No dia seguinte Kaoru demorou para perceber que estava acordando em um quarto que não era o de sua casa; mirou seus olhos para o teto, notou a luz solar já iluminando o lado de fora….Parecia ser mais tarde do que o horário em que ela costumava acordar. A seguir tentou sentir seu entorno, olhou vagarosamente ao seu redor...E se lembrou que havia dividido seu futon com Kenshin.

 Tapou momentaneamente a boca com as mãos , suprimindo um susto , como se a timidez fosse engoli-la; sua consciência a julgava.

“ Que besteira, depois de tudo o que aconteceu ontem, para que tanto pudor assim?”

A massagem que ele executou em suas costas, com tanto detalhamento e cuidado, havia feito a espadachim relaxar e perceber como ela ainda queria estreitar o contato físico com ele; ela foi se permitindo viver suas vontades. Foram se experimentando aos poucos, Kenshin servindo como um guia para o mundo novo.

Não conseguiu acabar de lembrar cada cena , menos ainda realizar seu debate interno com sua consciência como queria. Só se lembrava de como seu corpo havia respondido aos toques dele e de como ela realmente tinha poderes sobre o corpo dele. Se sentia mais leve e mais confiante na solidez do que sentiam. Um suspiro resumiu seu contentamento. Resolveu parar de divagar olhando para a luminosidade solar,  já que o dono de seus pensamentos já estava se apoiando em seu lado esquerdo, a olhando como se contemplasse o mais belo dos cenários, sorrindo bem devagar.

— Bom dia. - Ele passou o indicador por um dos lados da face dela, vagarosamente. - Dormiu bem? - O olhar dele a examinava, um leve sorriso pontuando os lábios dele.

— Bom dia.- Ela o encarava , afagando a mão dele, se virando de frente e também se apoiando em seu lado direito, com um discreto sorriso se formando em um canto de sua boca. - Eu dormi bem, sim, obrigada. E você? - Não conseguiu evitar totalmente um pouco de timidez.

— Melhor impossível. - Ele riu baixo, se sentando, enquanto ela o imitava; ele astutamente notou que ela não estava completamente tranquila. - Estou notando um pouco de timidez em você...Posso saber o porquê? - Ele levantou uma sobrancelha inquisidora, alisando o pulso de uma das mãos dela.

— É que eu ainda estou… - Ela se endireitou, tomou fôlego e encarou os olhos dele sem titubear. - Eu ainda estou processando o que aconteceu ontem sem sentir qualquer pudor perto de você, mas ainda está um pouco difícil...É  isso. -  Ela parecia estar dissolvendo um nó de sua garganta.

Ele a observava com atenção, se aproximando.

—Eu já disse isso ontem, mas não se esqueça que amo cada parte sua, por dentro e por fora, definitivamente. - Ele recebeu um audível tapa no bíceps desnudo. - Ei, foi um elogio, senhorita esquentadinha. - Ele segurou o mínimo queixo dela entre seus dedos momentaneamente, como um gracejo, sorrindo. - Não precisa ter vergonha nenhuma perto de mim, nunca. - E afagou os cabelos da nuca dela.

 - Obrigada Kenshin, por tentar me fazer sentir mais tranquila.... Mas é algo maior que eu, foi a primeira vez que nos vimos totalmente  e entramos em maiores intimidades e... - Ela não conseguiu encara-lo nessa parte, mas logo tomou novo fôlego e se obrigo a olha-lo novamente. - Eu ainda simplesmente não sei lidar com isso com naturalidade. - Ela fechou as orbes azuis  e respirou fundo, descarregando totalmente seus sentimentos. Logo sentiu a mão dele acariciando levemente a nuca dela mais uma vez.

— Fico feliz que você se abra comigo com tanta franqueza, ficaria preocupado se você me escondesse algo - Ele não desgrudava os ternos olhares dela. - E no final das contas, eu saberia caso estivesse mesmo tentando me deixar alheio aos seus sentimentos.. - Ele a olhou sabichão, ela girando os olhos para o teto, tentando suportar as inúmeras expertises do seu par. - E já que estamos conversando abertamente, teve algum melhor momento de nossa diversão de ontem que merece um destaque especial? - Ele agora brincava com os dedos das mãos dela nos seus , a olhando com brilho malicioso no olhar. - Só para eu poder repetir mais vezes na próxima oportunidade. - Ele a desafiava a sair ainda mais de sua concha de timidez, agora.

Ela notou as intenções dele e respondeu , porém não como ele queria.

—Não acho que eu precise dizer nada,  sendo que você viu bem e ouviu tudo o que eu senti, Kenshin, seu provocador. - Ela espetou o abdômen torneado dele com os dedos dela, ele se encolhendo, rindo. - E agora sei  de bem mais pontos fracos seus para usar a meu favor caso queira continuar a me deixar tímida ... - Ela sorriu, imitando a arqueada de sobrancelha dele.

Ele beijou a testa dela, se afastando e a encarando, intensificando seu brilho mais dourado insaciável no olhar.

—   Existem muitas outras opções secundárias e, sempre que você desejar, podemos explorá-las, minha bela Kaoru. - Foram se aproximando como se precisassem confirmar esse acordo, num beijo demorado com ela. Se distanciaram  novamente e ele ainda depositava pequenos beijos nos pulsos dela, a olhando enquanto subia vagarosamente os caminhos de seus lábios pelo braço dela. - Você acha que vai querer repetir nossas explorações? -O olhar dele não havia quebrado contato com o dela.

Ah , essa voz rouca , com esse olhar insinuante, a perícia, a delicadeza ….Como dizer não, se havia sido simplesmente sua melhor noite de vida?

— Acho que vou, sim , Kenshin . - Ela sussurrava , ainda hipnotizada pelo olhar dele, acariciando a cabeleira ruiva enquanto ainda ele agora depositava pequenos beijos na lateral do pescoço dela, a arte de falar se tornando um desafio. - E, sobre nossos amigos curiosos de plantão no outro quarto … - Ela jogou os cabelos para trás, abrindo ainda mais o caminho para ele, apontando o cômodo com os olhos. - Nós dormimos juntos e nada mais, combinado? - Ela agora tinha o maxilar dele entre seu  indicador e seu polegar, enquanto demandava uma resposta positiva com o olhar terno e objetivo ao mesmo tempo. Intensificou sua persuasão, os olhos azuis oceano penetrantes.

Ela notou admiração no olhar dele, que parecia pronto a obedecê-la com afinco.

O feitiço virando contra o feiticeiro.

— Perfeitamente, nossa intimidade é unicamente nossa. - Ele a ajudou a se sentar, fazendo o mesmo. -  E não se trata exatamente de uma mentira dizer que dormimos juntos. - Ele a puxou para o colo dele,  a fazendo rir, enquanto falava. - E apesar de tudo o que fizemos noite passada... - Ele notou o rubor instantâneo dela depois de ter falado isso - ...Não chegamos a fazer nada que não tenha volta; jamais te desonraria antes irmos a um templo fazer nossos votos de casamento. - Um singelo sorriso pontuou a fala dele.

Um largo sorriso invadiu o rosto dela.

—Kenshin, você está gastando seus pedidos de casamento. - Ela alisava o torso dele, matreira. -  Estou contando o terceiro até agora, se não me engano. - Ela mostrou os três dedos para ele, que arqueou uma sobrancelha sabichona. - E eu inclusive já confirmei todos eles. Não vou ter surpresa alguma no dia em que for algo oficial.- Ela levantou os ombros, suspirando, num exagero cômico.

— Bem, eu posso guardar surpresas para outras coisas muito interessantes. - Ele a segurava pela cintura agora. - Não se preocupe. - E trouxe o queixo dela na mesma linha do dele.  - E pode parar com as contas, porque eu jamais vou parar de falar o quanto eu quero ficar com você pelo resto de meus dias. - E se aproximou devagar , olhando os lábios dela, partindo para os olhos de puro oceano que o olhavam de volta - Por mim eu já teria te levado ao templo desde a primeira vez.

Ela riu , sentindo o nariz dele absorver mais de seu aroma bem próximo à sua nuca, ela tentando se controlar para não dar gritinhos que denunciassem o grau de intimidade do casal para todos os outros hóspedes. Se é que eles existiam mesmo. Ali, naquele momento o casal parecia ignorar a existência do restante do mundo.

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Todos haviam se encontrado no café-da-manhã e os olhares de Megumi, Sano e Yahiko denunciavam a curiosidade que sentiam, porém sem perguntas feitas.

Kaoru e Kenshin já haviam falado a todos eles que haviam dormido muito bem, como já tinham combinado, e nada além disso ou de olhares felizes que o casal trocava.

O trio de amigos se frustrava por não obter maiores informações, mas o dia seria longo e nem todas as atividades seriam em grupo. O plano era dividir e conquistar.

Obviamente Megumi começou a tentar tocar no assunto com Kaoru enquanto exploravam algumas floristas do local, passeando pelas rudimentares ruelas.

—E então, aproveitaram bem a noite? - Megumi sacava seu leque, apaziguando o calor que fazia. - Não vai me dizer o que fizeram, não tem nenhuma dúvida ou…? - Megumi contava com a inexperiência da amiga, que sempre havia recorrido à ela, mas no momento era pura curiosidade. - Você sabe que não vou te julgar, estou sempre aqui para te ouvir e ajudar, como sempre. - A raposa sorriu de forma quase genuína, não fosse suas íris refletindo uma ânsia por informações quentes.

— Ah, eu agradeço muito Megumi, como sempre, você tentando me ajudar. - Kaoru observava um lírio com mais atenção, a seguir se virando para a amiga. - Mas realmente não tenho nenhuma dúvida nem nada do gênero; Kenshin sempre é muito claro e eu sou sempre uma boa ouvinte, então tudo certo. - Ela levantou os ombros de forma inocente, passando a caminhar um pouco mais à frente.

Megumi a alcançou, a pegando pelo braço.

—Kenshin é muito claro com o que? O que deu certo? Tudo? Tudo , você se refere a realmente ... .- Megumi expressava choque e confusão,  com direito a olhos inegavelmente arregalados , uma rara visão para qualquer pessoa.

— Ah, minha indiscreta amiga, não sei do que você está falando , mas Kaoru Kamyia é uma moça de família que respeita tradições; então não pule para conclusões extremas e precipitadas. - Kaoru agora também se abanava, com um semi sorriso em seus lábios. - Olhe ali, são gerânios... Que lindos, não?  - Ela apontou, se aproximou, e continuou a caminhar ao lado da kitsune. - Precisamos acabar a visita aqui e ir buscar o almoço no lugar em que o encomendamos...Daqui a pouco os rapazes acabam a trilha da montanha e precisamos encontrá-los naquela árvore enorme, lembra?

Megumi se colocou a seu lado novamente.

—Kaoru, não quero ser indiscreta, mas você não está me deixando opções para não tirar conclusões definitivas, sinceramente… - A médica ainda tinha suas cartas na manga. - Pelo jeito que se olham pelos risos, os olhares e os risinhos que escutei de manhã quando passei em frente à porta do quarto… - Kaoru arregalou os olhos nesse  momento. -  Diria que seus corpos não são mais um mistério um para o outro. - E sacou seu leque, cobrindo a boca e sorrindo significativamente com os olhos.

Kaoru emudeceu alguns segundos e pensou na inteligência da amiga, que poderia estar simplesmente jogando uma isca. E tinha decidido não morde-la.

—Não sei o que você acha que ouviu, Megumi, porém sua criatividade é espantosa, deveria abandonar a carreira de médica e passar a ser uma escritora de sucesso. - Kaoru sorriu maliciosamente, e se pôs a abanar-se. - Por kami, precisamos sair desse sol e ir ao restaurante, vamos logo, sim? - E sorriu abertamente para a amiga.

Megumi havia decidido tentar interrogá-la novamente mais tarde.

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Yahiko , Sano e Kenshin haviam tido a ideia logo depois do café - da - manhã de escalar uma montanha local, não muito longe de onde Kaoru e Megumi estavam agora.

Os amigos teriam a chance de conversar com Kenshin e extrair interessantes informações….Ou assim planejavam.

—Pois então, você não ficou bravo conosco, certo? - Yahiko se apoiava em um galho firme que havia achado na subida da montanha, agora o usando para descer o trecho final e irem de encontro às moças. - Digo, vocês são um casal afinal de contas, e queríamos que vocês se aproximassem mais.

— Isso ficou bem claro.  - Kenshin mostrou a sombra de um sorriso. - Obrigado pela preocupação, mas nós também sabemos o que fazer e quando , sem nossos amigos interferirem. Somos adultos, não? - Kenshin havia se voltado para trás com uma piscadela cômica para o pupilo, porém suas palavras permaneciam um tanto secas.

— Adultos que demoraram anos para se relacionar! Precisam de mais do que um empurrão, se quiser saber. - Sano vinha falando alto por trás do grupo, pulando pedras com facilidade com suas longas pernas. - E então, foram bem ontem a noite?

Yahiko e Sano pararam ao lado de Kenshin para ver o rosto dele nesse momento.

—Foi uma ótima noite ,sim. - Obviamente o rosto dele era impassível e neutro. - Não podia ter sido melhor. - Nesse momento ele sorriu um pouco, aguçando a curiosidade dos rapazes ao seu lado. - Dormimos muito bem . - E nesse momento os rapazes tiveram seus ânimos esfriados, com indistintos rostos decepcionados. - E obrigado por perguntar, novamente. - Kenshin desfez seu semi sorriso e seguiu caminhando à frente do grupo , contendo a graça que achava da curiosidade deles.

Agora estavam  passando por uma das curvas finais que terminavam  a caminhada e partindo para a parte plana de campina verde, com flores amarelas.A brisa suave levava os cabelos deles para trás, como que os premiando pelo esforço realizado.

Era ali, alguns metros à frente,  que os grupos haviam combinado de se encontrar em uma bela sombra de uma árvore frondosa para almoçar.

—Então se deitaram e dormiram, é isso? - Yahiko não ia desistir logo de primeira, então , acompanhou os passos de Kenshin e lhe questionou .

 O ruivo  logo se voltou para ele, o rosto praticamente frio. Lembrou Yahiko quase que imediatamente da expressão do homem quando tinha seus rompantes de “battoussai” durante batalhas passadas. Teve calafrios.

— Curioso com a minha vida íntima e a de sua sensei? - Kenshin cruzou os braços a frente de seu tronco, não deixando de olha-lo . - Certamente ela não aprovaria sua pergunta, assim como eu não aprovo.. - E o deixou para trás, continuando a caminhar, no fundo achando certa graça da expressão amedrontada que o jovem rapaz havia adquirido.

—Deixa comigo moleque, isso é papo de homem. - Sano passou correndo na frente de Yahiko, o empurrando para trás e alcançando Kenshin. - Pois então, de homem para homem - Sano puxou o amigo mais para perto de si , como se fossem trocar um segredo de vida ou morte, quase falando em sussurros. -  Finalmente conseguiram? - E diminuiu o tom da voz , cobrindo a boca com as mãos. Expectativa no olhar que encarava a face do ex-hitokiri.

Kenshin , por sua vez, deu um suspiro , ergueu os ombros e se aproximou um pouco mais de Sano, em tom de segredo.

—Você não vai contar a mais ninguém , vai? - A expressão dele era quase grave, olhava para os lados atento, como se observasse se mais alguém estaria escutando.

—Claro que não, Kenshin. - Sano arregalava os olhos em expectativa, estalou os dedos das mãos, aguardando a confissão do meu amigo.

— Bem.. - Kenshin cobriu a boca com a mão, dramaticamente. - Nem eu .- E sorriu de modo bonachão. - Você já sabe o que precisa saber. -  Descontraiu suas expressões, continuando a caminhar e já avistando as garotas colocando toalhas no chão poucos metros à frente. 

— Kenshin, ora seu…! - Sano correndo atrás do mais veloz do grupo enquanto Yahiko seguia por último, conformado em não participar de nenhuma descoberta.

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Voltaram para o ryokan em que estavam hospedados para aproveitar o restante do dia de estadia, já que na manhã seguinte partiriam logo após o café-da-manhã.

Passearam por lagos e jardins; aprenderam a destreza necessária para se realizar uma cerimônia do chá, tarefa essa em que Kenshin superou a todos do grupo, para o desespero de todos os outros, que haviam tentado com tanto afinco.

As mãos dadas de Kenshin e Kaoru raramente se soltavam; Yahiko, Megumi e Sano permaneciam intrigados, sem nenhum tipo de resposta satisfatória.

—Ela não disse nada também? - Yahiko se virou para uma Megumi que balançava a cabeça negativamente.

 Os três conspiradores permaneciam um pouco atrás do casal, tentando planejar os próximos passos. 

— Bem, eu não acho que devia continuar tentando nada. Ela é minha sensei e ele é como se fosse também; não vou perguntar mais nada, para meu próprio bem. - Yahiko colocou seus braços atrás de sua cabeça, numa expressão relaxada, andando um pouco mais à frente. - Eu não continuaria a tentar espionar, se fosse vocês também.

— Ah seu moleque traidor! - Sano xingou baixo, ficando sozinho ao lado de Megumi. - E então, alguma outra estratégia na manga, kitsune? - Ele deu um meio sorriso matreiro, esperando a resposta dela.

— Kaoru é teimosa mas não tem ainda as malícias do mundo…- A bela pensava com o dedo indicador massageando levemente seu queixo. - Creio que consiga ainda arrancar algo dela no meio de um discurso mais espontâneo e involuntário…- Ela sorriu para si mesma e se voltou para ele. - E você, pensou em algum outro modo de fazer o Ken-san falar? Ele já é tarefa mais difícil…- Ela suspirou preocupada.

— Álcool sempre pode ajudar a soltar qualquer pessoa…  - Sano já sorria largamente. - Ainda temos um jantar pela frente, esqueceu? 

— Pode dar certo…- A médica se abanava com seu leque branco. - Mas ele já ficou alcoolizado em nossa presença antes e nunca fez nada atípico, não sei se vai dar certo…- Ela olhou para o briguento e assumiu. - Essas serão nossas últimas tentativas, depois os deixamos em paz; já estamos às beiras da criancice.

Ele sorriu largamente.

—É só uma diversão extra, mas concordo; podemos parar depois dessa última tentativa. - Ele passou seu braço ao redor do ombro dela e continuaram caminhando até chegarem às piscinas termais.

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O entardecer e o canto dos pássaros que já se retiravam para dormir faziam o cenário perfeito com uma brisa agradável; mais uma vez moças de um lado e rapazes do outro, toalhas apoiadas nas respectivas cabeças e poucas palavras ditas.

Ao menos por um certo intervalo de tempo.

—Hoje teremos nossa última noite aqui, espero que seja tão memorável quanto foi a de ontem. - Megumi permanecia de olhos fechados, esperando o peixe morder a isca.

—Eu também espero. - Kaoru havia falado baixo, sorrindo, suas mãos brincando com a água, distraidamente.

“Céus, ela me pegou. Mas eu não disse nada demais, de qualquer modo.” E Kaoru abandonou qualquer tipo de preocupação, se preparando para a segunda tentativa que a amiga faria a seguir de saber sobre o que exatamente havia acontecido entre os dois na noite anterior.

—Ah, Kaoru-chan, nenhum tipo de informação, só para eu me alegrar um pouco mais por você? - Megumi havia perdido a pose relativamente superior e elegante que sempre havia mantido, a curiosidade a dominava. - Eu que sempre fui toda ouvidos e auxílios para seus anseios…- A moça ajeitava-se muito ofendida em sua expressão. - Muito bom saber que sequer sirvo para ao menos receber boas notícias…- O rosto fechado, os olhos cerrados com força, se apoiando na parede do lago de água quente.

Kaoru suspirou, se aproximando da moça.

—É tudo tão íntimo, não sentimos vontade de dividir com ninguém, e compactuamos com isso. - Kaoru observava a amiga resolutamente fechada, com certa preocupação no olhar. - Eu não quero ser ingrata , mas não me sinto à vontade dando detalhes de cada mínima coisa que fizemos ontem. - A voz dela soava séria. - E também eu nem sei se lembro de tudo…- Ela conseguiu endireitar o tronco de sua ouvinte nesse ponto, com incerteza e um pouco mais de flexibilidade em sua voz.- Só sei que havia partes do meu  corpo que reagiam de um modo que eu nunca imaginei…. -  Kaoru sentiu a face esquentar e ao voltar a encarar a amiga notou o largo e grato  sorriso que a mesma agora exibia.

— Por todos os kamis , Kenshin quis te dar um intensivo logo de cara pra compensar todo o tempo perdido? - As duas cochichavam animadamente, mantendo a voz baixa, Megumi cobria os risos da boca. - Exploraram seus corpos e não chegaram à fatal exploração final, como você já havia deixado claro…- Ela arqueou uma sobrancelha atrevida. - Perdeu o fôlego mais de uma vez, suponho.

—Cada minuto foi uma sensação de estar mais próxima aos céus...Tudo com calma e muita delicadeza. - A Kamyia sorria devagar, discretamente, o olhar perdido em lembranças.

—Claro, era de se esperar ..Fico feliz que tenha tido essa experiência, que abrirá porta para outras, não tenha dúvidas. - Ela riu largamente para a ainda tímida espadachim. - Aproveite ao máximo... Melhor ainda, direcione-o sempre , essa é uma regra de ouro. - Era quase um cochicho conspiratório, olhar estreito e sobrancelhas perigosamente juntas.

—Ahm...Está certo, então, irei fazer isso. -Kaoru tinha um mínimo sorriso envergonhado em sua face, enquanto sua confidente  permanecia com  um sorriso de orelha a orelha.  - Agora, por favor, vamos somente relaxar, sem mais perguntas, certo? - Um “Q” de irritação palpável se notava na voz da mais jovem nesse momento.

— Claro, Kaoru, relaxe e fique com as energias renovadas para hoje a noite, na parte dois das aventuras de futon. - E recebeu um jato de água no rosto por parte de uma vingativa  Kaoru.

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—Ah, essas águas quentes, vou sentir falta disso. - Yahiko havia se apoiado na borda do lago, olhos fechados e sorriso largo. - Não podemos voltar logo?  Tudo aqui foi tão bom que precisamos repetir a dose. - O jovem suspirou , animado.

Sano acotovelou o samurai ruivo ao seu lado.

—E você vai repetir a dose, Kenshin? - Um largo sorriso malicioso pontuou o gracejo de Sanosuke. - Hoje a noite, sabe. - As sobrancelhas dançaram na testa do briguento.

—Bem, já estou compartilhando o quarto com Kaoru, não vou sair de lá hoje, graças a vocês e suas ideias mirabolantes. - O ruivo sorriu com o canto da boca. - Vou dormir lá novamente, sim, Sano.

Yahiko e Sano se olharam como se Kenshin houvesse dado a notícia mais empolgante do universo.

—Mas é mesmo coisa de casal assumido, fazendo sabe-se lá o que e quantas vezes…- Sano arregalou os olhos para Yahiko, que cobria a boca com a mão, espantado com a ousadia do mais alto. 

Kenshin suspirou fundo, retirou a toalha da cabeça e encarou os dois.

—Vocês vão mesmo continuar com isso? - O olhar beirava à frieza e demandava respostas.

— Eu não disse nada, foi ele .- E Yahiko apontou para Sano como se sua vida dependesse disso.

— Oras , vamos Kenshin, fui eu que te falei que você estava perdendo tempo em não viver seu amor com ela, eu que te dei conselhos, Yahiko até ajudou vocês terem seus momentos românticos saindo de fininho quando sentia o clima…- Yahiko acenou positiva e animadamente que sim com a cabeça. - Nada de detalhes, só uma curiosidade, qualquer migalha imprecisa para comemorarmos juntos com você…

Todos se olharam em expectativa.

Kenshin baixou a cabeça e coçou a nuca.

—Não há nada realmente para se dizer, prometi discrição e assim como ela creio que a intimidade é entre nós dois e as quatro paredes, ponto final. - Os amigos murcharam as expressões. Kenshin acenou de leve para que eles se aproximassem, mudando o tom de sua voz para um mais baixo - Só digo que se não fosse meu treinamento rígido durante meus anos em ação como espadachim, a diferença de idade entre eu e ela me faria e envergonhar de minha falta de energia.  - Kenshin arqueou as sobrancelhas para cima, quase como se ficasse levemente preocupado.

Essa última frase fez com que os rapazes quase explodissem em risadinhas, coisa que Kenshin impediu tapando rápida e dolorosamente a boca de ambos.

—E deem-se por satisfeitos, e nem ousem aludir a qualquer coisa parecida com isso. - Kenshin parecia dominá-los com o olhar.

— Que isso, daqui não sai nada. - Sano apontou para a própria boca, fazendo o gesto de uma chave trancando uma porta.

— Muito menos daqui. - Yahiko tentou fazer o mesmo, mas logo sorriu. - E sabe, achei bonito, porque no fim das contas, tudo o que você fala sobre a Kaoru acaba sendo nada menos do que um elogio. - O olhar divertido que ele lançou para Kenshin fez o ruivo simplesmente aquiescer com a cabeça, sorridente e sonhador.