, nem mesmo teria percebido.

Pelo menos Stellar estava quieta agora, parada ao lado da porta. Com certeza estava pronta para sair correndo em busca de ajuda, se fosse necessário. 

Dois cristais a mais já iluminavam o suficiente a sala e agora dava para ver com perfeição o jeito como a garota dentro da cápsula se sentou com a coluna ereta e passou a mão pela saia preta e azul, como se aquilo fosse ajudar a tirar a poeira.

Recuei um pouco e ela ergueu o olhar. E seja lá o que ela estivesse pensando, eu não conseguiria adivinhar nem se aquilo valesse a minha vida, porque a falta de expressão dela me dizia exatamente aquilo — nada.

— ...

— Arme... — Stellar choramingou enquanto eu estava ocupada sustentando o olhar bicolor. — Por favor, vamos deixar ela aí…

— Onde... eu estou? — A garota perguntou, e eu soltei um sorrisinho nervoso ao escutar sua voz, o tom monótono e um tanto robótico me fazendo pensar que talvez, apenas talvez, Stellar pudesse ter razão e eu podia ter feito uma besteira enorme.

— Numa área exclusiva ao colégio de magos de Serdin — respondi, tentando parecer tranquila, e estendi uma mão para ajudá-la a se levantar.

Ela encarou minha mão pelo que pareceu alguns minutos, inexpressiva demais para eu conseguir entender o que ela estava pensando, mas parecia não saber bem o que o gesto significava. Por fim, ela aceitou, e eu a puxei para fora da cápsula.

— Serdin... Scard? — ela perguntou, e eu acho que estava confusa. — Ela... tem um colégio?

Franzi as sobrancelhas, intrigada. 

— Você tá falando da rainha fundadora do reino?

— Reino...?

Era possível que alguém já tivesse ouvido falar de Scard, mas não conhecesse o reino? Não, não me parecia possível.

— É, a rainha Scard Vi Serdin fundou o reino mil e quinhentos anos atrás, como você conhece o nome dela?

A garota me encarou, e eu comprimi os lábios, sustentando seu olhar. Será que aquele comportamento inexpressivo era consequência do tempo que ela tinha passado em suspensão naquela cápsula? Torci para que ele passasse logo, porque eu adoraria conversar com ela normalmente.

— Mil e quinhentos anos... Onde Serdin fica?

— Em Vermécia. — Cruzei os braços, contendo um sorriso de curiosidade. Quanto tempo será que ela ficou ali dentro?

Ela concordou em um gesto devagar e olhou ao redor. Se era para procurar algo ou apenas conhecer onde estava, eu não fazia ideia.

— Quem é você? — disparei, ansiosa, e recebi um olhar tão neutro quanto os anteriores.

— Me chamo... Mari. 

— Meu nome é Arme, muito prazer! — Acenei para ela, na dúvida se, caso estendesse o braço, ela entenderia que era um cumprimento. Além disso, ela ainda estava coberta de poeira. — Aquela ali na porta é a Stellar.

Mari olhou para Stellar, que acenou de forma tímida. Abri a boca para falar algo para ela, mas uma luz verde entrou rapidamente no cômodo. 

Estreitei os olhos, o cômodo muito mais claro agora, enquanto o cristal rodava pela sala com uma luz forte. Eu reconhecia aquela magia, era a do professor de arqueologia mágica, e pelo modo como ela piscava e rodava pela sala, o tempo de exploração já tinha acabado e deveríamos voltar para a entrada.

Prendi a respiração e mordi o lábio enquanto olhava para Mari. O que eu deveria fazer? Simplesmente aparecer lá com ela? Aquilo me traria problemas? Eu não podia deixá-la ali dentro, eu não fazia ideia de quando seria a próxima vez a entrar nas ruínas, além de que ela com certeza precisava de um banho, comida e roupas novas.

— Eu falei que era pra não mexer na cápsula, Arme — Stellar choramingou de novo, mas dessa vez eu reparei que ela estava pegando os pergaminhos que estavam nas prateleiras. Bom, talvez aquilo tivesse alguma informação útil.

— Agora já foi, Stel — suspirei com força, tomando uma decisão. — Mari, você vai vir com a gente, tá?

— Você tem algum lugar pra ela ficar? — Stellar fechou a bolsa com os pergaminhos e cruzou os braços, e eu a encarei enquanto batia a poeira da roupa.

— Vou falar com o vovô. Não seria a primeira vez que algo encontrado em explorações ficaria com a gente.

— Mas ela não é “algo”, Arme. É uma pessoa!

Ah, mas não me diga.

— Eu vou com vocês... Gostaria de falar com a rainha Serdin. — Mari respondeu, mas não parecia ter prestado muita atenção no que eu e Stellar estávamos falando.

E, além disso, o que ela poderia querer com a rainha? Mari não sabia sobre os reinos, sobre as guildas e com certeza não conhecia a rainha atual. Franzi as sobrancelhas, e estava prestes a fazer uma pergunta quando o cristal de luz do professor começou a me rodear, me apressando.

Velho idiota. Revirei os olhos.

— Depois a gente vê isso, tá bem? Mas agora a gente precisa sair daqui e eu, te apresentar pro vovô!

— Seu... avô?

— Isso! — Sorri. — Ele é o diretor do Colégio Violeta, mas depois que a gente sair daqui eu te explico direitinho. Vamos! — Fiz um gesto para Mari me seguir.

Depois de ter certeza que ela realmente me seguiria, sorri para Stellar e nós três seguimos a luz verde pelos corredores e escadas que eu não tinha certeza de ter passado enquanto seguia o fluxo de magia até Mari, até finalmente alcançarmos a porta por onde tínhamos entrado nas ruínas.

— Nossa, passou quanto tempo? — Ouvi Stellar perguntando assim que saímos e nos deparamos com o professor de braços cruzados.

O céu estava começando a escurecer e, considerando o horário que entramos nas ruínas, com certeza tinha passado mais de uma hora. Encarei o professor e dei um sorriso amarelo diante de sua expressão preocupada e um tanto zangada. Eu tinha alguma chance de escapar do sermão?

Ele ia começar a falar alguma coisa, mas eu dei um passo para o lado e deixei Mari à vista dele, puxando Stellar comigo enquanto assistia a ele arregalar os olhos e se aproximar de Mari.

— Passou mais tempo do que deveria, né? — Stellar perguntou cochichando, e eu concordei com um aceno, curiosa com o jeito como o professor hesitava em chegar muito perto de Mari, e ela apenas o encarava com a mesma face inexpressiva de antes.

— Arme, Stellar.... Onde vocês acharam essa menina? Quem é ela?

— Me chamo Mari — ela mesma respondeu, e agora, analisando-a com mais calma, eu percebia como realmente ela era diferente.

Eu tinha notado os cabelos e os olhos dela enquanto estávamos lá dentro, mas agora, ao ar livre, dava para ver outros detalhes com mais clareza. Ela conseguia ser ainda menor que eu — o que, particularmente, era um tanto difícil, porque eu definitivamente era bem pequena —, e sua presença mágica era tão neutra quanto a de meu avô.

O que não fazia sentido nenhum, dado o fluxo mágico que tinha me guiado até ela.

As roupas ainda estavam empoeiradas, com certeza pelo tempo que ela ficou presa dentro daquela cápsula. Eu não fazia ideia se tinha sido muito tempo, mas parecia. Vi, então, que ela segurava um livro de capa marrom e azul ao lado do corpo, e eu tinha quase certeza de não ter visto nenhum livro com ela quando estávamos dentro das ruínas.

Meu professor pigarreou e me encarou, deixando bem claro que ainda queria uma resposta. Dei um sorriso nervoso.

— Eu senti um fluxo de magia e segui... — Ele arqueou uma sobrancelha, me deixando ainda mais nervosa. — Ele me guiou até uma sala bem escondida onde ela estava...

— E onde ela estava? — Ele voltou a encarar Mari, me fazendo respirar aliviada, e de qualquer jeito, se Mari estava desconfortável com aquela inspeção, não parecia. — É impossível que ela tenha vivido lá sem que soubéssemos.

— Ela estava em uma...

— Uma cápsula de preservação, senhor. — Stellar respondeu no meu lugar, colocando as mãos na cintura. 

O resto da turma (ou seja, cinco pessoas, porque o colégio não era muito requisitado, e aquela matéria era um tanto avançada) riu baixo, tentando disfarçar. E, sinceramente, eu não os culpava. Se eu não tivesse visto pessoalmente onde Mari estava, com certeza também não acreditaria na existência de uma cápsula daquelas.

Até aquele dia, ela não passava de uma lenda.

— E vocês duas esperam que eu acredite nisso? — O professor cruzou os braços e balançou a cabeça, claramente decepcionado com a resposta. Teimar não ia adiantar, eu tinha que falar diretamente com o vovô. — Mari, não é? De onde você veio.

Eu a encarei, por pouco não reparando quando ela desviou o olhar para o chão, como se estivesse confusa.

— Eu... não me lembro. 

Franzi as sobrancelhas.

— Como assim? — Meu professor parecia estar perdendo a paciência bem rápido, e eu imediatamente fui para o lado de Mari. — Não se lembra?

— Eu preciso levar ela para ver o vovô. — Cruzei os braços, o encarando com ar de desafio. — Ela estava em uma cápsula de preservação encantada com um feitiço muito forte, e foi por isso que nós a encontramos. A magia me atraiu até lá.

Fiquei o olhando enquanto ele parecia hesitar, alternando a atenção entre mim e Mari com dúvida. Era provável que estivesse pesando as consequências que aquilo poderia ter, mas eu sabia que ele cederia. Era parte do protocolo da escola.

Era uma garota ali, não um filhote de animal como eu costumava fazer quando era criança. Não era um objeto que achei interessante e que poderia ficar legal na decoração do meu quarto. Era uma pessoa. Uma pessoa encontrada nas ruínas durante uma aula.

Não era alguma coisa que podia ser ignorada, e, mesmo se o diretor não fosse meu avô, eu ainda assim levaria Mari até ele. Não tem como ignorar achar uma pessoa dentro daquele lugar.

Aquela era uma situação que só podia ser resolvida falando com o diretor, e era exatamente por isso que eu já estava sorrindo antes mesmo do professor suspirar e concordar, obviamente relutante.

— Tudo bem, Arme. Mas é seu achado, então você e Stellar vão resolver esse problema. — Franzi as sobrancelhas, e Stellar começou a falar antes que eu pudesse terminar o raciocínio.

— Pensei que os “achados” dos alunos fossem de responsabilidade do professor. — Stel cruzou os braços e sorriu de forma sarcástica, mas dessa vez eu a puxei pelo braço.

— Não a chamem desse jeito, ela é uma pessoa. — Revirei os olhos.

Mas é claro que o professor ia me ignorar.

— Vocês podem ir, estão livres de qualquer bronca por terem se atrasado. — Ele balançou a cabeça, parecendo desconcertado, mas eu já estava animada demais para dar atenção àquilo.

Acenei para os meus colegas de turma e comecei a empurrar Mari e Stellar até o caminho que levava ao colégio.

☽☾

— Uma cápsula de preservação, meninas?

Mordi o lábio inferior e assenti, olhando de relance para Stellar e Mari, que estavam sentadas nas cadeiras de frente à mesa do vovô. Stel estava tão nervosa e ansiosa quanto eu, e Mari mantinha aquela mesma cara inexpressiva de antes. Será que ela conseguia demonstrar alguma coisa...?

Andei pela sala procurando pela chave de uma das gavetas da mesa do vovô, lembrando de ter deixado uma caderneta com anotações importantes lá da última vez que estive aqui, duas semanas atrás. 

— Isso, senhor! — Stellar afirmou completamente nervosa, e eu contive a vontade de rir que surgia sempre que via alguém nervoso por falar com meu avô. Ele até era mais sério quando se tratava de assuntos do colégio, mas continuava sendo um amor de pessoa e a pessoa mais importante da minha vida.

— A cápsula parecia estar encantada com uma magia muito forte, e foi isso que me atraiu até lá — expliquei, revirando a caixinha de chaves em busca da que eu procurava.  Parei por um momento para olhar para os três. — Ela disse algo sobre a rainha Scard, e, se as cápsulas realmente foram invenções de Calnat que não sobreviveram à explosão, então tem chances dela ser uma sobrevivente direta do reino Ancestral! 

— Arme. — O vovô franziu as sobrancelhas, a voz soando naquele tom que me dizia que eu tinha ultrapassado algum limite, mesmo que ali eu não soubesse bem qual era aquele limite. 

— O quê? — Eu só estava falando o que eu achava, não podia mais? 

— Eu não acho que a cápsula tenha mais do que 200 anos — Stellar comentou, fazendo-me olhar para ela com o cenho franzido. — As rainhas Scard e Isnar trouxeram o máximo de informações que puderam da velha Calnat, mas o projeto das cápsulas não foi uma dessas coisas. Alguém pode muito bem ter feito outro projeto com base nos rumores e colocado a garota lá por n motivos.

Vi o vovô concordar e apertei os lábios. Aquilo fazia muito sentido, mas tinha alguma coisa que não me deixava acreditar. Canaban sempre tinha alguns nomes que eventualmente se destacavam por serem ótimos guerreiros, mas Serdin quase não tinha. Um mago com magia o suficiente para lacrar a cápsula e ainda manter Mari viva por tempo indeterminado com certeza não passaria despercebido.

Calnat, por outro lado, tinha magos excelentes e que estavam marcados na história. Não apenas a rainha Scard, como também Caxias Grandiel e Bardinar. Se fossem mesmo tão poderosos como a história conta, seriam capazes de suspender alguém em uma cápsula tranquilamente.

E, também, os magos de Serdin sempre eram ambiciosos. Se um deles tivesse conseguido reproduzir o aparelho com base em lendas e rumores, ele certamente faria questão de espalhar pro reino inteiro.

— Vamos parar de falar como se a garota não estivesse aqui — vovô decidiu e deu uma boa olhada em Mari, que se mantinha em silêncio e eu espero que prestando atenção na conversa. — Mari, não é? Quantos anos você tem?

— Dezenove. — Espera, ela é mais velha do que eu? Mas ela é praticamente da minha altura!

— Tudo bem. Sabe onde você está? — ele voltou a perguntar, alheio ao meu choque.

— Arme disse que aqui se chama Serdin e que fica em Vermécia. — Ela olhou para mim rapidamente. — Scard Vi Serdin fundou o reino?

— Como você sabe quem é ela? — Stellar perguntou apertando os punhos, tão curiosa que era difícil de se conter. À essa altura, eu nem ligava mais para a chave perdida da gaveta.

— Serdin era a arquimaga de Calnat. Meu tio... O Rei a escolheu por ser tão boa quanto Caxias e... — Ela parou um momento como se não estivesse confusa e suspirou. — não lembro quem.

— Tudo bem. — Vovô sorriu meio nervoso. A informação de que o rei de Calnat era o tio dela ia ser mesmo ignorada? — O que você consegue nos dizer sobre você, Mari?

Mari hesitou antes de responder. Eu já estava me acostumando com a ideia de que provavelmente ela nunca demonstraria nada pela expressão ou tom de voz, então era realmente difícil especular o que ela estava pensando. E isso porque eu era muito boa em ler as pessoas.

— Meu nome é Mari Ming Onette, sou princesa de Calnat, sobrinha do rei Asrard. Tenho dezenove anos e uso tecnomagia…

Stellar, vovô e eu nos entreolhamos. A princesa de Calnat? Todos os registros diziam que o Rei havia sido morto no dia da grande explosão, algo sobre magia corrompida e que Canaban havia terminado com seu sofrimento usando sua espada. De resto, eu nem mesmo me lembrava dos registros citarem uma princesa. 

Mas pela expressão mortificada no rosto do meu avô, ele sabia algo sobre aquilo.

— Algo mais, criança?

Criança. Beleza. Então ele tinha acreditado naquelas informações. Apesar da maioria dos estudantes da Academia serem mais novos que ele, o título de “criança” era apenas para mim e eventuais filhos dos alunos — que nem sempre eram tão bem acolhidos como eu fui, mas nunca eram mal tratados.

Mari fitou a barra da própria saia por um momento antes de negar suavemente.

— Não me lembro de muitas coisas. Serdin era arquimaga do meu tio, por que ela teria fundado um reino em outro continente?

Desviei o olhar de nervosismo, sem saber como abordar o assunto para Mari. Vovô também pareceu sem jeito e Stellar também desviou o olhar, parecendo muito empenhada em procurar por pontas duplas no cabelo.

— Arme pode te explicar isso depois. Por enquanto, você tem alguma coisa em mente do que quer fazer?

Encarei Mari, que estava fitando a mesa mais uma vez. Eu esperava que ela não quisesse nada absurdo ou complicado demais de fazer.

— Eu quero falar com a rainha Serdin. — ela respondeu, e eu franzi as sobrancelhas ao pensar no tanto de burocracia necessária para aquilo, mesmo que meu avô fosse alguém importante. — É possível?

Vovô uniu as mãos, olhando para Mari com paciência, como se ponderasse o quão rápido alguém como a rainha poderia encaixar uma audiência com ele na agenda.

— Sim, é possível. Mas isso vai demorar um pouco. Até lá, seja bem-vinda à Academia de Magia Violeta. — Ele sorriu. — Você não precisa frequentar as aulas, mas, caso queira, deixarei avisado que você é bem-vinda nas turmas iniciais.

Mari assentiu e segurou melhor o livro em suas mãos.

— Vovô — chamei, uma dúvida surgindo. — Mas onde ela vai ficar? Não temos tantos quartos assim.

Recebi um sorriso que me fez vacilar um pouco, ele nem precisava falar para eu saber o que ia acontecer. Meu histórico já me dava a resposta.

— Oras, ela vai ficar no seu quarto, Arme. Você tem espaço o suficiente lá para mais uma cama de solteiro. E vou ter que deixar a responsabilidade dela com você, pelo menos até eu conseguir uma audiência com a rainha e nós descobrirmos o que fazer.


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Notas finais do capítulo

Beleza, e foi isso por hoje. Me conte o que achou, hm? Eu volto assim que puder com o 3º capítulo!

Beijinhos, Mel ♥



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