She escrita por Mavelle


Capítulo 27
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Voltei umas horinhas mais cedo que de costume, e hoje temos uma palhinha de um casal que eu amo e que ainda não tinha aparecido até agora.

Xero,
Mavelle

Música: Half a Heart - One Direction



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Três semanas. 

Só faziam três semanas desde que Sophie tinha deixado a vida que tinha sido sua por cinco meses, mas já parecia fazer uma eternidade. As feridas ainda doíam, claro, mas as semanas foram tão cheias de atividades que ela simplesmente fazia as coisas que eram pedidas dela, chegava na casa de Conrad e dormia, quando tinha tempo para isso. 

Se antes já estava determinada a acabar com o movimento, depois daquelas três semanas estava ainda mais. Tinham encontrado 13 brigadas e conduzido interrogatórios com cada um dos membros de cada brigada, em sua maioria rapazes com menos de 25 anos. Todos estavam recebendo por aquilo, pelo menos. 

Quer dizer, eles seriam presos por traição, quando alguns nem acreditavam na causa, então pelo menos estavam sendo pagos. E claro que os que não acreditavam na causa foram os primeiros a começar a falar em troca de penas reduzidas. 

Ah, os peões no tabuleiro. 

Também haviam aqueles que realmente acreditavam que aquilo era uma injustiça histórica que devia ser reparada, claro, afinal, sempre tem doido pra tudo. Esses eram mais difíceis e diziam “Vida longa ao rei James Stuart III” a todas as perguntas, até que Sophie mostrava que era menos paciente e boazinha do que aparentava no início. 

Ela era surpreendentemente boa em conduzir interrogatórios. Qualquer um que olhasse para seu rosto meigo jamais seria capaz de adivinhar que ela era capaz de exigir respostas, mas ela era. 

E não gostava daquilo. 

Se sentia satisfeita quando conseguia que a pessoa dissesse o que ela precisava saber, mas não ficava confortável fazendo aquilo. Não se sentia confortável obrigando pessoas a contar verdades que não queriam revelar, mesmo que aquilo fosse por um “bem maior”. 

Era  naqueles dias em que chegava em casa mais louca para descansar. Simplesmente fechar os olhos e esquecer do que tinha feito. 

Esse era um desses dias, mas, antes que pudesse ir dormir, encontrou Conrad na cozinha, tomando café da manhã. Eram 8 horas e ela tinha passado a noite interrogando os participantes da última brigada que tinham derrubado, enquanto Conrad tinha dormido em casa e iria trabalhar em breve. 

— Bom dia. - ele disse. 

— Bom dia. - ela respondeu, já se sentando numa das cadeiras da mesa. Tinha pão fresquinho, então achava que seria bom comer antes de ir dormir. 

— E aí? 

— Deu tudo certo. Você provavelmente vai ter um trabalhinho com o responsável pela brigada, mas ele vai ceder depois de uns 20 minutos. 

— Bom saber. - ele se levantou e estralou a coluna. - Acho que vai ser um longo dia, então. 

— É, boa sorte. - ele se virou e foi colocar a louça na pia, e, aproveitando que ele não estava olhando para ela, Sophie começou a falar. -  Parece que eu não lembro de um período em que eu trabalhasse e que não estivesse preocupada com o Sturoyal.

— Honestamente, esses dias me sinto do mesmo jeito. Sinto falta de 6 anos atrás, quando ninguém nem lembrava da existência dos Stuart. 

— Mas isso vai acabar e acho que estamos mais perto do que nunca.

— Concordo. - ele disse, já sentando de novo na mesa.

— O que você pensa em fazer quando tudo isso acabar? 

Conrad pareceu surpreso pela pergunta dela. Então parou para refletir um momento antes de responder. 

— Quando tudo isso acabar, eu vou aceitar um trabalho interno no MI6. Um trabalho das 9 às 5 de segunda à sexta, com finais de semana livres e feriados e tudo o mais.

— Meu Deus. Você está com febre? 

— Eu só estava pensando e decidi que quero que a Daisy venha morar comigo. 

Agora era Sophie que estava surpresa. Sabia que ele queria passar mais tempo com a filha, mas que não conseguia ajeitar sua agenda para fazer isso.

— Sério? Que notícia maravilhosa, Conrad! 

— É. Nesses últimos tempos eu não tenho conseguido ter o tempo para que ela venha passar os fins de semana comigo e, bem, ela estava reclamando esses dias que mal me via, assim como eu sinto a falta dela. Então decidi que quero que minha filha more comigo, enquanto ainda dá tempo de conviver com ela. E ela pareceu bem animada quando perguntei se isso seria algo que ela gostaria. 

— Fico feliz por vocês. 

— Obrigado, Sophie. E o que você vai fazer quando tudo isso acabar?

Ela respirou fundo e encostou na cadeira. 

— Assim que os responsáveis forem presos, eu vou entregar minha carta de demissão. 

— Não faz mais sentido pra você, faz? - Conrad perguntou, já se encostando na sua cadeira também. 

— Não. 

— Eu me senti assim nas semanas depois da morte de Roger. Acho que é completamente natural. 

— Mas eu venho me sentindo assim há um ano. 

— Ah. 

Eles ficaram em silêncio por um momento, enquanto Conrad pensava no que podia dizer. 

— Se já faz um ano, acho que deve ter conversado sobre isso com Andrea. 

— Já. - E com o Benedict também, mas ainda não te disse que contei pra ele o que eu faço, ela pensou.

— E você está decidida sobre isso? 

— Mais ou menos. - ela admitiu. - Eu só percebi que queria uma rotina normal, sabe? Eu sei que tive oportunidade de passar os últimos seis meses assim por causa do MI6, mas parece que os momentos em que eu estava mais satisfeita eram quando eu não estava fazendo o trabalho do MI6. E esse trabalho foi a minha vida adulta inteira. É difícil simplesmente virar as costas para isso, mas não sei se é isso que quero fazer pelos próximos 30 anos da minha vida.

— Entendo. E você ainda é muito nova para um cargo administrativo. 

— Sim… e mesmo que eu fosse realocada para um cargo administrativo agora, nada me garante que eu não voltaria para um cargo exposto em breve. 

— É… Nada garante mesmo. 

— Além disso, tudo acabou se tornando pessoal demais nos últimos tempos. Entre todos os esquemas que meu pai fazia parte, a Araminta ser basicamente uma das líderes do Sturoyal e também o que fizeram com Andrea… acho que não sei mais separar. Tudo parece pessoal ultimamente. 

— E também tem o Benedict. - Conrad disse, simplesmente. 

E era verdade. Benedict era, também, um outro fator que a fazia ter vontade de sair do trabalho. Pelo menos, ela não estava se preocupando com ele; quer dizer, não mais do que normalmente se preocuparia. Pensava nele quase que o tempo todo, mas ao menos imaginava que ele estava relativamente bem. Devia estar passando muito tempo pintando, como geralmente fazia quando estava mal, mas ao menos estava bem. E, agora que não estava mais associado com ela, estava seguro. Nada aconteceria de surpresa com ele e, por isso, estava aliviada. 

— É. - ela disse, por fim. - E por tudo estar parecendo pessoal demais, eu tenho medo de que algo possa acontecer com ele. Araminta na minha vida só tem uma, graças a Deus, mas não consigo deixar de pensar na possibilidade quando penso em ficar. 

— Eu entendo. Essa foi uma das razões para eu e Maya demorarmos um tanto para começar a tentar ter filhos. Tínhamos medo de algo do tipo acontecer, mas decidimos que não interferiria. Casos como esse são raros demais. Eu era feliz com o meu trabalho e nós seríamos felizes tendo um filho. Sou feliz com os dois, apesar de sentir saudade da Maya. - ele respirou fundo e olhou para o relógio. - Preciso ir. Vai ficar bem sozinha? 

Sophie riu. 

— Não tenho mais 12 anos, Conrad. Guarde isso para a Daisy daqui a uns dias. Tchau.

— Tchau.

***

Naquele domingo, como em todos os outros, Benedict foi almoçar na casa da mãe e, apesar de não conseguir se ver, tinha certeza de que não parecia bem. Estava passando quase que a totalidade de seu tempo no ateliê nas últimas três semanas, entre aumentar a exposição e as encomendas normais. Tinha decidido que daria um tempo das encomendas no mês seguinte, quando a exposição fosse lançada, mas, por enquanto, era uma das coisas que evitava que ele ficasse louco. 

Isso e o ocasional cigarro. 

Até o momento em que fumou o primeiro cigarro em mais de 6 meses, ele não tinha percebido o quanto sentia falta daquilo. Era algo horrível para a saúde, ele sabia, mas lhe ajudava a manter a sanidade mental. Provavelmente se arrependeria em 30 anos, mas, naquele momento, se importava mais com não surtar do que com o que o Benedict do futuro passaria. 

Quando tudo aquilo passasse, deixaria de fumar. Voltaria a correr.

Mas, no momento, isso e trabalhar como um condenado eram tudo o que o faziam parar de pensar “será que Sophie está bem?” o tempo inteiro. 

Se sentou sozinho num sofá da área externa da casa e ficou observando enquanto os outros faziam… bem, qualquer outra coisa. Queria ficar sozinho por alguns momentos, apesar de saber que talvez aquilo não fosse o melhor. 

Definitivamente não era o melhor na concepção de sua mãe, que logo se aproximou dele. 

— Você está bem, meu filho? - ela perguntou, sentando ao seu lado. Ela já sabia a resposta, afinal não tinha como passar 30 anos sendo mãe de alguém sem saber quando estavam se sentindo mal, mas achava que ele precisava conversar. - E você sabe bem que não vai conseguir esconder a verdade de mim.

— Nunca achei que pudesse. - ele deu um meio sorriso. 

— Você tentou esconder que voltou a fumar. 

— Só um cigarro por dia, por mais que eu queira mais. 

— E você achou que eu não ia saber, mesmo assim? 

— Claro que nunca duvidei disso

— E então? 

Ele respirou fundo. 

— Não, eu não estou bem. A exposição abre em menos de 3 semanas, mas eu tive a brilhante ideia de adicionar mais cinco quadros. Já só falta terminar um, mas ainda não sei se a diretoria vai aceitar a adição. 

— Eles já aprovaram a primeira versão, certo? 

— Sim, mas, agora que tem uma segunda versão, eu meio que acho a primeira incompleta e pouco realista. 

— Benedict, você pinta sobre uma moça que se transforma num pássaro. - ela sorriu. - Acho que tem uma brecha aí pra fazer algo menos realista. 

— Pouco realista no sentido dos sentimentos envolvidos. 

— E quem ditou como os sentimentos devem funcionar? Quem disse que sentimentos precisam ser realistas? Você sempre foi um sonhador e isso transparece em tudo o que você faz.

— Mãe, eu preciso fazer isso por mim. Não sei se ela vai voltar. 

— A Sophie? 

— É. Ela me prometeu que voltaria, mas… 

— Ela vai voltar pra você. Vocês concordaram em dar um tempo, certo? 

— Bom, falamos de término mesmo, mas não era o que nenhum de nós queria de verdade. Ela disse que, quando resolvesse o que precisava resolver, viria me procurar. - Violet abriu a boca para falar, mas ele continuou. - E eu sei que isso soa como uma desculpa e que parece que ela não vai voltar, mas eu acredito nela.  

— Eu sei, meu bem. E acredito que ela vai tentar, porque eu vi o jeito que vocês se olham, mas o que acontece se ela não conseguir resolver?

— Então eu acho que vou ter que aprender a viver só com uma metade do coração. Num mundo só metade colorido. 

And being here without you / E estar aqui sem você 

Is like I'm waking up to / É como se eu estivesse acordando para ver

Only half a blue sky / Apenas metade de um céu azul

Kind of there but not quite / Quase lá, mas não inteiramente

I'm walking round with just one shoe / Estou andando por aí só com um sapato

I'm half a heart without you / Sou metade de um coração sem você

I'm half a man at best / Sou metade de um homem na melhor das hipóteses

With half an arrow in my chest / Com metade de uma flecha no meu peito

I miss everything we do / Sinto falta de tudo o que fazemos

I'm half a heart without you / Sou metade de um coração sem você

Lady in color, literalmente. - Violet disse. 

— É. Você acha que eu estou reagindo a tudo isso de uma forma mais exagerada do que devia? Quer dizer, se eu for parar para pensar racionalmente, só estávamos juntos há 3 meses e…

— Benny, você já estava apaixonado por ela desde antes de conhecê-la e isso só se intensificou depois que vocês se conheceram. E depois que realmente a conheceu, parecia que era a única pessoa de quem você falava. Acho que é natural que fique assim. Além disso, tempo não é um indicativo de intensidade de sentimento e nunca foi. Sabia que eu e seu pai passamos um tempo separados? 

Ele olhou surpreso para a mãe. Seus pais eram, na concepção de todos os filhos (e também de qualquer um que os conhecesse), o casal perfeito. Eles tinham sido feitos um para o outro, se é que realmente existiam pessoas feitas uma para a outra. Tinham seus atritos de vez em quando, como qualquer outro casal, mas sempre conseguiam resolver. 

Pensar nos dois separados era uma ideia estranha demais. 

— Sério? 

— Sim. Da primeira vez que fiquei com o seu pai, eu tinha 16 anos. Ele tinha 17 e era o verão antes de ele ir para a faculdade, então começamos a ficar, mas sem muito compromisso, já que sabíamos que, quando ele fosse para Oxford, aquilo se tornaria inviável. Então, durante dois meses, nós ficamos juntos, mas, quando agosto chegou mais perto do fim, inventamos uma briga besta e terminamos. Era amor de verão entre dois adolescentes, então aquilo não iria muito para a frente, certo? - ela perguntou, olhando diretamente para ele, um dos (vários) resultados diretos daquele amor de verão que não iria muito para a frente. - De qualquer forma, nós ficamos separados por dois meses e todo mundo ao meu redor estava meio assustado com a forma que eu estava agindo. 

— Comportamento destrutivo? 

— Não, mas eu estava meio apática. Como se só estivesse existindo e não vivendo a vida do jeito que devia ser, entende? 

— Sim. - bem até demais, ele pensou - O que aconteceu? 

— Bem, acontece que seu pai estava exatamente do mesmo jeito e, como ele tinha acesso mais fácil à minha casa do que eu ao dormitório dele da faculdade, ele ligou um dia e nós conversamos por duas horas. Foi como se nada tivesse mudado entre nós. Aí eu fui proibida de usar o telefone porque as contas de telefone naquela época eram por minutos, tanto para quem fazia quanto para quem recebia, e uma ligação de duas horas… 

Benedict fez uma careta de dor. 

— O vovô provavelmente quis te deserdar. 

— Sim. Acho que ele só não reclamou mais porque era provavelmente a primeira vez que eu estava parecendo animada de verdade em dois meses. De qualquer forma, no dia seguinte eu liguei para Edmund e disse que meus direitos de usar o telefone tinham sido revogados, mas pedi o endereço dele na faculdade para podermos trocar cartas. Eu tinha acabado de postar a primeira carta no correio e estava voltando para casa de bicicleta quando notei o carro parado na frente de casa. - ela deu um sorriso nostálgico. - Ainda lembro perfeitamente de como a luz do sol batia no rosto dele enquanto ele me esperava na frente da casa, segurando um buquê de jacintos. Ninguém tinha me dado flores antes disso. Enfim, nós começamos a namorar oficialmente nesse dia e continuamos juntos até… 

— Eu sei. - ele disse, apertando a mão dela de leve. 

— O que eu quero dizer é que tempo não deve ser um determinante de como você se sente. E eu sei que você não deve gostar muito de ser colocado na mesma categoria que dois adolescentes de 16 e 18 anos, mas quando é pra ser, você sabe. Independente do tempo. Idade também não é um determinante, mas é mais fácil se enganar quando se é mais novo. Eu e seu pai tivemos sorte, mas acho que você é grandinho o suficiente para não se enganar tanto. E também não é seu primeiro amor. Esses tendem a ser mais perigosos. - ele sorriu para ela. Não fazia ideia que Sophie tinha terminado com ele justamente por causa dos riscos que ela podia trazer para ele. 

— Obrigado, mãe.

— Agora vamos almoçar. O seu irmão já estava reclamando antes mesmo de eu vir aqui conversar com você.

Os dois se levantaram, mas, antes que pudessem seguir para a casa, ele a abraçou. Por um momento, se lembrou de quando era criança e achava que ela era gigante. Agora, quando a abraçava, sua cabeça ficava por cima da dela, o que quase fazia parecer que ela era a criança, mas era muito claro que ele ainda precisava do apoio da mãe. Provavelmente nunca deixaria de precisar. 

— Eu te amo. - ele disse, simplesmente.

— Também te amo, meu filho. 


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