A Viajante - Decidida escrita por AliceCriis


Capítulo 2
1 – Em boas mãos




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1 – Em boas mãos

Nossa casa se destacava entre as demais. Não tinha cores espalhafatosas como todo bom cidadão de Jacksonville... Tinha tons de café e um suave branco para completar. Graças á meus bons tratos, o jardim sempre estava conservado e florido. A casa era grande – eu digo... BEM grande. Três andares e um porão infestado de aranhas e peçonhas.

 Mas eu me sentia tão contente de estar de volta, que não sabia como explicar. Todos meus sentidos estavam cem por cento ocupados, com a explosão de familiaridade.

 - Ei Samy! – meu pai ressoou, ao estacionar em nossa garagem. Eu o olhei prontamente – Vamos tirar as malas... e você já sabe o que fazer, não sabe?

Sim. Eu sabia. A rotina pós-férias. Era bem comum pra mim.  Eu colocava as roupas das malas na lavadora, e ia preparar o jantar, enquanto isso, Roo – meu irmão mais novo – ia buscar nosso – totalmente imprestável – cão, na casa da vovó Sweet. Já meu pai, ia até o supermercado comprar suco e frutas para o “desjejum” do dia seguinte.

 Captei a mensagem, e acordei meu irmão do modo mais agradável do mundo: com um grito perfeitamente agudo. Ele pulou do banco de trás, como se o mundo estivesse explodindo, e me olhou com uma expressão de pura raiva.

 - Você me paga, Samy... – ele pegou suas malas e subiu as escadas que iam da garagem até a lavanderia. Eu apenas ri dele. Peguei o resto das minhas malas, incluindo a que estava recheada de presentes para meus amigos, e subi atrás de Roo.

 Eu ainda me lamentava por meu pai, não ter me deixado na Flórida. Eu queria tanto passar as férias com a vovó Sweet! Meu pai nunca entendeu o motivo de minha preferência absurda pela minha avó materna... Mal sabe ele. Não foi apenas a distância que me fez perder a afinidade com a vovó Jones. Apenas a vovó Sweet me entendia... e me conhecia de verdade. E poderia muito bem saber, por que eu não era uma adolescente normal.

 Roo já havia saído com meu pai. Em meia hora, eu tinha certeza. A cozinha estaria entupida de homens exigindo bacon e suco de frutas. Abri as minhas malas e a de ambos. Separei as roupas e puis na lavadora. Olhei em volta, e inspirei fundo sentindo o cheio de lavanda da ultima vez que eu limpei a casa. E no mesmo andar, caminhei um pouco e cheguei a cozinha – imaculadamente arrumada – e avistei o telefone. Cliquei para ouvir os recados que havia na secretária eletrônica, enquanto retirava os ovos, bacon e enlatados da geladeira.

 Vovó Sweet estava na maioria delas, algumas eram apenas ligações promocionais, outras eram garotas que ligavam para o Roo, e outras minha melhor amiga – Thalita -  contando o quão fantástico tinha sido seu verão na Califórnia. Tinha de admitir... eu estava com inveja dela – exceto a parte, em que ela se machucou com uma Caravela no mar. Mas Jack – um dos meu melhores amigos e em particular seu namorado desde... um mês atrás, viajou junto com ela.

 Eu acordei para a realidade. Tinha de me concentrar em preparar os ovos e o bacon. Temperei os ovos da maneira de que meu pai – vulgo bomba de gás – mais gostava. Preparei bacon para Roo... já que eu não estava afim de ouvir alguém resmungando em meu ouvido. E por fim, remexi minhas panquecas com molho de blueberries. E enfim, meu irmão chegou com Stub – o labrador mais imprestável do mundo.

 - BACON! – berrou Roo, enquanto largava Stub da guia e atacava seu prato na mesa.

 - Eu acho melhor que você espere papai. – adverti, poupando meus preciosos ouvidos de um longo sermão de meu pai.

 - Papai já deve estar se empanturrando com algum cachorro quente na rua, Samy... – disse ele de boca cheia, de forma que eu pude analisar as formas do bacon se remoendo em sua boca. Admito. Eu não deveria ter olhado... e aquilo mexeu com meu estômago.

 - Sua irmã estava certa. – disse meu pai de cara fechada, para Roo, enquanto entrava pela cozinha. – Deveria ter me esperado. E Não. Eu não me empanturro com cachorros quentes na rua, se tem uma deliciosa refeição em casa, preparada por sua irmã adorável – disse meu pai naquele tom mais dramático e melancólico. Ele sentou-se ao lado de Roo, na longa mesa de granito, e pegou sua omelete – pode guardar isso Samy? – ele apontou para uma sacola de caixas de frutas.

 - Claro – assentiu, e alcancei o suco de frutas á eles. Guardei as coisas na geladeira e me sentei, pensando provavelmente em apreciar minhas deliciosas panquecas. Quando vi que me pai levantou-se e de uma maneira completamente displicente bateu na jarra de suco a qual iria se derramar quando... eu estalei os dedos quase sem som algum e tudo parou. O tempo havia se congelado mais uma vez.


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