O corpo de Ascian tremia gélido e rígido perto de Eiren. Ele ainda lhe cobria os ouvidos e impedia de olhar para baixo, mas não era como se Eiren não soubesse o que estava acontecendo. Estático, assustado, Eiren chorava baixinho, ao contrário de Ascian, cujo peito lutava contra a respiração acelerada, e as mãos frias em seu rosto pareciam abandonadas por qualquer resquício de vida. Eiren sabia que Ascian estava ouvindo tudo.

— Shh… Shh… – Ascian tentou acalmá-lo ao perceber que estava chorando, mesmo que o terror em sua respiração fosse tão cheio de desespero quanto as lágrimas paralisantes de Eiren.

Eiren não sabia quanto tempo tinha passado, mas devia ter sido bastante. O suficiente para os gritos pararem. O suficiente para as criaturas partirem. O suficiente para Ascian parar de tremer. E o suficiente para ele voltar a se mover. Todo o tempo, Ascian não movera um músculo, e, por consequência, Eiren também não. Ele o prendia ali com uma rigidez protetora, como se bastasse aquele abraço para mantê-lo seguro – das criaturas, da Floresta, de tudo –, que até seus braços reclamaram quando foram forçados a deixar a posição a que se acostumaram.

Hesitante, Eiren tentou forçar todas os receios a saírem, mas o que estava acontecendo era tão doloroso que ele não conseguia pensar em como aquele pesadelo poderia parar. Eiren quase não ouviu a própria voz quando perguntou:

— E agora…?

Ascian percebeu então que a pergunta era para ele. Sempre seria para ele, a partir de agora. E não soube o que fazer.

E agora?!

Agora Hernan estava morto. E agora continuaria morto. Como ele poderia pensar em qualquer coisa além disso? Era um eco em sua cabeça: "Morto. Morto. Morto.” Não existia nada depois disso.

Mesmo assim, Eiren repetiu:

— Cian… E agora?

O olhar vazio de Ascian foi atraído para o dele, assustado, olhos inchados pelo choro. Hernan estava morto. Eiren, não.

Eiren precisava dele. Ascian agarrou-se a isso com a certeza de que ele também precisava de Eiren, do contrário jamais conseguiria se obrigar a seguir em frente.

— Agora continuamos… – Sua voz não soou com a firmeza que ele gostaria, mas Eiren era uma criança que só queria ouvir do irmão que não estava tudo acabado. Por Eiren e por Hernan, Ascian jurou: – Vamos voltar para casa. Eu prometo.