Xaveco e eu caminhávamos um ao lado do outro, em silêncio. Eventualmente observávamos os detalhes da nave, ou a vista do espaço sideral.

Já era o último dia que estaríamos em Chronos. Em algumas horas, voltaríamos para o nosso dia-a-dia pacato. Para aquela vidinha previsível, muito longe das emocionantes aventuras ou dos momentos engraçados que vivemos ali.

Suspirei.

Xaveco riu baixinho. — Conseguimos. — Declarou ele.

— O quê? — Perguntei.

— O protagonismo que tanto queríamos, claro. — Explicitou.

Dei mais alguns passos em silêncio. — E de quê adiantou...? — Sussurrei.

— Como assim? — Ele me incentivou a continuar.

Abri os braços, em um sinal de redenção. — Sei lá. A minha vida inteira quis isso, e agora que consegui os famosos 15 minutos de fama... Continuo a mesma. Não mudou muita coisa. Vida que segue, e em algumas semanas, se esquecerão do que Denise, Xaveco e Dorinha fizeram.

— Você acha que nada mudou? — Ele me questionou, incrédulo. — Franja e Marina terminaram, Astronauta e minha irmã ficaram juntos, Mônica sofreu um traumatismo craniano...

Rangi meus dentes, começando a me sentir culpada por não ter a visitado. — Foi tão grave assim...?

Ele riu. — Não, na verdade não. Estou brincando com você. Ela é cabeça-dura demais pra isso.

Suspirei, aliviada.

— É... É verdade. — Admiti, dando de ombros. — Muita coisa mudou mesmo. Tenho que deixar de ser tão ranzinza.

Mais alguns passos. Não conseguia evitar esta horrível sensação em meu peito. Era como se meu coração repentinamente pesasse algumas toneladas...

Não queria me despedir dele.

Não queria que as coisas voltassem pra como eram antes de eu subir naquela nave.

Eu nem sei o que eu gostava tanto naquele... Pateta.

Só sei que eu gostava... Por mais secundário que ele fosse.

Eu não me importaria em continuar sendo secundária com ele... Seguiríamos sendo as eternas árvores números 3 e 4.

Eu sei que é patético que eu, Denise, a pessoa mais extrovertida e sem-vergonha desse mundo, estivesse travada em um momento assim. Só era... Complicado.

Agora entendia porque Xabéu e Astronauta precisaram de uma experiência de quase-morte para finalmente se declararem um pro outro.

— Eu... — Nós falamos ao mesmo tempo. Rimos, um pouco nervosos.

— Eu quero te encontrar mais vezes. — Insisti de uma vez. — Você... É tipo uma das poucas pessoas que senti falta de encontrar, nestes últimos anos. Não some desse jeito.

Ele abriu o sorriso adorável. — Com você pedindo desse jeito...

Senti meu rosto queimando. Que vontade de enterrar minha cabeça no subsolo...

— Acho que o que podemos concluir dessa... Zona toda... — Continuou Xaveco. — É que tudo pode dar errado a qualquer momento.

Não resisti, eu ri alto. — Conclusão memorável.

Ele sorriu. — Então, seguindo essa lógica... Não faz muito sentido ficar se preocupando tanto com o que pode acontecer ou deixar de acontecer... Se vamos ser protagonistas ou não, por quanto tempo... E se vamos conseguir o que queremos.

Ele me encarou diretamente. Retribuí o olhar, ainda que com certa timidez e fazendo um esforço consciente para continuar respirando.

— É só tentar, e ir vivendo. — Ele murmurou, sem desviar o olhar. — E é isso aí.

Assenti.

— É isso aí.