— Ladybug? Bugaboo? – ela parou no telhado de uma construção, de costas para ele. – Ei! Está tudo bem?

— O que você acha? – indagou, porém não de forma rude. Quando virou na direção dele, Chat Noir pode notar que os olhos dela estavam marejados.

— Acho que... Não foi tão ruim assim. – diferente da vez com a Rainha Repórter, pelo menos ninguém tinha sido akumatizado.

— Foi péssimo! Foi horrível! – ela escondeu o rosto com as mãos, a vontade de chorar foi substituída por uma frustração imensa. Chat Noir se aproximou.

— Talvez não seja a melhor hora, mas eu realmente quero entender o que há entre nós. – Ladybug encarou o parceiro entre os dedos da sua mão, que permaneciam cobrindo o rosto – Por que o beijo deu certo? E por que nos beijamos de novo? Mas está tudo bem se não quiser falar sobre.

— Eu não tenho a resposta pra nenhuma das duas perguntas, Chat. – suspirou – Eu já disse que me importo muito com você, só que eu amo outra pessoa. – o loiro assentiu. Ouvir aquilo não o machucava mais, ele tinha plena noção de que mesmo que sua parceira não retribuísse seus sentimentos amorosos, o carinho que sentia por ele era genuíno. Ele só queria entender o que estava acontecendo. — Argh! A minha vida amorosa está sendo discutida por Paris inteira! Isso é terrível!

— É. Mais um dia normal na vida de alguém que é uma figura pública, my lady.

— Você fala como se estivesse familiarizado com isso. – cruzou os braços e encarou o parceiro com um olhar divertido.

— Pra sua informação, talvez eu também seja uma pessoa pública na minha identidade civil. – a garota riu – Eu falo sério. Talvez você até já tenha me visto na televisão.

— Isso é uma surpresa! Mas não acho que tenha visto alguém como você, eu com certeza me lembraria da sua personalidade marcante. – Marinette estava agradecida por Chat Noir fazer com que ela se sentisse melhor. Essa era uma das coisas que mais gostava nele, pois mesmo que às vezes ele fizesse piadas inoportunas, seu senso de humor a divertia muito.

— Vou encarar isso como um elogio, Bugaboo. Mas eu aposto que já te vi em algum lugar, por acaso é modelo? – perguntou em um tom sugestivo e ela riu.

— Não, eu definitivamente não sou famosa. – balançou os braços, negando. Porém logo pensou sobre o dia em que ela e Adrien fugiam do guarda-costas dele e deixaram a mídia um pouco agitada pensando que eles dois eram um casal – Bem, teve uma vez... Algo bobo. Eu estava com um amigo, que é famoso, e então as pessoas nos viram juntos e começaram a surgir notícias de que estávamos namorando. – Marinette suspirou, bem que poderia ser verdade. – Mas era mentira, claro.

— Entendo. Uma vez aconteceu comigo essa mesma situação.

— Acharam que você namorava alguém famoso?

— Na verdade, eu meio que estava do outro lado. – Ladybug o fitou. – Eu quem fiz uma amiga minha ser perseguida, pois achavam que estávamos namorando. Na verdade ela só estava me ajudando com uma coisa.

— Achei que você estava brincando quando disse ser famoso.

— Não, eu falei sério.

— Entendi. – Ladybug e Chat Noir permaneceram encarando um ao outro.

— Sabe que ainda precisamos falar sobre o beijo, não é? – Ladybug cobriu o rosto com a mão novamente. Deseja sumir quando fazia isso. Era muito constrangedor falar sobre o beijo, ainda mais porque as teorias faziam sentido. Nem mesmo ela tinha pensando nisso, em como conseguiu salvar seu parceiro com um beijo de amor verdadeiro.

— Podemos falar sobre qualquer coisa, que não seja isso? – Chat Noir se aproximou e escorou o queixo no bastão.

— Então, eu tenho um outro assunto sobre o qual precisamos falar. – forçou um sorriso e a heroína o fitou – Se, hipoteticamente, eu tivesse descoberto a sua identidade sem querer hoje, você me odiaria? – ela arregalou os olhos.

— Como você... – repassou a conversa que tiveram desde que saíram da casa de Alya, até agora. Analisando tudo que foi dito, Marinette notou que realmente tinha um ponto onde suas vidas se conectavam. Estava tão preocupada com a história do beijo, que não percebeu de primeira.

— Eu disse hipoteticamente. Não quer dizer que eu... – fui interrompido pela mão de Ladybug, que cobriu a extensão do seu rosto.

— Por favor, não olhe para mim agora. Isso é muito constrangedor!

— Por quê? – indagou com a voz abafada pela mão da parceira. Então era verdade? Ela estava praticamente confirmando o que ele achava que tinha descoberto?

Marinette sentia seu coração bater mais rápido, suas mãos suavam por baixo do traje. Se desmaiasse agora mesmo, não seria uma surpresa. Isso não era pra ter acontecido, não assim. Uma ironia do destino, uma grande ironia do destino. Mas ainda assim, do “destino”.

— É claro! Isso explica o beijo...

— Achei que não queria falar sobre isso. – ela permanecia com a mão sobre o rosto dele. Adrien não se mexia, pois temia que se fizesse um movimento brusco ela pudesse surtar e sair dali antes que pudessem terminar a conversa – Será que você poderia tirar...

— Por isso que o beijo funcionou. Porque era mesmo amor verdadeiro.

— O quê? – ele a fitou com os olhos arregalados. – V-Você me ama? – Ladybug retirou a mão do rosto dele, encarando aqueles olhos verdes mascarados, que por tanto tempo eram os olhos do seu amado.

A mão de Ladybug pousou sobre a face do garoto, mas dessa vez não por toda a extensão para cobri-la e sim na bochecha, como um gesto de carinho. Como se o toque definisse se ele era real ou não. O loiro permaneceu imóvel, não acreditando no que tinha escutado. Ladybug o amava? Marinette o amava?

— Chat! Isso é uma catástrofe! Nós descobrimos... Eu... Você... – ele segurou a mão dela, que antes estava em seu rosto e entrelaçou seus dedos aos dela. Ela se calou, encarando as mãos juntas. Parecia tão perfeito. Destino...

Chat Noir depositou um beijo na mão dela. Os dois ainda sem dizer uma palavra, se encaravam um sorriso discreto. Depois de tantas conversas, teorias e discussões, o silêncio parecia perfeito.

Marinette se aproximou e Adrien levou sua outra mão até o ombro, subindo pelo pescoço dela. Ele a segurou de maneira delicada e acabou de vez com a distância dos seus corpos. Os dois estavam com os corações acelerados enquanto encaravam um ao outro profundamente, sérios e próximos. O peito subindo e descendo em uma respiração descompassada. A mente focada somente no que estava à sua frente.

Ele se inclinou primeiro, mas ela o seguiu logo depois. Quando os lábios se juntaram eles se sentiram como os únicos naquela imensa cidade. As únicas luzes iluminando Paris. Apenas a lua e as estrelas testemunhavam seu ato de mais puro amor.

Dois super-heróis, parceiros, amigos, amantes... Só existia eles naquele momento. Por alguns segundos, eram um só. Uma única alma.

Se afastaram com uma sensação esquisita. Um frio na barriga. Depois que estiveram juntos, parecia errado estarem separados.

— Se aquele não foi, esse com certeza foi um beijo de amor verdadeiro. – disse Adrien, fazendo Marinette rir.

— Aquele também foi, Chaton. – eles estavam com as duas mãos dadas, fitando um ao outro com alegria. – De uma maneira esquisita, mas foi. – ela ficou séria por um momento – Eu... Eu sempre tive inveja da maneira como você conseguia expressar os seus sentimentos por mim. Você sempre foi tão direto e sincero, mas eu nunca consegui fazer o mesmo. – Adrien permanecia imóvel, concentrado somente em Marinette e em suas palavras – Eu sempre ensaiei dizer coisas a você, falar sobre o que eu sentia, mas... O fato é que quando fomos forçados a falar sobre aquele beijo, eu...

— Não precisamos falar mais dele, se isso te deixa desconfortável.

— Precisamos sim. – ela suspirou – Por que eu não posso mais esperar, eu preciso dizer que eu amo você. Seja Adrien, seja Chat Noir. – sussurrou a última parte – Eu amo você, não importa o nome, ou as roupas que use. – o loiro sorriu. Era tudo o que ele queria ouvir desde que se conheceram – Mas estou curiosa, por que reagiu tão bem quando descobriu quem eu sou?

— Porque você é incrível! – ela se surpreendeu com o entusiasmo. Adrien respirou fundo – Sua amizade sempre foi muito importante pra mim, Marinette. – disse baixinho, próximo a ela – Eu nunca a via de outra forma, porque você sempre foi tão distante. – ela abriu a boca para protestar, porém ele colocou o dedo sobre os lábios dela, a impedindo – E agora eu sei o motivo. Mas você precisa entender, que saber quem você é por trás da máscara, só a torna ainda mais incrível para mim. – Marinette sorriu, com os olhos marejados. Em termos de estratégia, era perigoso que soubessem suas identidades. No entanto, era tão bom que esse peso não estivesse mais sobre eles – Quando eu dizia que não importava quem fosse a garota que está por trás da máscara, era porque eu sabia que não podia ser alguém diferente do que você é. E eu te amo pelo que você é. Seja como Ladybug, seja como Marinette.

Os dois se beijaram novamente, tornando aquela noite inesquecível. Com certeza seria lembrada como uma da melhores de suas vidas, por mais que não pudessem contar sobre ela para ninguém. Talvez esse fosse um dos motivos que a tornava tão especial, o fato de ser um segredo somente dos dois. Um segredo que poderia ser sussurrado apenas a vento.

— Isso muda tudo, não? – Marinette disse, enquanto suas testas estavam coladas uma a outra e suas respirações, igualmente calmas – Precisamos tomar mais cuidado agora.

— Eu sei, eu sei. – acariciou o rosto de Marinette e depositou um beijo carinhoso na testa dela. – Nós somos a melhor dupla de super-heróis, Bugaboo. Vamos dar um jeito.

— Precisamos ter uma longa conversa ainda. – ela suspirou – Mas eu acho que pode esperar, já tivemos muita emoção por uma noite.

— Concordo. E acho que com isso aprendemos que não é uma boa ideia a gente dar entrevistas. – eles riram – Por outro lado, eu fico feliz que nos fizeram falar sobre o beijo. Caso contrário, não teríamos tido esse momento.

— Tem razão. Amanhã vou conversar com a Alya, preciso pedir desculpas pelo meu comportamento. Depois disso podemos ter a nossa longa conversa.

— Certo. Boa noite, então. Não queremos que você chegue atrasada pra aula mais uma vez. – ela riu e se aproximou. Os dois trocaram mais um beijo de amor verdadeiro – Bons sonhos, Bugaboo. – Marinette sorriu, com o rosto ainda próximo ao dele. Do seu mais sincero segredo.

— Boa noite, Chaton. Acredite, eu terei.