All too well escrita por Rose blu


Capítulo 1
i remember it all too well


Notas iniciais do capítulo

Olá, essa one-shot foi escrita para o projeto Delacour's Month, de fics sobre a família Delacour, espero que gostem, O significado das frases em frânces estão nas notas finais :)



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14 de janeiro, 2021

Fleur se levantou para fechar novamente a janela, o inverno ainda demoraria a acabar, mas naquela tarde o sol havia aparecido um pouco mais criando um pequeno calor inesperado que alegrou a francesa, ela havia gostado de deixar a janela aberta um pouco enquanto trabalhava em sua mesa, a pior parte do inverno era estar frio demais para que deixasse o ar circular pelo pequeno quarto na casa da irmã e algumas amigas dela que ela atualmente ocupava.

Gostava de Paris, havia crescido em uma pequena cidade há duas horas da cidade luz, mas com Gabrielle tendo se mudado para Paris anos antes, Fleur não pode evitar as visitas e refrear o carinho inesperado por aquela cidade enorme, e agora, Paris havia se tornado seu refúgio nos últimos dois meses em que Londres se assemelhava demais com Bill.

Idiota.

Ela havia criado uma vida na Inglaterra, estudou lá no final de sua adolescência, cursou letras lá, fez amigos e publicou seu primeiro livro lá, e agora por causa da merda de um coração partido não queria jamais pisar lá novamente, já que com a forma que a família Weasley era gigante ela não duvidava que daria o azar de cruzar com um deles assim que descesse de um avião em terras britânicas.

— Fleur, mon cœur, veux-tu sortir avec moi?¹ - a mais nova das Delacour gritou da sala de estar do apartamento.

— Pas Gabi, vous pouvez aller déjeuner avec vos amis. Je vais écrire.²

— N’importe quoi m’appelle.³

Fleur ouviu alguns passos e então escutou a porta da frente bater sabendo que sua irmã havia saído. Caminhando até seu computador, Fleur abriu um documento, faltava apenas um capítulo, ela podia terminar aquele livro.

Era vergonhoso escrever um livro inteiro sobre um relacionamento que acabou? Foram três anos de uma história que Fleur não achou que iria acabar, mas agora analisando, talvez compreendesse, talvez fizesse mais sentido, mas como eles se perderam do riso envergonhado enquanto Bill a convidava para ir ao primeiro encontro deles em um cinema para aquela ligação?

01 de julho, 2018 - primeiro encontro de Bill e Fleur

Bill e Fleur andavam um ao lado do outro na rua, Marietta Edgecombe, uma amiga em comum na faculdade os haviam apresentado e o ruivo a chamou para o cinema. Ele a buscou em casa e dirigiu até o cinema, foi uma noite legal de sussurros entre as cenas e dividindo uma pipoca, Fleur suspirava agora andando ao lado dele até o carro.

— Você já sabe onde vamos jantar? — ela perguntou atrás de algum assunto que preenchesse o silêncio constrangedor que se instalou.

— Depende, gosta de comida tailandesa?

— Nunca experimentei.

— Então será um prazer te apresentar, acho que vai gostar do restaurante.

Fleur alisou nervosamente a saia de seu vestido e quando largou a mão novamente ao lado do corpo sentiu os dedos de Bill se entrelaçando aos seus.

Então ele fez um pequeno carinho na mão dela com seu polegar e levou seus dedos aos lábios para depositar um beijo, enquanto seus olhos azuis brilhantes a encaravam.

— Talvez eu estivesse esperando a noite inteira para que você segurasse minha mão — ela comentou distraidamente.

— Talvez eu estivesse esperando a noite inteira para fazer isso. Fiquei com um pouco de vergonha no cinema — ele coçou a nuca enquanto suas orelhas ficavam vermelhas.

Quem olhasse para William Weasley nunca acharia que ele seria capaz de ficar com as orelhas vermelhas de vergonha, nem mesmo Fleur imaginava isso, mas ali estava ele com vergonha de segurar sua mão, e isso era adorável.

— Ainda está com vergonha?

— Depende.

— De que?

— Do que você falaria se eu falasse que quero lhe beijar agora.

— Falaria para você me beijar - a loira disse sussurrando.

Então se inclinando, Bill encostou suas testas, erguendo a mão que não estava entrelaçada a dela para fazer um leve carinho na bochecha da francesa. O clima o dia inteiro estava agradável, não fazia muito calor, mas as mãos de Bill estavam quentes e aquele pequeno carinho na bochecha esquentou um pedacinho especial do coração dela em antecipação.

Se pondo na ponta de seus dedos, Fleur se inclinou para frente para que sua boca alcançasse a dele, e um pequeno e doce beijo se iniciou. A Delacour ergueu a mão livre para o peito do Weasley buscando apoio enquanto se inclinava mais ainda para frente enquanto a língua dele pediu passagem para boca dela, e o beijo dele fez com que ela tivesse vontade de levantar a perna como se fosse a própria Mia de “o diário da princesa”, se sentindo novamente uma adolescente bobinha com um beijo.

 

26 de dezembro, 2018 - dia que Fleur conheceu a família Weasley

 

Bill estava nervoso, ele estava suando frio, mas nada disso se comparava a Fleur e a forma com que ela tremia, suas mãos eram a única coisa que realmente se moviam enquanto o resto da loira parecia travada no assento do motorista.

Era 26 de dezembro, ela não havia conseguido passar o natal junto a Bill já que sua família havia vindo a visitar, mas o ruivo havia a chamado para passar o dia seguinte com a família Weasley que estava na festa anual de natal, esse ano realizada na casa de Ginny, a irmãzinha mais nova dele, que morava com o namorado Harry. Não parecia grande coisa, tirando o fato de que a francesa não conhecia a família do namorado, estavam realmente juntos a menos de dois meses e ele parecia tão feliz e disposto a incluí-la nos Weasleys que pareceu uma ideia incrível na hora.

Mas e agora? E se os pais dele o odiassem? E se todos eles odiassem franceses? Eles com toda certeza odiavam os franceses, e irão odiar ela.

— Pronta? — Bill disse tirando o cinto e sorrindo para ela.

— Mon amour, você não pode...

— Garantir? — ele a interrompeu com um sorriso zombeteiro no rosto — Posso sim, e estou garantindo, vai dar tudo certo. De novo, está pronta?

— Não vou ficar mais do que isso.

Então nervosa, Fleur tirou seu cinto e destravou a porta do carro. O vento frio atingiu seu rosto, o que foi bom para despertá-la um pouco do nervosismo.

Bill andou até ela e ajeitou o cachecol azul que usava, então enrolando seu braço pelos ombros dela, a guiou até a portaria do prédio.

O porteiro apenas sorriu em reconhecimento para ele, no elevador, o ruivo a abraçou por trás permitindo que ela pudesse encostar a cabeça em seu peito enquanto respirava fundo. 

— George está com a Angelina, você já conhece eles e o Fred, pode se agarrar a isso se quiser. Charlie veio da Romênia e está ansioso para te conhecer, ele também morou na França por um ano, Percy não costuma falar muito, mas se você falar sobre seus livros, ele vai ficar empolgado. Ron trouxe a Hermione, eles começaram a namorar agora, mas a conhecemos desde sempre, eles são um trio com o Harry, o assunto sobre livros também é super seguro.

— Harry que está com a Ginny, correto?

— Exato.

— E seus pais? — ela perguntou, então sentiu o aperto ao redor de si aumentar e ele beijou sua têmpora.

— Mamãe estava animada para conhecer você, eu falei de você, sei que ela vai gostar de você. Meu pai já te adora, lembra que vocês falaram pelo telefone no mês passado?

— Mas foi por uns 10 minutos só, apenas porque você foi tomar banho e me pediu pra atender seu pai.

— Vai dar certo.

Então o elevador parou no andar de Ginny, e a loira respirou fundo se deixando guiar enquanto Bill se afastava para segurar sua mão e a guiar até o 7C, o apartamento da caçula dos Weasleys.

Sem cerimônia alguma Bill abriu a porta e começou a tirar o sobretudo pesado que usava por conta do frio, e mais uma vez Fleur deixou que ele tirasse o casaco dela e o cachecol, os pendurando ao lado da porta.

— Chegaram? — uma voz feminina se aproximou, era uma mulher morena de cabelos cacheados volumosos e olhos brilhantes que pareciam a analisar.

— Olá Hermione — ela viu seu namorado se aproximar e dar um beijo na testa dela — Quero que conheça a Fleur.

— É um prazer — a loira esticou a mão para a morena que a olhou por um instante antes de aceitar o comprimento e sorrir um pouco.

— Prazer, Hermione Granger. Bem-vinda a família.

Bill não se demorou muito ali e logo eles estavam indo para a sala de estar, a Delacour se sentia uma bonequinha sendo levada de um canto para o outro, mas quando encarou a senhora ruiva que tricotava, ela sabia que era tudo para aquele momento.

Ela estava de frente para Molly Weasley, e tudo que importava era se aquela mulher iria gostar dela, porque Fleur era completamente apaixonada pelo filho dela, então ela precisava que a mulher gostasse dela.

Logo a ruiva parou sua atividade e a encarou, os olhos doces de quem criou e amou 7 filhos, e que estava vendo cada vez mais pessoas para cuidar se dirigiram à ela. E quando percebeu, estava em meio ao abraço dela, a mão ainda entrelaçada a de Bill, e quando o namorado apertou levemente sua mão, ela sabia que tinha sido um bom primeiro passo.

 

29 de outubro, 2019 - primeira viagem de carro juntos

You felt the weight of the world fall off the shoulder, and to your favorite song we sang along, to the start of forever — Bill cantava a plenos pulmões enquanto dirigia, os dedos batucando no volante e os olhos presos na estrada.

Fleur ria em um estado de plena felicidade, a paisagem do interior do norte da Inglaterra sendo apenas um borrão na memória de alguém que cantava junto ao rádio do carro, principalmente na primeira viagem juntos de Bill e Fleur.

And after all this time, I'm still into you — Fleur continuou a letra.

I should be over all the butterflies but I'm into you, I'm into you, and even baby our worst nights, I'm into you, I'm into you — eles cantaram em uníssono.

Então um barulho a assustou, tirando Fleur do torpor da canção que sumiu e então o carro parou. Bill girou a chave e a tirou da ignição, então colocando novamente e tentando fazer com que ligasse, então olhando para o nível de gasolina e xingando.

— Acabou a gasolina — ele anunciou encostando a testa no volante.

— Eu falei pra você abastecer duas horas atrás quando a gente passou pelo que parece ser o único posto de gasolina por aqui.

— Me desculpa, tá?

Fleur tirou o cinto de segurando, se esticando para pegar a bolsa no banco de trás. O resto das malas estava no porta-malas, então pegou apenas a bolsa, saindo do carro ela pegou seu telefone.

— Mon coeur, volta aqui, por favor — Bill disse desesperado saindo do carro — Me desculpa, eu devia ter te ouvido, volta pro carro.

Ela não o incarou por um instante, então levantando o olhar.

— Voltar porque?

— Não fica brava.

— Eu não tô brava — ela disse cruzando os braços.

— Não? — o ruivo a encarou confuso, vendo enquanto ela balançava a cabeça dizendo que não — Então porque pegou sua bolsa e saiu do carro?

— Eu fui pesquisar, tem um posto de gasolina a uma distância de quase 3 quilômetros, se a gente trancar o carro, pode tentar ir até lá conseguir gasolina. Só isso.

— Ah.

— Pareceu mesmo que eu tava brava?

— Talvez eu só tenha me desesperado um pouco — Bill disse coçando a nuca.

Fleur se aproximou passando os braços por seu pescoço, o puxando mais para perto.

— Eu não estou brava, seu boboca — então deixou um selinho rápido em seus lábios, antes de se afastar — Vamos logo, quanto antes formos, podemos voltar e saímos daqui antes de anoitecer, vai ser pior o carro ficar aqui de noite.

— Ok, antes só vamos fazer isso aqui.

Então segurando a cintura da loira ele a puxou novamente para um beijo, os lábios macios dele contra os seus era um paraíso, e quando as mãos dela subiram para o cabelo dele, ela se sentiu em casa, Bill havia se tornado como seu lar.

Ela estava definitivamente ferrada.

 

 

 

14 de janeiro, 2021

Fleur encarou a página pela metade, havia avançado bem no final da história antes de se perder em meio às memórias, ele havia marcado todo um país ao lado dela. Londres sempre a lembraria dos anos juntos desde o primeiro beijo até eles carregando caixas para o apartamento que alugaram juntos, até as partes da Inglaterra que ela nunca morou seria uma lembrança, em cada viagem, em cada fim de semana preguiçoso que viajaram para praia e nas visitas para “a toca”, a casa onde ele cresceu em Surrey.

Uma de suas favoritas foi quando ela conheceu a toca.

Quando eles iriam passar as férias de verão com os pais dele e ele quase avançou um sinal vermelho porque passou um instante a mais do que devia a encarando enquanto dirigia, quando pararam à beira da estrada porque ela viu uma família de coelhos e ele insistiu que eles poderiam tentar fazer carinho e em todas as fotos que Molly havia mostrado a ela.

Pegando seu telefone a loira se permitiu procurar as fotos que havia tirado dos álbuns da infância de Bill, de quando ele usava óculos quando tinha 6, ele na primeira cama, nos times de futebol, segurando e abraçando os irmãos mais novo, cada memória que Molly e Arthur haviam compartilhado com ela enquanto eles comiam biscoitos e tomavam chocolate quente ao lado da lareira em um sábado a noite, as bochechas de Bill corando de uma forma tão adorável.

Na noite que eles voltaram ele a abraçou antes de entrarem no carro e disse que ficou feliz da mãe lhe contar sobre o passado dele, pois ela era seu futuro.

Agora achava que ela havia perdido aquele posto.

 

 

07 de abril, 2020 - dia de boas notícias

Bill havia avisado que chegaria mais tarde do trabalho, trabalhar com os gêmeos estava sendo algo maior do que ele achava a princípio, então ela concordou em não esperá-lo acordada. Mas o e-mail que havia recebido quando ia dormir não a deixava dormir, se revirava na cama ansiando para o momento que o ruivo voltaria para o apartamento deles para que ela pudesse contar as boas novas para ele.

Por fim, ela decidiu ir até a cozinha fazer um pouco de leite morno para tentar dormir, já que era quase meia-noite. A porta da frente foi aberta ao mesmo momento que ela abriu a da geladeira, e os passos de Bill se aproximando se assemelhavam às batidas do coração dela, finalmente poderia falar com ela.

— Mon coeur? Ainda acordada? — o homem deixou uma mochila em cima da mesa e se aproximou para abraçá-la.

— Decidi ficar acordada um pouco mais, queria conversar com você.

Ele a beijou por um instante antes de a olhar preocupado, todas as luzes estavam apagadas, eles eram iluminados apenas pela fraca luz da geladeira ainda aberta, o que fazia os olhos dele brilharem, e erguendo as mãos para segurar seu rosto, ela achou que o namorado nunca esteve tão belo.

— Eu consegui, Bill?

— Conseguiu?

— Eu vou publicar “O código de Amélie”, uma editora amou. Eles querem marcar uma reunião.

— Isso é sério?

— Sim.

Então ela se sentiu ser levantada do chão enquanto Bill a abraçava apertado e a girava pela cozinha, alegria era o único sentimento existente no mundo, e nada importava além do orgulho que ele sentia dela, que ela conseguia sentir emanando dele enquanto ele distribuía beijos em suas bochechas e a girava pela cozinha.

Quando sentiu o chão gelado sob seus pés descalços novamente, Fleur foi girada novamente, então puxada mais para perto para uma dança desengonçada por conta da má iluminação que os fazia bater nos balcões e na mesa.

— Você merece um presente por isso — ele disse de repente.

— É mesmo?

— Uhum. Eu ia guardar para outra ocasião, mas isso importa mais.

Bill se afastou até sua mochila e puxou de dentro um porta retrato, quando os dedos se fecharam contra moldura dourada ela teve que forçar a vista para enxergar bem, mas era nítido o que era, um desenho dos dois.

— Você nos pintou?

— Claro que sim. Você é a coisa mais preciosa que eu já tive o prazer de ter na minha vida, a única coisa real que já conheci. Eu te amo, Fleur.

— Eu também te amo, Bill. Muito obrigada — ela disse abraçando o porta retrato enquanto uma lágrima escapou de seus olhos.

Um desenho de aquarela de ambos em um momento simples e belo como aquele, ambos na praia em algum fim de semana, o mar azul os cercando, igual a foto que ela amava ter tirado, agora ele também havia pintado aquele momento.

 

 

14 de janeiro, 2021

As coisas entre eles sempre haviam sido simples e fáceis, aquilo era o que tornava tudo especial, a forma como era fácil ser compreendida por ele.

Largando seu telefone e as fotos dos dois ela encarou novamente a página escrita pela metade. Ele havia a compreendido quando disse que sonhava ser escritora, quando ele a acompanhou em sessões de autógrafos, ela o compreendeu em cada viagem de trabalho dele que conversavam a noite inteira por mensagens e ele parecia feliz em ajudar os irmãos, compreendia a paixão dele por pintar.

Ele a compreendeu quando ela decidiu escrever em Paris seu mais novo romance, eles continuaram a conversar todos os dias, mas em algum momento, ela não necessitava ligar para ele a cada minuto do dia, não necessitava que ele a abraçasse para dormir uma noite inteira, ela percebia que havia conseguido viver uma vida sem Bill sempre ali, mas doía lembrar que não era um pequeno término como eles haviam vivido antes, em que eles se esqueciam porque haviam decidido esquecer um ao outro, dessa vez era para valer.

Eles sabiam exatamente porque haviam terminado.

 

02 de novembro, 2020 - o dia do fim

 

— Gabi decidiu me levar para uma festa com universitários, eu me senti uma idosa no meio deles — Fleur terminava de contar sobre o fim de semana.

Bill havia viajado há apenas um dia quando ela foi para França ficar uma das semanas do recesso com a caçula, sentia falta dessa interação. Mas sentia mais falta de Bill, sentia que estava sentindo falta do namorado há um bom tempo já.

— Então que péssimo pra mim que sou mais velho.

— E como está Nova York? Você volta amanhã, né? Talvez eu consiga mudar meu voo e te encontrar em casa em 2 dias. 

— Aqui tá legal. Mas talvez eu tenha que ficar mais um pouco.

— Deu algum problema na filial da loja?

— Só um carregamento que atrasou, nada grande.

— Minha vida, isso sempre acontece em Londres e você diz que não foi nada, tá tudo bem mesmo?

— Acho que não vou conseguir voltar para Londres tão cedo — o ruivo sussurrou por fim, como se tivesse medo das próprias palavras.

— Por quê? — Fleur indagou no mesmo tom de voz, como se algo mais alto fosse quebrar o momento.

— Sinto sua falta... E faz muito tempo que sinto ela.

Então ela suspirou, como se ele pudesse ter lido e colocado em palavras suas ressalvas. 

— Eu também. 

— Fleur, tem certeza que isso vai dar certo?

— O que?

— Nós dois.

— O que você quer dizer, Bill? — a loira engoliu um soluço, sentindo que as lágrimas estavam se aproximando, a voz do namorado parecia quase chorosa quando ele continuou.

— Nós nos perdemos, eu acho, eu passo muito tempo na loja, eu comecei novos projetos e com a minha família. Você está na França feliz com a Gabi, tendo ideias incríveis para o seu livro. Talvez a gente tenha crescido para fora da caixa do nosso relacionamento.

— Mas isso não é ruim, não é?

— Não...

— Mas talvez a gente não saiba funcionar fora dessa caixinha? C’est ce que tu as à me dire?

— Amour...

Ela queria gritar, aquele apelido carinhoso, dito naquele momento o fazia querer explodir.

— Vous pourriez au moins essayer.4

— Fleur fale devagar, você sabe que eu não entendo quando fala rápido em francês, o meu francês não é tão bom assim - Bill disse cansado, mesmo pelo telefone Fleur conseguia imaginá-lo, dois dedos pressionando a parte do nariz entre seus olhos e as olheiras que talvez ele carregasse pelo fuso horário.

— Mas nem se eu falasse em inglês você me entenderia, você parece não saber mais fazer isso — ela disse igualmente cansada, ela estava exausta, e não era de agora.

A loira deslizou o telefone para fora de sua orelha, as lágrimas começando a tomar seu rosto e sabendo que aquela ligação estava terminando tudo, quando eles haviam se tornado isso? Quando se perderam?

— Fleur... — ele sussurrou do outro lado da linha, mas ela não o escutou.

Então ela desligou, encostando a cabeça na cabeceira da cama e se entregando à dor que um coração partido causava.

 

14 de janeiro, 2021

 

Fleur se afastou do computador chorando, as lágrimas agora tomavam totalmente seu rosto enquanto suas mãos tremiam, um barulho estranho saiu de sua boca que ela achava se tratar de um soluço. Levando as mãos até o cabelo ela soltou o rabo de cavalo e cobriu o rosto com as mãos enquanto pensava no que havia acabado de escrever.

Era o fim, havia terminado o livro.

Então ela sentiu que havia partido seu coração novamente, se sentia fraca com a realização que havia tudo chegado ao fim. Bill não entraria por aquela porta para que ela lhe mostrasse o final do último capítulo, ele não a estaria esperando quando ela tomasse coragem para deixar Paris, ele nunca mais iria sorrir para ela daquele mesmo jeito leve e despreocupado de domingo de manhã enquanto lhe fazia panquecas.

Então pela primeira vez em 8 meses, estava tudo bem.

Ainda doía, uma parte de si para sempre estaria atada a ele, pois uma parte de si para sempre iria amá-lo, mas ela conseguia respirar um pouco melhor agora. Não tinha certeza de quem era agora, ainda não havia descoberto seu novo eu, mas preferia pensar que logo descobriria.

Em três anos haviam crescido, haviam descoberto quem eram juntos, então passaram a sem perceber crescer separados, e por 8 meses ela continuava aquele caminho, e se um dia seu caminho voltasse a trilhar o mesmo caminho que o dele, tudo bem, mas precisaria ser melhor do que aquele ser ainda se concertando jogado em uma cadeira.

Fechando seu computador, a loira ainda meio atordoada se virou para o porta retrato que insistia em manter na penteadeira de seu quarto, o desenho que Bill havia feito para ela de ambos no último aniversário dela. Eles realmente haviam sido uma obra-prima, e agora ela havia os imortalizado em suas palavras.

pegou seu telefone em cima da mesa, discando um telefone que conhecia de cor.

— Bonjour, ma chère — a voz de Liz, seu contato na editora em Londres soou leve e despreocupada do outro lado da linha — Como vai Paris? E o nosso querido projeto? Mais avanços no livro.

— Eu terminei o primeiro rascunho, precisa de uma revisão, mas quero que trabalhe comigo nas mudanças.

— Vai ser um prazer, me manda por e-mail que eu leio enquanto você não volta para Londres.

— Tudo bem. Olha eu tenho que ir, tenho que ajeitar minha mudança.

— Mudança?

— Vou voltar para Londres.

— Fleur Delacour não brinque comigo — a mulher praticamente gritou empolgada.

— É verdade Liz, em cerca de dois meses já vou estar de volta e totalmente instalada. Agora preciso mesmo ir.

— Tudo bem querida, até outra hora.

Desligando o celular, Fleur encarou o quarto a sua volta, um passo de cada vez, podia viver um passo de cada vez.

 

. . .

 

Nas semanas que sucederam o término do livro as coisas aconteceram bem rápido, quando Gabrielle voltou para casa aquela noite a irmã lhe contou que voltaria para Londres, Bill havia arranjado um outro lugar então agora seu apartamento era só dela, Liz havia amado o livro e elas marcaram uma reunião para começar a discutir possíveis mudanças.

Fleur Delacour deixou Paris com um coração aberto para um futuro como alguém que aceitou o passado, ela deixou Paris com um manuscrito em mãos e seus dedos sem a aliança de namoro.

Quando voltou para seu apartamento, vendo os armários apenas com suas roupas, a cama intocada sabendo que o lado dele não seria mais ocupado e não vendo os dvds que ele amava colecionar ela achou que desabaria, mas não, ela se permitiu chorar mais um pouco antes de levantar e preparar seu primeiro jantar na casa antiga, que agora tinha um ar de nova, um ar de mudança.

E quando chegou o dia que Bill a ligou para devolver uma caixa com coisas dela que levou sem querer, junto de coisas que ela acabou por esquecer nas casas de seus irmãos e pais, ela estava pronta, e no momento que a campainha tocou, ela o recebeu apenas com um sorriso.

— Olá — ele disse, as mãos ocupadas, leves olheiras e um sorriso gentil.

— Olá.

— Como vai o seu livro?

— Eu terminei ele, acho que gosto mais desse do que gostei do meu anterior — ela disse sincera e o sorriso dele se tornou de alívio.

— Fico tão feliz, Fleur.

— Eu também — por um instante eles apenas se encararam, e então ela estendeu os braços para pegar a caixa.

Ela era bem mais leve do que a francesa esperava, então pode segurá-la debaixo do braço com o apoio de apenas uma mão, e permitiu que o ruivo segurasse a outra.

— Obrigado. Por cada instante ao seu lado, foi mágico.

— Foi perfeito — ela respondeu.

— Quero que saiba, que você ainda é, e sempre será, a coisa mais real que eu já tive em minha vida. Parte de mim sempre irá te amar.

— E parte de mim sempre irá te amar, Bill.

— Sinto muito ter perdido você, e ter deixado você me perder.

— Nos perdemos juntos, se você sentir muito e preciso me desculpar também — ela respondeu, apertando mais os dedos dele antes de os soltar.

— Até a próxima vida, mon coeur.

— Até a próxima vida, mon chéri.

Então ela fechou a porta, colocando a caixa sobre a mesinha de centro da sala, ela decidiu dar uma expiada. Eram algumas blusas que lembrava de ter esquecido na toca, um perfume e livros.

Mas algo em seu cérebro a fez lembrar de seu cachecol azul favorito que ela lembrava de ter esquecido em Ginny, ele não estava ali, Bill não o havia devolvido.

Se levantando para vagar até seu armário, a loira passou a procurar para saber se ele não estava ali o tempo todo, mas não, ainda estava com ele. Então na última gaveta ela encontrou, não seu cachecol azul, mas um vermelho, aquele que Bill sempre usava e que dizia que lhe dava sorte, ele havia deixado para ela um pedaço de memória dele enquanto levava um dela.

Como se ela precisasse de mais algo para se lembrar dele, ela se lembrava de tudo muito bem, se lembrava de cada momento com Bill muito bem.


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Notas finais do capítulo

¹ Fleur, meu coração, vai querer sair comigo?
² Não Gabi, você pode ir almoçar com os seus amigos. Eu vou ficar escrevendo.
³ Qualquer coisa me ligue
4 É isso que você tem pra me dizer?
5 Você podia ao menos tentar