Amor e Carnaval escrita por Airam Lupin


Capítulo 1
Capítulo Único




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"Quando eu te vejo, paro logo em teu olhar

O meu desejo é que eu possa te beijar

Sentir seu corpo, me abrigar em seu calor

Hoje o que eu quero é ganhar o seu amor

E fico assim querendo o seu prazer

Eu não consigo um minuto sem te ver

Sua presença alegra meu coração

E é pra você que eu canto essa canção

Vem, meu amor, me tirar da solidão"

 

Rio de Janeiro, 2016. 

 

Remus Lupin nunca entendera a lógica por trás de quem nomeava os blocos de carnaval. Talvez existisse uma certa competição interna para ver qual bloco teria o nome mais exótico ou era apenas uma sátira aos eruditos que trouxeram o embrião do festival para o mundo dos mortais. Era um questionamento válido, mas totalmente inútil quando se estava rodeado por quase cinco mil pessoas pulando ao som do trio elétrico pelas ruas históricas do Rio de Janeiro. 

Remus estava ali, no meio da confusão, apenas seguindo o folião sem muito ânimo comparado aos amigos que o empurraram para o bloco em plena manhã do primeiro dia de carnaval. 

Sirius pulava já bastante alterado pela bebida vestindo uma fantasia de Adão do mito bíblico. A fantasia, se é que poderia ser assim classificada, consistia basicamente em uma sunga verde e só. O mais cômico de toda a situação, foi a atenção que o Black dera aos detalhes ao escolher uma sunga que tivesse uma estampa tropical de palmeiras. 

Lily e Thiago, como todo bom casal de longa data em um grupo de amigos, usavam uma fantasia em conjunto sendo Lily o Bob Esponja e Thiago o Patrik. 

Remus não estava usando uma fantasia, na realidade ele nem sequer planejava pisar em um bloco de carnaval naquela semana. Por isso, tudo o que tinha no armário era uma regata vermelha e fora Lily quem se encarregou de colocar na cabeça do Lupin um arco com chifres caricatos de Diabo para compor a fantasia improvisada. 

Se Remus era o "diabinho" do grupo, era o diabinho menos animado de todos. Arriscava-se a mexer o tronco de um lado para o outro e as vezes cantarolava os sambas populares, mas, de longe, Remus mais se parecia com um policial a paisana do que um folião inaugurando o carnaval de rua. 

— Aí, minha Inês Brasil, priminha! — Sirius gritou chamando a atenção de todos os amigos. 

O homem seminu correu para abraçar uma jovem de cabelos rosas que trajava uma fantasia de deusa grega com muita purpurina dourada colada ao seu corpo e várias estrelas desenhadas na bochecha. 

A rosada usava somente um body branco com uma meia arrastão preta e uma pochete holográfica atravessada ao tronco. Se Remus ainda não estava surdo por conta da música alta, Sirius a chamou de prima, eram parentes, mas quase não tinham semelhanças físicas. 

— Não vai me apresentar? — a jovem debochou trocando alguns olhares furtivos com o diabinho travado. 

— Lindinalva, Thiago e Remus — Sirius apresentou apontando para os amigos. 

— Pode me chamar de Lily se quiser, só os meus parentes da Bahia me chamam de Lindinalva — disse a ruiva com o sotaque bastante carregado. 

— Pessoal, essa é a minha prima Tonks. 

— Tranquilo? — Thiago acenou com a cabeça amigavelmente. 

— Prazer em te conhecer — falou Remus um tanto tímido diante da mulher mais linda que ele já vira em sua vida. 

Tonks era uma jovem muito atraente com os seus cabelos chamativos, com seus lábios definidos e seu corpo belo. Era óbvio que Remus ficara atraído por ela assim que a viu, mas o mesmo admitia que seria um pouco estranho perguntar para a prima do seu melhor amigo se ela não estaria interessada em trocar com ele alguns beijos descompromissados de carnaval. 

— Eu vou ficar um pouco com vocês, os meus amigos estão soltos e é bem provável que eu só encontre eles no metrô — falou começando a seguir o grupo. Tonks gritava, pulava, cantava e sorria como uma criança solta em um parque de diversões, ela era livre e o mundo era somente seu naquele bloco. 

Para Tonks o carnaval era sobre isso, liberdade. Ela podia fazer o que quisesse e ficar com quem quisesse, nenhum outro feriado festivo dava a ela tanta liberdade quanto o carnaval. 

— Vocês são amigos há muito tempo? — Tonks perguntou interrompendo sua empolgação para beber uma bebida alcoólica com gosto de morango extremamente barata. 

— 7 anos — Remus respondeu — Nos conhecemos no colégio. 

— Legal — ela comentou sem interesse — Vocês têm aquelas regras de melhores amigos? 

— Não sei, talvez — deu de ombros sem entender o rumo daquela conversa. 

— Você sabia que no carnaval as regras ficam suspensas por 3 dias? — falou como se fosse uma curiosidade formidável. 

— O que quer dizer com isso? 

— Eu estou dizendo, Diabinho, que se você não me possuir agora eu posso fazer da sua vida um inferno. 

— É sério que você está me cantando? 

— Eu podia estar te beijando, mas você não colabora — disparou fazendo Remus soltar uma pequena risada nasal. Ele queria, ela queria, então podia se entender com Sirius mais tarde por aquele pequeno deslize. 

— Você é uma deusa grega muito direta. 

— Então me puna agora — desafiou e Remus a puxou para um beijo ardente com gosto de bebida barata e carnaval de rua. 

Seus lábios se movimentavam com luxúria se encaixando quase que perfeitamente um no outro. Tonks aprofundou o beijo penetrando a sua língua quente a movimentando de forma prazeirosa pelo interior da boca de Remus enquanto as mãos do Lupin desciam até as nádegas da jovem e as apertavam com vontade sentindo a sua pele macia parcialmente coberta pela meia calça. 

Era fevereiro, o verão carioca durante o dia podia chegar a 40°c e o suor que ambos expeliam fez com que quase todo o glitter que estava em Tonks colasse na pele do Lupin como uma marca, uma lembrança dela. 

— Não conta para o Sirius — Remus ofegou tomando fôlego para iniciar um novo beijo. 

— Segredinho nosso, diabinho — sorriu com malícia tomando os lábios do homem novamente. 

Passaram uma boa parte do bloco dançando, trocando beijos ferozes e bebendo qualquer coisa que pudessem comprar naquela confusão. Mas, com a mesma rapidez com que o carnaval terminava, Tonks se afastou do grupo e foi aproveitar a folia nos braços de outras pessoas. 

 

Rio de Janeiro, 2017.

 

Remus nunca imaginou que fosse tão difícil esquecer uma simples ficada de carnaval, ele até tentou, mas falhou miseravelmente em todas as suas tentativas. Era quase impossível não se lembrar dela todas as vezes que ia tomar banho e encontrava pequenos brilhos da purpurina dourada no azulejo do banheiro ou quando cruzava com absolutamente qualquer coisa rosa no seu cotidiano. 

Sirius não falava muito sobre Tonks e Remus também não procurou perguntar muita coisa sobre ela por medo de parecer um desesperado. Era óbvio que ele queria vê-la novamente, beijar ela de novo, mas também não queria ficar ouvindo piadinhas ou lidar com o constrangimento de estar pegando a prima do seu melhor amigo. 

Ele a procurou pelas redes sociais, mas ela provavelmente não usava o nome verdadeiro já que nada foi encontrado nas pesquisas. Foi melhor assim, ele refletiu, as chances de repetirem o que fizeram no carnaval do ano passado eram bem baixas e não valia a pena alimentar falsas esperanças. 

Entretanto, pela primeira vez, ele não relutou quando Lily o convidou para o mesmo bloco do ano anterior. Havia uma certa chama esperançosa acesa em seu coração, Remus queria reencontrar a mulher de cabelos coloridos que perturbara seus pensamentos durante todo o ano que passou. 

A fantasia de Remus, seguindo o mesmo padrão de simplicidade da anterior, não passava de uma regata laranja com orelhinhas de gato emprestadas do guarda-roupa de Lily. O que ele vestiria não importava, mas precisava fingir que estava interessado no bloco e não em quem poderia encontrar por lá. 

Lily e Thiago estavam fantasiados de C3PO e R2D2 da saga Star Wars enquanto Sirius vestia um jaleco branco, que usava normalmente no trabalho como veterinário, e uma placa de papelão pendurada no pescoço com os seguintes dizeres: "Eu sou nutricionista e a minha recomendação é comer homem e mulher". 

O grupo estava empolgado e quase todos se divertiam com o folião alegre enquanto Remus apenas a procurava. Disfarçava dizendo que estava com dor de cabeça quando alguém do grupo perguntava o motivo dele estar tão tenso até ter a brilhante ideia de se perder propositalmente dos amigos apenas para procurar Tonks em outros lugares do bloco. 

Depois de algumas horas, ele a encontrou tão linda quanto da vez que se encontraram. Ela usava uma saia metalizada rosa com um sutiã com brilhantes no bôjo, sua pele estava banhada em purpurina colorida, seus cabelos estavam presos em dois pequenos coques no topo de sua cabeça e usava um par de brincos com figuras de extraterrestres. Ela ria, pulava e bebia como se o mundo fosse acabar, ela parecia um sonho tão mágico e efêmero quanto confete em mãos infantis. 

Como se ela soubesse que estava sendo observada, Tonks encarou o Lupin que sorriu sem saber como agir naquele momento. O coração de Remus disparou e suas mãos começaram a suar quando a viu cruzar a multidão alegre em sua direção. 

— Sabia que eu te encontraria aqui — ela sorriu — Acho que é a tal magia do carnaval — disse com charme — A sua fantasia é de quê?

— Acho que de onça, versão sem pintas — ele ponderou. 

— Essa onça morde? — e Remus gargalhou, Tonks conseguia ser adorável até mesmo quando tentava ser sexy. 

— Quer experimentar? — arqueou a sobrancelha de forma que deixasse clara as suas intenções. 

— Óbvio — ela deu de ombros e ficou na ponta dos pés para alcançar os lábios de Remus. 

Da forma como ele recordava e com o sabor da paixão que o destino profetizava. Beijar Ninfadora Tonks era como beijar o carnaval, tinha sabor de alegria, toques de esperança e a leveza dos dias de infância. Tudo aquilo parecia mágico até mesmo a irritante purpurina que não sairia do corpo do Lupin. 

Ela apertou cada parte do corpo de Remus com desejo, explorou cada canto da boca dele com sabor de chiclete de hortelã e o amou da maneira que podia naquele momento. O mundo, as pessoas, o samba nas alturas e o confete pareciam que não existiam ao redor de Remus que apenas fez questão de sanar aquele desejo anual de beijar a mulher dos seus sonhos no bloco de carnaval. 

Quando estavam prestes a se separar, Remus mordiscou de forma provocativa o lábio inferior da Tonks que sorriu como se fosse a pessoa mais feliz do planeta. 

— Eu até ficaria mais um pouco com você — ela sussurrou após passarem mais alguns minutos aproveitando os lábios um do outro — Mas é carnaval — falou como se aquilo justificasse alguma coisa. 

— Quando vamos fazer isso de novo? — ele perguntou ainda com as mãos grudadas nas costas dela. 

— No carnaval que vem — piscou com apenas um dos olhos e sumiu no meio do folião caloroso. 

— Porra vocês ficaram exatamente 28 minutos se pegando, tu é arretado mesmo — Lily debochou surgindo como uma assombração. 

— Meu Deus, Lindinalva! Você quase me matou de susto! — disse Remus se virando para encarar a amiga com roupas douradas. 

— Quem não deve não teme, Aluado — debochou carregada com o seu sotaque baiano. 

— Você se perdeu? — perguntou notando que, para o seu total alívio, a ruiva estava desacompanhada. 

— Oxente, aquela não era a prima do Sirius? Remus, você está de rolo com a Tonks? — Lily gargalhou adorando aquele casal inusitado. 

— Não é nada disso... — Remus tentou vasculhar alguma boa justificativa, mas eles foram pegos no flagra. 

— Mas tu vai me contar tudinho mais tarde, visse?

— Não conta nada para o Sirius por favor, Lily — pediu. 

— Não se aperreie com isso não, eu não vou contar para ninguém — ela garantiu tranquilizando o Lupin — Mas eu não vou deixar você em paz até me contar esse chamego entre vocês, heim — provocou e Remus sorriu grato pela compreensão de Lily. 

 

Rio de Janeiro, 2018. 

 

Remus havia se formado em economia no final do primeiro semestre do ano anterior e já fora efetivado pela empresa de investimentos a qual estagiara por um longo tempo. Agora ele não era mais um universitário com uma rotina instável e com uma licença poética para se embebedar em festas. Não, agora ele era um homem ocupado que só pensava na chegada do final de semana para poder tirar o sono atrasado. 

Seria tolice dizer que Tonks era a única razão pela qual Remus estava ansioso para o carnaval daquele ano, o Lupin queria passar o feriado inteiro dormindo e jogando algo no computador. Por conta do cansaço, Remus cogitou em não ir ao bloco de rua inaugural, mas desistiu se lembrando do sorriso iluminado e dos beijos apaixonados que poderia ganhar se a encontrasse. "No carnaval que vem" aquilo era um compromisso que ele jamais romperia. 

Lily não iria para o bloco naquele ano, estava na Bahia ao lado dos familiares saudosos que não viam a sua amada Lindinalva desde o dia em que a mesma decidira cursar jornalismo fora do estado baiano. Então seria apenas os três amigos naquele ano, o grupo "original". 

Aproveitando a ausência da namorada, Thiago e Sirius decidiram combinar as fantasias que resultou em ambos usando camisetas iguais com frases complementares. A blusa de Thiago dizia "Fica com Deus" enquanto na blusa de Sirius estava escrito "Deus". Remus, por outro lado, não quis entrar na brincadeira dos amigos e usou uma blusa listrada como uma fantasia bem simples de presidiário. 

Thiago já estava bêbado e Sirius estava bem próximo de estar bem pior que o Potter quando Remus decidiu se afastar para encontrar a sua paixão de carnaval. Não foi uma tarefa tão difícil quanto ele imaginava, Tonks estava literalmente em cima de uma árvore alta na calçada estreitando os olhos para encontrar alguém na multidão, parecia bem centrada e decidida a não sair de lá até achar o que procurava. 

Ela vestia um macacão curto de malha sem mangas, estava com um chapéu preso na lateral de sua cabeça e seus brincos compridos tinham coelhos brancos pendurados. Ela estava quase toda coberta de purpurina das bochechas até as pernas, parecia que Tonks estava vestindo o carnaval com aquele glitter todo. 

— Como você subiu nessa árvore? — Remus perguntou sem entender a lógica que aquela mulher de não mais 1,59 usara para escalar na árvore. 

— Eu estava procurando por você — ela sorriu se contorcendo entre os galhos. 

— Por mim? — perguntou acompanhando aflito a descida da rosada. Não seria uma queda alta, mas possivelmente quebraria um braço ou uma perna se caísse de mau jeito. 

— Tínhamos um combinado, esqueceu? — e então Remus se tocou que aquele sentimento de saudade e ansiedade para se reencontrarem no carnaval talvez fosse recíproco. Ela também aguardava aquele encontro, também queria e aquilo fez Remus se tornar o folião mais alegre do bloco. 

— Se eu estou aqui, eu não esqueci — ele falou.  

— Está fantasiado de quê? Não consigo te cantar sem saber qual é a sua fantasia. 

— De presidiário, mas você pode interpretar como quiser porque dessa vez quem vai te cantar vai ser eu. 

— Se eu não gostar, eu não vou beijar — ela ameaçou divertida. 

— A sua fantasia é de mágico, né? 

— Sim — ela sorriu rodopiando com leveza. 

— Então eu posso te emprestar a minha varinha para você fazer as suas mágicas — e Tonks gargalhou como um trovão. 

— É um pouco obscena, caro Remus — ela comentou amando sentir aquele constrangimento agradável após uma cantada mal feita. 

— Convenci? — ele perguntou inseguro. 

— Valeu o esforço — sorriu puxando a blusa de Remus o obrigando a se curvar para tocar nos lábios dela. 

Remus esperou o ano inteiro por aquele beijo que sempre parecia melhor do que no ano anterior. Era como se ela retirasse dele todo o peso que entortava seus ombros, todos os choros que ele engoliu durante o ano, tudo que mais o atormentava ia embora ao lado dela. 

Não conhecia muita coisa sobre a vida dela além do que Sirius deixava escapar em conversas ocasionais, mas Remus sentia como se já conhecesse Tonks a vida inteira e fosse um dever seu ser o motivo dos sorrisos daquela mulher. 

Pensava nela, sonhava com seus beijos, desejava ouvir ela gemer o seu nome, Remus Lupin a desejava. O pior foi entender que não era um desejo tosco e efêmero, estava naquela situação desde 2016 quando trocaram o primeiro beijo. Talvez, para ela, Remus fosse apenas um ficante para o dia de carnaval, porém, para ele, Tonks era um desejo muito forte do seu coração. 

— A gente se encontra no carnaval que vem — sussurrou se despedindo de Remus com os lábios inchados e desaparecendo na multidão. 

 

Rio de Janeiro, 2019. 

 

Remus Lupin estava apaixonado pela prima do seu melhor amigo e esse fato veio da forma mais constrangedora possível. Remus simplesmente gemeu o sobrenome Tonks enquanto estava na cama com outra mulher com quem estava saindo há algumas semanas.  

E como se o constrangimento já não tivesse sido o bastante ele ainda tivera a brilhante ideia de desabafar aquele ocorrido com Lily. A baiana riu tanto da situação ao ponto de ficar mais vermelha do que os próprios cabelos. Após minutos de gargalhadas sinceras ela simplesmente se virou com a respiração desregular e disparou "Você é o homem com a cabeça mais destrambelhada que eu já conheci! Pega o número dela com o Sirius, abestado". 

Era um bom conselho além de muito óbvio, mas talvez Tonks não quisesse ter algo a mais com ele. Se quisesse, já teria corrido atrás dele da mesma forma que ele estava cogitando. Remus não queria ser o cara bobo apaixonado que corre atrás até o esgotamento. 

No carnaval daquele ano, Remus Lupin estava sozinho, nenhum dos amigos puderam ir ao bloco por motivos bastante válidos. Thiago fora para a Bahia pedir a benção da família de Lily para poderem noivarem e Sirius estava em um congresso internacional de medicina veterinária como palestrante. 

A "fantasia" que Remus escolhera para aquele ano era basicamente uma blusa do Capitão América que ele usava em absolutamente todos os lugares que não exigiam o uso de trajes mais formais. Pelo menos ele não precisaria ficar até o fim bloco, afinal era só encontrar a Tonks, ficar com ela e, quando ela o dispensasse, voltar para casa. 

Porém, o destino não quis facilitar a vida do Lupin que não conseguiu encontrar a rosada no meio da multidão de nenhuma forma. Ele olhou para as árvores, para os cabelos das pessoas que passavam, mas somente a encontrou horas mais tarde quase no fim do bloco. 

Tonks conversava animada com um pequeno grupo de amigos e sua fantasia daquele ano estava bela como a de todos os anos anteriores. Ela usava a parte de cima de um biquíni roxo com uma saia curta verde, uma pochete transversalmente cruzada ao seu tronco e, como sempre, banhada em muita purpurina colorida. 

Tonks olhou para Remus e sorriu aliviada pensando que ele não apareceria naquele ano. Falou algo para os amigos e correu enroscando suas pernas nos quadris do Lupin. 

— Achei que você não vinha mais — ela confessou feliz. 

— E perder a chance de te beijar de novo? Nem se eu estivesse doido — falou colocando suas mãos nas nádegas da rosada garantindo a ela uma maior sustentação e a beijou com saudade e paixão. 

Remus queria muito mais do que beijos quentes em dias de carnaval, queria mais do que tocar no corpo dela somente uma vez ao ano, queria passar a sua vida ao lado daquela mulher e iria até o inferno para concretizar aquele desejo. 

— Eu quero te encontrar fora do carnaval — ele confessou ainda com os lábios grudados aos dela. 

— Vai perder a graça se for assim — ela suspirou colocando os seus pés no chão — Esse nosso lance só é bom porque ele acaba. 

— Não tenho tanta certeza disso, eu não quero ter que esperar o ano inteiro para te beijar de novo — ele comentou — Se você sente alguma coisa por mim, me dá uma chance. Uma chance é tudo que eu quero. 

— E se não funcionar? 

— A gente se encontra no próximo carnaval como se nada tivesse acontecido — garantiu. 

— Uma chance — sorriu puxando de dentro da sua pochete uma canetinha escolar e anotando o seu número de celular no antebraço de Remus. O Lupin encarou aqueles números como se tivesse recém ganho na loteria e puxou a cintura da rosada a trazendo para mais um beijo apaixonado. 

 

Rio de Janeiro, 2020. 

 

Três dias depois do carnaval do ano anterior, Remus ligou para Tonks. Marcaram um encontro informal em um restaurante tranquilo em Laranjeiras e a partir daquele dia tudo passou a ser a primeira vez. 

O primeiro encontro, a primeira vez que eles conversaram sobre a vida, a primeira comunicação silenciosa, o primeiro beijo sem purpurina no corpo, a primeira noite e, agora, o primeiro carnaval juntos não mais como ficantes e sim como um casal. 

Sirius reagira muito melhor do que o esperado, mas Remus ainda ouvia ameaças fraternais por parte do Black. Apesar daquilo, Sirius levava o namoro dos dois com alegria, era nítido que ambos se amavam então para o primo aquilo bastava. 

Tudo se encaixou tão bem em tantas sentidos que Remus não pôde evitar sentir um certo luto por ter demorado tantos anos para levar aquela paixão de carnaval adiante. Porém, não importava mais o tempo que nunca mais voltaria, estavam felizes e o amor que sentiam apenas crescia conforme os meses. 

Naquele carnaval, Sirius usava somente uma bermuda escura, em seu tronco nu havia diversas pinceladas aleatórias feitas com tintas diferentes e no pescoço uma placa de papelão estava pendurada escrita "Pinto você com talento". Thiago usava uma jardineira com vários utensílios de jardinagem no bolso enquanto Lily usava uma saia amarela e um sutiã com dois girassóis no bôjo. 

Remus não fazia questão de se fantasiar, mas ele perguntou se Tonks queria combinar a roupa e, para o seu total alívio, ela disse que achava cafona liberando o Lupin daquele transtorno. Remus podia não ter planejado a sua fantasia e estar vestido com a exata mesma blusa do Capitão América que usara no carnaval passado, mas Tonks planejara. 

Ela estava, aos olhos Remus, magnífica dentro de um vestido verde curto bastante colado e com um par de asas de fada nas costas. Tonks sorria com as bochechas repletas de purpurina verde e com os cabelos rosas mais fortes do que nunca. 

Dançaram juntos com as músicas mais bombadas daquele ano, beberam, se beijaram perto dos amigos e aproveitaram cada parte daquela festa tão alegre e simbólica agora que estavam juntos. 

— Dora — Remus chamou a atenção da namorada que estava com os braços ao redor da sua cintura para se equilibrar no metrô lotado após o bloco. 

— Sim? 

— É um pouco difícil precisar pegar o metrô todas as vezes que a gente for se encontrar e já tem mais roupas suas do que minhas no armário lá de casa...

— Eu posso tirar algumas para abrir mais espaço se quiser — ela falou sem entender. 

— Não, eu quero que você se mude para o meu apartamento definitivamente — ele propôs com seriedade. 

— Isso é tipo um casamento, tem certeza que quer dar esse passo? — ela questionou. 

— Eu quero, você quer? 

— É claro que eu quero — sorriu dando um breve selinho nos lábios do namorado. 

 

Rio de Janeiro, 2021. 

 

O primeiro ano sem carnaval. O mundo estava de cabeça para baixo e as previsões não eram positivas para os meses seguintes, havia muita incerteza e os números de óbitos eram noticiados nos jornais com a mesma naturalidade de quem noticiava uma promoção de supermercado. 

A mudança no estilo de vida da maior parte da população foi bastante violenta a traumática, mas o que restou foi apenas seguir as medidas de proteção religiosamente e torcer por dias melhores apesar de todo o desânimo.

 Remus e Tonks passaram juntos por todas as mudanças que a pandemia trouxera consigo. A adaptação para o home office, as constantes quedas na internet e a necessidade de se reinventarem dentro de quatro paredes. 

Remus trabalhava ao mesmo tempo que Tonks assistia as aulas da sua faculdade de psicologia e conciliava o estágio na área, ambos passaram a criar rotinas, adotaram um gato e viviam a vida da maneira que podiam no meio daquele caos. 

Com a quarentena, Remus achou que o relacionamento deles fosse se desgastar afinal não é fácil passar 24 horas olhando para alguém sem surgir algum motivo frívolo para iniciarem uma discussão, mas não foi o que aconteceu. O relacionamento deles se fortaleceu ainda mais e ambos eram compreensivos com as eventuais crises que tinham por conta da claustrofobia sufocante, estavam ali para serem alicerces um do outro quando o mundo parecia desmoronar. 

— O remédio que você me pediu — disse Tonks removendo seus sapatos antes de entrar no apartamento e passar álcool em gel nas suas mãos — Esse seu problema na coluna me preocupa, Remus — ela confessou removendo do rosto sua máscara de pano com estampa de arco-íris. 

— É só uma questão de postura — falou se aproximando da namorada. 

— Eu estava vendo na internet que aquelas bolas de pilates ajudam na postura, talvez seja interessante você dar uma olhada — comentou retirando de dentro da sacola uma caixa de analgésico. 

— Comprou mais alguma coisa? — Remus perguntou notando que tinha algo a mais na sacola que ela segurava. 

— Só absorvente — mentiu — Eu vou tomar um banho rápido e a gente pode ver um filme hoje a noite, o que você acha? 

— Acho ótimo — mas ele tinha outros planos — Se sente melhor? Hoje de manhã você disse que estava enjoada e quase não tocou no pão caseiro que você mesma fez, quer que eu marque um exame de covid? Eu sei que têm laboratórios que fazem o exame em domicílio. 

— Eu tenho certeza que não é Covid, não precisa se preocupar com isso — ela falou dando três leves tapas no ombro de Remus e se trancando no banheiro. 

Remus respirou fundo e correu até o escritório de onde ele retirou da sua gaveta pessoal um pacote de serpentinas coloridas e alguns confetes feitos com folhas de rascunhos que saíram erradas da impressora. Ele estava planejando aquilo a semanas e ela nem sequer desconfiava, queria que aquele momento fosse simbólico e, se não podia levar a amada até o carnaval, Remus traria o carnaval para ela. 

Ele espalhou as serpentinas por todo o pequeno apartamento, colocou uma playlist com sambas antigos e se vestiu com a mesma fantasia que usava quando se conheceram. 

— Remus — ela surgiu na sala e encarou a decoração alegre que ele tinha feito somente para ela — O que é tudo isso? 

— Carnaval — sorriu — Eu sei que você adora essa data. Você gostou?

— Está tudo lindo — elogiou sorrindo enquanto se aproximava do namorado — Uma pena que não podemos estar no bloco — comentou saudosa — Mas eu tenho o namorado mais incrível do mundo. 

— Tem mais uma coisa — ele pigarreou nervoso — Você sabe que eu te amo e que você é a mulher da minha vida. Eu nunca pensei que iria fazer isso um dia, mas, com essa pandemia, eu notei que tudo pode acabar em um piscar de olhos e que devemos aproveitar enquanto ainda temos saúde e as pessoas que amamos ao nosso lado. Eu te amo e eu não quero esperar da mesma forma que eu esperei para pedir o seu telefone, eu... eu — gaguejou tirando uma pequena caixa de veludo do seu bolso e se ajoelhou sobre os confetes abençoado pelo samba e pela esperança do carnaval — Dora, você quer se casar comigo? — perguntou abrindo a caixa que continha um anel fino com apenas uma pedra rosa no centro. 

— Remus — ela sorriu segurando a vontade de chorar — Por que raios você não esperou para me fazer esse pedido? Agora eu vou estar gorda no nosso casamento — comentou. 

— Eu não acho que você tenha engordado na quarentena, está linda como sempre — falou confuso ainda de joelhos sem saber se aquilo era um "sim" ou um "não" muito sútil. 

— Eu estou grávida, seu lerdo — revelou fazendo o feitiço se virar contra o feiticeiro. Remus queria surpreender Tonks com aquele pedido, mas fora ele quem acabou surpreso — Temos que assistir mais televisão ao invés de passar o tempo na cama — comentou divertida vendo Remus se levantar e sorrir com a mais genuína alegria. 

— Quanto tempo? 

— Segundo o teste de gravidez que eu comprei na farmácia, três semanas. Nunca vamos contar para ninguém que fizemos o nosso filho na mesa do escritório — riu — Eu sei que não planejávamos e... — mas Remus roubara todas as palavras da rosada com um beijo apaixonado com o mesmo sabor dos carnavais — E é claro que eu quero ser a sua esposa — sorriu. 

— Eu te amo — Remus repetiu deslizando o anel no dedo anelar da mão direita da agora noiva. 

— Eu também te amo — sorriu — E agora? 

— Agora a gente aproveita o carnaval — orientou aumentando a música que saía de uma pequena caixa de som da sala de estar 

— Então, diabinho, dizem que lá embaixo é quente — o cantou. 

— Por que você não vem aqui e experimenta — gargalhou voltando a beijar a mulher que tanto amava, sua futura esposa, mãe do seu filho e sua paixão para muito além do carnaval.


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Notas finais do capítulo

Pesquisa.

Oi, tudo bem? Então eu gostaria de perguntar sobre o que vocês acham da ideia de eu começar a criar mais fanfics Remadora que se passam no Brasil? Eu tenho dois projetos voando na minha cabeça sendo um ambientado no interior de São Paulo e outro ambientado no Paraná, mas eu gostaria de saber se vocês leriam essas fanfics com temáticas mais regionais ou não é uma ideia tão boa assim. Em fim, aguardo a opinião de vocês.
Com todo amor do mundo,
Uma autora.



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