"Você perdeu algo que nunca vai recuperar?

Você amou, mas nunca aprendeu?

O fogo se apagou, mas ainda queima.

E ninguém se importa, não há ninguém lá."

Subúrbio de Londres, 31 de Outubro de 1990.

Uma menina com cabelos castanhos claros e curiosos olhos cinzentos estava sentada no galho da árvore mais alta de seu jardim. Dentro do casarão, os gritos estridentes das crianças atravessava as largas vidraças do orfanato, passos rápidos das freiras ecoavam até ela. Era a hora do banho, hora de dormir, a hora mais agitada de sua casa. Mas a menina não ligava para nada disso, pois como era de costume, sempre fugia nesse horário, sempre ia até o jardim, escalava seu sabugueiro e observava as estrelas que lhe prendiam, a lua que falava com ela.

― Max. Está ficando frio, entre de uma vez. – a voz da freira passou despercebida pela menina, ainda cativada pelo que a lua tentava contar a ela – Maxine! Está na hora de dormir!

― Já vou, irmã Nora.

Ela suspirou fundo, descendo da árvore com cuidado, mesmo sabendo que não se machucaria quando caísse; algo sempre impedia que caísse, que se machucasse, era como mágica...

Maxine só não queria entrar, queria continuar ali, escutando mais, falando mais com as estrelas que pareciam ser parte de sua alma. Era estranho, mas naquela noite, Maxine sentia que as estrelas lhe diziam algo de volta.

Uma tristeza angustiante preenchia o ar.

Um frio que penetrava seus ossos e a instigava a busca por algo, a procurar por alguém que precisava de uma luz em meio à escuridão em que se encontrava.

― Max!

Sorrindo, Maxine se despediu de quem estivesse tentando falar com ela, e seguiu a freira para dentro da casa. E quando deitou a cabeça no travesseiro, conseguia jurar que sentia uma carícia em seu cabelo, que escutou um sussurro de seu nome, que não estava sozinha, que haviam alguém lá fora que precisava dela, mais do que poderia imaginar.

“Minha doce Maxine, nós amamos você, encontre ele... ele precisa de você..."

Ao deitar a cabeça em seu travesseiro, Maxine sonhou com as lembranças da família que nunca teve, sabendo que fora imensamente amada. E mesmo que não soubesse por quem, seu coração se inundou de felicidade.

"Você sentiu as faíscas de esperança?

Você não está sozinho.

Porque há alguém lá fora, te mandando luz."