Don't Stop Dancing escrita por Morgan


Capítulo 1
One: 'cause I've had the time of my life




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Roxanne Weasley e Albus Potter participavam todos anos – sem exceções – de uma competição de dança no bairro onde ficava A Toca, a casa onde seus pais cresceram e onde seus avos moravam. Os moradores de Ottery St. Catchpole eram todos unidos como uma grande família e por isso organizavam todo tipo de evento, a "Competição de Dança Maluca" na semana anterior ao natal para arrecadar fundos para os presentes de crianças carentes era um deles.

Não havia um ano que Roxanne e Albus não participassem e não ganhassem. Rose sempre admirou o esforço físico dos primos por isso, afinal não era sempre que a competição acabava cedo. Eles já ficaram quase 17 horas dançando, Rose lembrava como se tivesse acontecido há pouco tempo, pois seu tio George nunca havia ficado tão preocupado antes.

O problema é que naquele ano os dois sofreram um acidente de carro. Nada grave, mas Albus torceu o tornozelo e Roxanne quebrou dois dedos do pé.

Rose havia sido tão ingênua ao se deitar na cama da prima, abraçando-a de lado ao dizer que sentia muito por isso ter acontecido apenas três dias antes da competição.

— É por isso que chamei você aqui, Rosie, preciso de um favor.

Rose queria dizer não, queria mesmo, mas Roxanne sempre fora muito convincente. Provavelmente eram aqueles olhos castanhos tão profundos quanto os do pai. Ou apenas a boa manipulação que ela aprendera com Fred, seu irmão mais velho.

— Rosie, se você não participar Nicola Parkinson vai ganhar e você sabe que eu não posso permitir isso! Aquela ridícula nunca vai levar o troféu para casa enquanto eu participar!

— Você não vai participar, Roxy, esse é o ponto.

A prima mexeu a mão displicentemente.

— Você vai! Dá no mesmo!

Então ela disse sim. Disse sim porque não conseguia ser diferente com Roxanne Weasley desde que nasceram e muito menos com Albus, que a ligou na mesma noite para fazer o mesmo pedido.

E, bom, para ser sincera, Rose também não gostava nada de Nicola. E por essa série de coisas pagou um pato ainda maior, porque para ser ainda mais sincera, Roxanne e Albus nunca foram exatamente confiáveis quando se tratava de competições.

É por isso que quando chegou no salão meia hora antes da competição em seu vestido vermelho de alcinha e um salto não tão alto assim, mas confortável, porque ela estava ali para ganhar, esperava tudo, tudo mesmo, menos seu ex-namorado que a abandonou parado perto da mesa de bebidas conversando com seu tio Harry.

— Não.

Albus e Roxanne se entreolharam, envergonhados.

— Não tinha mais ninguém, Rose...

— Vocês não fizeram isso – disse a garota inutilmente, porque é claro que os primos haviam feito, caso contrário Scorpius Malfoy não estaria a poucos passos de distância em toda sua glória.

— Rose – tentou Roxanne mais uma vez.

— O que diabos ele está fazendo aqui?! Ele não estava, sei lá, na Espanha?

— Não, isso faz alguns meses, ele estava na F– Rose olhou para o primo com tanta ferocidade que Albus se calou. – Não importa, é claro, quero dizer...

Albus olhou desesperado para o namorado sentado ao seu lado na arquibancada do ginásio onde aconteceria a competição. Johnny Longbottom, como sempre, tentou amenizar a situação.

— Não tinha mesmo mais ninguém. Está todo mundo viajando ou fora da cidade. Só Louis está por aqui e ele nunca conseguiria dançar mais de trinta minutos.

— E vocês?! – exclamou a garota olhando de Johnny para Anthony, o namorado da prima.

— Estamos com a perna imobilizada, não podemos ficar sozinhos! – interveio Roxanne.

Rose suspirou, lançando mais um olhar para o ex-namorado que vestia um terno preto parecendo ter sido feito sob medida para o seu corpo. E se Rose bem se lembrava da família Malfoy, provavelmente havia sido mesmo.

— Vocês não poderiam só ter me contado?

— Se contássemos você não iria aceitar.

— Eu tenho motivo para isso, Al!

— Qual é, Rose, faz dois anos que vocês terminaram...

A garota se calou. Sabia muito bem quanto tempo fazia que os dois haviam terminado. Ora, fora ela quem levou o pé na bunda, não Albus, nem Roxanne e por Deus, com certeza não havia sido Scorpius Malfoy!

— Ahn... ele está vindo para cá... – avisou Anthony Zabini, meio sem jeito e totalmente amedrontado pela expressão raivosa no rosto de Rose. Roxanne e ele não namoravam há tempo o bastante para o rapaz ter se acostumado com as mil e uma surpresas na família Weasley e não ajudou em nada quando Rose precisou de apenas cinco segundos para respirar fundo e um sorriso surgir em seu rosto, um sorriso assustadoramente verdadeiro para alguém que estava a ponto de jogar os primos debaixo de um carro novamente há menos de um minuto, na opinião do Zabini.

Acontece que Rose Weasley odiava três coisas: perder, parecer fraca e quebrar promessas. E tudo naquela noite estava a testando para riscar todas as coisas de sua lista e ela mal tinha começado. Rose já havia tido a sua surpresa e deixado bem claro que não ficara feliz, mas jamais faria isso na frente do ex-namorado. Nunca deixaria que ele soubesse o quanto sua presença, mesmo que do outro lado do ginásio, a incomodava.

— Boa noite, Rose – disse ele ao se aproximar. Rose sentiu seu coração literalmente parar por alguns segundos quando teve que se virar para encarar o homem que não via há dois anos. Seus cabelos loiros estavam penteados para trás, deixando uma onda charmosa na lateral de seu cabelo e seus olhos nunca pareceram mais cinzas do que quando colocados nos azuis de Rose Weasley naquele momento.

— Malfoy – cumprimentou a garota. Podia dançar com ele, podia levar a porcaria daquele troféu para casa apenas para fazer os primos felizes, mas não o trataria com mais do que uma singela educação.

Albus pigarreou.

— Faltam alguns minutos para liberarem a pista de dança – disse ele. – Roxanne e eu estamos muito felizes por vocês fazerem isso por nós. De verdade. Mas se vocês se cansarem ou se só ficar muito... ahn – o moreno olhou de um para o outro. –, difícil de continuar, vocês podem parar.

— É, não se preocupem com isso – completou ela. – Nós estaremos aqui junto com vocês.

Scorpius abriu um sorriso largo, dando um passo à frente e depositando um beijo na testa de Albus.

— Relaxem. Não vai ser esse ano que o troféu vai para outro lugar senão à Toca – Rose venceu a vontade de revirar os olhos. Ela estava decidida a ganhar, mas Scorpius também estar a irritava de uma maneira que ela não conseguia nem colocar em palavras.

— Onde podemos pegar as placas das duplas? – perguntou Rose.

— Ali naquela mesa do canto onde vovó Lily está – apontou Johnny.

Rose estava decidida a ignorar Scorpius o máximo que desse, foi por isso que ao localizar o local, partiu sem dizer nada. Se Deus fosse bom com ela, nem que fosse apenas daquela vez, as pessoas estariam desanimadas naquele ano e a competição não duraria tanto quanto costumava durar.

Só percebeu que Scorpius a seguia de perto quando ele abriu a boca.

— Devíamos escolher o número seis.

— E eu posso perguntar por quê?

— É o número favorito do Al, é a data de quando ele e Johnny começaram a namorar.

Rose não conseguiu evitar a risada que praticamente pulou de dentro de si. – Você ainda o trata feito um bebê. Ele tem 24 anos, Malfoy, e um namorado.

— Primeiro de tudo: eu não trato, não – retrucou. – Mas se eu tratasse, eu diria que Johnny é meio que um bebê também.

— Scorpius! Rose! – exclamou Lily Potter quando os dois chegaram à mesa. – Não acredito que você veio mesmo! Albus disse, mas eu tinha minhas dúvidas, você sabe, você praticamente nos abandonou!

Rose soltou uma risada baixa enquanto puxava o caderno de assinaturas para si. Sentiu o olhar de Scorpius em si, mas continuou com o mesmo sorriso debochado que havia ficado em seu rosto, quase como se o desafiasse a perguntar o motivo dele. Mas ele não o fez, apenas se inclinou sob a mesa e deu um abraço na mais velha.

— Desculpe, vovó Lily. Prometo que vou fazer visitas mais frequentes só para me assustar ainda mais em como o tempo passa, mas a senhora só consegue ficar mais bonita!

Lily jogou seus cabelos vermelhos para trás, porque se havia uma coisa que Lily Potter jamais teria, essa coisa era cabelo branco.

— Vou torcer muito por vocês – disse ela. – Venham, escolham o número.

— Que número você quer, Rose? – perguntou ele fazendo a garota sentir um calafrio percorrer todo seu corpo.

Por que ele precisava ser amigável? Por que ele não podia chamá-la pelo sobrenome como ela vinha fazendo? Rose estava tentando impor um limite, mas Scorpius agia como se não precisasse e mais um minuto disso era capaz de fazer Rose perder toda a calma que sua mãe vinha tentando fazer com que ela tivesse desde que nascera.

Ele havia partido seu coração, não tinha direito algum de ser amigável depois disso.

— Não importa – respondeu ela, fitando os nomes dos dois que havia acabado de escrever. Lentamente a realização de que estar perto de Scorpius depois de tanto tempo seria quase como reviver o ensino médio, onde ela mal conseguia lidar com a presença do garoto no mesmo cômodo que ela a acertou. 

— Boa noite, moradores de Ottery St. Catchpole! Meu nome é Iris Diggory e eu vou iniciar a Competição Maluca de 2021! Competidores, por favor coloquem seus números de identificação e dirijam-se à pista.

Rose respirou fundo, procurando os primos nas arquibancadas. Podia estar irritada e incomodada por ter sido posta ao lado do ex-namorado sem seu consentimento, mas ainda queria dar um último sorriso de confiança para os dois.

Mesmo que eles não merecessem.

— Posso colar o seu número? – disse Scorpius atrás dela.

— Eu posso fazer isso.

Scorpius soltou uma risadinha, inclinando a cabeça para o lado.

— Pode colar o papel nas próprias costas? Desde quando você se tornou tão flexível, Rose?

Decidida a não cair nas provocações do rapaz, Rose apenas respirou fundo e virou-se novamente, puxando seus cabelos ruivos para frente.

— Ande logo com isso.

Soube quando Scorpius deu um passo à frente. Não ouviu barulho algum, mas sentiu quando a atmosfera ao redor de si mesma ficou mais pesada. Piorou ainda mais quando ele passou um dos dedos devagar para tirar os últimos fios de cabelos teimosos que insistiam em ficar colados nela.

O vestido de Rose deixava suas costas nuas, mas ainda havia uma parte do tecido em volta de seu pescoço que caía levemente pelo inicio de suas costas e foi ali, com um puxão de leve no tecido, que Scorpius colou a placa que havia pegado.

— Espero que não caia – murmurou ele perto do ouvido de Rose.

Rose conseguia sentir os dedos de Scorpius ainda roçando em sua pele desnuda e sua voz, rouca, perigosamente perto de si fez com que todo seu corpo se arrepiasse. Rose Weasley sempre gostou de pensar em si mesma como uma mulher forte e totalmente controlada e era por isso que jamais admitiria ter perdido totalmente a noção de tempo e espaço até Iris Diggory se fazer presente novamente.

— E lembrem-se bem: nós só temos duas regras. Não larguem o seu parceiro e, como vocês sabem: Não parem de dançar!

Scorpius foi quem se afastou, ficando ao lado de Rose e estendendo o braço para que pudessem finalmente se dirigir à pista. Rose aceitou sem relutância, mas não sem um suspiro irritado ao lembrar que seria assim a noite toda.

Ela assistiu enquanto Scorpius se posicionava a sua frente, agarrando sua cintura sem nenhum pudor ou hesitação.

— Você desaprendeu a dançar? – questionou o loiro com um sorriso de lado. Rose piscou, percebendo um pouco tarde demais que não havia se mexido enquanto o outro a puxava para perto dele. Ela preferiu não responder, apenas posicionando as mãos em seus ombros enquanto ouviam Iris fazer uma curta contagem e um barulho de gongo soar, dando início a competição com qualquer música dos anos 80 que Rose não conhecia.

As primeiras músicas eram sempre lentas; Haviam vários casais que estavam ali pela competição e tinham a ambição de aguentarem o tempo que conseguissem, mas outros só gostavam de se divertir com as pessoas que gostavam por duas ou três músicas, geralmente as primeiras.

Rose usava tudo de si para ignorar as mãos firmes de Scorpius em volta de si e também o fato de seus ombros parecerem muito mais fortes e definidos do que ela se lembrava. Queria, mais do que tudo, que conseguisse fazer aquilo em silêncio e sem ter que olhar para o rapaz que a segurava.

E estava indo bem, fitando seus pés ou simplesmente tirando vantagem da própria altura e encarando a interessantíssima gravata borboleta que o outro usava. Dançaram até a quinta música sem trocar uma palavra. Scorpius estava inquieto e Rose sabia, mas ela realmente não se importava com isso, estava decidida a continuar em silêncio quando aconteceu o que sempre acontecia desde a primeira vez que se viram, a única coisa capaz de uni-los desde o primeiro dia quando nenhum deles se suportava o bastante para trocarem uma frase civilizada: Albus Potter.

Não conseguiram não dividir risadas bobas e encantadas quando Johnny surgiu no meio da pista de dança com Albus em uma cadeira de rodas.

— Ah meu Deus – murmurou Rose com um sorriso gigantesco no rosto enquanto Johnny girava Albus no ritmo da música. – Johnny não existe!

— Ele é um bom namorado – disse Scorpius. O garoto tinha um sorriso tão grande no rosto que era impossível pensar menos do que isso. – Al merece, não é?

— Não é fácil encontrar um relacionamento tão mágico quanto o deles – disse Rose, arrependendo-se imediatamente quando as palavras deixaram sua boca. Scorpius voltou a olhar para ela na mesma hora.

— Rose.

— Não – ela balançou a cabeça, sustentando o olhar do rapaz. – Não vamos conversar.

O loiro suspirou, franzindo a boca.

— Então vamos ficar dançando assim, em silêncio? Não podemos falar sobre nada?

— Seria realmente o meu sonho – respondeu a garota.

— Nós costumávamos ser amigos.

— Nós costumávamos ser muitas coisas, Malfoy.

Aquilo o calou por um tempo. Mais precisamente por três músicas, uma pisada no pé e um rodopio que Rose claramente não havia pedido e então Scorpius suspirou uma, duas, três vezes. No início da quarta, a ruiva desistiu.

— Tudo bem, já entendi! O que foi?

— Estou entediado. Se você não falar comigo, vamos acabar desistindo.

A garota queria rebater, mas conhecia Scorpius e sabia que aquilo provavelmente era verdade. Não sabia até hoje como ele havia se tornado piloto de avião tendo a atenção de uma criança de seis anos. Sem contar que conversar talvez a ajudasse e a tirasse de seus próprios pensamentos, que basicamente giravam em torno do homem que segurava e em como tentava ficar distante dele o máximo possível e mesmo assim sentia seu perfume doce tomar conta dela.

— Ok, o que você quer falar?

— Albus me contou que você abriu um escritório de advocacia. Como isso aconteceu?

Rose piscou, confusa com a naturalidade que o outro admitia saber sobre ela através do amigo em comum que tinham. Seus olhos brilhavam ansiosos e interessados na resposta da garota e pela primeira vez, ela não quis provocar e sim apenas respondê-lo.

— Não é apenas meu. Um colega de classe é meu sócio. Não é tão grande ainda, mas conseguimos pegar alguns casos de pessoas que precisam, que não podem pagar como os outros. Não são muitos – Rose deu de ombros levemente –, mas acho que podemos chegar lá. Uma pena que a única forma de chegar lá é conseguindo clientes ricos.

Scorpius riu.

— E o que você tem contra os ricos, Weasley?

— Eu poderia listar, mas acho que "tudo" responde bem, sabe?

— Eu sei – disse Scorpius com um sorriso largo no rosto, tão brilhante e contagiante que Rose sentiu os próprios lábios curvando-se para cima. Ela desviou o olhar dele na mesma hora, sentindo que seu coração estava prestes a sair pela boca.

Onde estava com a cabeça em aceitar ficar tão perto dele? Ainda mais por uma quantidade indefinida de horas?

Uma coisa que Rose sempre odiou em Scorpius foi a quantidade de dinheiro que sua família tinha. É claro que ele não podia fazer nada, mas Rose sempre achou a famosa Mansão Malfoy exagerada. A família toda, se tivesse que ser bem sincera. As festas, as roupas, as viagens, o jatinho particular que levava a matriarca Narcisa Malfoy para seus eventos da alta sociedade que se diziam ser sobre caridade, mas na verdade era só mais uma desculpa para mostrar quanto dinheiro tinham, tudo aquilo sempre foi piada entre Rose e Scorpius quando estavam sozinhos.

E ele sabia.

Lembrar de todas as piadas internas que tinham deixou o coração de Rose pequeno a ponto de quase se tornar inexistente de tanta dor repentina, fazendo a ruiva perceber que ela não conseguiria lidar com aquilo tão bem quanto achou que conseguiria. Para o inferno com os dois anos distantes um do outro, a Weasley ainda sentia como se tivesse sido ontem!

Quando Astoria Malfoy morreu, Rose viu o chão que sustentava Scorpius desaparecer. Aconteceu de repente, em um momento ela estava bem e feliz comemorando a formatura do filho e na semana seguinte estava de cama. Tudo foi muito rápido. Ela ficou doente por apenas dois meses até tudo acabar. Rose nunca havia conhecido filho e mãe mais próximos do que os dois. Talvez fosse pela similaridade, o humor ácido, mas ao mesmo tempo meio bobo, as manias e superstições parecidas ou então porque Scorpius nunca conseguiu ser muito próximo do pai e então quase todo seu amor e confiança eram depositados na mãe. Rose não sabia, não teve tempo para saber, pois Astoria tinha ido e com ela, Scorpius também. Para ele, nada mais importava depois de perdê-la: sua carreira, seu recém adquirido diploma, seu pai e nem mesmo Rose.

Ele se isolou por alguns dias antes de finalmente ir até a casa dos Weasleys colocar um ponto final em seu relacionamento. Rose tentou, tentou mesmo, quase implorou por uma justificativa de verdade, porque ela sabia que podia ficar ao lado dele e podia ajudá-lo a passar pelo seu luto. Mas aparentemente Scorpius não concordava e isso foi o suficiente para fazê-lo partir. E mesmo enquanto ele virava as costas e batia a porta atrás de si, Rose o entendeu. Sentia seu coração dilacerado e seu mundo acabar, mas sabia que Scorpius sentia aquilo duas vezes mais.

Ela nunca pensou que ele não a amava. Nunca pensou que eles não voltariam quando ele se sentisse melhor. Nem mesmo quando Albus contou a ela mais tarde naquele dia, enquanto a consolava, que Scorpius havia se inscrito para a Força Aérea Real da Inglaterra ou então quando ele de fato fez uma viagem só de ida para Cranwell.

Rose sabia que o treinamento de pilotos durava quatro meses e ela esperou, esperou mesmo não recebendo nenhuma mensagem, ligação, carta ou qualquer indício de que fazia sentido esperar por Scorpius Malfoy. E ainda assim ela o esperou.

Quando Albus voltou da formatura de Scorpius no fim daqueles quatro meses e disse que o garoto iria para a Coréia do Sul no dia seguinte, Rose sentiu como se estivesse tendo seu coração partido pela segunda vez – e dessa vez sendo infinitamente mais doloroso, porque pela primeira vez Rose Weasley não tinha mais esperanças e por quatro longos meses aquilo havia sido tudo que ela tinha sobre o homem que pensava ser o amor de sua vida.

E tudo só piorou quando dois meses depois ele foi para o Japão, depois Índia, Itália, Grécia e tantos países que Rose perdeu a conta, deletando-o de todas as redes sociais que possuíam um ao outro, porque cada paisagem que Scorpius postava era um lembrete de que ele havia ido e não voltaria. Não para ela.

Mas ali estava ele, não apenas na Inglaterra, mas em Catchpole que sempre fora sua casa muito mais do que aquela que seus pais tinham no centro de Londres, dançando com ela como se aqueles dois anos não tivessem passado, sorrindo para ela como se não doesse e, talvez, percebeu Rose, não doesse mesmo para ele como doía para ela.

— Então – ela pigarreou. – Albus me disse que você estava na Espanha?

— França – disse ele, puxando Rose um pouco mais do que o normal para que ficassem um pouco mais distante dos casais animados e barulhentos.

— O que você faz, afinal? – perguntou fazendo com Scorpius risse fraco. Rose sempre quis saber o que o ex-namorado estava fazendo, mas nunca, nunca mesmo, perguntaria a Albus.

— Eu fui piloto pela Força Aérea Real por um tempo, mas depois fui contratado por uma empresa de aviação privada. Piloto algumas vezes, mas estou colocando o que aprendi na faculdade de engenharia em prática.

— Ah, você é um mecânico de aviões?

Scorpius soltou uma gargalhada alta.

— Você pode dizer isso.

— E você é o único engenheiro aeronáutico que eles têm para viajar tanto? Está encarregado de todas as aeronaves?

— Não exatamente, só sou o único que não se importa de ser jogado de um lado para o outro.

— E por que você voltou para a Inglaterra?

Scorpius arqueou uma sobrancelha, subindo um pouco a mão que segurava a cintura de Rose e a fazendo rodopiar sem nenhum aviso.

— Você precisa parar de fazer isso! – exclamou a garota, passando a mão pelos cabelos.

— Gosto de como seu vestido roda.

— Compre um para você.

— Você sabe que eu ficaria lindo em um desse, não é?

Rose riu, jogando seus cabelos ruivos para trás.

— Sim, ficaria ótimo se você achasse um do seu tamanho.

— Eu poderia mandar fazer – a garota riu mais uma vez, agora bem mais alto, sentindo seu rosto todo se retorcer em um sorriso que ela não pretendia dar na frente de Scorpius ao lembrar-se do comentário sobre pessoas ricas. – Mas ainda assim, duvido que ficaria tão bom em mim quanto fica em você. Vermelho sempre foi a sua cor.

A voz de Scorpius saiu baixa e um tanto quanto séria no final mesmo que ele tentasse soar descontraído enquanto seus olhos estavam fixos no mar azul de Rose, que por sua vez sentiu seu rosto inteiro queimar, sentindo-se extremamente grata pela voz de Iris Diggory soar antes que precisasse dar uma resposta.

Ou sequer ter que continuar olhando para ele, o que, naquele momento, seria sim algo difícil de fazer.

— Acabamos de marcar duas horas inteiras de prova, pessoal! Parabéns! – Rose olhou em volta, percebendo que a música, que era tocada em uma espécie de toca-disco modernizado, estava um pouco mais animada agora que não haviam mais tantos casais na pista.

— Somos apenas nós e Nicola – disse Rose antes de voltar o olhar para Scorpius e o pegar com um sorriso irônico no rosto. – Bem, eu sei que existem mais cinco casais dançando, mas eles logo vão desistir, olha só como aquele cara ali está cansado! Quantos anos ele tem?

— Rose... – começou Scorpius em um tom de advertência enquanto tinha um sorriso estampado no rosto, o que invalidava todo o sermão que ele pretendia dar.

— Ele é velho, Sca... – Rose parou, engolindo o apelido que tentava sair dela involuntariamente –... Malfoy.

Ela mordeu os lábios, virando o rosto para a arquibancada e tentando se concentrar na visão de seus pais junto do casal Potter dividindo um pacote grande de pipoca em meio a risadas com Lily e James Potter sentados um pouco mais atrás ao lado de seus avos Molly e Arthur. 

— Você pode me chamar de Scorpius, Scorp ou Scar, Rose, eu não me importo.

A Weasley não conseguiu evitar a risada sarcástica que escapou de si. Se seu olhar fizesse algum tipo de dano físico, sabia que Scorpius já teria caído no chão seriamente machucado com a audácia de pensar que aquilo era sobre ele se importar ou não.

— Eu me importo, Malfoy.

— Ou Malfoy, você pode usar Malfoy se quiser – continuou ele, ignorando totalmente o tom de voz de Rose.

— Participantes! – pôde-se ouvir a voz de Iris novamente. – Está na hora da nossa dança temática!

Rose quase congelou no lugar, sentiu seus pés pararem, mas Scorpius continuou se movendo, carregando-a de um lado para o outro como deveria ser.

— Ah, merda, merda, merda...

— O que foi?

— Dança temática! – ela soltou Scorpius apenas para bater na própria testa. – Tem todos anos, foi ideia do meu avô! Roxy e Albus iam dançar Thriller em De repente 30, assistimos mil vezes esse ano...!

—... Cada dupla vai escolher uma cena clássica de filme para recriar integralmente ou à sua própria maneira na pista! Nesse pequeno período, as demais duplas podem aguardar na lateral do ginásio. É a única pausa que teremos então aproveitem!

— Sério, estamos perdidos. O que poderíamos fazer? Titanic? – ela suspirou, indignada. – Nicola deve ter treinado o mês inteiro para isso!

Rose odiava estar em uma situação fora de seu controle, ainda mais algo que poderia ter sido resolvido se houvessem falado qualquer coisa antes ou se ela tivesse tido tempo para se lembrar, mas Scorpius parecia surpreendentemente calmo com a ideia de passar vergonha em frente à todos e ser motivo de riso para Parkinson.

— Qual é, Rose. Não vai ter nota e além do mais... – Rose viu um pequeno sorriso começar a se formar no rosto de Scorpius e se pudesse, teria se afastado imediatamente. Não porque foi bonito, embora tivesse sido, sim, mas porque ela conhecia aquele sorriso. E nunca vinha nada de bom dele. – Você sabe o que podemos fazer.

— Você não entende? Não temos nada, Malfoy, não ensaiamos, não conhecemos nenhuma coreografia, como pode...

— Tem certeza? – Scorpius arqueou as sobrancelhas, pedindo para que Rose pensasse mais um pouco. Ela estava pronta para perguntar se ele estava ficando louco quando as memórias a acertaram em cheio como estavam gostando de fazer aquela noite.

— Nem pensar.

— Vamos lá, Rose, nós conhecemos os passos.

— Não tem a menor possibilidade de fazermos isso. Sabe qual foi a última vez que vi esse filme?

Quando você estava comigo, quis completar.

— Vamos começar! – exclamou Iris, animada. – Todas as duplas para fora, exceto o casal número 28, Scorpius Malfoy e Rose Weasley!

A respiração de Rose parou por um segundo inteiro enquanto olhava em volta, vendo os casais saírem lentamente da pista, encostando-se nas paredes ou simplesmente caindo no chão para descansarem os pés.

Teve certeza que Nicola sorriu para ela quando passou ao seu lado, mas Scorpius já estava a puxando pelo braço e tomando toda sua atenção para si ao falar:

— É o nosso filme, Rosie, eu sei que você lembra.


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Notas finais do capítulo

não vou me prolongar aqui porque essa história foi planejada para ser uma one-shot, mas eu achei muito longa para um capítulo só e resolvi dividir em duas partes, então... nos vemos no próximo! espero que tenham gostado ♥



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