She escrita por Mavelle


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Alguém já superou o sábado? Se não, não fique triste, tudo piora antes de começar a melhorar :)
(socorro, pega a doida)

Beijos,
Mavelle



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800262/chapter/25

Quando acordou na manhã seguinte, Benedict ainda sentia o perfume de Sophie no quarto, mas sabia que ela já tinha saído do apartamento.

E da sua vida. 

Ele se virou na cama e viu que, em cima do travesseiro dela, tinha um pedaço de papel dobrado. Estava meio que esperando algo do tipo, mas isso não tornava a carta mais fácil de ler.

 

Ben,

Você merece mais que uma carta de adeus, mas não conseguiria olhar para você, dizer essas palavras e manter minha decisão. E, por mais que ela doa, sei que é o certo a fazer por nós dois, então cá estou, te escrevendo uma carta de adeus mais uma vez. 

E, mais uma vez, eu não sei se nossos caminhos vão se encontrar novamente, mas é bem mais difícil do que antes. Eu vou sentir saudade de tudo sobre você, de tudo sobre nós dois: das caminhadas ou caronas para casa porque estava passando “por acaso” perto da Bridgerton praticamente todos os dias no horário que eu saía, do ponto do seu café, do seu cheiro nos meus lençóis e no meu corpo depois de passarmos a noite juntos, das várias formas como você chama meu nome (em qualquer situação), das nossas conversas sobre tudo e nada, da paz e segurança que eu sinto apenas por estar nos seus braços. 

De ter alguém em quem eu sei que posso confiar com qualquer coisa.

Eu achava que tinha sido encantador te conhecer naquela noite e, sim, foi, mas mal sabia eu que aquilo não tinha nem arranhado a superfície. Aquela noite não me mostrou nem metade do homem bom e generoso por quem me apaixonei. Não mostrou o quanto a vida poderia ser maravilhosa com você do meu lado para vivê-la comigo. Não mostrou o quão incrível é amar você ou ser a Soph do seu Ben. 

Sinto muito que tenha de ser assim.

Talvez em uma outra vida.

Sua, para sempre, 

Sophie

 

Benedict ainda estava processando o que ela tinha escrito quando ouviu o som da porta da frente abrindo. 

Não podia deixar que acabasse assim. 

— Sophie! - ele chamou, já se levantando da cama e achando, por algum milagre, um roupão por trás da porta do quarto. 

Simplesmente saiu correndo pelo apartamento, encontrando Sophie ainda esperando pelo elevador. 

Por um momento, os dois só se encararam. Sophie sabia que eles mereciam mais do que aquela carta de despedida, mas não achava que teria forças para ir embora depois. E Benedict sabia que não havia nada que pudesse dizer que a convenceria a ficar, mas não podia deixar que tudo acabasse com uma carta. 

No momento seguinte, estavam se atracando em um beijo duro, que expressava toda a necessidade que sentiam de estar juntos, nem que fosse por aqueles últimos momentos. 

E então a campainha do elevador tocou, lembrando-os da realidade. 

Ambos engoliram em seco. Não queriam que aquilo acabasse e, assim que Sophie entrasse no elevador, era o fim.

Novamente, apenas se encararam por um momento, dizendo com o olhar aquilo que não eram capazes de dizer sem mudar suas convicções. Agradecendo por tudo o que tinham vivido, lamentando o que não tinham e torcendo que um dia pudessem ficar juntos de novo. 

Dizendo, sem palavras, o quanto se amavam e o quanto queriam que tudo aquilo fosse diferente. 

Benedict, por fim, deu o primeiro passo, se afastando um pouco e apenas observando enquanto Sophie entrava no elevador. 

— Até logo. 

— Adeus. 

Depois que o elevador saiu, Benedict simplesmente encostou a testa na parede. 

Vazio. 

Era assim que se sentia. 

Os olhos começaram a arder, então simplesmente os fechou, deixando que as lágrimas corressem pelo rosto por um momento. Sabia que se simplesmente fosse para casa, não ia conseguir fazer nada que poderia ter de fazer, então decidiu ir para o ateliê. Sempre ficava criativo quando estava triste, e era melhor canalizar a tristeza em alguma coisa que não fosse um comportamento destrutivo, que era uma opção bem provável naquele momento. 

***

Meia hora mais tarde, Andrea ouviu a campainha tocando. Tinha poucos possíveis visitantes e, se qualquer um deles estava indo visitá-la, algo de errado devia ter acontecido. Quando olhou pelo olho mágico, viu Sophie com uma cara triste. Quer dizer, triste era pouco para a expressão dela. Seus olhos não estavam inchados, como de alguém que tinha estado chorando, mas ela parecia prestes a chorar, o que, por si só, já seria preocupante. 

Ela abriu a porta e a deixou entrar. 

— O que aconteceu, Sophia? - Andrea perguntou. 

— Eu terminei com o Benedict. - Sophie disse e simplesmente se jogou nos braços dela. E então, como Andrea desconfiava que podia ser, começou a chorar.

A vontade dela era perguntar um sonoro “O QUÊ!? POR QUE!??”, mas Sophie estava claramente arrasada. Nos 10 anos em que se conheciam, só a tinha visto chorar duas vezes: uma de exaustão, cerca de 6 meses depois de começar o treinamento, e a outra de raiva porque tinha descoberto praticamente sozinha toda uma operação que estava sendo montada para desregular o Big Ben e a Scotland Yard, além de ter dito que todo o trabalho de inteligência tinha sido deles, ainda deu um jeito de estragar a operação. Assim, o relógio mais preciso do mundo passou 3 dias com a hora errada, mas, com um pouco de ajuda da tecnologia, ninguém notou. 

Depois que o estrago estava feito e elas chegaram em casa, Sophie chorou de raiva tanto da Scotland Yard quanto de si própria por não ter impedido que eles tomassem a frente. 

— Aconteceu alguma coisa entre vocês? Vocês brigaram? - Andrea perguntou, preocupada, já sentando no sofá com Sophie.

— Não. - ela fungou. - Estávamos indo mais que bem, então eu disse que o amava e ele disse que me amava também. 

— Isso é incrível! - ela respondeu, já a abraçando.

— É incrível sim, mas foi exatamente por isso que eu terminei com ele. Eu não podia arriscar a vida do Ben assim. 

— Você não estaria arriscando a vida dele por estar com ele. 

— Araminta sabe que eu estava com ele e agora vamos começar a desmontar as brigadas deles. Eu vou tomar cuidado, como sempre, mas o risco de me descobrirem é muito alto e você sabe disso. Tenho medo que possam tentar usá-lo para me atingir, então, no momento, acho que não estarmos mais juntos é o melhor para a minha sanidade mental e para a vida dele. 

Desta vez, Andrea não discordou do que Sophie tinha dito, e simplesmente passou as mãos pelo cabelo dela, fazendo cafuné. Sophie simplesmente colocou a cabeça no colo dela, se deixando ser confortada. 

— Quer falar sobre?

— Eu só fui perceber que o amava antes de ontem. Por que eu fui tão burra de não perceber antes?

— Às vezes, quando estamos tentando evitar alguma coisa, mesmo que ela bata na nossa cara, vamos continuar fingindo que não aconteceu.

— É… acho que estava em negação. Nunca achei que fosse acontecer comigo. 

— O que? Se apaixonar?

— Sim. Não achava que aconteceria, então fechei meus olhos.

— Mesmo depois da nossa conversa?

— Sim. E ele é um santo de verdade. Não surtou quando descobriu que eu não sou exatamente uma faxineira.

— Você contou para ele? - Andrea parecia preocupada.

— Ele fez uma brincadeira sobre eu ser uma funcionária secreta do governo e eu simplesmente não neguei. 

— E o que ele disse? 

— Que meu segredo estava seguro com ele e que acreditava que eu tinha mostrado a Sophie de verdade pra ele, mesmo que não tivesse dito com o que trabalhava. 

— Ah, Sophia. - Andrea passou os dedos pelos cabelos dela. Não tinha muito mais que pudesse fazer para acalmá-la. 

— Você pode me distrair?

Isso ela podia fazer. 

— Claro. - ela precisou pensar pouco no que iria dizer. - Sabia que seu quarto já está pronto? 

— Está? 

— Sim. Certo que está quase pronto o tempo inteiro, mas eu tirei as tralhas que deixo lá de vez em quando. 

— Entendi. - ela sorriu. 

— Você vem pra cá no domingo, certo? 

— Acho que sim. Talvez no sábado, se você me aceitar mais cedo. 

— Pode vir. Prometo te entediar tanto com os detalhes do trabalho que vamos começar semana que vem que você só vai conseguir pensar em formas de fazer com que eu pare de falar. 

— Ou eu vou ficar perguntando tanto que você vai querer me jogar pela janela. 

— Eu pensei que a fase dos porquês tivesse passado há 20 anos e que eu tivesse conseguido evitá-la com maestria.

—  Você evitou a fase dos porquês, mas não a fase dos “e como vamos fazer isso?”

— Que Deus me ajude, então. - Sophie riu de leve e Andrea considerou aquela uma pequena vitória. - Quer café? Ia passar pra mim na hora que você chegou. 

— Quero sim, obrigada. 

As duas passaram algumas horas conversando e simplesmente esquecendo do mundo exterior, o que definitivamente ajudou Sophie. Se estivesse sozinha em casa, provavelmente estaria remoendo o que tinha acontecido, mas, ao invés disso, tinha passado uma manhã agradável com uma de suas pessoas favoritas no mundo. Ela só saiu de lá depois do almoço, porque Andrea tinha uma reunião com a diretoria do MI6, justamente sobre a missão que seria realizada a partir de segunda-feira. 

— Eu te amo, mãe. Sabia disso? - Sophie disse, enquanto saía do apartamento, dando um abraço em Andrea. Não a chamava de mãe com frequência, mas era esse o papel que representava na vida dela. Não exagerava ou mentia quando dizia que tinha encontrado uma família no MI6: Andrea era sua mãe, Conrad era seu tio esquisito (que adorava irritá-la) e Daisy era sua prima pequena. 

— Claro que sei, filha. Assim como eu te amo.

— Tchau. 

— Tchau, meu bem. 

Sophie simplesmente entrou no elevador e Andrea entrou de volta em casa, já começando a se preparar para a reunião. 

E, se alguma das duas notou a escuta escondida no vaso de planta que ficava em frente ao elevador, não disse nada.

***

Quando Benedict acordou, estava com dor no pescoço por ter dormido de mal jeito e uma dor de cabeça irritante. Percebeu que o sol já tinha sumido e que seu plano inicial tinha falhado epicamente. 

No meio do caminho, pensou que não faria mal ter algo para beber, então comprou uma garrafa de tequila, que geralmente melhorava seu humor, mas, naquele dia, só serviu para lhe dar sono. Resumindo, tinha chegado ao ateliê disposto a passar o dia inteiro fazendo algo produtivo e acabou dormindo a tarde inteira no sofá.

Bonito, Benedict, muito bonito, ele pensava. Pelo menos, não tinha nada para entregar ou terminar hoje. E pelo menos eu bebi, não fumei. Já faz mais de seis meses desde a última vez e eu não quero voltar para isso. Pouco depois de acordar, enquanto ele ainda estava se orientando, seu telefone vibrou, com a mensagem que ele menos queria receber no momento. 

“Eloise: Benny, a mamãe pediu pra perguntar se a Sophie vai almoçar com a gente domingo

Eloise: (perguntando aqui porque você tá me ignorando no privado a tarde toda)

Benedict: Eu estava dormindo

Francesca: Ué, você dormindo de tarde? 

Gregory: A tarde toda, ainda por cima?

Benedict: Então… 

Gregory: Vish

Kate: Já não gostei disso 

Colin: Eita

Benedict: Eu e Sophie terminamos

Hyacinth: O QUE 

Anthony: COMO ASSIM 

Daphne: MAS TAVA TUDO INDO TÃO BEM

Kate: Do nada

Colin: London I'm devastated

Eloise: EU LI CERTO?

Benedict: Ela tem uns assuntos que precisa resolver, aí vai ter que ficar fora de Londres um tempo e vai ficar muito ocupada

Benedict: Nenhum de nós tinha experiência boa com relacionamento à distância, então resolvemos terminar, apesar de nos amarmos

Eloise: Eu não acredito

Colin: Você realmente não queria nem tentar um relacionamento à distância com ela? 

Colin: Você é uma pessoa completamente diferente hoje 

Anthony: E está com uma pessoa completamente diferente também

Anthony: Nunca te vi olhar pra ninguém do jeito que você olha pra ela

Benedict: Gente, eu não quero falar sobre isso, ok? 

Benedict: Talvez um dia as coisas se alinhem de novo para nós, mas não agora 

Francesca: Eu ainda to sem reação

Francesca: Mas conte comigo pro que precisar, viu? 

Francesca: Mesmo eu estando longe pra cacete

Daphne: Pode contar comigo também 

Colin: E comigo

Hyacinth: Sabe, eu e o Greg estávamos combinando de ir ver o filme do Doutor Estranho que vai sair semana que vem e estamos procurando alguém pra ver com a gente

Gregory: Sim

Colin: E se você quiser dar uma entrevista beeeeeeem longa, para a qual você tenha que se preparar tanto que vai esquecer o resto do mundo, eu posso arranjar -P

Eloise: Penelope mulher, deixe de ser mercenária

Benedict: Na verdade, não é uma má ideia

Benedict: Eu preciso mesmo de divulgação

Benedict: E eu sei que você é uma jornalista ética e vai omitir a parte que eu pareço abatido da entrevista :)

Colin: Mas é claro -P

Colin: E se não fosse, ainda assim omitia porque você é meu cunhado e meu amigo -P

Benedict: Obrigado pela parte que me toca, Penny”

Ele bloqueou o telefone e sentou no sofá. Eram 8 horas da noite e ele sabia bem que não conseguiria dormir tão cedo, então podia muito bem ir fazer o que era seu plano inicial. Sem tequila dessa vez. 

***

Sophie acordou no meio da noite sentindo um peso no peito e uma súbita vontade de chorar. Tinha passado por dois dias bem intensos, entre se demitir, terminar com Benedict e tentar juntar os pedacinhos do seu coração para ficar bem para o início da missão na segunda-feira. 

Quase virou para falar com Benedict, mas ele, obviamente, não estava lá. Ainda pensou em lhe mandar uma mensagem de texto, sabendo que ele talvez estivesse acordado no meio de um surto de inspiração, mas não era certo fazer aquilo. Só fazia um dia. Era melhor deixar a ferida cicatrizar um pouco mais e esperar que as coisas se resolvessem antes de voltarem a se falar. 

Especialmente buscando conforto no meio da noite, de uma forma que lembrava muito o jeito como se comportava enquanto realmente estavam juntos. 

Algo tremendamente errado tinha acontecido. 

Ela podia sentir isso em seus ossos. 

Só não tinha ideia do que podia ser. 

***

Sophie ainda tentou dormir depois de ter acordado no meio da noite, mas não conseguiu, então foi revisar o que tinha sido pego pelas escutas nessa sua última semana na Bridgerton. Como nas últimas semanas, nada interessante. Tinha deixado as escutas lá, mas sabia que a bateria não duraria muito tempo mais e que aquelas podiam ser as últimas conversas que escutaria. 

Quando terminou de revisar tudo, já estava perto das 7 da manhã, então resolveu fazer o café para ela e Posy. Ainda estava terminando quando Posy apareceu na cozinha, já arrumada para ir para o trabalho e vendo algo em seu telefone. 

— Nossa, que horror.

— O que foi, Posy? 

— Encontraram uma mulher morta no apartamento dela. Parece que foi intoxicação por gás. 

Sophie não saberia dizer porque, mas, naquele momento, teve uma sensação horrível, uma espécie de pressentimento. Pessoas morriam todos os dias e, sim, morrer daquele jeito devia ser horrível, mas o pressentimento que ela teve era forte demais.

— Nossa. Sabem dizer o que aconteceu?  

— Não. Ela morava sozinha e não tinha família, mas um vizinho deu uma entrevista. Vem ver o vídeo.

Ela ficou por trás de Posy e logo percebeu que sua intuição estava certa. 

Algo de muito errado tinha acontecido. 

Não tinha nenhuma outra razão para Brynn Idle estar na frente do prédio onde Andrea morava, muito menos fingindo ser seu vizinho. 

— Andrea era um amor de pessoa. Sempre muito gentil, apesar de ser bastante reservada. É uma pena que tenha sido tão descuidada com o encanamento.

Andrea estava morta. A melhor pessoa que já tinha conhecido estava morta e ela não podia expressar nenhuma reação que passasse da empatia humana na frente de Posy, já que sabia que ela tinha a boca muito grande muitas vezes. Não era por querer, Sophie sabia, mas, mesmo assim, não queria demonstrar reação na frente da irmã. Ela podia comentar com alguém que Sophie tinha se emocionado com a morte de uma estranha e isso de alguma forma podia chegar em Araminta e, se aquilo fosse uma tentativa de desmascará-la, teria servido um prato cheio.

Assim que Posy saiu para o trabalho, Sophie pegou o próprio telefone e abriu a matéria que ela tinha mostrado. Tinha percebido que o entrevistado piscava demais e em momentos estranhos, então queria rever o vídeo, sabendo que podia ser algo em código.

Não podia se permitir um momento para sentir luto pela perda da mulher que fora sua mentora, amiga e, em muitos momentos, mãe. Agora, precisava descobrir o que realmente tinha acontecido com ela. 

Assim, com uma frieza que ainda lhe era estranha, mesmo depois de anos lidando com assuntos dessa forma, ela reviu o vídeo e foi anotando as letras correspondentes às piscadas em código Morse. Não olhou para o resultado até que tivesse terminado, mas já tinha ideia do que podia ser. 

"SABEMOS QUE FOI VOCÊ SOPHIE"

Sophie cobriu a mão com a boca. As lágrimas chegaram aos seus olhos antes que ela pudesse evitar. 

Ela

Ela era a razão pela qual Andrea estava morta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "She" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.