eu lembro.

das coisas mais ínfimas eu me lembro.

é delas mesmo que me lembro

e não me lembraria se não fossem ínfimas

e não seriam ínfimas se eu não me lembrasse.

eu entendi o que você disse,

eu só não entendi o que você quis dizer.

nem eu me entendo, como me entenderia?

se soubesse qualquer das coisas da minha alma,

nenhuma delas eu escreveria

poética poesia incompreensível

um vício que eu não quero mais perder

não sei me explicar,

como me entenderiam?

tentam me encaixar,

mas as peças são muito pequenas.

tentam me incluir,

mas os "ajustes" são muito grandes.

não sou como vocês,

e mesmo se tentasse, não conseguiria.

(eu já tentei)

e mesmo igual,

eu sou diferente de vocês.

você dá voz aos oprimidos,

eu dou silêncio aos opressores.

"meramente".

eu quero dizer "meramente".

algo que é "meramente" alguma coisa.

"meramente essas coisas que sinto são..."

se eu pudesse compará-las a alguma outra coisa.

se eu apenas pudesse compará-las.

se pudesse subjugá-las sob a ótica da razão

se tivesse seus nomes...

se pudesse dizer que são "meramente alguma outra coisa"...

mas todas elas me colocam solitária

num mar de emoções que não sei de onde veio.

o que são essas coisas que eu sinto?

gostaria de entender nem que fossem metade delas

se eu soubesse qualquer das coisas que eu sinto

eu voltaria a sentir alguma coisa?

queria ter a certeza das coisas

saber das coisas como sabem os homens

e todos os outros que olham pra mim -

você, que olha pra mim.