The Day We Met escrita por nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic pertence ao projeto Delacours Month do Twitter (@delacoursmonth), que vai durar todo o mês de abril, nos presenteando com fanfics sobre a Fleur, Victoire, Dominique, Louis e outros integrantes da família Delacour :)

Desculpa pela falta do sotaque francês da Fleur e da Gabrielle (e do Krum). Preguiça



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Fleur não tinha um sono pesado, mas naquela manhã foi muito difícil acordar.

Não era todo dia que você via uma pessoa morta. Apesar de saber dos riscos do Torneio Tribruxo, de saber que campeões morreram por anos por causa daquela competição, não imaginava que aconteceria outra vez. O Ministério tinha garantido que estava tudo sob controle, que as tarefas seriam menos perigosas que nas outras vezes — apesar de que dragões não poderiam ser considerados criaturas inofensivas.

Mas acima de tudo: a morte de Cedric Diggory não tinha sido justa. Ele não morreu por causa do Torneio, ele foi assassinado por Voldemort. Uma armadilha que transformou a Taça Tribruxo em uma chave de portal.

É claro, ela só soube disso horas mais tarde, quando encontraram o seu corpo no labirinto. Não sabia o que tinha acontecido. Em um momento, a tarefa ia bem e, de repente, ela apagou. Não imaginava alguém que poderia ser covarde o suficiente para atingi-la pelas costas, mas Dumbledore ainda não tinha dado explicações sobre o que tinha acontecido, ele provavelmente esperaria a poeira abaixar, ela só escutava o que Gabrielle e as suas colegas de Beauxbatons tinham lhe contado.

Ela devia ter percebido que alguma coisa estava errada quando saíram da enorme carruagem para tomarem café da manhã, como fizeram nos últimos meses, mas como estava sem vontade de conversar, só percebeu quando chegaram no Salão Principal.

O clima não estava ruim, parecia um dia normal em Hogwarts.

E Cedric estava na mesa da sua casa, em volta de seus amigos, que conversavam animadamente sobre a tarefa que aconteceria durante a noite.

Ela paralisou perto da mesa da Ravenclaw, que era onde estiveram sentando-se desde outubro, perguntando-se se a sua mente estava pregando-lhe peças.

— Madame Maxime pediu para avisar que é para ir para a câmara vizinha depois do café — Gabrielle foi em sua direção e então hesitou ao ver a sua expressão, que com certeza devia estar pálida — Está tudo bem?

Oui — respondeu quase automaticamente.

Estava sonhando? Por que estava revivendo o dia anterior?

Foi até onde suas colegas se alimentavam e obrigou a si mesma a comer. Levou a sua mão direita para o seu braço esquerdo e deu um beliscão, apenas para garantir a si mesma que não era um sonho. Então olhou para suas mãos, tentando se concentrar em seus dedos, mas não teve dificuldade alguma. Eram cinco, como sempre foram.

Então não estava sonhando.

Era mesmo 24 de junho de 1995.

— Não precisa ficar nervosa, vai se sair bem — Josephine, uma de suas colegas, tentou animá-la.

— Deveria comer alguma coisa, vai precisar de energia — pôde sentir o não dito "para recuperar o atraso no placar" venenoso vindo de Mirella, mas não conseguiu se importar com isso.

Agora que tinha posto algo de comida e suco no estômago, e que os vestígios de sono desapareciam, conseguia raciocinar melhor. Devia saber que algum dia isso aconteceria, acontecia com todos, só não esperava que fosse tão cedo.

Em algum momento daquele dia devia ter esbarrado com a sua alma gêmea, por isso estava presa em um looping temporal. Só conseguiria sair dele depois que descobrisse quem era. Tinha que ser algum visitante. Passou meses no castelo, era impossível que tivesse se desencontrado de algum aluno por tanto tempo.

Desviou o olhar mais uma vez, observando Cedric trocar algumas palavras com a garota que tinha levado para o Baile de Yule.

Não ia conseguir se concentrar em procurar a sua alma gêmea sabendo que alguém ia morrer dentro de algumas horas e que ela podia evitar isso.

Quer dizer, ela podia evitar isso? Ou teria que conviver sabendo que não importava o que fizesse, ele morreria outra vez? E se conseguisse evitar, mas o dia repetisse porque não descobriu quem era sua alma gêmea? E se descobrisse quem era e não conseguisse evitar? Não era o tipo de conflito que estava esperando resolver quando se inscreveu no Torneio.

Comeu menos do que o usual, apenas o suficiente para seu estômago parar de resmungar, e então ergueu-se para seguir até a antecâmara, assim que viu Cedric levantar-se. Deveria falar com ele? Decidiu que deveria conversar com sua mãe primeiro. Ela sempre sabia como lhe aconselhar, e já tinha passado por aquela experiência antes, embora de forma menos dramática.

Atravessou os poucos passos restantes até sua mãe, mais rápida do que antes e abraçou-a antes que pudesse dizer "chère".

Está tudo bem? — Apolline perguntou em um francês baixo, segurando o rosto de sua filha entre suas mãos, ao perceber rapidamente o seu estado, mesmo que tenha tentado esconder.

Não, eu preciso falar com você — disse Fleur, olhando rapidamente para sua irmã — A sós. Por favor, Gabrielle, é importante.

Sua irmã mais nova assentiu de má vontade, irritada por ser deixada de lado, mesmo porque era a primeira vez que viam a mãe desde que chegaram à Escócia em outubro. Realmente não pediria por isso se não fosse importante, mas não podia falar sobre morte com ela, não podia deixá-la vê-la tão abalada.

Caminharam até as margens do Lago Negro, que estavam vazias por causa do horário de aulas.

— Tem algo te incomodando — sua mãe disse, assim que sentaram-se na grama — É o Torneio?

Mère, eu... já vivi esse dia ontem. Acho que o encontrei — viu o entendimento se espalhar em seu olhar — Mas eu não sei o que fazer.

— É normal ficar com medo, chère — ela estendeu a mão e a pousou em sua perna para demonstrar seu apoio.

— Não é isso — negou com a cabeça — Eu já vivi esse dia, e... Uma pessoa morreu. E eu posso impedir isso! Mas e se eu não conseguir?

A expressão no rosto da sua mãe mudou, assim que percebeu que a situação era séria. Observou-a mudar a postura e então pedir:

— Me conte o que aconteceu.

Contou tudo o que conseguia se lembrar. Sobre como passaram a manhã e tarde jogando conversa fora, aproveitando a companhia uma da outra. Sobre como, assim que a noite caiu, foi a última a entrar no labirinto. Sobre como apagou de repente e então Cedric estava morto, e Voldemort tinha retornado.

— Você não desmaiou sem motivo — disse Apolline, isso ela já tinha percebido — Alguém tentou tirá-la do caminho. Esse menino, Cedric, deve ter morrido pelo mesmo motivo. Se Você-Sabe-Quem realmente retornou, é mais do que claro que queria matar Potter.

— Cedric não pode pegar a Taça, mas e se foi por causa dele que Harry sobreviveu? Eu não quero que ele morra — expressou sua angústia, tentando não chorar com tudo o que estava acontecendo.

— Você está em um loop até descobrir quem é a sua alma gêmea, e até a sua alma gêmea descobrir quem...

— Espera! O quê? — sentiu como se tivesse acordado de um transe.

Sentiu-se estúpida de repente. Nunca tinha parado para pensar que a sua alma gêmea estaria passando pela mesma experiência que ela, o que significava que talvez tivesse mais informações sobre o que aconteceu do que ela, que passou horas desacordada. Mas se fosse procurá-la, aquele dia se tornaria o último. Se fracassasse, Cedric morreria outra vez.

— O que eu devo fazer? Falar com Dumbledore? Com Cedric? Ir atrás da minha alma gêmea e perguntar o que sabe? — perguntou.

— Eu não sei se conversar com os professores vai adiantar. Nem todos já encontraram a sua alma gêmea. Olhe só para você! Se não tivesse vindo para o Torneio, talvez nunca o encontraria. Que outra circunstância a traria para o Reino Unido? — sua mãe levantou uma importante  questão, o que não a ajudou exatamente com o seu nervosismo — Tem uma relação civilizada com esse garoto? Então vá falar com ele, torça para que te dê ouvidos.

Àquela altura, ele devia estar com os seus pais, caminhando pelos terrenos da escola e conversando antes da tarefa. Não queria atrapalhar, mas ao mesmo tempo, devia deixar para conversar tão em cima da hora? Tantos imprevistos podiam acontecer. Não tinha ideia do que aconteceu com ela no labirinto, então nem adiantava ter esperanças de agir lá dentro. Talvez se falasse com Harry, ele poderia ajudá-la, mas... Se ia tentar salvar Cedric, por que não contava de uma vez que a Taça era uma chave de portal? Ninguém daria ouvidos a ela...

— Acho que você precisa ir — foi sua mãe que lhe deu o empurrão que precisava, levantando-se — Vou atrás de Brielle. Nos vemos mais tarde, boa sorte.

Alma gêmea ou Cedric?

Cedric ou alma gêmea?

— Cedric! — exclamou ao avistá-lo.

Tinha sido difícil encontrá-lo. O castelo era imenso e até onde sabia, os seus pais podiam estar fazendo um tour com ele, o que levaria horas de desencontros.

— Fleur — ele sorriu ao vê-la — Tudo certo?

O Sr. Diggory fez uma careta desconfiada, como se pensasse que ela tentaria aleijar o seu filho para impedi-lo de ganhar o Torneio, enquanto que a Srª Diggory a olhou dos pés a cabeça, como se estivesse avaliando se era boa o suficiente para seu filho. Merecia uma coisa dessas...

— Preciso falar contigo, é importante.

— Ei, alto lá! — exclamou o Sr. Diggory — O que é tão importante para falar sozinha com meu filho? Espero que não esteja pensando em qualquer tipo de trapaça.

— Pai! — Cedric exclamou, constrangido.

— Sabe que não te pediria se não fosse importante — ignorou os pais dele.

Ele apenas a olhou nos olhos por alguns segundos antes de concordar. Ficaram à vista dos pais dele apenas para que o Sr. Diggory calasse a boca, mas longe o suficiente para não serem escutados.

— Eu encontrei a minha alma gêmea — Fleur começou.

— Isso é ótimo! — ele disse com sinceridade — Mas por que está me contando isso?

— Você sabe o que acontece quando encontramos a nossa alma gêmea. O looping temporal.

Pela sua expressão, ela percebeu que ele não tinha encontrado a sua ainda. Então a namorada dele não...? Interessante. Bom, o importante era que ele pareceu entender o conceito da informação.

— Então você está no looping agora? E quer ajuda para encontrar...? — não o deixou terminar.

— Eu quero que você não morra hoje.

Talvez tivesse sido um pouco brusca com a informação, concluiu depois de ver a sua expressão.

— Quê? — ele perguntou em um tom de voz baixo, franzindo o cenho levemente.

— Eu posso te contar tudo, se quiser, mas preciso que você não pegue a Taça.

Ele ficou desconfiado, como supôs, quando disse isso.

— Claro, então Hogwarts não vence... — deixou no ar.

— Cedric, olha para mim. Acha mesmo que eu brincaria com uma coisa séria dessas? Até onde eu sei, você e Harry pegaram a Taça juntos, então Hogwarts ganhou de qualquer forma, mas era uma chave de portal — parou para respirar, sabendo que não estava fazendo sentido — A Taça Tribruxo é uma chave de portal. Eu não sei para onde vocês foram, mas não pode pegá-la, Cedric.

— Deve ser parte do Torneio — ele disse, mas pareceu preocupado.

— Não, não é. Alguém mexeu na Taça, eu não sei onde ela foi parar, mas você... — engoliu em seco — Harry trouxe o seu corpo de volta.

— Certo, então eu vou tomar cuidado. E se ele morrer porque eu não toquei na Taça? — Cedric argumentou assim que ela fez menção de falar.

— Pare de bancar o herói. Ele não vai morrer!

— Você não tem como saber!

— Eu estou presa em um looping, lembra? Se ele morrer, eu volto e faço diferente, dou um jeito, eu não sei, mas não vou deixar nenhum de vocês morrer, nem que eu tenha que enfeitiçá-los para isso.

Ficou em silêncio, respirando fundo e esperando pela resposta dele. Cedric precisava entender a importância daquilo. Se alguém dissesse que ela ia morrer, ela não ia questionar.

— Tudo bem, não vou pegar a Taça — ele cedeu.

— Me prometa — ela não deu o braço a torcer — Você precisa me prometer! Eu não vou estar lá para te impedir, alguém vai me desmaiar.

— Se sabe que vai desmaiar, por que não impede?

— Eu impediria se soubesse quem foi.

Aquele era o maior furo no seu plano.

— Eu prometo, Fleur — ele disse — Mas me prometa que se o Harry morrer... Você vai impedir, nem que eu tenha...

— Eu prometo, mas isso não está em discussão. Ninguém vai morrer — o interrompeu, falando rapidamente.

Cedric assentiu e então olhou na direção de seus pais. Imaginava como devia ser saber que vai morrer. Se fosse com ela, não conseguiria pensar em como sua família ficaria.

— Tenho que ir.

— É, eu também — ela levantou o olhar novamente para ele, sem saber o que procurava em sua face — Até mais tarde.

— Até.

Precisava dar certo.

Encontrou sua mãe conversando com Gabrielle na hora do almoço. Conforme as horas se arrastavam, sentia-se mais nervosa. Remexeu a comida com o garfo, na hora do jantar, pensando em como seria a prova mais tarde. Levantou o olhar, observando Cedric tentar agir naturalmente com seus amigos e família. E na mesa atrás dele, estava Harry com seus amigos também, sem ter ideia do que aconteceria depois.

Uma sensação estranha a fez voltar o olhar para alguns centímetros mais ao lado, onde dois olhos azuis a observavam. Era o homem que tinha visto no dia anterior, que estava visitando Harry.

— Conseguiu falar com ele? — a pergunta de sua mãe, acompanhada pela mão em seu ombro, a fez desviar o olhar.

— Com quem? — perguntou aérea.

— Cedric.

— Ah! — exclamou, abaixando o olhar para seu prato — Sim, eu falei, espero que dê tudo certo.

— Vai dar sim. Raramente almas gêmeas demoram mais que um dia no looping — tentou tranquilizá-la.

Raramente almas gêmeas precisavam impedir um assassinato no seu looping, pensou em dizer, mas resolveu ficar calada.

Se aquele homem fosse... Obrigou-se a não pensar nisso, mas era difícil. Devia ser bem complicado para um visitante, com tantos rostos desconhecidos, descobrir quem é a sua alma gêmea, mas nada garantia que era ele. E não poderia garantir até o final da tarefa. Merlin! Cedric precisava deixar de ser teimoso e escutá-la.

— Senhoras e senhores, dentro de cinco minutos, vou pedir a todos que se encaminhem para o estádio de quadribol para assistir à terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo — o professor Dumbledore levantou-se de seu lugar — Os campeões, por favor, queiram acompanhar o Sr. Bagman ao estádio agora.

Levantou-se, sentindo o estômago afundar de nervosismo. Procurou o olhar de Cedric, mas ele não olhou em sua direção. Sentiu a mão de Apolline segurar o seu braço antes que pudesse ir.

Bonne chance — ela desejou de forma tensa.

Não conseguiu responder verbalmente, então apenas assentiu, antes de seguir os outros campeões para fora do Salão Principal.

Não prestou atenção ao que foi dito e o que estava acontecendo ao seu redor. Aproveitou o interesse de Bagman por Harry para aproximar-se de Cedric.

— Não esquece o que te disse — manteve o olhar para a frente.

Não recebeu uma resposta verbal, apenas notou Krum olhando na direção deles.

Como da outra vez, esperaram as arquibancadas se encherem para receberem breves instruções e os juízes liberarem Cedric e Harry para entrarem no labirinto.

— Tudo bem? — Krum perguntou a Fleur, enquanto esperavam por sua vez.

Oui — mentiu.

Bagman assoprou o apito, dando espaço para o campeão de Durmstrang.

Quem poderia tê-la atingido pelas costas? Duvidava que Krum faria isso, ele estava agindo como sempre, e sempre foi cavalheiro com ela. Mas se não foi nenhum deles, teria que ser algum dos professores que patrulhavam o perímetro. Por que fariam isso? Para que Hogwarts vencesse? Duvidava muito.

Bagman deu o último sopro de apito, indicando a sua entrada. Respirou fundo e passou pela passagem em direção à sebe, talvez se seguisse um caminho diferente do que seguiu no dia anterior. Deveria ter contado a Harry e Viktor o que aconteceu? Talvez os três poderiam impedir juntos que Cedric morresse. Bom, era tarde.

Só esperava que ela não acabasse morrendo naquela tentativa, pois duvidava que tivesse vidas infinitas apenas por estar presa em um looping temporal.

Estranhamente, o caminho que seguiu parecia não ter quase nenhuma armadilha ou criatura, como o que seguiu antes. Se alguém queria que Harry chegasse à Taça, devia ter dado um jeito. Não tinha como duvidar que era algum dos professores, embora a ideia fosse horrível. Harry devia ter seguido por aquele caminho, o que significava que Cedric foi pelo oposto.

Soltou um grito ao sentir um feitiço passar por centímetros do seu rosto. Saiu correndo, tentando evitar quem quer que fosse. Definitivamente era de fora do labirinto, definitivamente alguém queria tirá-la da competição. Procurou erguer um Protego com o mínimo intervalo de tempo.

Deveria atirar as faíscas vermelhas e desistir? Se estivesse do lado de fora, poderia ver com os próprios olhos quando Cedric e Harry saíssem do labirinto. No entanto, a pessoa não deixaria que ela saísse depois de fugir dos feitiços, mesmo que não tivesse provas de que professor estava fazendo isso. Ergueu a varinha para o alto e disparou as faíscas segundos antes de apagar.

— Enervate — escutou em algum lugar do seu subconsciente.

E então abriu os olhos.

— Está tudo bem — sua irmã estava por perto.

— A tarefa... — tentou sentar-se.

— Ainda não acabou — disse Gabrielle — Eu sinto muito, Fleur.

Não estava realmente se importando com ter perdido o Torneio naquele momento, só não conseguia entender como o Cálice de Fogo a julgou a mais capaz dentre suas colegas quando tinha sido incapaz de completar a tarefa do Lago Negro e agora a do labirinto. Mesmo Harry, que tinha apenas 14 anos, tinha conseguido.

— Se saiu muito bem — sua irmã tentou consolá-la, interpretando errado a sua expressão.

Não teve de esperar muito tempo para ver faíscas vermelhas brilharem no céu. Levantou-se, tentando ver se de pé conseguia enxergar melhor. Os patrulheiros tiraram Krum desacordado de dentro do labirinto, exatamente como tinha sido com ela.

Se iam incapacitar todos eles, então por que não conseguiram impedir Cedric? Ele pelo menos estaria vivo!

Resistiu ao terrível hábito de roer as unhas, só podendo aguardar, como o resto deles, que o campeão fosse declarado ou outro corpo fosse resgatado. Sentiu vontade de chorar como em todas as horas do dia desde que acordou. Queria ter sido capaz de fazer mais, tinha sido tão inútil em tantos sentidos.

Impedir Cedric de morrer era o mesmo que mexer com uma vira tempo? Ela sofreria consequências terríveis por sua atitude? Como poderia ser punida por tentar salvar uma pessoa? Desejou que não tivesse disparado as faíscas, então teria acordado quando tudo já tivesse acabado e não teria que esperar muito para que o dia retrocedesse.

— Por onde eles vão sair quando alguém pegar a Taça? — sussurrou a pergunta para ninguém em particular.

A sua resposta surgiu quando uma abertura apareceu na sebe, e Cedric aproximou-se correndo dos juízes. Pela expressão em seu rosto, sabia que estava falando sobre Harry ter desaparecido ao tocar a Taça Tribruxo. Os professores se agitaram, embora tentassem disfarçar para que os alunos não percebessem, mas era difícil.

Se Harry morresse porque pediu a Cedric para ficar...

Escondeu o rosto em suas mãos, tentando não pensar nisso. Em algum momento, tinha caído sentada de volta ao assento na arquibancada. Não conseguia prestar a atenção em nenhuma conversa ao seu redor, mesmo tendo certeza de que alguém falava com ela.

Que dia de merda que não acabava nunca.

— Fleur?

Cedric tinha se aproximado dela, depois de alguns minutos sendo interrogado pelos juízes da prova, que pareciam ponderar se chamavam os aurores ou aguardavam. Pôde ver o professor de perna de pau percorrer a área externa do labirinto, indo averiguar o que tinha acontecido.

Pôde ver na expressão dele que estava tão aflito quanto ela. Um peso tinha sido tirado de seus ombros porque Cedric estava vivo, mas e se...?

Abraçou-o, sem se importar com o que os outros pensariam ou diriam. Eram amigos, afinal.

— Tinha razão, era uma chave de portal — ele murmurou.

Nunca quis tanto estar errada, descobrir que era apenas um sonho sem sentido.

Afastou-se dele e forçou um sorriso.

— Vai dar tudo certo — disse com uma certeza que não sentia.

Então, é claro que foi um imenso alívio quando, depois do que pareceram horas, Harry caiu no gramado. Ele permaneceu imóvel até Dumbledore aproximar-se, fazendo Fleur sentir o frio descer por sua espinha, pensando que ele estava morto. Soltou a respiração quando ele se levantou, contando algo abalado ao diretor.

Tinha dado certo?

— Acho que deveria ir à Ala Hospitalar, não parece nada bem — disse Gabrielle, observando-a preocupada.

— Eu não posso.

Apesar de sentir as suas forças se esgotando, ainda não tinha encontrado a sua alma gêmea. Não ia suportar reviver aquele dia mais uma vez.

— Vamos, Fleur, você está quase desmaiando — Cedric tentou persuadi-la.

Não conseguiu encontrar o homem ruivo em lugar algum, nem qualquer um dos amigos de Harry. Em algum momento, o próprio Harry tinha sumido.

— Você vai descobrir que estou perfeitamente normal, e só preciso de uma boa noite de sono — retrucou —, mas acho que todos os campeões precisam passar na Ala Hospitalar.

Esperava que Krum estivesse bem, chegou a comentar isso em algum momento no meio do caminho. Cedric bufou.

— Ele me atingiu com um Crucio.

— Ele não faria isso! — Fleur exclamou, abismada.

— Mas fez. Se não fosse por Harry...

— Não, deve ter alguma explicação para isso. Quero dizer, alguém me acertou com um feitiço. Talvez tenham usado Imperius nele, ou algo assim.

Cedric não pareceu muito convencido.

— Pode ser — respondeu, mesmo assim.

— Então, como foi lá?

— Bom, eu menti que pegaria a Taça, porque Harry não ia desistir — ele disse, demonstrando arrependimento — Não foi uma decisão fácil. Por que eu não podia dizer a ele?

— Eu não sei — foi sincera — O que fariam depois? Eu e Viktor estávamos fora, só vocês lá. Eu não duvido que usariam Imperius em Harry, se nenhum pegasse a Taça. Não poderiam ficar lá para sempre, certo?

— Qual o ponto? Só tínhamos nós lá. Venceríamos por falta de opções. 

Era um bom argumento.

Chegaram à Ala Hospitalar, podendo ter um vislumbre de uma cama com as cortinas corridas ao redor, provavelmente Krum. Com certeza algo grave tinha acontecido, ou Madame Pomfrey não tardaria tanto.

— Não digam mais nada. Cama, os dois — a enfermeira ordenou, assim que se aproximaram.

— Mas eu... — Cedric tentou protestar, mas o olhar da mulher era implacável.

— Vamos, Cedric, você está quase desmaiando — Fleur sentiu-se vingada.

Ele olhou-a sério antes de dizer com a voz aguda:

— Você vai descobrir que estou perfeitamente normal.

Deu um tapa em seu braço.

Pegaram duas macas, uma do lado da outra, para poderem continuar conversando, e Pomfrey não fez resistência a isso. Antes que pudesse dar uma revisada em seus ferimentos, foi chamada para atender alguma emergência e os deixou a sós ali.

— Obrigado — disse Cedric repentinamente, depois de alguns minutos em silêncio.

— Por quê? — perguntou Fleur.

— Você salvou a minha vida. Se não fosse por você, eu estaria morto agora.

Ela deu de ombros, dizendo sem palavras que ele não precisava agradecer.

— Você faria a mesma coisa por qualquer um de nós — respondeu.

Ele desviou o olhar para um cortinado corrido ao fundo da Ala Hospitalar, que provavelmente era onde estava Krum. Isso só fazia com que ela acreditasse ainda mais na sua hipótese de que tinha sido enfeitiçado para atacar Cedric e Harry.

— Mesmo assim, não foi uma decisão fácil. Eu sei que era uma chave de portal, mas se eu pegasse a Taça... — ele parou de falar — Talvez, finalmente, deixariam a Lufa Lufa em paz.

— Eu gosto do Harry, mas você sabe que é o verdadeiro campeão de Hogwarts — disse Fleur.

— Harry me disse que tinham armado para ele, que ele não tinha posto o nome no cálice.

— E agora tudo faz sentido. Foi a mesma pessoa que atrapalhou a todos nós no labirinto.

— Mas quem?

Não demorou muito tempo para a enfermeira retornar, levitando um corpo até outra das macas mais longínquas da Ala Hospitalar. Não foi muito difícil para Cedric, que era um pouco mais alto que Fleur, dar uma olhada e descobrir quem era.

— É o Moody — ele sussurrou — Ele é professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, ex-auror.

A descendente de veela não pôde evitar dar uma olhada por cima do ombro, antes que a enfermeira corresse as cortinas da maca para poder cuidar do paciente com privacidade.

— Ele parece péssimo — comentou.

— Será que ele encontrou o impostor? — perguntou Cedric.

Não ousaram fazer perguntas quando Madame Pomfrey foi examiná-los, nem olharam para as macas no fundo da enfermaria.

— Então você nunca encontrou a sua alma gêmea? — Fleur mudou de assunto, sem poder conter a sua curiosidade.

— Cho ainda não fez 17, então... Sei lá, acho que é só esperar, não é? — ele deu de ombros.

Não era uma resposta muito convincente, mas resolveu não pressionar.

— E você? Já achou a sua? — Cedric olhou para o lado, como se estivesse procurando por um relógio para saber quanto tempo ela tinha.

— Tenho uma suspeita, mas é complicado.

— É, essa história toda é bem complicada.

Perguntou-se o porquê nunca tinham conversado por mais tempo antes. Não tinha aproveitado melhor o seu tempo em Hogwarts durante o Torneio, principalmente depois dos fracassos durante as tarefas.

— Vou passar umas poções só para fechar esses arranhões, tudo bem? — Madame Pomfrey perguntou a Cedric repentinamente, e afastou-se de onde eles estavam.

Antes que ela pudesse voltar onde eles estavam, as portas da Ala Hospitalar se abriram e quatro pessoas foram até lá, falando alto o suficiente para que pudessem escutar. Uma das pessoas era o homem ruivo, os dois adolescentes ela conhecia de vista de Hogwarts — uma era Hermione Granger, que tinha ido ao baile com Krum, e o outro era Rony Weasley, que tinha a chamado para ir ao baile aos berros. A mulher devia ser mãe de Rony...

— Isso vai ser bem constrangedor — Fleur murmurou, dando uma olhada na terra presa sob suas unhas.

Cedric olhou para trás e então conteve uma risada, como sempre fazia quando Fleur e Rony ficavam no mesmo cômodo, considerando que presenciou de camarote a tentativa de convite. Ela ainda se envergonhava de ter tentado chamar o amigo para o baile, e agradecia por ele não ter percebido que ela tinha tentado convencê-lo de modo não convencional.

— Pensa pelo lado bom, provavelmente vocês nunca mais vão se ver na vida — ele voltou a olhá-la.

Ela apenas ergueu uma sobrancelha, admirando em silêncio o quão lentos os homens podiam ser.

— Me diga que aquele homem não é o irmão dele — disse apenas.

Cedric voltou a olhar para o grupo, que queriam saber onde estava Harry depois da tarefa, e então pareceu entender. E começou a rir descaradamente.

— Eu te odeio — resmungou, sentindo o rosto queimar por chamarem a atenção.

— Você precisa concordar que as reuniões de família vão ser bem divertidas.

Olhou-o sem esboçar o menor sorriso, pensando em comentar sobre se arrepender de salvá-lo da morte iminente, mas ainda era cedo demais para esse tipo de brincadeira, sentia calafrios só de se lembrar de como tinha sido o dia anterior.

— Ei, relaxa, o Torneio acabou. Estamos vivos, todos nós  — disse Cedric.

— E Você-Sabe-Quem está de volta — lembrou-o.

— Vamos dar um jeito nisso também.

Ele estava tão relaxado, ou aparentando estar para não exprimir suas preocupações, que resolveu parar de ser pessimista.

Madame Pomfrey só voltou a se aproximar deles depois que o professor Dumbledore trouxe Harry para a enfermaria, acompanhado de um cachorro preto.

— Aqui está — ela disse, depois de passar a poção em alguns lugares do seu rosto, e então virou-se para ela.

— Eu estou ótima! — exclamou, mas perdeu o equilíbrio quando desceu da maca e ficou de pé, o que não ajudou nada em sua credibilidade.

— Você desmaiou, deve ter batido com a cabeça — murmurou a enfermeira, antes de começar a realizar alguns movimentos com a varinha.

— Só tive um longo dia.

— E põe longo nisso — comentou Cedric.

— Eu dormi! — ela retrucou, ignorando a mulher — Eu não passei a noite inteira acordada.

Ele pôs a mão no peito, fingindo mágoa.

— Eu morro e você tem uma noite de sono tranquila?

Madame Pomfrey chiou para que eles falassem mais baixo, embora uma simples conversa não acordaria três pacientes sob efeito de poção para dormir.

— Sente tontura? Dor de cabeça? Náuseas? — ela perguntou, apalpando a testa de Fleur, procurando por alguma coisa.

Não.

— Se sentir alguma coisa, volte para cá. Pode ir.

Fleur conteve a vontade de mostrar a língua para o lufano, apenas semicerrou os olhos e desceu novamente da maca, tomando mais cuidado dessa vez.

— Eu te disse.

Os seus olhos foram até a maca em que Harry dormia. Tinham apenas dado um aceno silencioso antes que ele dormisse. Esperava que ele ficasse bem, não era certo um garoto de 14 anos passar por tanta coisa.

Quando sentiu os olhares em sua direção, ficou sem saber o que dizer, então apenas caminhou em direção à saída, quase sem conseguir desviar os olhos do homem.

— É sério? Você não vai falar com ele? — Cedric foi atrás dela, e ela só queria que ele falasse mais baixo ou simplesmente calasse a boca.

— Eu não preciso falar com ele. A coisa toda é sobre saber quem é. Eu já sei, assunto encerrado — Fleur retrucou.

— Fugir não é do seu feitio.

Não mesmo.

— Hoje não é um bom dia. E eu realmente não vou lá com a mãe dele me olhando daquele jeito.

Escutou passos no corredor e tentou escutar pela janela se as pessoas ainda estavam nas arquibancadas ou se tinham ido para outro lugar. Como seria o final do Torneio? Teria uma cerimônia? Provavelmente. Agora precisavam investigar a quebra na segurança. Como alguém podia criar uma chave de portal dentro do castelo ilegalmente?

— Você não vai precisar. Te vejo depois, Fleur — Cedric disse antes de caminhar apressado na direção oposta.

— O quê? — perguntou, olhando para trás.

Geralmente, ela não ficava constrangida quando o assunto era homens e tal, mas toda a história de alma gêmea era bem intimidadora mesmo para a pessoa mais autoconfiante. Hesitou ao ver o ruivo aproximar-se dela.

— Oi — ele disse.

— Oi — repetiu — Déjà vu?

— Tipo isso. Eu sou o Bill, aliás.

— Eu sou a Fleur.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos de novo na sexta-feira, dia 09/04, com minha última fanfic para o projeto ;)