Um estranho no fundo dos olhos escrita por Yokichan


Capítulo 3
Capítulo III




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800560/chapter/3

Marcos passa a maior parte da manhã da segunda-feira em uma angústia silenciosa que se reflete em trabalho atrasado – porque está disperso e acaba tendo que revisar tudo o que faz ao computador – e no fato de que os colegas precisam chamá-lo duas vezes quando requerem sua atenção, até que chega o horário do almoço e ele desce com os demais para o refeitório da empresa. No elevador, Schäfer graceja ao perguntar se ele andou sentindo saudades da comida do refeitório, mas hoje, excepcionalmente, Marcos parece não se importar com a existência do superior ou com o almoço ruim e apenas esboça um sorriso apático.

Todo o seu foco está em encontrar Ana.

Enquanto aguarda na fila do buffet, o jovem aprendiz à sua frente, exultante ao descobrir que há panquecas no menu do dia, Carla e Suzana logo atrás, reclamando sobre o crescimento recente dos casos de dengue na cidade, Marcos lança um olhar perscrutador ao redor. E percebe que é difícil distinguir qualquer rosto no alvoroço em que se encontra o refeitório. Muitas das mesas já estão ocupadas, mas sempre há uma quantidade considerável de gente circulando para lá e para cá, chegando, saindo ou simplesmente conversando no meio do caminho, atravancando a passagem – como se já não fosse complicado o suficiente andar equilibrando prato e copo sobre uma bandeja de plástico.

Quando chega a sua vez de servir-se, ele ainda não avistou qualquer sinal de Ana. Imagina que talvez ela também deteste a gororoba que preparam ali – pensa ao encarar o molho de aspecto duvidoso – e tenha o costume de ir comer em algum restaurante fora da empresa. Decepcionado, mas sentindo que não poderia culpá-la, serve-se de purê de batatas e de panquecas. Passa reto pelos bifes esturricados. Por fim, pesca alguns tomates cereja, folhas de alface e rodelas de abobrinha grelhada.

Ao erguer os olhos para os molhos dispostos na parte de cima, em busca de maionese, Marcos finalmente a vê. Ana está diante dele, do outro lado do buffet, e também o encara. Ela tem os cabelos presos num coque e sorri na sua direção.

— Acho que te conheço de algum lugar. – ela brinca.

Ana serve-se de salada de maionese, então olha para as rodelas de beterraba de um modo pensativo, aperta os lábios por um instante e, por fim, decide passar adiante. Marcos pensa que cada expressão de seu rosto é encantadora.

— De onde seria? Espero que de nenhum evento terrivelmente chato.

Ela ri baixinho, avançando um pouco mais na fila que se movimenta lentamente.

— Chegou bem em casa naquela noite? – ele pergunta enquanto coloca no prato pepinos que não vai comer.

— Sim, apesar de o motorista do Uber ter tagarelado sem parar durante a corrida.

— Deveria haver nesses carros um botão de “não perturbe” que a gente pudesse apertar.

— Sabe que é uma ótima ideia? – ela sorri.

Marcos está a ponto de continuar a conversa quando Suzana, que vem logo atrás, pigarreia baixinho porque ele está obstruindo a fila. Só então ele se dá conta de que há outras pessoas ali e de que elas estão ficando impacientes com a demora. Contrariado, Marcos devolve o pegador de salada ao buffet e despede-se de Ana com um “a gente se vê por aí”. Ao afastar-se, ainda espia na sua direção, mas seus olhos não se encontram mais.

Sentado à mesa e encarando o prato diante de si com alguma estranheza, um prato cheio de pepinos e rabanetes, Marcos se sente tão estúpido que só tem vontade de mandar tudo ao inferno – a empresa, os funcionários e a comida.

***

Ao fim do dia, enquanto as pessoas deixam o prédio da empresa, umas rumo ao estacionamento, outras em direção ao ponto de ônibus do outro lado da rua, Marcos entra no carro e aguarda. Sem tirar os olhos das portas envidraçadas por onde os funcionários deixam o trabalho após o expediente, abre os dois primeiros botões da camisa e gira a chave na ignição apenas o suficiente para poder ligar o rádio. Há um pendrive inserido no painel e a música que começa a tocar é Creep, do Radiohead.

O céu escurece na medida em que nuvens de chuva se aproximam, pesadas e de um azul profundo, trazendo consigo o ar úmido da tempestade. O outono ali é caracterizado por dias molhados, mas também por um tempo que vira rápido, de uma hora para a outra. Não é raro encontrar um arco-íris sobre a cidade depois de muita água e trovões, mas agora as sombras se adensam e os carros passam manobrando com os faróis acesos mais cedo que o de costume.

E Marcos espera por Ana, por uma chance de vê-la, de observá-la de longe. Quer saber tudo sobre ela – que caminhos ela faz, de que modo e com quem, onde mora. Está abrindo o porta-luvas para pegar uma bala de hortelã que acha que ainda está ali quando a vê andando com Jana. As duas seguem para a parte mais lateral do estacionamento e entram em um Celta vermelho meio sucateado que, aparentemente, pertence à Jana, já que ela se senta ao volante. Marcos distingue o rosto sorridente de Ana através do para-brisa do Celta enquanto Jana matraqueia qualquer coisa e puxa o cinto de segurança.

Instantes depois, ele as vê passar e deixar o pátio da empresa. Não consegue evitar uma ponta de frustração por tê-la perdido de vista tão cedo, e imagina se ela vai embora de carona com Jana todos os dias. Talvez as duas morem próximas uma da outra. Se for assim, não há muito o que ele possa fazer – sente que é arriscado seguir o carro de Jana. Contudo, Marcos tem consciência de ser um cara persistente e decide que vai tentar de novo amanhã.

Thom Yorke já não canta mais e os primeiros pingos de chuva começam a cair sobre o vidro quando Marcos, enfim, dá a partida no carro e deixa o estacionamento.

***

De fato, no dia seguinte, ele tem mais sorte.

Ana está sozinha ao sair da empresa e tomar o rumo do ponto de ônibus. Enquanto caminha, ela remexe o interior da bolsa até encontrar um cartão que coloca no bolso de trás do jeans. Então ajeita melhor a alça da bolsa sobre um ombro e acelera o passo ao perceber que o ônibus já vem descendo a rua. Marcos pensa, ao ligar o carro e manobrar para fora da vaga, que não conseguiria perdê-la de vista entre uma multidão mesmo se tentasse. Em comparação às figuras apagadas que transitam por ali e que aguardam no ponto de ônibus, Ana é como um sopro de vida.

Ele penetra no fluxo do trânsito logo depois de o ônibus em que Ana está ter passado diante dos portões da empresa. Marcos segue o percurso do ônibus com uma obstinação tensa, atento a quem sobe e a quem desce dele a cada parada. Pragueja contra os sinais vermelhos que o distanciam do ônibus e contra as pessoas que atravessam a rua às pressas diante do carro. Pensa que por isso acontecem tantos acidentes com pedestres naquela maldita cidade.

Entra na avenida paralela à rua central e segue por ela até quase o fim, quando o ônibus dobra em direção ao bairro universitário. O dia é agora apenas uma penumbra violácea, especialmente ali, onde as sombras das árvores na beira das calçadas tremulam à passagem de cada farol. Na medida em que o ônibus vai penetrando mais fundo no bairro e o movimento de veículos e pedestres vai escasseando, Marcos afasta-se um pouco. Não quer que Ana desça do ônibus e dê de cara com o carro. Uma decisão que se mostra prudente, pois ela desembarca no ponto seguinte.

Ele cogita continuar seguindo-a de longe, mas acaba estacionando junto ao meio-fio ao vê-la parar diante de um prédio. A luz de entrada se acende automaticamente e ele a observa procurar as chaves na bolsa. Marcos lê o nome do edifício na parede que se ilumina – Residencial Mohr – e então tudo retorna a uma semiescuridão silenciosa quando Ana entra e a porta bate às suas costas. O prédio, de aparência modesta e um tom que, àquela hora, Marcos não consegue discernir se é bege ou amarelo, possui quatro andares de apartamentos e um coqueiro mirrado na entrada.

Depois de um tempo inclinado sobre o volante, ele vê uma janela do terceiro andar iluminar-se. O interior está oculto por uma cortina fina, e logo uma silhueta atravessa o campo de luz apenas o tempo suficiente para baixar as persianas. Marcos deixa-se cair contra o encosto do banco com um suspiro profundo, com ares de extenuado, mas também satisfeito. Agora sabe um pouco mais sobre ela e é como se estivessem mais próximos, compartilhando um momento precioso.

Marcos fecha os olhos e imagina se Ana também pensa nele.

***

Ao longo do resto da semana, Marcos se contenta em trocar olhares com ela durante o almoço no refeitório da empresa – que continua detestando, aliás, mas que passa a suportar com uma intrepidez silenciosa. De longe, ela sorri e acena timidamente na sua direção, um cumprimento que faz o dia de Marcos valer a pena, e ele sorri de volta. Vasculha a mente em busca de uma ideia que possa resultar em um encontro de verdade, mas não consegue pensar em nada que não pareça tosco ou forçado. Também não a segue mais na saída do trabalho, visto que já sabe onde ela mora e que isso, às vezes, lhe parece um tanto criminoso. Contudo, varre a culpa para o fundo da consciência, pois julga que seus motivos são totalmente inofensivos.

Na sexta-feira, entretanto, parece vislumbrar uma oportunidade e sente-se tomado por uma nova onda de esperança. Ao término do almoço, tendo percebido que Ana e outra funcionária estão conversando junto à bancada do café, muda sua rota até a lixeira mais distante – ignorando que poderia jogar os restos do almoço na que havia então ao seu lado – para poder passar perto dela. Entre o cumprimento rápido que trocam, ele apanha pedaços da conversa das duas e compreende que estão falando sobre uma feira de rua. Ana diz que vai à tal feira todos os sábados e que as verduras são baratas.

Quando enfim despeja o conteúdo da bandeja no lixo, Marcos já sabe o que fazer.

***

No dia seguinte, às 6hs da manhã, ele estaciona próximo da feira de rua – a fachada informa “Feira Municipal de Orgânicos” – e observa os feirantes abrirem suas bancas. Com os vidros fechados, ele bebe mais um gole do café que comprou na loja de conveniência do posto de gasolina e devolve o copo térmico descartável para o descanso entre os bancos. Usando tênis, calças de moletom e uma camiseta simples, Marcos sente-se um tanto estúpido por ter perdido tempo considerando que roupas seriam mais adequadas para uma ida casual à feira. Sente-se mais estúpido ainda por estar ali, àquela hora da manhã, para comprar verduras e legumes – quando, na verdade, só quer encontrar uma garota.

Ele espera estar no lugar certo e que Ana realmente apareça. Na noite passada, pesquisou na internet a feira mais próxima da casa dela, porque, aparentemente, existem algumas espalhadas pela cidade, nenhuma das quais ele tenha visitado algum dia. Em sua pesquisa, ficou sabendo também que as feiras funcionam das 6hs até o meio-dia, então está determinado a ficar ali a manhã inteira, se necessário. Não faz ideia do que acabará comprando ali, mas pensa que algumas cebolas e um pé de alface está de bom tamanho.

No rádio, o locutor da estação local anuncia as propagandas de praxe – “desconto na revisão anual do seu carro na MD Pneus”, “Lojas Lebes, vestindo com amor, com promoção em toda a linha de inverno” e “Farmácias São João, sua referência em medicamentos e cosméticos” – e informa que o fim de semana será de tempo firme e temperaturas amenas. Marcos boceja, sacode a cabeça para espantar o sono e termina com o café. Não quer que Ana pense que ele acabou de acordar.

São quase 8hs quando Marcos, entretido ao espiar o que as pessoas estão comprando nas bancas, avista a figura esguia de Ana se aproximando pela calçada. Ela usa um vestido azul escuro folgado, amarrado na cintura, e sandálias rasteiras. Traz uma sacola grande de tecido em uma mão e uma bolsinha pequena na outra, do tipo que se usa para guardar moedas. Ele acha aquilo tão simplório e, ao mesmo tempo, adorável. E, contemplando seus gestos, seus movimentos e sua fisionomia, quase se esquece de que precisa ir até lá.

Ana já está escolhendo cenouras em uma das bancas no momento em que Marcos começa a passear sob os toldos da feira, falsamente interessado aos produtos expostos. Uma feirante pergunta-lhe se ele vai levar os molhos de couve em que está mexendo e Marcos responde que vai ver as outras bancas primeiro. A mulher fita-o com um olhar azedo enquanto ele se afasta. Ana agora está conversando com o dono de outra banca, apontando para um pacote pequeno de aipins, e Marcos compra meia dúzia de cebolas roxas no caminho que vai fazendo lentamente até ela.

Quando resta apenas uma banca entre eles – ele pode ouvi-la perguntando ao feirante se as laranjas estão doces –, Marcos eleva propositalmente a voz ao indagar da mulher atrás da bancada quanto custa o pé de alface. Então sente que Ana o está encarando, porque interrompe o que estava dizendo, e espera nervosamente que ela o chame.

— Não acredito. – ela começa, e só então ele a olha. – Por que parece que agora nos encontramos a toda hora?

— É tão surpreendente assim que um cara venha à feira comprar orgânicos numa manhã de sábado? – ele graceja.

— Sim! Quer dizer, não... – ela sorri desconcertada. – É que nunca te vi por aqui antes.

— Talvez porque ainda não nos conhecêssemos, não tenhamos reparado um no outro. – ele sorri.

A feirante tosse baixinho e repete, com um pouco mais de ênfase, que o pé de alface custa 1 real, já pegando a hortaliça e perguntando se “o moço” gostaria que colocasse em uma sacola. Sem desviar os olhos de Ana, que agora reduz o sorriso surpreso a uma expressão suave de afeto, ele assente e pega o dinheiro no bolso das calças. Quando a mulher lhe entrega a alface e o troco, eles naturalmente passam a andar juntos. O mais correto seria dizer que, enquanto Ana continua suas compras, Marcos a acompanha.

— Tu parece mais novo sem aquela coisa social do trabalho.

— Entendo. – ele diz após dar uma olhada nas próprias roupas. – Por isso tu ficou tão surpresa. Achou que meu guarda-roupas só tinha ternos e gravatas.

— Não é isso... – ela sacode a cabeça, achando graça. – Fiquei surpresa de te ver aqui.

— Comprando comida saudável?

— É. – ela dá de ombros.

— Isso não faz sentido.

Os dois riem e Ana para em outra banca para comprar rúcula. Por acaso, é a mesma banca da feirante que não gostou do fato de Marcos ter bagunçado suas couves e ido embora sem levar nada. Ele finge não reparar no olhar hostil que ela lhe dirige. Enfim, Ana paga pela rúcula e eles continuam a peregrinação pela feira. Marcos se oferece para carregar a sacola de pano onde ela vai colocando tudo o que compra e Ana concorda, agradecendo com um sorriso.

— Então, tu mora por aqui? – ela questiona.

— Perto do clube de tênis.

— Sei. – e depois de pensar um momento: – Não tem uma feira por lá?

— Tem. – ele admite e emenda com uma mentira. – Às vezes compro lá também.

— E tu veio até aqui pra comprar tudo isso? – Ana brinca, apontando para as sacolas dele.

Marcos olha para as cebolas e a alface, parecendo miseráveis e delatoras, e sente-se ridículo por não ter se dado conta da lógica falha de seu argumento. Acaba recorrendo à saída mais fácil e apenas desconversa.

— Tu é sempre assim? Querendo saber de tudo?

— Ok, ok. – ela sorri e ergue as palmas das mãos como em sinal de paz. – Me desculpa.

— Com uma condição.

Ela desiste de averiguar o estado das abóboras e o encara em silêncio, esperando. Marcos pensa divisar um brilho de desafio naqueles olhos, algo muito sutil encoberto pelo acanhamento característico, e esforça-se para controlar o impulso de beijá-la. Por fim, refaz-se do atordoamento e vai direto ao ponto.

— Vamos usar juntos aquele ticket de desconto no Subway.

— Como tu sabe que eu já não usei?

— Eu não sei.

— E então?

— Mesmo se tiver usado, o convite ainda está de pé.

— Achei que fosse uma condição. – ela franze o cenho.

— É uma condição disfarçada de convite então. – ele dá de ombros.

E esconde as mãos nos bolsos das calças como se quisesse esconder o nervosismo que o assalta naquele momento. Por fora, sustenta uma expressão confiante de quem gosta de mexer com fogo e não tem medo de queimar-se, enquanto que, por dentro, o sentimento que impera é o medo de um “não”, da decepção e da dor de ter o coração partido. No fundo, ele sente que é só um menino perdido no escuro.

— Tudo bem. – Ana acaba dizendo. – Me dá teu celular. Vou te passar meu número.

Marcos atrapalha-se com as sacolas enquanto tenta tirar o celular de um dos bolsos, até que alcança o aparelho e consegue entregá-lo para Ana. Durante o tempo em que ela salva seu número na agenda de contatos dele, Marcos xinga-se mentalmente pelos dedos trêmulos no momento em que estendeu o celular na direção dela. Naquele instante, naquele estranho espaço de tempo em que Marcos tem a impressão de ter sido deslocado do mundo real e que dura apenas um segundo ou dois, ele intui que está fazendo tudo errado e sente-se mal por isso. Não compreende a totalidade do erro, ou talvez não queira, mas sabe que não era assim que as coisas deveriam acontecer.

Contudo, quando Ana lhe devolve o celular, ele engole aquele nó na garganta e a sensação vai embora. Ela sorri, ele é um cara feliz e está tudo bem outra vez.

— Pronto. E agora acho que já vou indo.

— Eu te dou uma carona. – ele apressa-se em dizer.

— Ah, não precisa. – Ana dá um tapinha no ar. – Moro pertinho.

— Não seja boba. Olha o peso dessa tua sacola. Vai acabar deslocando um ombro.

Ela solta uma risada que, do ponto de vista de Marcos, é semelhante ao vapor quentinho do café em um dia chuvoso, e acaba concordando quando ele insiste mais uma vez. Atravessam a rua e, aproximando-se do carro, Marcos destrava as portas com um clique. Ana entra e acomoda-se enquanto ele guarda as sacolas no porta-malas, para então tomar seu lugar ao volante. Ele nota que ela observa o interior do carro em silêncio e sente-se um tanto embaraçado pelo copo de café sujo e pelas demais pequenas bagunças.

Está tão alvoroçado pela presença de Ana ali, por mais que tenha desejado aquele momento, que dá a partida no carro sem lembrar-se de perguntar onde ela mora, ou seja, de fingir que já não tem conhecimento disso. É apenas depois de terem passado o semáforo e tomado a direção da casa dela que Ana chama-lhe a atenção para o fato.

— Tu não está esquecendo de uma coisa?

— O quê?

— De perguntar onde eu moro.

— Ia perguntar agora. – enquanto dirige, Marcos pensa que é uma sorte não precisar encará-la naquele momento, pois certamente ela notaria uma sombra de desespero passando por seu rosto. – E então?

Ana explica como chegar até seu prédio, um relato minucioso que inclui até mesmo o coqueiro, e Marcos assente. A voz dela o acalma e o faz retomar o controle sobre si. Observa discretamente o modo aparentemente distraído como ela olha para fora através do vidro e entende que, na verdade, ela não sabe como se portar ali. Uma falsa indiferença para ocultar o constrangimento de estar na companhia de um estranho. Numa tentativa de quebrar o silêncio embaraçoso, Marcos brinca ao dizer que Ana daria uma ótima navegadora de bordo, e fica satisfeito ao notar que ela sorri.

Em frente ao Residencial Mohr, ele entrega-lhe a sacola de compras e despede-se com a promessa de que mandará uma mensagem sobre a ida ao Subway. Em contrapartida, ela promete que vai esperar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um estranho no fundo dos olhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.