Where We Belong escrita por Mad


Capítulo 5
Uma Boa Filha...


Notas iniciais do capítulo

Tarde como sempre mas tô aqui! Boa noite gente ❤️ como estão?? Presenteio vocês com o capítulo 5! Não vai ter jeito, Aloy vai ter que ir aonde não quer pra ajudar Elisabet. A Doutora por outro lado vai descobrir que um encontro tão importante não vai passar sem deixar marcas em seu coração. Mas que tipo de marcas? Veremos! Aproveitem muuuuuuito, já já falo com vocês ❤️



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"Entrada ES-002. Eu não tive muito tempo pra me lamentar. Como sempre. O mundo não me deu tréguas, tirando as duas noites de sono. Pensei que estava sonhando e iria acordar com a GAIA me chamando pra trabalhar. Bem, seja lá o que houve enquanto eu era um picolé, eu preciso consertar. E graças a Aloy eu tenho uma ideia: preciso conversar com CYAN e convencer ela a ser a nova IA Governante do Zero Dawn. Nem sei como ela vai me receber, ou se é realmente capaz de fazer o que vou pedir, mas eu não tenho uma ideia melhor. É isso ou deixar o mundo implodir sem fazer nada… E acho que a minha cota de "não fazer nada" já passou. 

Depois disso… Sinceramente não sei, espero ter muito trabalho a fazer, como nos velhos tempos."

 

Aloy estava indecisa.

 

Após anos dependendo apenas de si mesma para atingir seu objetivo, a garota se via obrigada a mudar sua postura em tempos recentes. Agora estava rodeada de pessoas as quais haviam ajudado em momentos de grande importância, e se via cada vez mais frente a frente com a assustadora decisão de pedir ajuda.

 

"Resolveu me ouvir?"

 

A ajuda vinha sem aviso ou cerimônias às vezes. 

 

Ela organizava os suprimentos providos por Erend em uma bolsa de tecido rígido quando ouviu seu amigo falar, encostado em uma das tendas. 

 

"Eu preciso chegar no Corte, não dá pra ficar com medo de cara feia…"

 

Não é exatamente o que Aloy iria encontrar nas Terras Sagradas, porém. 

 

Com um suspiro, enquanto fechava a bolsa, Aloy assinava e aceitava seus sentimentos para com sua antiga tribo. Teria que recorrer aos Nora para chegar até CYAN com presteza. 

 

Havia algo além, entretanto.

 

"Erend… Eu cometi um erro, no caminho de volta pra cá."

 

"Eu vou chutar e dizer que tem a ver com a perna da sua mãe."

 

Ficando ao lado do amigo, olhando para o outro lado, Aloy assentiu. Disse então:

 

"Era algo simples e eu vacilei…"

 

"Aloy, vou ter que te parar por aí." A garota olhou confusa para a intervenção de Erend, aguardando explicações. 

 

"Você não pode desacostumar de cometer erros, alguma hora vai acontecer."

 

Aloy se sentiu colocada em seu estado pensativo mais uma vez. Sentia a pressão dos planos de GAIA a cada passo que dava em direção a Meridiana antes de sua batalha final. Sentia agora a pressão de levar Elisabet Sobeck até a luz no fim do túnel. 

 

"Escuta, a sua mãe está bem. Não precisa se punir. Vá até o Corte fazer o que precisa."

 

Aloy disse sorrindo, após assobiar na maior altura que conseguia.

 

"Palavras de sabedoria? Você realmente me ouviu e ficou sóbrio."

 

"Ou eu sou um poeta bêbado, você nunca vai saber."

 

"Sinto o cheiro do vinho barato de longe."

 

A risada que compartilharam lentamente se transformou em um abraço carinhoso, levando embora temporariamente as preocupações da jovem. 

 

"Obrigada, Erend."

 

"Não dava pra te deixar na mão." 

 

Interrompidos tanto pelo som do Galope se aproximando quanto por um bocejo vindo de dentro da cabana, ambos se separaram e viram Elisabet saindo de dentro do aposento improvisado. 

 

"Acabei dormindo mais do que devia… Espero não ter te atrasado Aloy."

 

A doutora se espreguiçava discretamente. Aloy ensaiou uma resposta até dizer em congruência:

 

"De jeito nenhum, ainda está cedo. É bom que tenha descansado. E seus ferimentos?"

 

"Eu consigo andar, não se preocupe."

 

Ambas compartilharam um sorriso aconchegante e se aproximaram uma da outra, prontas para finalmente partir. Aloy subiu no Galope e estendeu a mão para Elisabet, apenas para ver a doutora subir sem nenhuma assistência. 

 

"Vocês são mesmo parecidas. Em muita coisa."

 

"Vê se não destrói a cidade, se não o Avad dá ela pra mim."

 

Os dois trocaram os últimos risos antes de se despedirem. Erend observou enquanto a máquina sumia no horizonte em direção às Terras Sagradas. Um de seus companheiros se aproximou, dizendo:

 

"Ela mudou mesmo os ânimos por aqui."

 

"É difícil não gostar da Aloy. Ela só precisa perceber isso."

 

Se distanciando de Pôr do Sol e de suas estradas bem definidas, o caminho através do solar se revelava para Aloy e Elisabet, consideravelmente mais passivo em comparação aos territórios a oeste. O sol brilhava forte sobre suas cabeças, sua luz destacando a poeira levantada pelo vento, agindo como uma fina névoa. 

 

"Você não é de viajar acompanhada, não é?"

 

Súbita não seria um adjetivo exagerado para tal pergunta, ocasionando em Aloy um leve atraso para responder.

 

"Eu tenho conhecido bastante gente para ser sincera. Mas é comum eu estar sozinha nessas horas. Por que?"

 

"Na minha época era comum jogar conversa fora durante uma viagem."

 

Apenas o som das patas mecânicas do Galope preenchia a conversa que acontecia fora das expectativas da mais jovem. 

 

"E sobre o que quer conversar?"

 

"Talvez sobre eu ser sua mãe?"

 

Era óbvio. Óbvio o suficiente para não chamar atenção de uma Aloy abalada, desde o incidente do dia anterior. 

 

As palavras lhe fugiam, até finalmente se encontrarem como queria:

 

"Eu precisava de um bom motivo para ir até você. O rei que eu te falei? Só assim ele deixaria eu passar pelo portão."

 

"Ok, isso explica eu ter uma filha do nada. Mas por que foi até mim?"

 

Com a tranquilidade aparente do caminho que percorriam, não havia motivo para não conversarem. O que responder, entretanto, era uma pergunta que Aloy gostaria de ter feito a si mesma antes do atual momento.

 

"Só senti que precisava."

 

"E se arrepende?"

 

"Quase me arrependi quando disse que não deveria ter acordado."

 

"Justo…"

 

A resposta foi o suficiente para instaurar um silêncio de conformidade por mais algum tempo, durante o qual Elisabet observava com cuidado o ambiente ao redor. As máquinas, agora com os esperados olhos azuis, pacificamente realizando suas atividades. Os pequenos animais a faziam lembrar do que poderia ter sido.

 

"É uma pena… Tem muitos animais que vocês podiam ter conhecido."

 

A doutora disse entre suspiros, segurando a cintura de Aloy sem muita firmeza.

 

"Tipo os… Cavalos?"

 

"Uhum. Eles e outros eram parte da Fase Dois em diante da ARTEMIS, mas sem o APOLLO…"

 

Aloy pôde apenas permanecer em silêncio, já firme em sua postura de não interferir no luto de Elisabet. Esta por sua vez percebeu o silêncio desconfortável e concluiu dizendo:

 

"Estamos a caminho de consertar tudo, pelo menos. Quem sabe tem um jeito de introduzir as espécies da fase dois."

 

"CYAN vai ajudar, tenho certeza." 

 

"Deus te ouça, garota…"

 

O ambiente desértico agora dava espaço à tímida vegetação verde, ao longo da margem de um estreito rio que cortava a região em duas metades. O assentar da poeira e a clareza do ambiente permitia uma observação mais meticulosa por parte de Elisabet, sorrindo em admiração para cada detalhe que capturava com seus olhos. 

 

"Não é tão ruim, sabe? Tem até mais peixes do que eu…"

 

No meio de sua declaração, ambas sentiram o cambelear esquisito da montaria que as levava, quase as derrubando. Imaginando o possível problema, Aloy suspirou ao interromper o movimento da máquina.

 

"Porcaria…" 

 

"O que houve?"

 

Descendo da máquina, Aloy olhou diretamente para a parte posterior da máquina como se soubesse exatamente o problema. Elisabet seguiu o exemplo, descendo da máquina e observando a jovem retirar com certa força uma placa metálica que cobria alguns componentes do Galope.

 

"Abusamos demais desse aqui… Mas acho que consigo consertar."

 

Apenas agora Aloy se dava conta de que não havia trocado de montaria desde antes de chegar ao Rancho Sobeck, há aproximadamente dois dias. Na adversidade da jornada, porém, Elisabet via enfim a oportunidade de ser útil.

 

"Se é só isso, deixa eu tentar."

 

Aloy parou imediatamente o procedimento.

 

"Ah, bem…" ela procurava as palavras certas, sem muito sucesso. "Digo, você nunca fez isso. Não se preocupa."

 

Rindo em simpatia e confiança, Elisabet disse em resposta:

 

"Bom ponto. Mas uu estudei robótica a vida inteira. Máquinas são a minha especialidade."

 

Conviver com a doutora de forma tão casual tornava fácil esquecer sua vivência e experiência, mesmo ocorrendo mil anos antes. 

 

"Certo, certo. É todo seu. Vou dar uma olhada por aí, deve ter algo de útil."

 

Aloy respondeu após um sorriso desafiador, se levantando e dando espaço para Elisabet trabalhar. A doutora se deparou com a estrutura muscular do galope, analisando com seu Foco o possível problema.

 

"Sem ferramentas… Espero que não seja nada sério, ou eu passei uma baita vergonha agora." 

 

Pensando consigo mesma, estava pronta para encontrar o problema quando ouviu os resquícios de uma voz, ao longe.

 

Aloy percebia claramente a mesma coisa, parando de andar e olhando para a suposta direção do som. Alguns segundos depois, distinguiu chamados de socorro do outro lado do rio, onde se encontrava um dos campos de caça que havia visitado previamente em suas viagens. 

 

Uma figura vagamente familiar saia de dentro dos limites dos campos, ofegante e suando. Aloy agora podia ouvir sons distintos de máquinas se movendo, atacando. Algo estava errado.

 

"Caçadora! Caçadora Nora! Céus…" Parando um pouco para recuperar o fôlego, o homem vestido em trajes típicos da Ordem dos Caçadores prosseguiu: "O Sol lhe enviou na hora certa, estávamos preparando os campos e as máquinas saíram do controle!"

 

"Deixa comigo, tire seus homens de perto."

 

Elisabet ouviu parte da conversa mesmo estando do outro lado do lago estreito. Olhou para a montaria, e de volta para Aloy que subia as pedras e adentrava os campos de caça. Devia trabalhar no conserto do Galope, era o que desejava fazer. 

 

Algo em seu íntimo não permitia.

 

O que movia os pés de Elisabet a atravessar o lago estava longe de seu alcance consciente. Chegando às pedras que Aloy escalava momentos antes, fez o mesmo com certa dificuldade, finalmente se deparando com a depressão geográfica delimitando os campos de caça. Junto com o ambiente, a batalha de grandes proporções também era revelada perante seus analíticos olhos. Com muita atenção observou Aloy, corajosamente indo de encontro a dois Dentes-Serrados e dois Vigias. A caçadora fez pouco caso das máquinas menores, depositando disparos certeiros em seus grandes olhos antes de se encontrar no alcance das maiores. Com os dois Vigias caídos, a Doutora notou Aloy assumir uma postura diferente.

 

Repousando seu arco nas costas e empunhando sua afiada lança, a caçadora começou a correr em direção a grande máquina, que por sua vez fez o mesmo. Elisabet via com clareza a disparidade. O tamanho imponente do Dente-Serrado, a cada passo criando tremores compactos na terra vermelha. Suas garras deixando marcas no chão, seus olhos vermelhos como o sangue que estaria prestes a  derramar. 

 

Era loucura.

 

Estava pronta para intervir, mesmo em vão. Pronta para avisar do perigo, mesmo que a jovem soubesse sobre. 

 

Mas ao olhar para Aloy, não foi capaz de fazer nada.

 

Mesmo de longe, pôde perceber o olhar focado e determinado da garota. Seus passos, mesmo sem criar tremores, transmitiam energia, impulsão. Seus movimentos não eram comuns, eram paradoxalmente mecânicos e orgânicos ao mesmo tempo. No encontro das duas forças conflitantes, a de metal e a de carne, uma pequena porção da mente de Elisabet pensou em fechar os olhos. Porém, era impossível tirar os olhos do momento a sua frente, quando as garras mortais da grande máquina passavam a centímetros do rosto de Aloy, que se arrastava no chão em uma rasteira, utilizando a impulsão de sua corrida, escapando do ataque e se aproximando o suficiente para cravar a lança na perna direita do inimigo, incapacitando-o imediatamente. 

 

Elisabet, a essa altura, não se permitia nem ao menos o piscar de seus olhos. 

 

Após o ataque bem sucedido, a jovem utilizou de toda a força existente em seus braços para se impulsionar para cima usando a lança cravada, acrobaticamente subindo nas costas da máquina atordoada. Posicionada, inverteu a lança para acoplar o dispositivo de conversão logo acima da cabeça, em poucos segundos domando a máquina e tornando-a inerte. 

 

Faltava mais uma, entretanto, que agora vinha na mesma ferocidade demonstrada pela primeira. Antes mesmo de fazer contato, pulou de uma máquina para a outra, segurando firme em seus cabos enquanto repetia o processo de conversão. O Dente-Serrado movia seu torso violentamente, chacoalhando o pequeno corpo de Aloy para cima e para baixo. Sua força nos braços estava sendo testada ao máximo, não soltando por nada até finalmente os movimentos cessarem. 

 

Duas máquinas destruídas, duas máquinas domadas, nenhum arranhão. O silêncio agora tomava conta dos campos de caça, tendo apenas a respiração acelerada de Aloy como trilha sonora e os olhos vidrados de Elisabet como testemunha. 

 

Nada a mantinha grudada ao chão agora.

 

"Você tá bem?" Aloy ouviu a mistura de preocupação e fascínio na voz de Elisabet enquanto a doutora se aproximava, com um leve sorriso no canto de seus lábios. 

 

"Eu sim, mas queria ter mantido os dois Vigias vivos para o campo de caça…"

 

A jovem observava os dois Dente-Serrados voltando para sua posição habitual, enquanto a figura do homem voltava a se aproximar, rindo em admiração.

 

"Você salvou as duas máquinas mais importantes! E claro, meus homens e nosso campo de caça. Sua reputação tem firmamento em ações, jovem Nora. Tem minha gratidão."

 

Sorrindo de volta, Aloy compartilhou do alívio e da conquista.

 

"Não se preocupe, fico feliz que estejam bem. Mas por que as máquinas saíram do controle?"

 

"Eu não sei bem… Mas foi logo depois que um Cabeça-Larga passou por aqui. Parecia que tinha alguém em cima, igual você e sua companheira. Isso foi ontem, e as máquinas foram ficando agitadas até se voltarem contra nós."

 

Os três presentes na conversa sentiram uma confusão conjunta, em especial Elisabet, que perguntou:

 

"Uma máquina incomodou as outras?"

 

"Não parece ter sido o caso… Me preocupo com quem estava nas rédeas."

 

"Enfim, preciso arrumar essa bagunça… Mais uma vez agradeço, contarei sobre seu ato na Ordem!"

 

O homem disse, voltando para seus afazeres, agora tumultuados pela batalha recente. 

 

Aloy e Elisabet faziam seu caminho de volta para a montaria do outro lado do rio, até ambas se lembrarem do problema anterior.

 

"Deu conta do Galope?"

 

"Bem…" Elisabet olhava para o outro lado, levemente envergonhada. "Eu meio que me distraí com a sua luta…"

 

"Estava me observando?"

 

Fazendo contato visual por apenas uma fração de segundo, Elisabet respondeu sem rodeios: 

 

"Sim. E foi incrível! Tenho certeza que pouquíssimas pessoas dariam conta daquilo, você saiu sem um arranhão."

 

"Meus ossos estão me matando, eu não teria tanto certeza sobre sair sem arranhões" 

 

Aloy disse entre risos, compartilhando-os com Elisabet. 

 

"Agora vou focar no conserto, garanto."

 

"Tome seu tempo, vou me sentar um pouco."

 

Feliz pela aparente compreensão da mais nova, Elisabet voltou sua atenção para o problema mecânico do Galope, utilizando seu Foco para reunir informações. Tentava preencher as inúmeras lacunas em seu conhecimento, considerando que GAIA havia criado as máquinas do zero, com a ajuda de HEFESTO.

 

Moveu suas mãos por trás das placas de metal, buscando os cabos em sua origem. Utilizando mais força do que imaginava ser necessário, foi capaz de realinhar-los, supostamente colocando o Galope de volta em sua forma ideal.

 

"Tá pronto. Melhor testarmos."

 

Assentindo com a cabeça, Aloy subiu na montaria, sendo seguida pela doutora logo depois. Apenas alguns passos da máquina se mostraram suficientes para que a jovem identificasse a melhora.

 

"Ficou ótimo! Nunca mais subestimo você."

 

"Não te culpo, eu não sabia exatamente o que fazer. Mas aprendi agora."

 

"E muito rápido. Vamos indo, perdemos um tempinho…" 

 

Assim seguiu a viagem, sem interrupções. O sol já se punha lentamente, e Elisabet permanecia observando o ambiente, mas com sua mente voltada para os movimentos e olhar de Aloy nos campos de caça. Repetia a cena em sua cabeça, tentando se colocar  na mesma posição da garota, sua clone em todos os sentidos.

 

Não. Alguém único.

 

Pensar nela como um simples produto do Protocola Lightkeeper já não era mais justo, ou condizente com a realidade. 

 

"Como ficou tão boa nisso? Lutar contra máquinas com o quíntuplo do seu peso…"

 

Aloy sabia o que responder. Entendia exatamente o que havia se passado em sua vida para chegar a esse ponto. 

 

As palavras porém não deixaram sua boca. Não receberam permissão. Permissão que os ouvidos da doutora também estavam aguardando.

 

"Ali, Sentinela do Amanhecer. Vamos descansar um pouco, e depois já estaremos nas Terras Sagradas."

 

Foi a vez de Elisabet ficar calada. E ambas assim permaneceram, até a chegada ao assentamento Carja nos limites do Solar.

 

Os guardas cumprimentaram ambas, até o responsável pelo local se aproximar de Aloy.

 

"Ao que devemos a visita senhorita?"

 

"Não se incomode, estamos apenas de passagem. Preciso apenas de um favor seu."

 

"Certo, me acompanhe."

 

Elisabet tomou para si a liberdade de manter aquecida ao lado da fogueira, posicionada ao centro do assentamento. Viu Aloy voltar poucos minutos depois, sentando logo ao seu lado, mas não antes de entregar algo.

 

"Notei que estava com frio. Isso vai lhe aquecer."

 

Em suas mãos estavam uma túnica carja ornamentada e botas adornadas com pelo de animal. 

 

Elisabet demorou alguns segundos para aceitar, surpresa com a atenção da jovem para com detalhes, mesmo tendo muito para pensar sobre. 

 

"Obrigada, Aloy. Não precisava se incomodar."

 

O sorriso das duas se encontraram, a gratidão junta da compreensão.

 

"Incomodo nenhum. Voltamos para a entrada em uma hora"

 

Mais uma vez, sob os últimos raios de sol.

 

Monte Livre, Vilarejo Oseram. O dia anterior.

 

Mathias estava apressado.

 

A superfície de metal das dezenas de componentes mecânicos espalhados pelo depósito refletiam os olhos marrons aflitos do garoto, brilhando através dos óculos redondos junto às gotas de suor em sua pele ao tom do Nilo. Seus cachos curtos balançavam a cada mudança de direção, penosa e grosseira, utilizando ao limite sua única perna boa, enquanto guardava cada um dos itens em uma bolsa. 

 

Tomava cuidado para não fazer muito barulho, temendo a atenção indesejada dos indesejáveis.

 

Os passos pesados de talvez duas ou mais pessoas assinavam seus esforços como em vão. A porta então se abriu, tornando claro o ambiente que antes era iluminado apenas pelo Foco no ouvido esquerdo de Mathias.

 

"Péssima ideia." 

 

As palavras ríspidas da mulher imponente a sua frente cortavam o ambiente seco e pouco arejado até chegar ao garoto, agora encostado na parede oposta à porta. Não conseguia ver claramente o seu rosto, distinguindo-a apenas pela presença da bandana suja cobrindo a testa. Atrás dela, dois homens grandes aumentavam a tensão no ar. 

 

"Tava demorando pra você me encher, Forjadeira."  

 

No tom do rapaz, era perceptível a tentativa de devolver a rispidez. Tentativa essa, que apesar de boa, não transmitia a convicção necessária. A mão que não se encontrava dentro do bolso tremia, e seus olhos mudavam de foco a cada segundo, como se aguardasse algo. 

 

"Eu não sou sua mãe… Não vim te dar sermão. Vai cooperar ou não?"

 

A mulher dizia ao se aproximar um passo.

 

Ainda não...

 

"Não precisa se preocupar, eu tô de saída. Pra sempre. Só vim pegar umas coisas, caso não se importe."

 

"Moleque…" era a vez de um dos homens tentar intimidar o garoto indefeso. "Passa a bolsa pra cá, agora."

 

O homem deu mais um passo, acompanhado em seguida pela moça e o outro homem. Os três agora estavam efetivamente dentro do depósito.

 

Agora…!

 

"Sem chance, grandalhão."

 

O Foco de Mathias brilhou em laranja, correspondendo a dois mecanismos logo acima da porta, que em seguida se fechou com força, sem chance de qualquer reação.

 

Numa fração de segundo que acusava premeditação, duas esferas caíram do teto, explodindo e mergulhando todos presentes em um mar de fumaça.

 

Todos menos o garoto.

 

Os três que haviam entrado se preocuparam primeiro com sua respiração, percebendo então que a fumaça não era nociva. Apenas lhes cegavam para a fuga perfeita.

 

A janela se encontrava aberta. Sem sinal de Mathias.

 

Ouviram apenas o som característico de um Cabeça-Larga cavalgando para longe. 

 

"Temos que ir atrás dele!"

 

"Não…" A mulher respondeu aos seus homens, retirando sua bandana e respirando fundo enquanto observava. "É melhor assim… Um problema a menos."

 

Longe dali, poucas horas depois, Mathias adentrava seu local seguro. Uma caverna que havia sondado dias antes, com todo o espaço que poderia desejar mas nada do conforto que gostaria. Utilizando a sacola desamarrada como um tapete, alinhou perfeitamente todas as peças que havia roubado, da menor para a maior. 

 

O suor em seu rosto já havia secado, impregnado com a areia que subia, levada pela brisa. Seus óculos ao contrário se mostravam limpos, ou pelo menos o suficiente para permitir que visse seu trabalho, esse de extrema importância. Suas mãos já não tremiam, mas a ansiedade em seu coração permanecia refletindo os acontecimentos passados, marcando-o como a areia.

 

Ele não dormiria essa noite, não até terminar seu projeto.

 

Uma boa filha voltava pra casa. Um filho procurava uma.

 

 


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Notas finais do capítulo

PERSONAGEM ORIGINAL PODE?? Mathias é uma ideia bem antiga, dos primeiros drafts. Ele vai ser importante depois dessa parte inicial (que deve ir até o capítulo 7) e é muito empolgante finalmente introduzir ele! Fiquem de olho no meu menino xP ENFIM gostaram?? Por favor me digam tudinho, o bom, o mal e o feio! Tudo contribui pra minha evolução. E a Xbox/Nintendo acabando com todo mundo nessa E3? Se não fosse o Horizon Forbidden West, eu estaria pensando MUUUUUUITO seriamente em vender meu PS4...juro. Forza Horizon 5 tá LINDO e eu sinto saudade de jogos de corrida as vezes :(. Enfim! Capítulo 6 já em produção, espero que seja do agrado de vocês. Até lá, se cuidem!



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