Desaparecendo escrita por Dama das Estrelas


Capítulo 19
As paredes que me cercam


Notas iniciais do capítulo

E aí, pessoal! Chegando aqui com mais um capítulo novo, espero que gostem! Obrigada a todos que estão lendo e boa leitura!



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Choveu bastante madrugada a dentro.  

Como era típico da época, o volume de chuva foi o suficiente para resguardar as pessoas dentro de suas casas. No vilarejo ao leste, atenção para os riscos de queda de energia e a suspensão temporária dos acessos às trilhas da região para evitar acidentes. 

Ao contrário do que foi a turbulência das horas anteriores, o dia amanheceu agradável. Céu com algumas nuvens, liberando o sol para aquecer um pouco a terra úmida e trazer uma temperatura fresca o suficiente para animar aqueles que precisavam acordar cedo.  

Quem despertou cedo também foi Sara. Abrindo os olhos aos poucos, piscou por algumas vezes até que recobrasse os sentidos. Estava deitada de bruços. Em algum momento pela madrugada acabou parando naquela posição e permaneceu desse jeito. Nada mau.  

Ela virou o rosto para o lado direito. O quarto estava praticamente um breu e levou um tempo até que seus olhos se acostumassem com a baixíssima luminosidade; e quando o fez, mal percebeu o sorriso que se formou ao se deparar com ele. Não poderia começar o dia melhor sabendo que Grissom estava bem ali e que preferiu permanecer com ela em vez de voltar para o conforto de sua cama. Ele realmente estava ali, dormindo bem ao seu lado. 

Sara se virou de lado por completo, na sua direção, talvez esperando que ele acordasse apenas para uma conversa boba de começo do dia. Foi então que a ficha caiu: lembrou-se que ainda estava viva. Lembrou-se que conseguiu acordar para mais um dia. 

Ela riu baixinho pela ingenuidade e não muito tempo depois percebeu que ele acordara ao ouvir um suspiro longo.  

— Já acordou? — Ela sussurrou. 

— ... Sara...? — Ainda atordoado pelo sono, Grissom passou a mão pelo rosto e se virou em sua direção. — Já... é de manhã? 

— Acho que sim — respondeu rindo. 

— Ok... — Ele completou na mesma moeda. — Bom dia. — disse-lhe enquanto bocejava. — Bom dia, querida... 

Era como acordar de um bom sonho com a grata surpresa de que a realidade era ainda melhor. Ele a chamou de querida, referindo-se não somente a uma amiga próxima, mas alguém que podia chamar de sua namorada. 

Tateando seu rosto, ela sentiu a palma resvalar por sua barba um pouco crescida e gostou da sensação. Ainda era difícil de acreditar; há dois dias isso passaria longe de sua cabeça, mas lá estavam eles dividindo o mesmo quarto e a mesma cama. Juntos como um casal e deixando de lado todos os problemas que os mantiveram longe por tanto tempo. 

— Eu acho que vou ficar mais um pouco. 

Olhos fechados e ainda com a mão sobre ele, Sara sentiu o músculo do rosto se mexer. Estava sorrindo e isto a contagiou. Não lhe faria mal mais algum tempo na cama em boa companhia; claro, imaginando que ele pensasse da mesma forma.  

Sara teve certeza de que estavam em sintonia quando sentiu sua mão ser beijada por ele. 

Se todos aqueles eventos que culminaram com os dois ali naquela cama fosse apenas um sonho, tudo o que ela mais queria no momento era que durasse um bom tempo. Para sempre. 

—------------------------------------------------------------------- 

Era estranho. Sara não conseguiu pensar noutra palavra que descrevesse os acontecimentos de dias atrás. Parecia que a vida lhe reservou anos de inércia para tantas coisas surgirem de vez.  

Ela estava morrendo. Era inegável pensar em uma primeira coisa que não fosse aquilo. Estava morrendo e uma corrida contra o tempo para "testarem" um método para salvar sua vida estava sendo realizada. E ao mesmo tempo em que a morte lhe batia às portas ela vivia um amor que pensava nunca mais poder se concretizar. Estava junto do homem que sempre amou e que deixou uma vida para trás por ela. Tanta coisa acontecendo nos últimos tempos que não imaginava de onde tirava forças (e sanidade) para encarar tudo isso. 

— Estamos tendo um bom progresso na análise daqueles dados. Entretanto, este é um mundo relativamente novo para nós e por isso não podemos atropelar nenhum passo. 

Cinco dias foi o tempo que levou para o supercomputador receber o volume de dados recebidos pelo "exame" em Sara. A partir disso começou-se uma nova etapa, ainda mais cansativa desta vez. Olheiras, ombros decaídos e xícaras de café meio vazias eram apenas detalhes que marcavam o trabalho dos cientistas: mal chegaram na metade da análise e ainda faltava chão para terminarem. 

Langston, cabeça da equipe e o porta-voz para Sara — apesar de se sentir mais confortável atrás dos holofotes — era o único presente na sala de reunião. Antes disso, lavara o rosto marcado pela falta de sono, ajeitara as roupas um pouco amarrotadas e se alimentou propriamente para aquele encontro. Sabia o quanto era importante ser o mais franco e transparente possível. 

Controle em mãos, Raymond fez surgir nos monitores maiores uma série de gráficos com informações das quais Sara se familiarizou em algumas das vezes. Assim como foi prometido, explicou passo a passo a metodologia utilizada para captarem e analisarem todo o volume de dados — o maior que já trabalharam até agora — e como iriam interpretá-los. 

— Como informado antes ainda estamos na metade, mas já temos um possível indicador de como essa anomalia pode estar te afetando. 

Ela permaneceu em silêncio. Atenção total para o que ele iria dizer. Dois dias se passaram desde o início da análise e qualquer novidade era de extrema importância. 

— Trabalhamos com a ideia de que este evento atua como um vírus em seu corpo.  

Olhos fixos nele, o ar na sala parecia ter sido consumido pelo clima tenso, resultado em respirações lentas e pesadas. 

— Fazendo uma analogia, seria como se o interior da senhorita Sidle fosse um emaranhado de fios. — Gesticulou o doutor Langston. — Os sintomas foram os episódios sofridos por ela no caso... — Ele parou por alguns instantes para beber um gole de água de uma garrafa próxima. — São sinais de que os fios estão se fragilizando como numa reação em cadeia.  

Parecia quase inconcebível a ideia de conviver com uma doença invisível até o momento em que lidava com uma. Mais invisível que o câncer, radiação e que a estava matando tão rápido que estas duas; até mais.  

— O estágio final desta anomalia seria a destruição destes fios... Resultando no pior. 

Sara sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela chegou a se esquecer de que Grissom encontrava-se bem ao seu lado. Sentia que sua única companhia era a solidão; a única pessoa na sala, ouvindo apenas vozes distantes que revelavam seu presente e seu destino. 

— Já é um bom avanço. Seguimos bem, melhor que imaginávamos, e a partir disso vamos enviar os comandos ao sistema da sala vermelha e executar o procedimento o mais rápido possível. Todos estão trabalhando nesse momento e eu só parei agora para vir dar as notícias para vocês.  

Ao terminar de falar, Langston deu a entender que esperava algum comentário ou pergunta de Sara. Cogitava a si mesmo que a mente dela deveria estar passando por uma tempestade de pensamentos confusos. 

— Tem uma estimativa de quando vão terminar com isso? — Ela perguntou. 

— Infelizmente, não. Estimar um prazo seria fazer uma promessa da qual não sabemos se vamos cumprir. Por isso é melhor não nos arriscarmos. 

Aquela resposta abalou as expectativas de Sara, esperançosa de que ouviria algo mais realista. Ela não escondeu a decepção escancarada no rosto. 

— E... tem alguma ideia do quanto isso já me afetou ao menos? 

A pergunta fez Grissom virar o rosto em sua direção. De cara percebeu a mudança no tom de voz. Tanta angústia que parecia palpável. 

— Nós ainda não terminamos a análise, senhorita Sidle. Não há como- 

— Nenhum... número?... Qualquer coisa? 

Ele fitou seu olhar ansioso, o olhar de alguém que encarava um médico esperando o diagnóstico de uma doença desconhecida. Langston visou o chão por alguns instantes e umedeceu os lábios hesitante. 

— O bastante para saber que todo tempo ganho é precioso. 

Sara baixou a cabeça e lamentou de olhos fechados. De repente sua mente criava uma imagem ao ver seu corpo sendo devorado aos poucos. O pior de tudo era que já esperava ouvir algo assim, mas não imaginava que a realidade seria tão mais assustadora. Não disse nada. Na janela de oportunidade da qual tinha mais motivos para se manifestar, manteve-se em silêncio. 

— Eu realmente sinto muito pela resposta desagradável. Sei que... vocês dois não queriam ouvir algo assim, mas prometer algo incerto não seria ético. Posso citar um número agora e no final o resultado ser completamente diferente. 

— Tá. — Ela assentiu de olhos fechados. Sabia muito bem que reclamar ou insistir não a levaria a nada. — Eu... entendo. — Apesar do tom de voz abatido parecia conformada na medida do possível. 

— Apesar de as notícias não serem as melhores, pedimos que fique tranquila. Nossa única prioridade aqui é cuidar do seu caso — declarou com toda empatia possível. 

Fim da reunião. O casal saiu primeiro, deixando o cientista para trás a atender uma ligação. Ao lado dela, Grissom não se atrevia a iniciar uma conversa por medo de tornar o clima incerto ainda mais tenso, mas vê-la daquele jeito perturbava sua mente. Se já saíra de lá cabisbaixo pelas notícias, mal conseguia imaginar o que se passava com Sara. 

— Eu sei o que deve estar pensando. — Sara comentou ao imaginar que ele diria algo em breve. 

— E-eu não... — Ele levou a mão à nuca ao se enrolar com as palavras. 

— Deve estar pensando em alguma coisa pra me confortar ou... eu não sei... tentar me fazer sentir melhor — disse enquanto continuava a caminhar. Olhos baixos, em nenhum momento se voltou a ele. — E-eu... não precisa se preocupar comigo. Vou ficar bem — garantiu. 

Não chegaram a dez passos adiante quando finalmente Grissom declarou algo decente: 

— O que me conforta... se é que posso dizer assim... — Apesar de não achar a palavra ideal, era a única que lhe veio à mente. — É que me parecem empenhados em trabalhar 24 horas por dia na sua causa. 

Para sua surpresa, todavia, Sara pareceu não ter lhe dado ouvidos. Continuou andando como se estivesse sozinha. Cabeça meio baixa, seus pensamentos a levaram a outro lugar; num corredor extenso, escuro e vazio, enquanto caminhava sem ter a menor ideia de qual era seu destino final. Se nem mesmo os cientistas se arriscavam a estimar o que estava acontecendo — ou escondiam a verdade com unhas e dentes —, como poderia pensar que suas chances de cura eram altas?  

Então sua mente a levou à imagem do rosto de Langston enquanto respondia a dúvida que mais a consumia. Aparentemente seu tom de voz austero indicava total confiança no que estavam fazendo, no entanto, podia perceber que aqueles olhos também mostravam um homem atordoado pela própria realidade que o cercava. Andar às pressas no escuro enquanto corria contra o tempo deveria ser uma experiência atemorizante, até mesmo para um cientista com anos de carreira. 

— Sara. Sara...? 

— ... Hã? 

Só reagira quando ouviu seu nome ser dito pela segunda vez. Ao se virar para trás, viu que Grissom parou de caminhar e se mostrava um tanto preocupado. 

— Está tudo bem? 

Gesticulando que sim com a cabeça, ela lhe mostrou um sorrisinho. 

— Acabei me distraindo aqui. Disse alguma coisa? 

— N-não... não se preocupe com isso — respondeu disfarçando, caminhando ao seu encontro para que pudessem continuar. 

— Você acha que eles vão conseguir terminar a tempo? — Ela perguntou de repente. 

— A tempo de quê?  

Ele não percebera as palavras que lançou a Sara. Na verdade, sequer compreendeu ao certo o que havia acabado de ouvir, tão imerso no que havia dito anteriormente. 

Sara parou de caminhar por alguns instantes para encará-lo, olhos nos olhos. Sorrindo de lado, respondeu-lhe: 

— Nada. Deixa pra lá. 

—------------------------------------------------------------------- 

As paredes de concreto reforçado tornavam o ambiente gélido, nos moldes de um calabouço de séculos atrás. Luzes brancas enfileiradas no teto indicavam um caminho à frente; interminável à primeira vista. Ela sabia que estava lá e que só havia uma direção a seguir. Mesmo se não quisesse já era tarde; sentia seu corpo a guiando para frente como se o próprio tomasse controle. 

Passos cautelosos, ela continuava a seguir pelo corredor imaginando que algo a esperava ao final. Olhava para o lado e via somente uma parede rígida, sem portas, que se estendia junto do corredor. Lembrava-se de tocar na parede esquerda e sentir o frio e a rigidez do concreto; calafrios tomaram-lhe conta. 

E ela continuava andar num caminho que parecia infinito. Queria parar e investigar, conhecer melhor o local aonde havia se enfiado, porém algo a forçava a prosseguir. E no meio destas andanças, se antes achava estar acompanhada do silêncio absoluto, começou a ouvir o que seria um amontoado de vozes distantes, fazendo-a acreditar que talvez não estivesse sozinha. Olhou então para os lados pensando que a fonte de todas aquelas vozes não estaria escondia por trás daquelas paredes; todavia, não encontrou porta ou janela alguma.  

Ela caminhava e caminhava e o ruído das vozes ecoava por aquelas paredes. Ou seria do chão ou propriamente do teto? A única coisa que sabia era que não suportava mais ficar ali. 

À sua frente um percurso sem fim, angustiante e tenebroso. As vozes sussurravam em seu ouvido como fantasmas. Quando olhou para trás a saber o quanto percorreu viu nada mais que a escuridão. As luzes atrás de si se apagaram como um convite (ou coerção) para que continuasse. Não havia mais caminho de volta, impossível enxergar mais que um palmo de distância atrás de si.  

Então ela continuou a andar, mas desta vez apertou o passo. Ela olhava para os lados e não havia porta sequer, nenhuma indicação de saída. A respiração acelerou devido ao esforço e a uma tentativa do corpo de se aquecer. A cada distância percorrida o frio se tornava ainda mais intenso e nem a adrenalina a mil era o suficiente para se esquentar.  

E ela corria. Corria como se a escuridão fosse uma entidade viva prestes a engoli-la a qualquer momento; como se ela não passasse de um alvo fácil a ser capturado. Sentia que se olhasse para trás novamente não seria capaz de continuar. 

Enfim, algo à sua frente. Ela suspirou, tomou mais fôlego para um último impulso e correu ao que seria a porta de saída. Era estreita, feita de madeira velha e desgastada. As vozes ficaram ainda mais bizarras quando tocou na maçaneta redonda. Num único movimento o fez e seguiu adiante sem pensar. Tudo para se livrar daquelas assombrações. 

Não percebeu, entretanto, o que lhe aguardava à frente: o nada. Passo em falso, de repente se viu num local escuro — talvez um precipício — e pensou que fosse cair para a morte certa, mas foi diferente. Olhou para trás e a porta com o último resquício de luz havia se fechado enquanto ela começava a se afastar lentamente como se estivesse flutuando no espaço.  

Nenhuma luz. Era impossível enxergar a mão à frente do rosto; se é que ela ainda estava lá. Flutuando no meio do nada, se afastava pouco a pouco para um destino incerto. 

Então esta é a sensação...? 

Os minutos se passavam. Recolhendo-se em posição fetal ela tentava se aquecer do frio que ia piorando cada vez mais. Lançou um suspiro para tentar enxergar o vapor sair da boca, mas nada. Não sabia para onde ir, nem se lutasse com todas as forças para fazer o caminho de volta teria êxito. Seu último recurso não seria nada mais, nada menos, que aceitar seu destino: vagar sobre o espaço até que definhasse e morresse por inanição ou por hipotermia.  

As vozes ao fundo ainda estavam lá, porém distantes e abafadas. Talvez estivessem mesmo por trás daquelas paredes. 

Ela deu um longo suspiro com a incerteza de ser o último. Olhou para todos os lados na esperança de que focasse em algo, não para lhe dar esperança, mas que mantivesse ao menos uma fagulha de sanidade. Foi então que, passado algum tempo, viu distante uma série de pontos luminosos bem distantes. Não tão belos quanto uma noite estrelada, mas o suficiente para distraí-la e criar em si uma última memória antes de partir. 

E de repente um barulho peculiar alcançou seus ouvidos. Era o som do mar, um ruído típico da praia, da água tocando a areia. 

Esta é a sensação... 

Enfim, as vozes cessaram. 

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Sara acordou tremendo de frio. Por um momento achou que ardia em febre, porém notou que o cobertor estava decaído para o lado direito e a temperatura no quarto havia diminuído. Caiu-lhe a ficha que já não estava mais sonhando. 

Ao tentar se ajeitar na cama, lembrou-se que não estava sozinha. Baixo, mas perceptível, era o som da respiração de Grissom que dormia de lado voltado para sua direção. Chegou a se perguntar se ele não tinha sonhos como aquele e torcia para não lhe acontecesse o mesmo.  

Pensando em voltar a dormir, chegou a pegar o cobertor para se cobrir novamente e o fez, mas logo após tentar se ajeitar na cama sentiu que não daria certo. Era ficar olhando para o teto de um quarto escuro sem conseguir pegar no sono ou então pensar em outra coisa. Resolveu se levantar, só que não tomou conhecimento de seus movimentos e acabou acordando Grissom por um descuido; percebeu isso quando ouviu um gemido de sono.  

Mais acostumada com a escuridão, notou que ele moveu o braço em sua direção como por instinto. 

— ... Hã...? Sara...? 

— Ei... Tá tudo bem. — Ela envolveu sua mão com cuidado. 

— O que você... está... — Embriagado de sono, ele mal conseguia completar uma sentença. 

— Eu já volto. — Esgueirou-se para beijar sua bochecha e então sussurrou: — Não se preocupe. 

A princípio sua resposta pareceu acalmá-lo. Como num estado de transe, pouco a pouco se ajeitou em seu espaço na cama até que finalmente parou de se mexer. Melhor para Sara, que não queria dar explicações por se levantar no meio da madrugada. 

Esfregando as mãos sobre os braços tentou se aquecer como nunca. Trocou de calça, vestiu uma outra camisa deixada ao lado da cama junto da jaqueta corta-vento. Calçou os sapatos e, pegando o celular, visou a cama uma última vez antes de sair do quarto. Torcia para que ele não acordasse novamente sem ter se lembrado da conversa breve e reagisse da pior forma possível. 

O cair da noite se deu sem chuva firme, apenas a ameaça de uma garoa que se dissipou aos poucos. Sara saiu do quarto sem destino, tendo em mente que não suportaria ficar acordada naquele quarto escuro pensando naquele sonho. Não iria acordar Grissom para contar o que houve, claro, e não iria continuar naquela posição sem saber quando voltaria a dormir. Precisava se libertar um pouco. 

Ela desceu ao refeitório por praxe. Talvez fosse a fome a sua maior adversária e por isso tentaria a sorte procurando por alguma coisa. Disseram-lhe que sempre havia alguma refeição ou lanche disponível para todos, então achou uma boa ideia seguir até lá. 

Procurando por algo na mesa self-service, encontrou na estufa ao lado alguns pedaços de torta de abacaxi local. Ao se deparar com o visual atraente e o cheiro adocicado ela não pensou em outra coisa.  

Sara não se envergonhou como da outra vez; aproveitou que haviam pouquíssimas pessoas por ali e se serviu sem demora. Antes mesmo de sentar-se em uma das mesas provou um pedaço. Estava delicioso. Nada melhor que uma pequena refeição para afastar os maus (e estranhos) pensamentos antes de voltar para o quarto. 

Provida de um ambiente mais tranquilo (e particular), teria mais liberdade de pensar naquele sonho ou apenas refletir no que iria acontecer adiante. Se não fosse suficiente, então apenas o silêncio de um local vazio acompanhado de uma refeição seriam as melhores companhias. 

— Senhorita Sidle? 

Ainda na metade da torta, uma voz conhecida a poucos metros à sua direita parecia surpresa. Sara arqueou as sobrancelhas pela mesma reação que a da pessoa. Era Langston, que, carregando uma xícara, veio ao seu encontro um pouco receoso. 

— Ei. 

— Está tudo bem? — Perguntou ao parar ao seu lado. Não se sentou. Segundos após dizer aquilo ergueu a mão direita e sorriu envergonhado. — Desculpe-me a inconveniência. É que... vendo você agora... 

— Madrugada, não é? — Ela deu de ombros. — Não. Está tudo bem comigo, obrigada. Eu... não consegui mais dormir. E você? 

— Eu...? — Apontou para si mesmo, pego desprevenido. — Ah... acho que o mesmo. Uma pausa dos trabalhos pra mim... Estamos revezando equipes para o projeto ter continuidade. Eu deveria estar dormindo um pouco agora, mas também não consegui.  

— Parece que estamos na mesma. — Ela brincou, mas seu sorriso era triste. Continuou a comer o pedaço de bolo, mas sem a mesma vontade de antes. 

— Que sorte a nossa — rebateu no mesmo tom. Após alguns segundos, sem ter mais o que dizer decidiu se despedir. — Bem, eu... vou andando. Se precisar de alguma coisa não hesite em falar comigo. 

Ela poderia deixá-lo seguir seu caminho. Poderia.  

— Na verdade... — Quando ele se afastava a poucos passos, Sara tomou a palavra. Um pouco envergonhada, mas seguiu. — Eu acho que preciso, sim.  

— Diga. 

— Tem um tempo? 


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