Os Olhos da Minha Mãe escrita por Vic


Capítulo 1
A alma da minha mãe


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, boa noite. Então, venho com uma one-shot dessa vez um pouco maiorzinha, sobre o Solan que é um personagem que eu amo demais.
Essa fic é narrada em primeira pessoa...
Se vocês curtirem trilha sonora enquanto leem, recomendo a música So Fortunate do Adema que foi a que eu escutei enquanto escrevia essa one.
Boa leitura e até a próxima :*.



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— Você tem os olhos dela. –Era o que ele respondia sempre que lhe perguntava como era a minha mãe.

— Isso eu já sei, tio. Quero saber como ela era... –Insistia, na esperança de que ele me contasse como ela se parecia ou alguma coisa do tipo, mas quase sempre era em vão. – Eu me pareço com ela? –Perguntei ao notar que ele não iria responder a minha outra pergunta.

— Você tem a alma de Bórias e os olhos da sua mãe. –Ele respondia sem me olhar nos olhos. – Sabe, Bórias foi um grande guerreiro... era nosso amigo e nos ajudou a continuar vivos. -Desconversava e voltava a falar do meu pai, como se eu já não tivesse ouvido a história de como o grande Bórias, o amigo dos centauros salvou todos eles de uma guerreira má chamada Xena e acabou sendo morto por ela.

— Antes dela morrer... o que ela gostava de fazer? Qual era o nome dela? –Joguei uma pedrinha na superfície do lago e observei como ela ia cada vez mais para o fundo dele.

— Ela gostava de cantar. Cantava para você, antes da doença levá-la embora. –Olhou para mim enquanto passava a mão em meus cabelos com uma expressão serena em seu rosto. – Como você imagina que ela era? –Devolvia a pergunta de volta para mim.

— Acho que ela tinha cabelos claros, como os meus. Ela brincava comigo. Era incrivelmente amorosa e...

— Maravilhosa? –Sorria para mim.

— Sim, maravilhosa! Um sorriso...

— Como a brisa de verão...

— E uma voz...

— Ela cantava como Orfeu. Lembre-se dela assim, como uma mãe deve ser. –Ele nunca disse o nome dela, nunca percebi isso. Mas ele era o único pai que eu tinha e tudo o que ele queria era me ver bem, então quando ele falava “sua mãe” era o que me bastava. Xena, o nome da mulher que matou meu pai e destruiu minha família, era falado com muita frequência na minha frente, então naquela manhã quando a notícia de que ela havia sido capturada em nosso vilarejo chegou, fui o primeiro a correr para enfrentá-la e vingar a família que perdi graças a ela. Subi em uma árvore e fiquei a observando, me preparando para atacar. Ela estava acompanhada por uma mulher de cabelos claros e mais baixa do que ela, “como uma assassina pode ter amigos?”

De repente ela largou as armas e se rendeu, fiquei parado no topo da árvore esperando que o tio agisse, mas ele não fez nada... ela parecia sentir que eu estava por perto, então decidi que eu mesmo teria que atacar, pulei em suas costas, mas o meu ataque não fez o menor efeito nela.

— Eu quero matá-la! –Disse encarando a mulher que assassinou o meu pai.

— Solan! –O tio me repreendeu. – Deixe-nos agora. –Fiz o que o tio me pedia, mas não antes de avisá-la que ela tinha acabado de encontrar o seu pior inimigo. Deve ter sido por isso que ela ficou me observando depois que sai, ela sabia que teria que passar pelo filho de Bórias. Eu era o filho dele, carregava o seu sangue e a sua espada... e um dia ela teria que me enfrentar!

Ainda não acredito que ela teve a coragem de visitar o túmulo do meu pai, o homem que ela matou.

— Eu não matei o seu pai, gostaria que acreditasse nisso. –Tudo o que ela dizia era mentira, tinha o matado e nem tinha a decência de admitir isso.

— Você o matou... e minha mãe ficou sozinha. –Me agachei próximo ao túmulo do meu pai.

— O que sabe sobre sua mãe? –Pelo tom de voz dela parecia uma pergunta inocente, mas ela estava apenas sendo cruel com a criança que ela havia deixado órfã.

— O que te interessa? –Respondi com raiva.

— Interessa. Como ela era? –Tentei ser cruel, para que ela soubesse o que tinha feito e o que ela tinha tirado de mim.

— Meu tio disse que era maravilhosa. Ela nunca pensou mal de ninguém... nem mesmo de você! –Ela agia como se conhecesse a minha mãe, quando me disse que a minha mãe sendo tão boa como era não iria gostar que seu filho fosse um guerreiro. Disse que tinha sido próxima do meu pai e que eles dois cantavam juntos, corri com raiva dela por mentir tão descaradamente para o filho do homem que ela matou com sua própria espada.

Não gostava de Xena e tinha todos os motivos do mundo para não gostar, mas gostava de sua amiga Gabrielle, ela era engraçada e me fazia pensar na minha mãe. Sempre imaginei que se minha mãe estivesse viva se pareceria com ela. Foi Gabrielle quem me disse que eu não precisava fingir que era um guerreiro e que a espada não era a resposta para tudo, mas ela usou seu cajado contra os homens que me sequestraram naquela tarde.

— Solan, corre! –Gritou, mas eu não a escutei. Puxei a espada que foi do meu pai e tentei ajudar, mas foi em vão.

Os homens que me capturaram sorriam e faziam piadas sobre Xena ir fazer qualquer coisa para me recuperar, só podiam estar loucos. A única razão pela qual ela poderia me querer vivo era pelo fato de que ela mesma queria me matar, como tinha matado o meu pai. Me preparei para morrer, como eles disseram que eu iria, mas ouvi o barulho de uma pedra batendo em minha jaula e quando olhei para cima lá estava ela, mesmo depois de tudo o que eu fiz... ela tinha vindo me salvar.

Ela era incrível! Nunca tinha visto alguém lutar como ela, chutando e socando vários homens, todos ao mesmo tempo. Ela me deu a chave para que eu me soltasse, mas a corda que ela usou para levantar a gaiola se soltou e eu caí me segurando no buraco que havia ali.

— Xena! –Gritei sem pensar. – Não estou aguentando! –Gritei novamente e não sei como, mas logo ela estava ali segurando minha mão e amarrando uma corda em uma árvore para nos segurar. Os guerreiros atiraram flechas em nossa direção e ela me perguntou se eu confiava nela, balancei a cabeça dizendo que sim, não tinha muitas opções no momento e nós nos abraçamos e caímos no buraco da caverna.

O tio sempre me disse que eu era esperto e forte demais para a minha idade, tentei ser forte e esconder que o meu braço estava quebrado, mas estava doendo muito. Não me importei quando Xena agiu como se fosse a minha mãe, ela pegou o meu braço quebrado e fez com que parasse de doer, em seguida pegou a bainha da minha espada para fazer um apoio para o braço, enquanto eu protestava e ela dizia:

— De que adianta a espada sem o braço para segurá-la? –Sorriu e eu concordei em deixar que usasse a bainha. Ela falou sobre meu pai e de como ele a impediu de matar todos os centauros, todos os meus amigos. Em seus olhos vi coisas que jamais imaginaria ver, coisas como dor, honestidade e arrependimento. Depois foi a hora dela fazer com que a dor voltasse, ela me abraçou e disse que ia ficar tudo bem, me senti seguro, lembro de ter pensado que deveria ser assim ter uma mãe.

Quando chegamos nas cavernas Íxion o meu braço já não doía como antes, mas os homens maus ainda estavam nos perseguindo, corremos para encontrar o lugar onde a pedra Íxion deveria estar, mas não havia nada lá. Xena disse que Bórias devia tê-la encontrado e escondido.

— Essas marcas... são do meu pai? –Perguntei ao notar a marca de uma mão no altar onde a pedra deveria estar. Xena disse que sim, e então coloquei minha mão sob ela e me senti mais perto dele do que jamais havia me sentido.

Ela estava com medo dos homens nos encontrarem, mas eu a incentivei e disse que ela tinha sido incrível quando me salvou, mas ela disse que precisávamos de ajuda e então fez uma piada sobre música e soprou em uma raiz oca. Ela tem um lado engraçado que eu não conhecia. O barulho que a raiz produziu fez com que os nossos amigos viessem em nosso socorro. Xena me abraçou e nós nos preparamos para subir de volta, mas cortaram a corda com a intenção de me capturarem outra vez, mas a Xena lutou com eles e me defendeu novamente. Nos abraçamos e subimos de volta à superfície, mas a minha espada caiu e a pedra Ìxion saiu de dentro dela, agora estávamos com problemas e tínhamos que nos preparar para lutar.

Gabrielle enfaixou meu braço quebrado e fez uma piada sobre logo eu estar dando cambalhotas, ri e lhe disse que nunca tinha dado cambalhotas, ela disse que estava no meu sangue, mas nunca percebi a dica que ela estava tentando me dar.

— Ainda a odeia? –Gabrielle me perguntou enquanto nós dois observávamos Xena dando ordens para os meus amigos.

— Não, ela não é quem eu pensei que fosse. –Admiti enquanto me lembrava do arrependimento nos olhos dela ao falar do meu pai. Gabrielle sorriu e me disse que aquela Xena boa e justa era a única que eu iria conhecer.

Gabrielle e eu ficamos na barricada junto com os meus outros amigos, o homem que me sequestrou apareceu transformado em um centauro monstruoso e começou a lutar com Xena e com o meu tio, ele acabou morto por um tiro de uma grande besta que ela construiu, mas não sem antes erguer a minha espada e se gabar de como tinha matado Bórias com sua própria espada. Depois daquilo tive que matar o ódio que alimentei por Xena durante todos aqueles anos e deixar com que ela se aproximasse de mim.

Estava sentado em frente ao lago quando ela foi se despedir de mim, disse que ela e Gabrielle tinham que partir, fiquei triste, queria que elas ficassem mais para que nós pudéssemos nos divertir. Ela se sentou ao meu lado e nós conversamos sobre os erros que ela cometeu no passado.

— Algo que fiz há muito tempo estava errado. –Não sabia que ela estava falando sobre mim e sobre sua decisão de me dar para os centauros... sei que ela se arrependeu amargamente por ter mentido a respeito disso.

— Lamento o que aconteceu com seu pai... e com a sua mãe. –Se tivesse virado meu rosto para olhá-la por um momento, saberia que ela estava falando de si mesma. Nossa despedida terminou quando ela me disse que deveríamos esquecer o passado e que apesar de tudo que me aconteceu eu tinha uma família, amigos que me amavam e coisas que ela desejaria para seu próprio filho. É estranho, ao me tornar amigo dela percebi que não queria machucar ninguém, não queria seguir os passos do meu pai, não queria ser um guerreiro como ele.

Quando Xena se levantou para sair, me levantei junto com ela e joguei a espada do meu pai no lago. Xena disse que minha mãe ficaria orgulhosa de mim.

— Você acha? –Perguntei com animação ao imaginar a reação da minha mãe.

— Tenho certeza. –Ela sorriu com uma tristeza que passou despercebida aos meus olhos naquele dia. Lhe disse que minha mãe teria gostado dela e que as duas seriam amigas, ela me abraçou e disse que nós éramos amigos agora. Me lembro de ter pensado que minha mãe e Xena pudessem ser parecidas, mas Xena era uma guerreira e minha mãe era só uma mulher comum, só estava tentando criar a figura materna que nunca tive.

Tinha se passado um ano quando Xena e Gabrielle voltaram à nossa vila, fiquei em cima da árvore as observando e torcendo para que elas não soubessem que eu estava ali, para que conseguisse surpreendê-las, mas Xena me sentiu como da última vez e me agarrou quando dei meu salto, nós nos abraçamos e fizemos algumas brincadeiras um com o outro. Gabrielle e ela vieram para comemorar o tratado que meu tio estava fazendo com outros centauros, ele disse que era um tratado para que as crianças como Xenan e eu ficássemos seguros. Tudo desandou quando dois dos meus amigos apareceram mortos na entrada da vila e Xena descobriu que uma antiga inimiga de seu passado estava de volta, Callisto era uma mulher imortal, portanto era um perigo constante.

O tio me disse que eu estava correndo mais perigo que as outras crianças e queria que eu me escondesse, briguei com ele e disse que se nenhuma outra criança iria se esconder eu também não iria. Achei que o tio fosse me bater quando ele disse que eu não era uma criança qualquer, mas Xena interviu e pediu para conversar comigo a sós. Ela me disse que meu tio estava preocupado e com medo, porque nada apavora mais um pai do que ter um filho em perigo, disse a ela que iria me esconder, mas que ela ficaria me devendo uma. Me escondi nas cavernas Íxion como eles queriam, mas quando meu tio foi assassinado, fiquei com dúvidas sobre quem realmente estava em perigo, me senti culpado pela morte dele, assim como me senti pela morte dos meus pais, todos que eu amo sempre acabam morrendo. Xena disse que não era minha culpa e que ainda tinha muitas pessoas que me amavam e queriam que eu fosse viver com elas.

— Mas eu não quero... quero viver com você... –Disse ao me lembrar do tio me dizendo que se algo acontecesse com ele, Xena cuidaria de mim. Implorei para ela me levar, disse que não a incomodaria e que sabia me cuidar. Fiquei feliz quando ela disse para arrumar as minhas coisas para viajar, achei que estaria seguro com ela na estrada... até aquela garota estranha aparecer e me matar antes que tivesse tempo para arrumar as malas. Xena entrou correndo. Ela me chamou, mas não tinha voz para respondê-la, quando ela me puxou e caí mole em seus braços ela percebeu que eu estava morto, ela acariciou meu corpo e me embalou em seus braços.

— Solan, por favor. Sua mãe está aqui agora... como você sempre quis. –Por seu grito horrível e seu choro descontrolado percebi que ela estava falando a verdade, ela era a minha mãe e estava ali agora, era tarde demais para ela, mas não para mim.

Os mais velhos costumam dizer que não há nada pior do que a morte de um filho para um pai ou uma mãe, porque não é a ordem natural das coisas. Talvez tenha sido por isso que mamãe ficou tão fria, segurando o meu corpo por horas, se recusando a me deixar ir embora, até que ela viu Xenan e percebeu que as outras crianças estavam em perigo.

— Ela sempre faz o que é certo, mesmo quando está machucada. –Lembrei de Gabrielle me dizendo isso enquanto enfaixava meu braço.

Mamãe fez o que era certo, mesmo machucada com a minha morte, ela encontrou Callisto e a enfrentou para proteger as outras crianças e me vingar ao mesmo tempo. Mamãe estava triste e decepcionada no meu funeral, ela não quis ouvir quando Gabrielle disse que a amava, sabia que ela também a amava, mas estava machucada demais para admitir. Culpou Gabrielle pela minha morte, mas eu sabia que ela se culpava mais, por não ter conseguido me proteger, vi isso em seus olhos tristes.

Ver minha mãe se afastar de sua amiga foi um golpe duro para mim, eu queria que ela tivesse uma vida boa e feliz, queria que ela conhecesse o amor para que pudesse amar e ser amada como eu fui. Não queria vê-la voltando para os braços de seus antigos amigos, que faziam dela uma pessoa cruel e sombria. Gabrielle era a única pessoa que podia dar a vida que eu sonhava para ela, vendo elas se afastarem me perguntei se foi assim que ela se sentiu quando me deu para os centauros, assustada e triste, como eu estava agora.

Orei por minha mãe, para que ela se livrasse do ódio que sentia e tivesse uma vida feliz. Não sei o que aconteceu, se os deuses sentiram pena de nós ou se compadeceram com minha dor, mas de repente senti que poderia mudar o destino da minha mãe. Agradeci aos deuses pela bênção, menos a Ares, que só inflou ainda mais o ódio que minha mãe já tinha dentro dela. Quando ela atacou Gabrielle e as amazonas, vi que ali estava a minha chance. Elas tiveram uma briga feia e se jogaram de um penhasco caindo dentro de um rio, aproveitei a chance para criar uma ilusão em seus sonhos, dando a elas uma breve fuga da morte, mas para sobreviver, elas teriam que encontrar o caminho de volta juntas. Não foi fácil para elas ficar de cara com tanta dor e tristeza, mas elas conseguiram se perdoar na última chance que tiveram.

— Nossos corações sentiam a mesma dor. –Mamãe cantou, percebendo que apesar de má, Esperança ainda era a filha de Gabrielle e a morte dela lhe causou dor, assim como a minha causou a ela.

Mamãe e sua amiga correram em direção a saída, juntas novamente... como eu queria. Tinha fé nelas, mas elas tinham muita dor e medo dentro delas. Escondiam coisas uma da outra por amor. Quando tudo foi dito, elas se libertaram de sua dor e medo.

— Gostaria de tê-la ouvido cantar.

Essa memória ocupou a minha mente quando mamãe finalmente cantou para mim. Ela caiu de joelhos pedindo perdão a Gabrielle e a mim, por não ter sido a mãe que eu merecia ter, por não ter escutado minha primeira palavra e nem visto o meu primeiro passo. Implorou para que a deixássemos entrar em nossos corações novamente.

— Eu sei que não é tarde demais. –Já não era tarde demais nem para ela e nem para mim, todos os erros do passado ainda poderiam ser consertados, mesmo que eu estivesse morto agora. Gabrielle a puxou através da cachoeira, que a limpou dos seus erros do passado.

— Mãe. –Era quase como se estivesse renascendo, aquela era a minha primeira palavra para ela.

— Solan. –A primeira palavra dela me deu à luz novamente. Me senti bem quando ela me abraçou e nós admitíamos que nos amávamos. Quando ela voltou para a realidade abraçada com Gabrielle, me senti um verdadeiro guerreiro (e nem precisei de uma espada, como Gabrielle me disse anos atrás), era digno dos meus pais. Quando estava vivo tinha medo de ser muito mole para o filho de Bórias, para vingá-lo. Mas Xena me mostrou que a força do meu pai estava no amor que ele sentiu por nós e em sua alma, não na espada que ele carregava e que eu mesmo carreguei. A força da minha mãe estava no amor que ela sentia por mim e por Gabrielle, não no medo que seu nome infligia nas pessoas por onde ela passava.

Minha mãe seguiu tendo a vida que eu desejei para ela, mas eu ainda tinha mais uma coisa a fazer, escolher se queria ir para os Campos Elíseos ou para o Tártaro. Ri quando Hades me fez essa pergunta, achei que a resposta era óbvia, quem escolheria ir para Tártaro? Eu escolhi, quando Hades me disse que nos Campos Elíseos apenas viveria o mesmo dia, esperando o dia em que minha família viria para casa. Ele me seduziu dizendo que em Tártaro eu poderia ver a minha mãe sempre que quisesse, desejando estar perto dela, aceitei a proposta de ficar em Tártaro.

Não sei quanto tempo se passou até que eu reencontrasse mamãe e Gabrielle outra vez, mas lembro dela me encarando em choque ao dizer meu nome novamente.

— Mãe? –Mal tinha forças para falar, minha boca estava seca e era ruim ficar o tempo todo com os olhos abertos, mas valia a pena para estar com ela. Mamãe pegou seu chakram e me libertou da minha prisão. Lembro do olhar surpreso dela quando lhe disse que tinha escolhido ficar no Tártaro, pois nos Campos Elíseos viveria sempre o mesmo dia, esperando pelo dia em que minha família finalmente estaria em casa. Ela me disse que era assim para que não sentisse falta das pessoas que deixei.

— Se não sentir falta significava não te ver... preferi ficar aqui.  Assim, pelo menos, posso estar com você. –Respondi. Percebi que minha decisão estava fazendo-a sofrer, mas disse a ela para que não chorasse, pois eu escolhi estar ali. Ela disse que me amava por aquilo, mas que não podia me deixar ali, me levaria para onde eu merecia estar e que não podia discutir com ela.

Fui com ela e com Gabrielle, mas na hora de seguir em frente, eu não quis ir, pensei que ela quisesse me levar embora porque estava grávida e logo teria um novo bebê, não precisaria mais de mim. Mamãe disse que pensava em mim todos os dias, me contou sobre seu passado e me disse que mudei a vida dela, porque quando eu nasci, ela soube que não poderia ser tão má.

— Você era uma visão de esperança. É o que sempre será para mim. –Ao ouvir aquilo, soube que mamãe só queria o melhor para mim, então concordei em ir com ela.

Hades nos parou no meio do caminho, mas mamãe e Gabrielle lutaram contra ele e seus amigos. Mamãe e eu nos separamos de Gabrielle, que estava com o elmo da invisibilidade tentando abrir caminho para nós. Ares cruzou o nosso caminho, contava mentiras sobre querer criar minha irmã junto com ela, sobre a amar... mas mamãe não acreditou nele e nós seguimos em frente.

Quando chegamos próximos a uma fenda, mamãe apontou para ela e me disse que eu teria que passar por ela de alguma forma, foi quando Gabrielle tirou o elmo, ficando visível novamente. Mamãe começou a gemer, minha irmã estava mais perto de nascer agora, mas ela não poderia nascer no reino dos mortos, senão seria um natimorto. Hades apareceu outra vez para provocá-la sobre seu desejo de proteger minha irmã e eu. Mamãe teve que pensar rápido para resolver aquela situação, olhando para mim ela pediu para Gabrielle lhe entregar o elmo. Ela me disse para colocar o capacete quando ela mandasse e correr para a fenda, mas antes ela prometeu que nunca me esqueceria e eu como um último gesto lhe dei o que faltava para a minha irmãzinha, um nome.

— Se for uma menina, deve chamá-la de Eva. –Ela sorriu e disse que era uma ótima ideia, depois me abraçou e me beijou dizendo que sempre me amaria.

Fiquei atrás dela como ela pediu, esperando pelo seu sinal. Enquanto o sinal não vinha, fiquei a observando lutar, mesmo grávida ela ainda era incrível, como da primeira vez que a vi lutar para me salvar. Sentiria falta de vê-la assim, mas faria o que ela estava me pedindo.

— Solan, vá! –O sinal veio e eu pus o elmo na cabeça e corri rumo a fenda, como mamãe pediu.

— Mamãe, é você? –Perguntei já de dentro da fenda, esperando vê-la uma última vez. Mamãe sorriu e disse que era ela, lhe perguntei quando viria para casa e ela prometeu que logo viria.

— Nem sentirá minha falta. –Ela estava tocando a parede que existia entre nós, toquei também e sorri ao sentir que minha mãe ainda estava comigo. Ela disse que eu deveria ir agora, a obedeci e fui embora, deixando-a triste como das outras vezes em que teve que me deixar para trás. Minha irmãzinha nasceu e mamãe finalmente teria a chance de fazer por ela o que não pôde fazer por mim, no final ela me disse que nós três sempre estaríamos juntos.

— Vamos ficar juntas agora, Eva. Você e eu e seu irmão, para sempre e sempre. Escutou isso, Solan?  Para sempre. –A escutava com lágrimas nos olhos que o tio dizia que eu tinha herdado dela.

Olhando para trás, vejo que fui burro ao não perceber as coisas. Como Gabrielle brincando sobre dar cambalhotas, querendo dizer que eu tinha herdado os talentos de Xena. Os homens que me sequestraram dizendo que eu era “o calcanhar de Aquiles de Xena”. Eu era inocente demais para notar a criança especial que eu era para os inimigos dela, ou para ela. Olhando agora, ela não parece tão durona como eu pensava que ela fosse.

Ainda me pergunto como seria se eu tivesse entendido todas essas indiretas, não tenho certeza se entenderia os motivos que ela teve para me abandonar, nem o porquê de o tio ter mentido. Talvez eu quisesse ir com ela e ter grandes aventuras, mas estaria fugindo da vida que ela queria para mim. No final a pedra Ìxion serviu para me mostrar que as coisas boas vêm com as ruins.

Isso é passado de qualquer forma, agora quando olho o lago e pergunto para o meu tio como era a minha mãe, ele não desconversa, ele me olha nos olhos e diz “você tem os olhos dela” e sorri, eu sorrio também, porque sei o que isso significa.

Tenho a mãe que ela acredita que eu mereço. Amorosa, gentil e maravilhosa. Ela era divertida, tinha um sorriso como a brisa de verão e uma voz linda como a de Orfeu. Não tenho só os olhos dela e a alma de Bórias. Agora sei que tenho a alma do meu pai e a alma da minha mãe.


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Notas finais do capítulo

É isso pessoal, tem um olho na minha lágrima...
Espero que tenham gostado.
Até a próxima :*.



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